sexta-feira, 16 de março de 2018

Execução sob a DIalética das Trevas

   A morte da vereadora Marielle Franco do Rio tem todos os traços de execução, de barbarismo e de covardia. Contudo, a insensibilidade de fazer uma ideologia triunfar sobre o seu sangue é o que de mais grotesco pode haver para Marielle, pois o que se tenta neste caso não é resolver e esclarecer o assassinato, mas fabricar às pressas um símbolo artificial para lufar uma ideologia, dando azo à gritaria fanática que confunde a realidade com aquilo que se pensa dela.
   Não se faz justiça a Marielle com a gritaria. Ela pode sim ter morrido justamente por ser mulher, por ser contra a intervenção federal no Rio, por ser negra e militante dos direitos humanos segundo a interpretação do espírito do tempo. Contudo poucos pensaram ser ela, por essas coisas, um alvo ideal do próprio tráfico que poderia ter enxergado na morte dela esse potencial explosivo para fazer tremer a confiabilidade na própria intervenção.
   É horroroso ver alguém se assentar sobre a memória de Marielle de saída para fazer respingar o crime cometido contra ela sobre o exército e sobre a polícia. Isso é, por um lado, amadorismo de pensamento e por outro má fé grotesca - e mesmo se alguns policiais forem os responsáveis, quem diz que a polícia aliada ao tráfico no Rio não pode enxergar nisso um bem para si mesma? A deslegitimação da intervenção é o que pode ter tornado Marielle um alvo preferencial para os traficantes levantarem sobre a morte dela um símbolo de resistência contra a intervenção e a ação policial.


   Mas isso que é uma hipótese, é dialética demais para um cérebro desvitaminado que é, por isso mesmo, instrumento útil para quem quiser levar adiante uma guerra que hoje se trava também na mente das pessoas. Se a intervenção cair em descrédito - ou perder o seu eros -, então o tráfico terá triunfado sobre o corpo de uma militante oferecida em sacrifício ao demônio da desinformação. Precisamos de mais ceticismo em um país de crédulos que gritam ao primeiro estímulo. Mais atrapalha do que ajuda aquele que confunde sua paixão com a justiça ela mesma.

A Verdade do Espírito entre o Realismo e o Idealismo

Não temos uma experiência de outros mundos, temos, apenas, a experiência do nosso mundo e da realidade que nos pressiona por todos os lados a partir de onde nos encontramos. A verdade do realismo consiste na constatação que fazemos do impacto exterior da realidade na qual nos encontramos comprimidos. Contudo essa realidade seria demasiadamente pobre e também tirânica se o mundo se resumisse a esse impacto. A desolação geral do mundo e da inteligência, o caos político e também religioso, o fixismo sufocante que reduz todo a uma necessidade inexorável seria, no fim, o mesmo que um não viver se essa realidade não fosse contraposta ao idealismo que nos mostra o mundo não tal como ele é, mas sim tal como deveria ser.
A formidável capacidade que o homem tem de se elevar em seu espírito acima da realidade dada - do ser aí - e configurá-la à imagem do seu pensamento - ou realizar a aproximação entre o mundo e o pensamento - constitui a grandeza do homem. A virtude espiritual do homem consiste em não permanecer simplesmente ao que é dado, mas também em transformá-lo e, ao mesmo tempo, em saber quando é necessário deixá-lo ao seu ser-aí, ou deixá-lo tal como ele se encontra. Dialeticamente podemos afirmar que o transformar algo e o deixá-lo em seu estado fazem parte da própria transformação do algo, são momentos do mesmo e único processo, já que a transformação vai até um ponto em que não se avança, pois continuar avançando em uma transformação é diluir o objeto no nada, já que nunca se chega a uma forma determinada prosseguindo infinitamente. A forma final, ou a Ideia, é o fundamento da ação espiritual do homem no mundo pois permite ao homem mediar a Ideia para o mundo, dando à Ideia a concreticidade absoluta.
A tensão experimentada no homem entre a mudança e a permanência é aquilo que faz a consciência ser o que é e a síntese entre a mudança e a permanência é o que constitui o próprio Espírito e o Absoluto Fundamento de tudo. O homem é, por tanto, essa tensão entre o mundo e a Ideia, é, por tanto, o espírito que é contrário ao fixismo ou o dinamismo excluídos um do outro. Aqui se revela o espírito concreto e também a dinâmica própria da existência humana em todas as suas esferas de interesse, seja a esfera ética, política, artística, cultural ou religiosa. Essa constituição ontológica reclama a sua vigência em todos os domínios ônticos da vida, pois o ontológico, segundo as relações dialéticas entre os dois bastões basilares do espírito que são a forma e dinâmica, liberdade e necessidade, está presente em tudo, pois o ser é tudo, e segundo as medidas dos bastões dialéticos constitui a qualidade das coisas no nível ôntico. Por exemplo: na pedra a forma é mais predominante do que a dinâmica, ainda que ali a dinâmica não deixe de estar presente; na água a dinâmica predomina sobre a forma, ainda que a forma não deixe de estar presente também.
É próprio da consciência humano captar essas constituição das coisas por via da experiência contemplativa e, por isso, agir sobre elas. A consciência humana fica suspensa entre o céu e a terra e é na personalidade que são efetivados os valores e medidas através das quais se age no mundo, o que confere ao mundo uma mutabilidade, ao mesmo tempo que também se vê aqui o mundo como receptáculo e recipiente da Ideia, tendo a natureza a sua própria dignidade e constituição, sendo possível a contemplação do homem. Contemplação e ação dos homens em relação às coisas e em determinadas culturas a ação prevalece sobre a contemplação (como em culturas protestantes) e a contemplação prevalece sobre a ação (como em culturas predominantemente católicas). Mas nem em culturas protestantes a contemplação está ausente e nem mesmo a ação está ausente em culturas católicas. O médium entre contemplação e ação é aquilo que consiste no equilíbrio efetivo do espírito. A ação protestante é satânica se coloca o mundo num mal infinito de mudanças sem fim (e essa é a doença da modernidade), assim como a ação católica é satânica se se prende a um fixismo sufocante que comprime o espírito com blocos de realismo diante das quais o indivíduo desaparece e o espírito se apaga.

