sexta-feira, 30 de outubro de 2015
C. S. Lewis e o Terror da Bondade
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
Sociedade e Religião
O empreendimento racionalista moderno, que tende a incentivar a implosão dos hábitos, é algo que, na verdade, visa a suspensão de valores tradicionalmente cultuados e cultivados. O problema aqui reside no caráter fundamentalmente egoísta desta empreita, uma espécie de parricídio que na tentativa de eliminar de sobre nós a autoridade dos costumes, coloca cada indivíduo como o centro do seu próprio universo. Não é mera coincidência que da suspensão bruta e preconceituosa dos valores ( como se a suspensão dos valores longamente cultuados fosse algo bom em si mesmo) siga desentendimentos e a desagregação sem fim das relações. O constante empreendimento “crítico”, aqui, tende a se tornar, acriticamente, um modus bom em si mesmo que para se tornar honesto deveria colocar a si mesmo sobre suspeição.
A dificuldade reside principalmente em não compreender um segundo aspecto: as sociedade humana não possui estômago suficiente para a suspensão abrupta dos valores e da tradição, pois não possui tempo como os intelectuais para refletir sobre o fundamento dos valores, pois se levada de modificação em modificação, a sociedade, as instituições, tendem a ser destruídas, fazendo a sociedade afundar em um mar de relativismo que, para além das fronteiras da individualidade, tende a atacar todos, estabelecendo o caos e a corrupção normativa pela falta de referências com peso de autoridade.
Olhando por este lado, podemos voltar as nossas vistas – mesmo que de maneira breve – para as fundações da própria sociedade ocidental da qual fazemos parte, observando, por exemplo, como é que valores religiosos que foram cultivados ao longo dos séculos e milênios, não caíram, de uma ora para outra, da arvore do empreendimento racionalista. Olhemos para o casamento monogâmico. O casamento monogâmico não é racionalmente justificado, as pulsões sexuais não são compatíveis com a exigência de fidelidade conjugal. Mas olhando no espectro histórico podemos considerá-lo como uma disciplina da sexualidade e uma tentativa de separação entre eros (o amor sexual) e ágape (amor espiritual), de maneira a fazer isso refletir na sociedade inteira. Por tanto no casamento monogâmico existe uma razão que, na verdade, foi defendida pela Igreja Latina (Igreja Católica), infundindo um hábito de disciplina através de uma compreensão religiosa do mundo.
Olhando assim o racionalismo, prescindindo de qualquer autoridade normativa que não ao indivíduo isolado no mundo, podemos ver o quão ineficiente ele poderia ser no estabelecimento de regras sociais gerais, fazendo de cada ser humano a sua própria estrela. A noção de autoridade tem uma função deveras importante no estabelecimento do convívio social, já que existe uma necessidade fundamental da existência de determinada autoridade vinda de regras, dos hábitos e costumes. No entanto falar apenas em um simulacro de autoridade fundada epenas em regras de convívio social é muito pouco para estabelecer, de fato, uma autoridade, uma autoridade que esteja acima da sociedade humana e que transcenda o período de uma geração onde reine um consenso. É necessário mais.
A religião tende a colocar o ser humano em um confronto com o seu destino eterno, com algo que faça valer o conceito de verdade como algo, de fato, eterno e fixo. Tal sentido religioso é normativo para a vida humana, descendo dos níveis mais gerais e universais até os mais pessoais e particulares. O cristianismo católico foi aquele que conseguiu trazer unificação cultual a um continente não por mero acidade, mas porque fundado em um princípio de autoridade – do qual se vale de modo permanente muito mais do que o protestantismo, e ainda que consideremos o abuso de autoridade, tal abuso não pode ser visto a não ser como como algo acidental, não ferindo a essência própria da autoridade na religião católica -, se valendo da sucessão dos bispos cujo fundamento da autoridade é, na teologia, o próprio Jesus Cristo.
