quarta-feira, 18 de junho de 2014

Contra o Socialismo

  


  O governo socialista é o resultado da fusão do poder político e econômico nas mãos do governo. Já nas democracias capitalistas o que impera é a divisão dos poderes, sendo o poder político separado do poder econômico. 

   Quando, por exemplo, um indivíduo sofre o agravo de um capitalista em um governo de economia capitalista, o agravado tem a possibilidade de se refugiar na sombra do governo; e, por outro lado, se o governo começar a se valer de um poder persecutório sobre aquele que o incomoda - por exemplo -, aquele que é perseguido pode se refugiar nos braços de alguns empresários - a exemplo de muitos judeus que conseguiram se refugiar da perseguição nazista por meio do apoio de empresários que os abrigaram, como Schindler e outros. No entanto, em um governo que funde o poder econômico e político, se algum indivíduo for perseguido pelo governo, onde é que ele encontrará refúgio, a não ser em Deus mesmo? 

   Essa foi uma das constatações que me fez desacreditar totalmente em qualquer espécie de socialismo, pois o mesmo, jamais tornou-se, assim como jamais se tornará, um Comunismo de fato - Comunismo que é materialmente e espiritualmente impossível, assim como injusto na raiz. 

   Nunca houve na história da humanidade uma concentração de renda tão grandiosa como aquela fomentada por governos socialistas, cujo aparato de poder de ação só é possível quando, em uma nação, o seu poder transborda, e muito, sobre todos os capitalistas juntos. O que podemos pensar de uma mega concentração de poder nas mãos de poucos? Isso nunca deu certo, assim como nunca poderá dar certo, de fato. 

   Mas o que mais espanta é que o mesmo socialismo só é possível por meio da colaboração coletiva, onde cada qual oferece o seu quinhão na concessão de um poder gigantesco para uns poucos - seja conscientemente ou por negligência -, convencidos pela lisonja da vida mais fácil. Mal sabe aquele que assim contribui que constrói uma mão não para esmagar, mas, antes de tudo, para ser esmagado. 

sábado, 7 de junho de 2014

Escritura, Nazismo, Virtude e Lucro





   Vamos começar com a leitura de dois versículos da Escritura:

   15 - Perfeito era nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti.

   16 - Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas [blilhantes]. (Ez 28:15-16)



   Um dos métodos de interpretação das Escrituras é o alegórico, onde predomina um princípio hermético que compreende a relação entre a história e as passagens bíblicas como círculos concêntricos, ou seja: na micro história bíblica se sobrepõe, significada por esta última, a macro-história universal (e vice-versa). 



   É por este método, compreendendo a Escritura em sua estrutura simbólica, que se faz possível a atualização do seu sentido, hoje, para todos aqueles que compreendem o texto bíblico como intérprete da realidade e como a fornecedora de orientações para a vida presente. 



   Lendo, hoje, na revista Super Interessante (ed. 333) a matéria de capa que trata do envolvimento de gigantes da indústria mundial na construção da Alemanha nazista, me veio uma luz que lançou uma clareza ímpar tanto sobre a Escritura, assim como sobre os eventos históricos e que, resumidamente, se trata disto: 

   01 - Com relação à "perfeição dos caminhos", basta lembrar que o III Reich foi tido como a apoteose da virtude, visto que no movimento foi visível o apregoamento de noções como higiene, fraternidade, fidelidade, trabalho árduo, disciplina, coragem, engajamento, cumplicidade, crescimento econômico e até mesmo a investidura de uma intensa piedade religiosa - interpretando o Füller como um tipo Messiânico do III Reich Milenar (que possui um misto de inspirações pagãs e bíblicas - Ap. 20:6) - foram patentes no Nacional Socialismo (Nazismo). 

   02 - Mas o Nazismo não foi apenas visto, em meio à intensa humilhação após a Primeira Guerra Mundial, como uma luz da virtude que impulsionou a esperança e o alavanque dos ânimos dos alemães para a reconstrução da nação, pois é notório o crescimento econômico vertiginoso experimentado durante o governo do Füller. Por exemplo, a IG Farbem - desmebrada após a Guerra - que contava com a participação de gigantes na área química como a Bayer, subiu o seu lucro de 5 milhões de marcos, em 1936, para 122 milhões de marcos em 1943. 

