Os hereges da idade média abriram o capítulo da especulação sobre o Terceiro Reino, a iniciar por Joaquim de Fiore. Acreditavam eles que, após o reino do Pai (a Lei Mosaica), do Filho (o reino dos sacerdotes descendentes dos apóstolos), viria o Reino da Liberdade do Espírito Santo - onde todas as instituições corruptas, desde a Igreja aos reinos, seriam derrubadas pelo advento do povo de Deus, o povo sábio guiado unicamente pelo Espírito, o povo santo que possuía o "futuro nas mãos".
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
Os Revolucionários: Nada de Novo Sob o Sol
Os hereges da idade média abriram o capítulo da especulação sobre o Terceiro Reino, a iniciar por Joaquim de Fiore. Acreditavam eles que, após o reino do Pai (a Lei Mosaica), do Filho (o reino dos sacerdotes descendentes dos apóstolos), viria o Reino da Liberdade do Espírito Santo - onde todas as instituições corruptas, desde a Igreja aos reinos, seriam derrubadas pelo advento do povo de Deus, o povo sábio guiado unicamente pelo Espírito, o povo santo que possuía o "futuro nas mãos".
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Notas Sobre a "Fome de Justiça"
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
Racismo
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
A Conquista de Si
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
Burguês de Esquerda; Ou: O Radical Chique
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
Capitalistas de Esquerda
A Eleição dos EUA e a Segunda Realidade
Quem quiser se informar com os canais de informação tradicionais, ainda vai ter muita vergonha e errar o resto da vida - e mesmo que todo mundo te ache lindo, esperto ou simpático, a sua opinião não valerá uma rolha, e ainda fará que as pessoas que você tem por queridas errem.
Na semana passada, quando contestei um amigo meu sobre a credibilidade da Globo News ele, meio consternado, me perguntou: mas em quem você confia? - ao que eu disse: Fox News. É óbvio: ela não é um deus ou um demiurgo, mas quase ninguém que conheço em lugar algum conhece alguma interpretação de fatos fora daquilo que os nossos canais tradicionais de informação apresentam (com uma unanimidade vergonhosa), mas vivem sendo alimentadas por uma segunda realidade plantada pelos ativistas (que não pretendem entender a realidade, mas transformá-la) e pelo beautiful people "bem-pensante".
Esses mesmos são os que não entenderão a eleição americana, mas ficarão surpresos porque os nossos canais tradicionais de mídia ainda tratarão justificar que o monstro que pintaram do Trump foi eleito por causa da degeneração brutal da mente americana com relação à realidade, ao desprezarem um indivíduo angélico chamado Hillary (a monstra do ISIS, das drogas, da cultura libertina e do aborto até os nove meses de gestação) - se o Trump não é um anjo (e não é sob hipótese nenhuma), a Hillary é reprovável, não sendo melhor sob aspecto nenhum (excetuando a retórica).
Mas o sinistro é que esse fenômeno é idêntico àquilo que Karl Kraus, jornalista germânico que presenciou a ascensão de Hitler ao poder, disse sobre o papel de degeneração mental dos alemães causada pela imprensa, que, literalmente, empurrou quase que a Alemanha inteira para a segunda realidade contra os judeus - já que o novo judeu será o americano branco sem ensino superior.
O que ocorrerá será o seguinte: vai ser difícil a camada "bem-pensante" reconhecer seus erros, já que não tendo consciência moral, a tarefa mais fácil será justificá-los - não importa que monstruosidade seja plantada na realidade a partir daí. É óbvio que isso não pode acabar bem, já que o pior convicto é o mal-informado.
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
Notas Sobre a Soberba
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
Política como Ferida
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
Evangelho e Pobreza
sábado, 17 de setembro de 2016
Valores até à Morte
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
A Destruição do Corpo e a Destruição do Mundo
quinta-feira, 4 de agosto de 2016
A Desordem do Mundo e a Agonia do Espírito
Eric Voegelin. História das Ideias Políticas Vol. I. Helenismo, Roma e Cristianismo Primitivo. Ed. É Realizações. p. 113,114.
sexta-feira, 29 de julho de 2016
O Culto a Dionísio: A Espiritualidade da Desintegração Social
quinta-feira, 28 de julho de 2016
Docetismo Gnóstico: O Princípio da Destruição do Corpo e o Princípio da Destruição do Mundo
quinta-feira, 21 de julho de 2016
Diversão, Velocidade e Preguiça: O Homem e a Fuga de Si Mesmo
sábado, 11 de junho de 2016
A Livre Interpretação das Escrituras e o Nazismo: Nem Tudo São Trevas
Tenho por tempos criticado a maligna história da interpretação bíblica calcada unicamente na liberdade. De fato, não conheço nenhum intérprete bíblico sério de peso que tenha deixado de lado a tradição de interpretação no interior do cristianismo como critério de interpretação e de fonte de pensamento teológico fundamental - o que também fizeram teólogos luteranos, condenando o liberticídio possível gerado no interior da teologia protestante da livre interpretação. Contudo, a liberdade no protestantismo não é de todo má - mesmo para Schelling que não obstante reconheceu a potência filosófica e literária oriunda da doutrina católica -, possibilitando na história a irrupção de pontos iluminadores de liberdade individual que permitem a resistência contra a tirania do pensamento único.