Pois bem, neste sentido podemos ver que na fé católica existe uma determinada fundação de sua autoridade na própria autoridade divina, cujo exercício ficou relegado a poucos. Isso não quer dizer que tal autoridade fique restrita ao arbítrio dos bispos do momento, já que o exercício de autoridade só pode funcionar na comunhão com os bispos de todos os momentos, e comunhão com as resoluções conciliares, com os pontos doutrinais estabelecidos e com os Dogmas – que para a fé católica são imutáveis. Nesse sentido existe uma delimitação da autoridade, inviabilizando a ideia de liberdade e autoridade arbitrárias, quando no estabelecimento e na justificação da própria autoridade dentro da Igreja, seja esta a autoridade dos padres, bispos ou do Papa. É por isso que a tradição é tão valorizada na fé católica, o que não se dá, tragicamente, na esfera do cristianismo protestante.
A fé cristã protestante valoriza muito a investigação pessoal da Bíblia (a Bíblia que foi reconhecida no concílio dos Bispos, e não de maneira aistórica, como que parida do nada), e a iluminação subjetiva do Espírito Santo, desconfiando da iluminação objetiva em um corpo autorizado de intérpretes, legando o dever da interpretação a todos os cristãos e não a um corpo oficial e divinamente autorizado. Essa liberdade interpretativa, ao longo da história, gerou uma quantidade inimaginável de interpretações um tanto quanto díspares. Mas para tentar corrigir ao degringolamento da unidade de pensamento da fé protestante, logo no início do movimento Lutero tentou recorrer a catecismos e aos dogmas tradicionais de fé, tal como encontrou a sua forma nas resoluções dos Concílios da Igreja. Por tanto ele recorreu a alguns elementos de autoridade tradicionalmente estabelecidos para dar corpo, forma e justificação à sua interpretação da fé. A própria Bíblia é um corpo de autoridade cuja validade para o cristão é normativa, ainda que não seja dado a cada cristão a possibilidade de verificar por si mesmos a validade racional dos Escritos. Sendo assim a cultura cristã se vale de vários elementos e preconceitos (no sentido da filosofia britânica) ou de aceitação acrítica de tradições e autoridades que só posteriormente, ao longo da história, vão mostrando a sua validação ou não. Por isso a própria impossibilidade de verificar a totalidade da fé por meio de uma investigação pessoal é algo que soa, ao menos, impossível como dogma de fé, pois muito próxima das exigências de um racionalismo que é impraticável por toda a sociedade humana ou de fé.
Mas a fé protestante, ao menos, mesmo que inconscientemente, deve se valer de determinados elementos de autoridade sobre o grupo de fiéis para que uma unidade seja possível, e é justamente isso que faz da Igreja Anglicana e Luterana, por exemplo, instituições mais humanas e sociais do que um movimento Quaker, pois os dogmas, orientações e catecismos das primeiras unificam infinitamente mais do que as terríveis consequências da doutrina da iluminação subjetiva e adogmática da segunda – ainda que isso seja um pouco melhor do que o niilismo puro pois pressupõe a divindade. A doutrina é uma expressão de um sentimento de necessidade de ordem, continuidade e limitação da liberdade humana, e sem estes três a vida humana não é algo possível.
Já dizia G. K. Chesterton que no início de toda a civilização existe um poço sagrado, um lugar de culto onde a santidade e significado transcendente, por si mesmos – algo como ex opere operato (que tem eficiência por si mesmo) -, tendem a organizar a vida a vida e estabelecer regras sociais, e, por fim, uma civilização. E isto opera para muito além das fronteiras do racionalismo niilista, e, por tanto, mais digno do que ele. Tal poço sagrado tende a simbolizar e manifestar o sacramento da eternidade na vida humana, fazendo o homem reconhecer os limites e efemeridade de vida, abrindo as vias do reconhecimento de algo superior que nos transcende e que nos fundamenta. A angústia diante da morte dá sinais da imortalidade da alma e do sentido eterno da vida, frente ao qual ganha-se um real sentido e significado em meio à confusão reinante. E tal impacto que coisas sagradas exercem em nossas vidas – como o amor, a sede pela verdade e por santidade – só nos mostram qual é o verdadeiro significado de tudo e, também, o sentido da existência da própria humanidade e a sua RAZÃO de ser.