   Entre as empresas que investiram na reconstrução da Alemanha, assim como influenciaram o boom econômico, o fornecimento de armas, tecnologias para os campos de extermínio, participaram ativamente do governo e que se serviram do trabalho escravo, estão: A IG Farbem (Basf, Bayer e Hoescht - que colaboraram com os campos de extermínio na fabricação do gás Zyklon-B, utilizado nas câmaras de gás), a IBM (que forneceu uma tecnologia de informação para organização de campos de extermínio), Kupp, Siemens, Coca-Cola (desenvolvendo, na época nazista, a Fanta sabores uva e laranja), Nestlé, Dr Oetker, Ford, GM (General Motors), BMW etc. 

   03 - Não é preciso nos delongarmos para compreender o que veio ser a profanação do nome do Nacional Socialismo que, antes - ainda que tenhamos que fazer um esforço para vislumbrar isso (como faço até hoje!) -, era contemplado com uma auréola de de santidade, assim como o seu Füller!

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   Todas as empresas citadas a cima obtiveram lucros imensos, assim como a promessa de estabilidade e crescimento na Alemanha após a Guerra, mesmo que, em nome dessas promessas e por causa do lucro, tivessem que sacrificar os seus princípios por meio de trabalho escravo, colaboração com os campos de extermínio, financiamento das políticas racistas do Nacional Socialismo etc. 

   É de se notar que, hoje, muitas empresas e políticas públicas contam com um impedimento mortal: a moral judaico-cristã que, como se encontra registrado nas escrituras, proíbe o lucro na base da corrupção e do sacrifício humano como visto nestes dados. 

   Não é a toa que a busca pelo poder seja delimitado - não impedido - por meio de regras e princípios cristãos; e é certamente nisso que reside uma das motivações mais profundas do ódio que, hoje, se encontra voltado para o cristianismo bíblico e para os cristãos que professam a fé no mesmo. 

domingo, 1 de junho de 2014

A Gênese Real de Todo o Mal



   Para mim, uma das coisa que traz mais amargor ao meu coração é o divórcio. Mal sabem as pessoas que o casamento, na ótica de Jesus e do Novo Testamento (e infelizmente de maneira mais gritante no meio protestante, entre as ramificações do cristianismo), é algo indissolúvel. O advento da (i)moralidade moderna pôs o desejo pessoal de realização imediata - ou instantânea - acima do casamento.

   A mentalidade da relação como algo descartável é a responsável pela destruição e pelo enfraquecimento da consistência das relações humanas em suas mais diversas manifestações. Nunca termos como fidelidade, verdade, sinceridade, paciência, esperança, perdão, compreensão, doação e auto-sacrifício foram tão inacessíveis e detestados pelos homens, imperando no lugar dessas coisas, quase unânime, aquele método de sobrevivência baseado na falsidade integral, que expõe ao ridículo aquele que nega a mentira como uma arma de sobrevivência legítima.

   Nesse sentido, mentir é a regra fundamental para toda a "boa relação", assim como a pose e a aparência para satisfações daqueles que são guiados, apenas, pelas vistas e não pela via invisível dos valores.

   Não é de se admirar que em meio à desvalorização e degradação da ideia do casamento, surja uma sociedade hipócrita, amante de si mesma, cínica, lisonjeira, e com uma necessidade absoluta de aprovação alheia - resultado da solidão que lhe vem do desprezo metódico, da afetação de superioridade, do engano e da existência sedutora que satisfaz os sentidos, mas não podem remediar e dar segurança para a alma, sendo, na verdade, os meios de perdição da mesma.

   A falta de perseverança na construção de algo sólido, duradouro cujo resultado não pode vir do dia para a noite é, acima de tudo, sinal claro de decadência, pois a visão de mundo moderno apregoou que ser sábio é viver guiado pelo prazer presente, mesmo que isso seja feito às custas da tristeza alheia. Não é de se estranhar que a recompensa disso tudo seja a solidão atroz pela qual muitos se queixam, sem saber, de fato, que essa ilusão e auto-engano onde muitos procuram a felicidade é, na verdade, a gênese real de todo o mal.