sábado, 10 de março de 2018

Herbert Marcuse, Sexualidade e Desordem

   Herbert Marcuse é uma espécie de Balaão redivivus, um charlatão sofisticado e poderoso que com o seu sofisma elegante atrai pessoas que se satisfazem com uma aparência de profundidade e complexidade, mas que desprezam aquilo que poderia orientá-las no mundo. Para essas o diletantismo corruptor de Marcuse é um baquete farto e pernicioso, como os doces bocados que penetram no mais profundo do ventre.
   A teoria "filosófica" de Marcuse era de que a continência sexual dos países altamente industrializados (e ele tem em mente, principalmente os EUA) influenciados pela moral puritana dos protestantes, os tornavam violentos. Então, conclui ele, a continência sexual leva a um comportamento rigoroso que recalca as energias psíquicas e por isso, tal como na teoria hidráulica, essa energia recalcada provoca irrupções e rupturas em outros pontos, no caso em questão em guerras, no desejo de domínio e na destruição industrial dos países avançados.
   Diante desse mal conclui Marcuse que a cura é a liberação das energias eróticas contidas. Se essa contenção era necessária no estágio mais primitivo da sociedade, onde a energia psíquica era canalizada para a força de trabalho, já nas sociedades avançadas a liberação das energias sexuais é uma questão de sobrevivência. A sacanagem geral proposta por Marcuse é a pedra de tropeço ou a trapaça para fazer o burguês que ama ser iludido pela moda do dia virar pó diante de gente mais esperta do que ele.
   Marcuse é o pai ideológico de várias anomalias que vem nos corroendo desde a década de 60. Foi dele o respaldo ao movimento Hippie, que tinha como seu mote durante a Guerra do Vietnã o "faça amor, não faça guerra". Também é nele que encontramos o fundamento das ideias que compreendem a teoria "Queer", a liberação sexual, a liberação das drogas e o apoio de qualquer excentricidade como uma tábua de salvação contra a "moral burguesa" ou contra a "moral cristã", de onde - dizem eles - vem todo mal do mundo moderno que substitui o princípio do prazer pelo princípio da realidade - como se ninguém no contexto do sexo livre tivesse matado por ciúme e como se a liberação sexual ou das drogas não fosse um fator de desordens e desintegração da personalidade e das relações humanas.
   Vale lembrar que Herbert Marcuse, que residia nos EUA, era aliado do Partido Comunista em plena Guerra Fria. Isso me faz lembrar da história bíblica de Balaão, o profeta que deu conselhos para que o rei Balaque enviasse prostitutas para o arraial dos israelitas para corrompe-los, já que não podia lidar com o seu poderio militar - o que quase causou a ruína dos israelitas. Por isso, para quem quer se orientar no mundo, Marcuse não passa de uma trapassa ou de um lançador de armadilhas aos inimigos.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Deus e a Ciência