O que temos assistido hoje é a tentativa sistemática de afastar o ser humano do seu sentido eterno, fazendo com que as instâncias últimas da vida sejam nivelada às decisões do Três Poderes da República. Quando cortado da transcendência, o tendemos a colocar a nossa confiança fundamental, por exemplo, na política, sendo esta reconhecida como a última instância da verdade e o seu juiz absoluto, o que resulta em um servilismo humilhante, invertendo a ordem da realidade, sendo o Governo sobre nós senhor e não Servo. Todas as instâncias culturais da sociedade que lidam com os valores tem a sua origem fundamental na religião, nos costumes, nos hábitos. Assim também todas as bases de fundamentação moral – mesmo a fundamentação metafísica – tem a sua base na religião. O cristianismo, e mesmo a Bíblia (como vemos em I e II Samuel), mostrou que o sacerdote antecede o rei, ou seja: o significado eterno antecede a política, fundamentando ela e, com isso, a própria sociedade.
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
A Bíblia e o Mundo
Analisar de tudo e reter aquilo que é bom e julgar por si mesmo aquilo que é justo é, também, ir para além das limitações das letras e seguir para dentro do universo do espírito das letras, do significado profundo, enxergando as luzes que este mesmo espírito e significado lançam no mundo, clarificando aquilo que no mundo é obscuro. Trata-se, por tanto, de enxergar o mundo de onde a própria palavra se origina, pois, na hierarquia dos acontecimentos, antes da palavra escrita vem a realidade concreta, assim como antes do texto bíblico vem a revelação e a ação de Deus na História.
A Bíblia não é um centro criador por si mesma, mas vem a ser este centro criador e esta fonte espiritual porque ela se refere e se fundamenta em uma determinada verdade, a uma verdade que, em sua complexidade, é anterior a ela, já que ela é um registro, e como registro cumpre também uma determinada função de testemunho (Jo 20:31) - que contém o que é necessário saber -, além daquelas orientações que buscam nos conduzir a Deus - condução que é levada a cabo apenas no orientação e clarificação do Espírito (Jo 14:26).
Sendo assim, a existência física de uma Bíblia só é possível, segundo o pensamento cristão, por causa de um movimento eterno e de um significado eterno, de uma inspiração vinda do próprio Deus. Por tanto, seria estranho pensar que o interesse da própria Bíblia seria ficar girando em torno de si mesma, como se as palavras da Bíblia fossem as únicas a expressarem a verdade (e não é mesmo) - a pregação atestada pelo Espírito já nos mostra isto -, já que por outros meios podemos alcançar, ou ser alcançados pelo mesmo significado ou a mesma Razão contida na Bíblia (como em um aconselhamento pastoral), visto que a razão de sua existência é Iluminar a vida concreta e todos os momentos concretos de todo o homem - uma Iluminação que pode ser transformada em inúmeras palavras, em inúmeros livros e em inúmeras artes. É nisso que a Bíblia da provas de ser a Palavra de Deus.
sábado, 24 de outubro de 2015
A Linguagem Hermética
Um exemplo clássico de um empreendimento com características herméticas pode ser visto na opção de Jesus pelas exposições parabólicas de suas doutrinas, o que tornava impossível a compreensão do seu discurso por pessoas que estavam em círculos afastados. Nestas parábolas Jesus utilizava o patrimônio simbólico e espiritual de Israel e elementos cotidianos afim de levar o ouvinte a contemplar uma razão de fundo, o que era basicamente a essência de seus ensinos. No entanto, uma comunicação mais direta, destituída de parábolas, era apenas utilizada no círculo mais restrito dos discípulos.
Nisto podemos ver o sucesso da tirania psicológica que curva todos - como um verdadeiro rebanho - à uma traição das convicções pessoais, da sua fé, aceitando discursos como: relativização da fé; autoridade ilimitada de seus líderes, condescendência com relação ao adultério, pedofilia, a mentira como forma de proteger a verdade, aceitação do sexo antes do casamento, políticas dos mais diversos matizes, aceitação de múltiplas contradições em uma mesma linha de pensamento, a propagação da ideia de que correligionários que não possuem a mesma espécie de compreensão da realidade - ou melhor: corrupção da realidade - são, na verdade, uma casta inferior, retrógrados, reacionários, fundamentalistas - como se eles fossem os portadores do significado fundamental da fé evangélica e os salvadores da racionalidade cristã.