Contemplação, Estética e Personalidade



   Tal vez uma das razões para a decadência da moral humana em um determinado lugar seja a ausência de exemplos modelares que indiquem a existência de uma realidade mais elevada, assim como um padrão mais alto pelo qual pautar a conduta pessoal em determinados momentos da vida. 
   
   Uma das funções definitivas da religião cristã - e por isso, uma das contribuições mais decisivas e essenciais para a vida humana - tal vez seja o apontamento para uma realidade que transcenda as movimentações ordinárias, indicando a falha nas mais diversas dimensões da existência. 

   Uma das contribuições decisivas da religião judaica - e endossada pelo cristianismo - foi a execração da ideia da divinização humana (como, por exemplo, em Ex 20:2), o que permitiu a contemplação de um padrão eterno, ainda que inatingível para a vida temporal, assim como leis fixas que não deveriam ser revogadas, ainda que o ser humano jamais pudesse, em suas falhas existenciais, cumprir em si as exigências provenientes da Lei divina (Rm 7).  

   Devido a isso, é de salutar importância a ideia da transcendência - ou mais precisamente a ideia de Deus - e do incondicionado em meio a cultura humana, pois tal transcendência possui um poder que alavanca e estimula a ascensão da consciência até ao nível de um padrão moral por meio do qual se pautar, permanecendo fixo e irrevogável pelos séculos dos séculos. 

   Não houve para a vida intelectual científica, religiosa e pública - a começar por Moisés e os profetas de Israel, Paulo, Sócrates, Platão, Aristóteles, os pais da Igreja, Lutero, Leibniz, Newton, Montesquieu, Descartes, Kierkegaard etc. - uma contribuição que inspirou de maneira mais decisiva a acensão antropológica e a construção e consolidação de ideias, culturas, leis, nações, modos de relação, de produção, e instituições do que a ideia de um Ente-de-Razão-Superior e Eterno, fundamento da realidade ou da moral, que fornece por si uma cosmovisão, quer para o indivíduo, quer para a sociedade, apresentando por Si Mesmo o Seu SIM ou o Seu NÃO a toda e qualquer ação desempenhada no âmbito da realidade. 

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   Em quê se pautar? A pergunta para essa resposta não pode ser fácil ou mesmo simplória, pois, nestes dois casos, o que se coloca em jogo é a resposta fundamental que indica para o ser humano como agir, pensar,  esperar, em fim: viver. 

   Uma resposta essencial para essa pergunta é dada ao ser humano através da religião, e não é atoa que aquilo que é colocado diante dos olhos do ser humano como um Ser Superior, objeto de sua contemplação, sempre se imponha, também, como o objeto supremo de desejo do adorador, seja o desejo da incorporação total dessa divindade em si mesmo, ou seja na participação das forças e energias divinas em meio a história da vida, eliminando, com isso, os problemas existenciais presentes, passados e evitando os futuros. 

   Na Bíblia, vemos da parte de Jesus um apelo: "Sede perfeitos como o vosso Pai Celestial é perfeito" (Mt 5:48), assim como da parte da tradição religiosa judaica: Sede Santos porque Eu, o Senhor vosso Deus, Sou Santo (Lv 19:02; e, paralelamente a isso: I Pe 1:16). Que seria isso, senão uma exigência para que o contemplador, ou adorador, se esforçasse para atingir o mais alto padrão de vida no contexto da própria vida, através da prática constante da espiritualidade, que envolve a compreensão da existência de coisas eternas e perfeitas, não constatáveis no contexto da existência humana individual ou coletiva, mas acima dessa e invencível sobre essa?

   Na prática da obediência a Deus, no âmbito da fé cristã, se encontra a prática da oração, onde por um envolvimento profundo do indivíduo na contemplação divina, através da fé - o que não pode ser concebido como a projeção do "meta-humano" de Feuerbach -, o ser humano é colocado, definitivamente, perante o Absoluto à quem ele roga, se espelha e deseja, em um movimento místico que atinge até as raízes do seu ser, promovendo curas psíquicas, físicas e meta-físicas - ou espirituais. 