 
A fundamentação da ciência moderna - como já afirmada por muita gente - tem a sua pedra angular no monoteísmo - ou o seu repouso necessário - e, em especial, em sua afirmação da onisciência divina. Afirmamos o conhecimento de tudo por parte de Deus e, consequentemente, como que em um refluxo dialético, que tudo pode ser conhecido, o que implica a existência de uma razão estrutural em todas as coisas a partir da qual, e somente a partir da qual, o conhecimento é possível.
   A fé da ciência moderna na possibilidade do conhecimento se aplica apenas a uma parcela mínima da realidade, ao aspecto fenomênico da natureza, ao que se revela a nós pelos sentidos, enquanto expulsa a realidade do espírito, entre outras realidades, do seu universo de compreensão.
   Contudo a própria razão humana não pode ser compreendida como uma derivação de arranjos químicos e muito menos se pode compreender como é que antes do desenvolvimento da ciência o homem tinha fé na sua concreção, antecipando a realidade da ciência em sua própria mente.
   Teríamos que chegar ao absurdo escandaloso para um cientista de imaginar uma pedra vidente, ou um conjunto de átomos entrando em conselho sobre o futuro da humanidade e do universo, ou um escândalo para a razão de imaginar um caos amorfo inicial tomando por acaso a forma de uma complexa estrutura de DNA sem uma razão estrutural anterior a tudo a ser obedecida - do caos não pode vir a ordem.
   Nada é ao acaso e tudo o que é possível, tanto para o homem como para a natureza, já era conhecido no próprio interior de Deus eternamente, ou ainda antes da fundação do mundo, ou em sua razão, o seu Logos e Verbo (nome que é dado pelo apóstolo João a Jesus no início do Quarto Evangelho e que em grego significa razão estrutural ou estrutura da realidade). Aqui está o verdadeiro e único fundamento de qualquer ciência que se nomeie no presente e que se pode nomear no futuro.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O Golpe da Narrativa do "Golpe"

    Essa galera de academia que vive condenando o que eles chamam de imposição de narrativa, ou de versão oficial - como por exemplo no caso da religião, da política ou da "cultura dominante" -, dizendo que a narrativa se opõe à realidade dos fatos, sendo uma distorção destes fatos, fabricam eles de forma cínica e arbitrária as narrativas que eles próprios desejam impor como "versão oficial".
   Sem peso na consciência eles acusam os outros daquilo que eles mesmos fazem. Nesse sentido são eles os dogmáticos, ou aqueles que ampliam de forma arbitrária suas próprias teses e versões de fatos sem fazer um contraste com as coisas tal como são.
   Um exemplo que chega a ser ridículo desse dogmatismo é a insistência quase psicótica com que eles descrevem a deposição de Dilma da presidência como "Golpe". Um golpe é, necessariamente, uma tomada do Estado por uso da força ou da fraude legislativa. No caso em questão a deposição foi legítima, se excluindo a tomada de poder seja pela força ou pela fraude legislativa, já que a forma jurídica da deposição da presidente foi obedecida cabalmente - a não ser no caso do mantimento dos direitos políticos da presidente logo após da deposição.
   Contudo, o que é a verdade para um grupo que acha que o mal da história é apenas eles não estarem no poder, ou quando consideram a palavra "democracia" apenas como um eufemismo para a sua própria ideologia, fora da qual tudo o que existe é autoritarismo, golpe e ilegitimidade? É isso o que explica o fato de eles apoiarem golpes reais chamando de democracia governos ilegítimos como o governo da Venezuela, já segundo a narrativa deles, tal governo se apoia em uma ideologia legítima, justificando-se assim, por uma adesão doutrinal, o que quer que de grotesco ocorra no mundo dos fatos.
   Por fim, é por esse dogmatismo fanático que a ideia do "Golpe" se torna ela mesma a realidade de um Golpe, uma fraude concreta levada adiante por um cinismo insolente que se recusa a enxergar como legítimo tudo o que não se enquadra com a sua própria narrativa dos fatos, já que não se enquadra na ideologia com a qual eles julgam qualquer política que exista neste mundo.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Os Pastores e a Filosofia