O apela não é tanto para convencer a uma aderência a determinados paradigmas conceituais com o fim de responder de maneira mais coerente ao "espírito do tempo", mas simplesmente forçar a trair a sua consciência, deixando-se guiar por aqueles que, melhor do que nunca, agora se encontra em plenas luzes justamente nas suas cabeças limitadas, implantando o terror na mente dos ouvintes, fazendo-os aceitar contradições indescritíveis, reduzindo a consciência a uma faculdade biônica.
Claro, discursos assim, as vezes, nunca são plenamente escancarados, pois muitas são as elucidações subliminares, indiretas e predicadas em um discurso que, ao longo do desenvolvimento, resultará fatalmente em um rebaixamento da moral e aceitação acrítica, injustificável, de um autoritarismo cego que leva o indivíduo à mais alta contradição, gerando o colapso psicológico.
Virtudes Enlouquecidas
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
O Paradoxo; Ou: A Contradição Aparente
Quando no sermão da montanha (Mateus 5-7) Jesus disse que "bem-aventurado são os mansos", logo depois afirmou, também, que "bem-aventurado são os que tem fome e sede de justiça", dando um ar um tanto paradoxal (algo que soa contraditório, mas não é) à sua doutrina, cuja resolução encontrava-se apenas na compreensão daquilo que fundava a sua personalidade e história.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
A Filosofia, a Arte, a Religião e a Essência
terça-feira, 20 de outubro de 2015
Da Imitação de Cristo
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Notas Sobre Amizade, Verdade e Cristo
A Origem do Mal
Esse pequeno ensaio de filosofia tende a compreender algo que é enigmático: a origem do mal. Por tanto, deixa parcialmente de ser um mistério quando compreendemos que não existe uma equivalência entre o bem e o mal ou entre a verdade e a mentira, mas que o Bem e a Verdade são elementos fundamentais para a existência daquilo que se contrapõe a eles, sem um sentido de equivalência, mas no sentido de dependência, preservando a hierarquia dos valores intacta. Sendo assim, a origem do mal está, por exemplo, no abuso do bem, ou na malversação do bem a partir da própria liberdade humana que tem na degeneração uma possibilidade para que a própria liberdade seja, por tanto, completa. É como compreendêssemos a razão pela qual no próprio Paraíso Deus tivesse colocado próximo da Árvore da Vida, a árvore da perdição: a Árvore do Conhecimento do Bem e do mal.
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
A Liberdade como Algo a Construir
É com lutas que a gente descobre que a liberdade é algo que se conquista a duras penas. Com isso se vê que é mentira que nascemos livres. Liberdade se constrói, e se a recebemos por herança podemos dissipá-la em uma irresponsabilidade que resultará em escravidão. Isso vale para indivíduos e para os povos.
A Desumana Vontade de Potência
Ler Nietzsche é de fundamental importância para a compreensão de determinados mecanismos psicológicos que, entre outras coisas, tendem a permear o mundo de uma culpa e ressentimentos que não são reais, já que fomentados através de um mecanismo maquiavélico que convertem em mal tudo aquilo que, na verdade, é bom. Este insight de Nietzsche possui, podemos afirmar, uma verdade eterna e funciona mesmo quando analisamos, por exemplo, discursos de viés socialista - Nietzsche tinha uma aversão visceral ao marxismo ou ao socialismo por causa da utilização venenosa desses movimentos da moral na instilação do ódio e desconfiança em meio as pessoas.
A estrutura do pensamento nietzscheano jamais pode ser dispensada e deve sim ser estudada. No entanto o conceito de liberdade absoluta ou de "vontade de pontência", assim como a ideia de "abolição da moral", ou mesmo a ideia de que é o mais forte quem cria a moral, o Super-Homem - ideia que antes de ser concebia por nietzsche já fora destruída por Dostoiévsky (que escreveu ideias seminais que Nietzcshe veio a desenvolver posteriormente) -, é, se não pernicioso, fundamentalmente perverso e que se levada a cabo poderia fazer emergir o Caos através de uma batalha apocalíptica entre deuses no alto da torre do Mundo, como disse G. K. Chesterton.
