quarta-feira, 30 de março de 2016
O Mundo Eterno
Demolição Foucautiana
É óbvio que são formas - e benignas - de sufocar a "justiça popular", e é impensável que as instituições não sufoquem a justiça popular, fazendo com que haja - para dar voz ao estadista inglês, crítico da revolução "popular" da França, Edmund Burke - expiação abundante, remissões e perdão.
Entendam: por mais más que sejam nossas instituições, é incrivelmente pior a ausência delas. Ao dar eco às vozes revolucionárias que gritam "abaixo ao sistema", "abaixo à toda a classe política" o perigo que daí surge é justamente trocar um sistema difícil por um monstro infinitamente mais destrutivo e incontrolável - e a história humana é pródiga em mostrar o quão deletério é esfumar todo o sistema que temos em nome do "bem". Quem pensa com prudência prefere os demônios que conhece àqueles que ele não conhece.
Foucaut, como disse em um texto passado, preferiu os demônios desconhecidos. A a conclusão que retirou desta constatação acima é justamente a de que as "instituições burguesas" atrapalhavam o livre curso da justiça e deveriam ser mandas para o ar. A revolução iraniana que ele apoiava o fez, e não muito tempo depois gays - como ele - começaram a aparecer pendurados em guindastes. Ora, mandar tudo para os ares? E colocar o quê em seu lugar? Por assim dizer, melhor um Temer do que um vácuo de incerteza, pois por possuir um CPF, dentro de um Estado reconhecível, ele pode ser criminalizado e deve se fez algo errado. E quem luta para que não haja nada disso, não nos faz crer que o que não temos é melhor do que aquilo que temos? Não nos manda o sentimento natural, que ama, quer proteger e conservar o que ama, aderir à tese contrária?
Já dizia Platão que no político a maior das virtudes era a prudência. Isso tem um aparo na razão porque não se pode destruir tudo sem saber o que disso virá, já que o desconhecido é o incontrolável, o espaço da perdição um universo de nada a quem necessita, no mínimo, de um horizonte para ver. Mas muitos, nestes atos - já que imprudentemente consideram de maneira entusiasmada a "mudança" como fim em si mesmo -, prenhes de sede de justiça, de sede infinita pelo "bem perfeito", destruindo as bases supostamente malignas nas quais apoiamos nossos pés, pensam, como solução, nos firmar na escuridão do abismo, dizendo quem nos concedem a verdadeira liberdade.
A revolução francesa pensava em adquirir homens perfeitos mediante a abolição do "sistema" que - diziam - tornava-os imperfeitos, e quando percebeu que não os tinha, cabeças começaram a rolar. Sendo assim, é preciso que façamos, com seriedade de coração, com desejo de mudança, reconciliação e expiação abundantes a seguinte pergunta: o que da destruição das instituições políticas, jurídicas e religiosas, em nome do bem, se seguirá?
sábado, 26 de março de 2016
Abolição da Liberdade
sexta-feira, 25 de março de 2016
Dilma e a Vontade de Pontência
Mas vamos para os possíveis resultados práticos, sendo a materialização exemplar do engodo realmente esta: quando vemos Dilma Rousseff dizendo de maneira monomaníaca que o impeachment é golpe, ela passa como um rolo compressor sobre a história do país, das leis, do STF, da OAB, e das milhares de consciências que afirmam com uma evidência solar e visível aos olhos de qualquer zé-mané que o impeachment é uma instituição válida - fazendo isso com o intuito de que, livre das amarras "moralistas" das leis que grudam na plebe, ela possa respirar livremente o ar fresco na solidão das montanhas.
Mas o que importa, se no universo nietzscheano o que vale é, para quem nele atua, a contrapelo dos fatos, a vontade de potência que faz validar os valores, criando-os, e não se submetendo a nenhum deles? O que Dilma busca fazer, na verdade, é operar uma verdadeira transmutação de todos os valores afim de validar a sua "soberaníssima" vontade para se safar da perseguição dos fatos gerados em sua própria história .
Sem o saber, Dilma é a encarnação da "ética" "libertadora" do maluco alemão. E nem precisa saber disso, pois somente alguém dotado de uma cabeça de jerico pode simplificar de maneira tão acachapante as leis e o nosso velho mundo.
quarta-feira, 23 de março de 2016
Ideologia e Corrupção
Russell Kirk afirmou que a ideologia era a corrupção do dogma e dos símbolos de transcendência, pois ela propunha soluções eternas para o nosso hoje. No entanto, dizia ele, ela age como que ao contrário disso, pois na sua corrida pela salvação terrena ela abole justamente os valores que protegem a nossa frágil vida:
"A ideologia é uma religião invertida, negando a doutrina cristã de
salvação pela graça, após a morte, e pondo em seu lugar a salvação coletiva, aqui na terra, por meio da revolução e da ação
violenta [assim como de crimes também]. A ideologia herda o fanatismo que,
algumas vezes, afetou a fé religiosa e aplica essa crença intolerante e
preocupações seculares" (KIRK, Política da Prudência. p. 95) - e
arrematando com Voegeling: "A ideologia é a existência em rebelião contra
Deus e o homem. É a violação do primeiro e do décimo mandamentos [pois afirmam
os ideólogos que podemos cobiçar coisas alheias em nome do "bem", ou
mesmo ROUBÁ-LAS e DESTRUÍ-LAS para um fim "justo" e desconsiderar
valores], se quisermos empregar a linguagem da ordem israelita; é a 'nosos', a
doença do espírito, para empregar a linguagem de Ésquio e Platão."
(VOEGELING, Ordem e História, Vol. I, p. 32).
O que a cima vai escrito nada mais é do que aquilo que qualquer um que vá ao mercado consegue compreender, ou seja, que não é possível estabelecer algo justo quando vamos em uma prateleira e vemos um peço, e acabamos pagando outro no caixa, pois ultrapassamos a lei do compromisso – ou a Lei Natural da Razão -, que aponta limites justos nos quais é possível estabelecer uma determinada igualdade em nossas negociações com outras pessoas, impedindo a fraude, ou uma vantagem indevida, ainda que tendo feito isso em nome do “bem”.
Por isso não é possível que possamos arbitrariamente destruir as regras de convívio, ou mesmo não é possível que subvertamos leis às quais nos encontramos sujeitos como homens e mulheres – mesmo que por um pequeno momento –, pensando que com isso podemos gerar um “bem coletivo”, porque é justamente aqui que isso pode se voltar contra nós, criando o perverso costume onde cada qual, ao seu modo, suspender uma regra comum em nome daquilo que ele supostamente ache bom.
Não é estranho que na história promessas de redenção cujo método que
pavimentava o caminho para o “paraíso terrestre” era justamente composto de
ideias de libertação dos costumes, das tradições, dos formalismos, dos
tribunais, da noção de bem e mal, dos códigos sociais, da moral, da religião,
da “dominação opressora” dos pais e mães, da “família”, dos compromissos
firmados criaram justamente uma situação ou regime político infinitamente mais
opressores do que aqueles dos quais eles prometiam livrar.
Isso não é apenas uma questão de palavras ou de raciocínio, mas de
história humana, demasiadamente humana.