   A razão pela qual um pastor DEVE estudar filosofia é que não é possível compreender a cultura atual, ou responder aos questionamentos postos pelos problemas atuais sem recorrer à moldura filosófica na qual estes problemas vem vestidos a nós.
   Um exemplo disso são os problemas postos pelo positivismo e o socialismo, filhos débeis do hegelianismo, os quais são a encarnação apodrecida da escatologia (doutrina sobre as últimas coisas) cristã.
   Se o cristianismo afirma a comunhão com a realidade absoluta para depois da morte, as ideologias do positivismo e socialismo afirmam a unidade com o absoluto, ou com a realidade perfeita, na história, invertendo a promessa escatológica cristã.
   Uma ideologia, o positivismo, crê ser possível apreender a totalidade da realidade por meio da ciência, e o socialismo acredita que com a abolição da sociedade de classes o paraíso terrestre será instaurado. Em ambas as ideologias a questão principal que é posta é a eliminação das ambiguidades da natureza humana por meio da política ou por meio dos poderes da razão humana - como se o homem, que é o ideólogo, não fosse o seu próprio problema.
   Não por outra razão, por essas ideologias acreditarem ter encontrado a razão absoluta da história, surgem fanatismos e um autoritarismo hediondo, pois quem pensa ter achado a razão absoluta, consequentemente pode destruir ou matar quem se opõe à "verdade". A inocência em relação à natureza humana aqui é uma razão para rir e para desesperar.
   O cristianismo, ao contrário, por causa da limitação humana, não sabe ao certo quem são os bodes e os cordeiros, pois a transcendência de Deus não permite ao homem conhecer no todo os Seus caminhos e juízos, já que o Senhor está, em sua totalidade absoluta, para além da nossa razão.
   Mas mesmo que a verdade seja revelada, o cristianismo sabe que poucos são os filhos do Senhor que estão atentos à Sua vontade, e que mesmo esses contam com o flagelo dos seus pecados pessoais, o que demonstra que a humanidade não se encontra, pela corrupção que na história sempre teremos conosco, apta ao paraíso.

Ressurreição e Resistência

   A mensagem cristã da ressurreição é a mensagem da resistência à ação destrutiva das potências das trevas, ou, como está na bíblia, das potestades do ar, dos poderes que escravizam a mente e o espírito humano, afastando-o do liberdade para qual ele foi feito e sem a qual ele jamais pode desenvolver a sua própria humanidade.
   Essa ameaça pode se manifestar através da solidão, da ameaça de "não dar certo", de não ser aceito, ou desde às ameaças com peso psicológico originado pelo medo da não realização até as ameaças mais objetivas de perda de bens, de um lugar no mundo (seja isso uma propriedade ou um lugar no fluxo social) ou a ameaça mais crua de destruição física e morte. Ou seja, a ameaça do "não-ser", ou a ameaça do nada.
   O medo de "não realização", ou o medo da perda daquilo que já foi realizado (ou seja, a ameaça do nada), pode ser usado de forma demoníaca para escravizar o homem; contudo a promessa da ressurreição confere ao homem o poder de resistir a todas essas ameaças quando coloca a unidade total do homem com Deus como o topo da realização do homem, realização essa em relação a qual vale a pena lançar, com coragem, tudo ao nada, ou, de forma mais clara, o sacrifício de todas as outras coisas.

