quinta-feira, 29 de abril de 2021
Gregório Magno (+ 604 d.C.) e a Punição Vicária de Cristo
A Cruz não é Causa do Amor de Deus, Antes o Supõe
Deus não precisou da Cruz para tornar possível o seu amor: o envio de Cristo ao mundo não causa o amor de Deus ao homem, antes o pressupõe. Sendo assim, mesmo exigindo a reparação da ofensa, Deus é quem provê em seu amor expiatório a vítima da reparação, removendo com isso a totalidade dos obstáculos pelos quais o homem era impedido de fruir a totalidade deste amor.
quarta-feira, 14 de abril de 2021
Aristóteles e a Determinação Divina sobre a Alma
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1] ARISTÓTELES - Ética a Eudemo. 1248a1, 24, 25
2] Ibidem - 1248b1 4, 5
Aristóteles e a Medida Divina como o Fundamento da moralidade
No último tomo da obra "Ética a Eudemo" (E.E.), Aristóteles tem também como tema a noção de "sorte" (tykhe) na produção da felicidade do homem. Contudo, a fundamentação intelectualista da doutrina aristotélica não nos deixa confundir a "sorte" com o mero "acaso", já que é possível ver em sua filosofia a causação fundamental do Primeiro Motor (Deus) sobre todo o Universo, tal como se dá na alma, pois tanto do Universo como da alma Aristóteles afirma: "como no universo, aí [na alma] Deus tudo move"1. Assim, Aristóteles afirma que há um princípio superior à razão (que não nega a razão), sendo este princípio Deus (hó Théos), e que tal princípio agindo no homem o faz escolher o bem, ainda que este possa, em muitos casos, não possuir o aparelho racional desenvolvido. Poderíamos localizar esses homens na classe dos místicos, inspirados ou profetas, já que Aristóteles afirma que estes realizam boa deliberação "sob inspiração", pois "de fato, apesar de irracionais, conseguem até aquilo que tem a ver com o prudente e o sábio"2. Sendo Deus (o primeiro motor) o princípio acima da razão, governando não só o Universo como também a alma do homem e a sua razão, dando à alma do homem a medida da sua felicidade, logo, tal como o servo que segue o princípio regulador do senhor, a vida maximamente feliz segue o seguinte preceito: "a escolha e a posse de coisas naturalmente boas [...] que maximamente a vierem a produzir a especulação de Deus são as melhores, constituindo também a mais nobre das normas"3, e sendo a especulação de Deus a norma suprema, a medida divina é o fundamento de toda a moralidade. __________________________________________________________ 1] ARISTÓTELES - Ética a Eudemo. 1248a25, 26 2] Ibidem - 1428a35, 36 3] Ibidem - 1249b17-19
A Substituição Penal
As perguntas são estas:
Agostinho, a Ceia e o Sinal
A questão relacionada à eucaristia em Agostinho é profundamente disputada. O que podemos dizer é que Agostinho defendeu uma manducação espiritual, algo que podemos julgar como distinto daquilo que nomeamos transubstanciação. A razão disso é que um defensor assim jamais diria que "uma coisa é o sacramento; outra coisa é a virtude do sacramento", pois não há distinção possível feita assim para quem realmente defende a teoria da transubstanciação, já que aquele que defende chama o sinal literalmente de "Jesus Eucarístico", por exemplo, não pode assim proceder. Agostinho defendeu uma manducação espiritual, como podemos ver no trecho abaixo: “Moisés, Arão, Finéas e muitos outros que comeram o maná agradaram a Deus. Por quê? Porque entendiam o alimento visível espiritualmente, apeteciam espiritualmente, degustavam espiritualmente, de sorte que fossem saciados espiritualmente. Ora, também nós hoje temos recebido o alimento visível, mas uma coisa é o sacramento, outra a virtude do sacramento" (Tratados sobre o Evangelho de João, XXVI, 11). E sobre a diferença entre o sinal (signa) e a coisa (res) significada, isso é bem claro no "A Doutrina Cristã", onde Agostinho faz uma simples divisão. Para Agostinho o sacramento pertence à categoria dos "sinais" - assim como a Escritura Sagrada -, e não das "coisas" - como é o caso da encarnação de Cristo, a ressurreição, a substância divina (Deus) e da caridade, as quais pertencem ao universo das coisas, e não dos sinais (AGOSTINHO - A Doutrina Cristã. I.). Agostinho diz: "Toda doutrina se reduz ao ensino das coisas (rerum) e ao dos sinais (signa). Mas as coisas (rerum) são conhecidas por meio dos sinais (signa). Portanto, acabo de denominar coisas a tudo o que está empregado para significar algum outro objeto como, por exemplo, uma vara, uma pedra, um animal ou outro objeto análogo [...] Daí se deduz que denomino sinais a tudo o que se emprega para significar alguma coisa além de si mesmo". (AGOSTINHO - A Doutrina Cristã. I.2). Sobre os Sacramentos, no mesmo livro, Agostinho diz: “Pois o mesmo Senhor e os ensinamentos dos apóstolos transmitiram-nos não mais uma multidão de sinais, mas um número bem reduzido. São muito fáceis de serem celebrados, de excepcional sublimidade a serem compreendidos, e a serem realizados com grande simplicidade. Tais são: o sacramento do batismo e a celebração do corpo e sangue do Senhor” (Ibid. IX.13). Ou seja: a Ceia do Senhor está enquadrada, segundo Santo Agostinho, no grupo sinais que significam as coisas, e não no grupo das coisas que a que se remetem os sinais.