A história da Alemanha no período nazista é algo que comprova esta afirmação minha, sendo possível considerar o poder de resistência baseado na liberdade individual um fator - neste período - superior até mesmo à hierarquia disciplinar do colegiados de bispos católicos no mesmo período, ainda que a ideologia do Nacional Socialismo tenha devastado tanto igrejas evangélicas quando a Igreja Católica. É assim que o filósofo germano-americano Erich Voegelin relata como ocorreram as coisas no período, tal como segue: "Nada pode ser explicado como o lugar-comum do nacional-socialismo. É um caso de fenômeno pneumopatológico de corrupção social. Deve-se estar consciente disso acima de tudo no caso das Igrejas." (VOEGELING. Hitler e os Alemães. p. 207)
Mas comecemos com a corrupção da teologia evangélica no contexto do Nacional Socialismo. Tal corrupção esteve de mãos dadas com a absorção do Zeitgeist (espírito da época) por parte das Igrejas concomitante à perda do Elã espiritual e consequentemente à perda da realidade. Como Voegeling enfatiza, a consciência humana no âmbito da vida ou das construções intelectuais só são saudáveis juntamente com a consciência da presença divina - querendo ele enfatizar a ideia de que todas as ações e pensamentos humanos devem ser iluminados por um juízo superior sobre o certo e o errado. E quando a presença divina é substituída como elemento de juízo para a consciência humana por uma ideologia política daí o homem se encontra sujeito a toda sorte de corrupções, já que eleva um movimento político à altura de Deus.
Um exemplo claro disso foi a horrorosa Confessio do professor de filosofia da Universidade de Leipzing Ernst Bermann, onde recolhemos esta pérola: "Creio no Deus da Religião alemã, o qual se manifesta na natureza, no alto espírito do homem e no poder de meu povo. E no salvador Kristo [com um 'K' para parecer mais alemão], que luta pela nobreza da alma humana. E na Alemanha, a terra onde uma nova humanidade esta sendo forjada" (BERGMANN, Ernst. apud VOEGELIN. Hitler e os Alemães. p. 217)
Outro exemplo está na frase abaixo daquele que viria a ser o Bispo de Brandeburgo, o pastor Joachim Hossefelder que representava à época o movimento dos "Cristãos Alemães". As palavras nojentas são estas:"Estamos no terreno da cristandade positiva. [Isso está no programa do partido] Confessamos uma crença afirmativa em Cristo, conforme à raça [...], de acordo com o espírito alemão de Lutero [o que longe está de Lutero] e da piedade heróica (sic) [...] Vemos na raça, Volkstum, e na nação o que Deus depositou em nós e as regras de vida confinadas a nós, para cuja preservação existe para nós a lei de Deus. Por tanto, a mistura de raças deve ser combatida [...]
[...] Rejeitamos a missão judia na Alemanha enquanto os judeus possuírem o direito de cidadania e, então, o perigo do ocultamento da raça e do abastardamento continuarem. (GOLDSCHMIDT & KRAUS, apud VOEGELING. Hitler e os Alemães. p. 17)
E por último, temos da ala mais radical à esquerda à ala mais moderada temos uma declaração teológica de Friedrich Gebhardt, como segue:" A crença em Cristo é conforme a raça na forma, conforme com Cristo no conteúdo.
[...] O Novo Testamento em si é Evangelho, [e prestem atenção às confusão teológica com cheiro forte de gnosticismo] o Velho Testamento não se torna Evangelho nem mesmo através do Novo Testamento. [Portanto, fora com o Velho Testamento]
Israel foi o povo escolhido (Volk), mas Deus o rejeitou, e deu o Evangelho a um "povo" ("Volk") que daria seu fruto. [Ou seja, os alemães] Nenhuma nação pode vindicar o Evangelho apenas para si, mas Deus, mesmo hoje, ainda pode rejeitar povos, assim como fez uma vez. [dando a entender a eleição do povo alemão para os novos tempos]
Tal decadência esteve, como disse no início, arraigada na elevação das crenças da época ao nível da revelação divina, ou seja: a fé em Deus estava conformada ao espírito da cultura da época. Não há outro nome para isso que não idolatria - e severa, violenta e odiosa idolatria, que nada mais se constituí do que colocar os ideais, a cultura da época e a visão de um povo em substituição à vontade divina.