O Sábio e a Potência de Ser

Com isso, concluí tudo o que queria mostrar mostrar quanto à potência da Mente sobre os afetos e quanto à Liberdade da Mente. Donde fica claro o quanto o Sábio prepondera e é mais potente que o ignorante, que é movido pela lascívia. Com efeito, o ignorante além de ser agitado pelas causas externas de muitas maneiras, e de nunca possuir o verdadeiro contentamento do ânimo, vive quase inconsciente de si, de Deus, e das coisas; e logo que deixa de padecer, simultaneamente deixa também de ser. Por outro lado, o sábio, enquanto considerado como tal, dificilmente tem o ânimo comovido; mas cônscio de si, de Deus e das coisas por alguma necessidade eterna, nunca deixa de ser, e sempre possui o verdadeiro contentamento do ânimo. Se agora parece árduo o caminho que eu mostrei conduzir a isso, contudo ele pode ser descoberto. E evidentemente deve ser árduo aquilo que tão raramente é encontrado. Com efeito, se a salvação estivesse à mão e pudesse ser encontrada sem grande labor, como poderia ocorrer que seja negligenciada por quase todos? Mas tudo o que é notável é tão difícil quanto raro.

BARUCH DE ESPINOZA - ÉTICA

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Livres para a Escravidão

As pessoas que esperam corromper as leis, os costumes e a moral com a intenção de provocar uma "revolução", ou a "libertação", não se dão conta das potências que movem, podendo vir a ser vítimas do pesadelo social que elas próprias construíram.
Existem pessoas que na ânsia de fazer justiça violam as leis (como certos movimentos sociais e setores do Ministério Público ou do judiciário); que para promover a liberdade corrompem o sentido de família e da religião; que para promover a igualdade destroem a excelência e distinção entre o melhor e o pior; que para não "constranger" eliminam a distinção entre o que é inteligente e o que não é; e que para promover a inclusão apostam na igualação entre o bem feito e o mal feito ou entre o belo e digno do bagunçado e indigno.
No fundo todos os promotores modernos da "justiça", da "igualdade" e da "inclusão" desejam que os homens percam seus olhos e que sejam incapacitados para a realização de juízos de valor; contudo são os juízos que nos fazem distinguir entre o justo e o injusto, o humano do desumano, o certo do errado, coisas que constituem a divisa entre uma vida humana e o terreno da destruição de toda humanidade.
O único ponto de partida para a unidade entre os seres humanos é justamente a humanidade comum que partilhamos, e o pathos, ou o sentimento compassivo no qual nos enxergamos uns aos outros. Contudo não será destruindo ou degradando aquilo que nos constitui como homens que promoveremos a nossa unidade. E os promotores modernos da igualdade desejam a unidade na degradação e insensibilização, uma nação de homens insinceros e por isso corruptos e dados ao fechar dos olhos a tudo aquilo que é corrosivo para a sociedade humana.
Não esperemos disso a libertação, mas sim a corrupção generalizada e conversão da liberdade no comportamento licencioso de pequenos criminosos, algo típico de uma nação de escravos prontos para serem dominados por aquele que age com maior força e astúcia de coração.

A Tensão Existencial na Apreensão da Verdade da Fé

   Todo o cristianismo seria gnosticismo se Jesus, no momento da ascensão aos céus, tivesse dito: "voltarei tal dia e em tal lugar", marcando um momento limite, um fim da história no interior da história.
   Poucos cristãos ou pastores entendem isso, mas se Jesus tivesse dado uma certeza imanente na história, então a fé perderia sentido assim como viveríamos, como hegelianos, com o absoluto na nossa mente e deixaríamos de viver na tensão existencial da relação entre o tempo e a eternidade, perdendo o drama histórico no interior da nossa vida e a substância humana no interior da história.
   Poderíamos, como marxistas, ou como calvinistas radicais, sentar e esperar o bonde da inevitabilidade histórica passar. Contudo a fé se dá na incerteza do horizonte histórico e na imesão do nosso espírito no mistério divino, não sendo a fé uma mera ciência ou uma informação cuja posse nos daria a possibilidade de descansar de uma vez por todas, como deuses invictos ou como perfectis gnósticos. Não existe apocalipse humano na história que exclua a tensão e a ansiedade da tensão entre o tempo e a eternidade.
   Como cristãos, e não como totalitários que possuem o sentido pleno da história em nossas mentes, ouvimos: "levantem-se, pois não será aqui o vosso descanso", o que nos faz andar e viver no mundo, como peregrinos sem lar, inteiramente pela fé e em obediência ao chamado do Espírito Santo que nos conduz ao êxodo do tempo para a eternidade, da visão mundana para a visão eterna.
   Estamos a caminho!