Uma coisa é ler Nietzsche, outra coisa é reter aquilo que é bom, e outra coisa completamente diferente é transforma-lo de maneira imerecidamente em uma pedra angular de reflexão para uma moral cristã ou humana que ele mesmo detestava e que ele mesmo não possuía. A suposta máxima nietzscheana de que a moralidade é imoralidade é uma das coisas mais desumanas que existe, pois, entre outras coisas, ela não leva em conta as limitações humanas, a incapacidade da comunidade humana de viver por meio de saltos, já que lerda demais para refletir sobre o fundamento das convenções, prescindindo delas, pois tal liberdade advinda da abolição dos costumes é - como ele sabia - para quem tem nervos de ferro. Mas o homem é pó e cinza, é uma flor cuja glória não dura um dia, condicionado por todos os lados. A vontade de potência é algo a ser exercido por poderosos e, sempre e sempre, mesmo a contra-gosto dos sensíveis, em detrimento dos mais fracos. É o princípio do afundamento em uma loucura que o próprio Nietzsche experimentou.
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
A Degeneração da Crítica da Religião
Da Degeneração das Virtudes
E parafraseando Dostoiévsky, podemos dizer: Do amor sem critérios, chegamos ao Inferno.
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Hegel e a Ascensão do Homem a Deus
terça-feira, 6 de outubro de 2015
Das Pessoas que Enchem o Mundo de Amor
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
A Ordem e a Anarquia
Quando olho para algumas políticas desastradas que alguns países implementaram em outros países em nome do "progresso", do "novo" contra o "anacrônico" ou o "ultrapassado", como foi a política "progressista" de Obama em nome da "democracia laica" na Líbia - o que, feito de forma mal feita, abriu um vácuo tenebroso naquele país que permitiu ele entrar em estado de anarquia, vindo a força organizada do ISIS e o engolindo com a boca escancarada -, sempre tenho em mente uma frase do Russell Kirk:
"A grande linha demarcatória da política contemporânea, como Eric Voegeling (1901-1985) costumava apontar, não é a divisão entre liberais, de um lado, e totalitários, do outro. De um lado daquela linha, estão todos os homens e mulheres que imaginam que a ordem temporal é a única ordem que, as necessidades materiais são as únicas necessidades e que podem fazer o que quiserem do patrimônio da humanidade. Do outro lado da linha estão todos os que reconhecem a existência de uma ordem moral duradoura no universo, uma natureza humana constante e sublimes deveres para com a ordem espiritual e a ordem temporal" (KIRK. A Política da Prudência. p. 115).
Ou seja: a Ordem é algo incriado, e que é feito para o homem e o homem é feito para ela, como diria também o sábio filósofo. E tenho cá para mim que a Ordem, as regras consolidadas, as instituições, organizações humanas, o senso de hierarquia, a compreensão da necessidade de valores e regras duradouras são coisas fundamentais que garantem a paz que o homem necessita, e que devem perdurar pelos tempos em favor, e não contra, o homem, já que respeita, e muito, a natureza do próprio homem, que não pode ser reinventada a cada dois minutos para se adequar ao "novo". O homem deseja constância, perenidade e, em última instância, uma eternidade que deve ser refletida nas estruturas e ações levadas a cabo no Mundo presente.
A dificuldade com a visão dos libertários - que alimenta o raciocínio tanto dos capitalistas brutais, como dos "progressistas" de esquerda - é que ela não consegue enxergar que a liberdade absoluta - que degenera em anarquia ou niilismo - não é um negócio a favor dos homens, mas algo que cria um campo perfeito para a ação ilimitada dos mais fortes e dos mais poderosos, já que os valores, os tabus, as regras, as convenções consagradas, Igrejas, a moral etc. (e não a revolução permanente), são barreiras que freiam as liberdades que dariam aos malignos o poder absoluto, como diz o apóstolo Paulo na segunda carta aos cristãos de Tessalônica: " Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda" (II Ts 2:7,8), ou seja: a resistência contra o avanço da iniquidade só pode ser possível por meio do desejo de conservação de valores consagrados como a Ordem.
O caso da Líbia - e o da Primavera Árabe, como um todo -, ainda é algo a ser profundamente estudado e refletido, já que a evidência de que algo deu errado por lá não pode ser sustada em nome da consideração sobre um "simples erro de cálculo", nos levando a concluir que a política, ou as ações humanas em geral que visam uma liberdade sem ordem está fadada a ter como resposta uma ordem sem um mínimo daquela liberdade que está em acordo com a essência humana, já que fomentará é a traição e a supressão total dela.