Contudo a corrupção no interior da Igreja Evangélica teve a sua contra-parte garantida por causa da liberdade de interpretação das escrituras. Se por um lado a ideia de uma interpretação oficial e definitiva não era algo inaceitável para a tradição evangélica, por outro foi ela mesma que tanto abriu as portas para a nazificação da teologia como permitiu que outros se opusessem à mesma nazificação. Nesse contexto podemos destacar personagem como teólogos de alto calibre como Rudolf Bultmann, Dietrich Bonhoeffer (sendo este martirizado por causa de sua oposição intransigente ao Nazismo), Joachim Jeremias e Karl Barth (todos ligados à Igreja Confessante), assim como a oposição até à morte de pastores como Paul Schneider.
De Rudolf Bultmann, em reação às declarações escandalosas da faculdade Erglangen, defendeu a universalidade do evangelho em contraposição à ideologia de separação de raças no contexto do Nacional-Socialismo: "A opinião de Erlangen não diz que todos os cristão tem uma adoção comum como filhos de Deus, o que não põe termo às diferenças sociais e biológicas? Ao contrário, não esta todo cristão ligado à posição em que é chamado? Sim, com justificação completa. [Agora vem esta passagem, I Co 7:20.] Estou surpreso com a temeridade do apelo a I Cor. 7:20. Pois não há nada para se ler aqui dizendo que essas diferenças também valem para o espaço da Igreja e têm significado. [...] Ao contrário! Paulo diz que as distinções que não tem sentido para a Igreja mantém a validade no mundo. Ele opõe I Cor. 7:17-24 contra esses tolos, que querem transformar os princípios da comunidade eclesiásticas em leis do mundo, contra o desejo de emancipação dos escravos e das mulheres [Por tanto, políticas igualitárias, já que todos os homens são iguais como filhos de Deus. A referência de Bultmann é correta.] E devemos agora perpetrar a tolice oposta de transformar as leis do mundo em leis da Igreja?" (GOLDSCHMIDT & KRAUS. apoud Voegelin. Hitler e os Alemães. p. 225)
Por outro lado temos a oposição tenaz de Karl Bart, aquele teólogo que ofereceu o espírito da constituição da Igreja Confessante - que surgiu como uma reação à nazificação da Igreja Protestante (o que refuta a tese de certa ala católica radical de que a Igreja Protestante se presta à deificação incondicional do Estado) -, a Declaração Teológica de Barmen. Eis algumas passagens da declaração teológica: "Rejeitamos a falsa doutrina de que a Igreja teria o dever de reconhecer - além e aparte da Palavra de Deus - ainda outros acontecimentos e poderes, personagens e verdades como fontes da sua pregação e como revelação divina. [...]
A Igreja Cristã é a comunidade dos irmãos, na qual Jesus Cristo age atualmente como o Senhor na Palavra e nos Sacramentos através do Espírito Santo. Como Igreja formada por pecadores justificados, ela deve, num mundo pecador, testemunhar com sua fé, sua obediência, sua mensagem e sua organização que só dele ela é propriedade, que ela vive e deseja viver tão somente da sua consolação e das suas instruções na expectativa da sua vinda.
Rejeitamos a falsa doutrina de que à Igreja seria permitido substituir a forma da sua mensagem e organização, a seu bel prazer ou de acordo com as respectivas convicções ideológicas e políticas reinantes." (Declaração Teológica de Barmen, parte I e II)
É nesse espírito que uma ala importante das Igrejas Evangélicas do período Nazista conseguiram se safar da conformação acachapante a que foi submetida toda e qualquer instituição cultural alemã no período. Isso foi possível pela ausência de uma doutrina que submeta as doutrinas teológicas a uma rígida hierarquia autorizada para interpretar o Evangelho. A tragédia das igrejas católicas na época, que no período devido à busca da unidade episcopal decidiu, na Alemanha, se submeter às leis do país afim de não parecerem "subversivos", foi justamente colocar a unidade acima de uma confrontação direta com o regime, ainda que bispos aqui e ali se pronunciassem de maneira profunda contra a barbárie Nacional Socialista, e mesmo que a oposição à ideologia socialista tenha sido feita por meio de documentos muito antes da ascensão de Hitler ao poder, o que não houve pelo lado protestante - muitas vezes possível por conta do considerável background filosófico católico, superior ao backgrund filosófico protestante, ainda que esse último tenha a vantagem de possuir uma tradição de verificação científica das escrituras muito superior ao mesmo domínio científico católico.
Por fim, a questão da liberdade de interpretação, tal como desejei apresentar aqui, é algo ambíguo, tal como o é a liberdade: é algo que deve ser julgado na prática, pois se a liberdade de interpretação for tomada como um bem em si mesmo, devemos ter em mente que é unicamente por meio da liberdade de interpretação que opiniões teológicas degeneradas formam tendências destrutivas para a Igreja. Mas isso não é um mal em si, pois sem a liberdade não teríamos chance de colher interpretações saudáveis, espirituosas e profundamente significativas para a vida espiritual que enchem de vida as comunidades eclesiásticas evangélicas.