O Cristianismo e o Discernimento do Mal

   O discernimento refinado do cristianismo sobre o mal tem a insuperável compreensão de que o mal, em sua malícia enganadora, vem vestido da aparência do bem. O mal pode se apresentar sob o manto humanista, benevolente, amante da humanidade e militando dissimuladamente em favor dos direitos inalienáveis do homem.
   E assim como é invertida a manifestação do mal, também é invertida a recepção da manifestação do bem. Alguns diziam de Jesus: "tem demônio", ou "ele faz isso por Belzebul, o príncipe dos demônios", e assim segue a recepção do mundo às boas-novas de Jesus, a manifestação absoluta do bem no mundo.
   Mas isso explica também qual é a qualidade da substância moral do mundo e a razão pela qual ele não pôde receber a Cristo como o Rei, cujo direito de posse do mundo está estabelecido por toda a eternidade. Ao invés da realidade do bem, segue o mundo acatando aquilo que apenas parece sê-lo e sem poder preencher a alma do homem com o que realmente importa.

Palavra e Desordem

   Se você raciocina na base de doutrinas e chavões, em palavras viciadas com significação negativa já pronta como "elite", "lucro", "capitalismo", tendo aversão à simples menção de alguma delas, você está, na verdade, rodando em círculos, pensando possuir uma autonomia de pensamento que não tem, se assemelhando mais ao Cão de Pavlov, que reagia de forma automática, sem o recurso do raciocínio, a estímulos provocados por meros sinais.
   Um dos remédios para esse mal é a análise do significado real das palavras, analisando, sobre tudo, de onde você adquiriu o seu amor ou aversão na presença de determinadas palavras. Dessa forma você recupera os sentidos das palavras e reestrutura a sua relação com a realidade, pois é função das palavras a mediação da realidade, mediação prejudicada quando elas vem cheias vícios ideológicos, pois nem sempre a "elite", o "lucro" o "capitalismo" são males historicamente evidentes.
   Contudo, quando as palavras sofrem essa perda da função mediadora por causa da ideologia, da paixão política e por causa da degradação social, então elas se tornam instrumentos de desordem pública e espiritual, sendo antes fontes de tormentos do que de reconciliação, o que demanda a recuperação de sua função original mediante a reestruturação da literatura e, em consequência disso, da imaginação moral que é um dos elementos básicos para a nossa orientação no mundo.

A Gasolina, a Economia e os Pobres; Ou: O que é Preciso Entender

   Sobre o preço da gasolina existe algo que até os "consevaminions", os "direiteens" não entenderam. Vamos lá: Qual foi a razão da quebra da Petrobrás, quebra que foi uma das responsáveis pela devastação de desempregos que até agora nos afeta? - vocês se lembram da greve dos caminhoneiros, os mesmos que choravam porque os fretes estavam baixos?
   Pois bem, a razão da quebra foi a política de preços de combustível na gestão Dilma, pois por razões populistas os preços não eram repassados segundo o preço do comércio internacional, o que forçou a Petrobrás a subsidiar os combustíveis. O resultado foi a quebra da empresa, o rebaixamento das notas internacionais para investimento no país e o rebaixamento da economia ao nível especulativo.
   A mesmíssima coisa aconteceu com o setor elétrico. Como a senhora dos palmares, a dna. Dilma, baixou o preço da energia ignorando o mercado e a equação oferta e demanda, os resultados foram os apagões e a elevação do preço da energia a níveis estratosféricos para compensar a perda da empresa por causa dos subsídios, o que também gerou os desempregos de hoje causados pela elevação brutal dos preços depois das eleições de 2014.
   Obedecer as regras de mercado não é questão de preferência pura e simples, mas sim de prudência, economia (que significa: a lei da "oikos", ou lei da casa) e de respeito à natureza das coisas. A desventura nesta área, a imperícia, imprudência e populismo (baixar os preços a todo custo) resultam no pior dos mundos possíveis, o que inclui o desastre principalmente para os pobres, certamente os mais afetados a longo prazo, porque vulneráveis às más oscilações mais sutis da economia.
   Enquanto as pessoas no Brasil não equacionarem regras de economia à sua forma de ver o mundo, assim como nutrirem a falácia de que a economia e o bom funcionamento do mercado é algo que só interessa aos ricos, estaremos sujeitos a decisões erradas que, como é visível e empiricamente provável pelo estado de coisas do Brasil atual, tende a acabar com a vida dos pobres.