   Não tratamos, aqui, essas coisas como puro idealismo, visto que as possibilidades de tal perfeição não possem a sua origem, puramente, do pensamento humano, mas sim numa correspondência à uma realidade de ordem superior a qual é intuída ou revelada, de onde emanam e se fundamentam a ordem, a perfeição, e onde reside, definitivamente, a razão e o significado do ser humano em seu estado mais belo, puro, perfeito, ou seja: universal. 

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   Não é por acaso que da negação de princípios fixos, da ideia do Eterno, do Verdadeiro, de um Bom-em-Si, assim como a ausência da contemplação de padrões elevados de vida, piedade e virtude - ou seja, da estética autêntica, que é um campo do conhecimento filosófico cujo objeto de estudo é o Belo -, siga-se uma relativização agressiva que coloca em xeque toda a fundamentação da moral, rebaixando a mesma ao nível da degradação total e deformando incontornavelmente a personalidade e cultura humanas.

   No contexto atual da sociedade brasileira, é óbvio que podemos enxergar uma cultura doente, sem senso de direção, perdida em si mesma, assim como frustrada com relação aos pontos de apoio que para si criou como meios de obter consolação frente às demandas da vida pessoal, política e mesmo religiosa. 

   A quantidade infindável de receitas, de criações culturais, de livros, programas terapêuticos, eventos, músicas, e soluções já criaram a falsa sensação de conforto por causa da opulência desses meios que chegam próximo ao infinito, pondo, até mesmo, uma nuvem pseudo-profilática que fornece apenas um paliativo, mas que no momento seguinte se revela como impotente para por um fim definitivo à dor do espinho da carne que incomoda intensamente, e que revela uma dimensão mais profunda e infinitamente mais séria do mal presente na humanidade.  

   A sede humana por padrões altos, assim como a exigência que por parte da sociedade humana se faz com relação às coisas ordeiras, justas que permitam a construção de uma personalidade moral autêntica - pelo menos no Brasil, onde essa exigência é profundamente alta, hoje -, apontam para um anseio humano de totalidade, de transcendência, cuja correspondência não pode ser menos do que o perfeito como uma resposta aos dilemas existenciais que pedem, a altos rogos, por cura, e nada menos do que Deus e a contemplação de Sua perfeição, beleza, eternidade e santidade pode fornecer um padrão definitivo de como pensar, agir e esperar e assim curar o cor inquietum (coração inquieto, em latim), que, segundo o bispo cristão Agostinho de Hipona, é o desejo eterno da alma pelo descanso em Deus.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

A Inércia Condescendente e a Invasão Vertical dos Bárbaros




   Não me contento, e acho no mínimo pavoroso que ninguém consiga ver nada nisso. É de amargar, pois espernear daqui para ali, para ver se no mínimo uma consciência acende em meio a este tumulto é um trabalho - quase - de Sísifo: quando achamos que vamos rolar a pedra para o outro lado ela, novamente, volta e passa por cima de nós, esmagando-nos.

   A leviandade e o analfabetismo político de um povo intocado dentro se si mesmo, e residente em um mundo prazeroso aos sentidos faz com que, por sua desatenção, repentinamente lhe estourem a porta tomando a sua  vida por assalto.

   Nunca, aos meus olhos, foi tão agoniante ver a inércia de um povo, pois isso - como já disse - é o início de seu próprio castigo. Não adianta "trabalhar as ocultas", na "humildade", pois isso seria semelhante a apagar um incêndio assoprando bolhas de sabão. Tudo isso é semelhante a um indivíduo que, ao ser assaltado, faz um apelo ao assaltante para que ele atente para as boas maneiras. Tudo inútil, pois em determinadas situações é necessário "sentar o pé", pois, do contrário, com uma ação menos enérgica se põe em risco a própria vida.

   Este último decreto (dc. 8.243) da "presidenta" (que erro de português persistente, meu Deus!), simplesmente acabou com a democracia representativa, dando início à lei do mais forte, do movimento mais robusto, mais violento, mas impregnado daquela força esmagadora que, sequer, respeita o outro (a calda do Dragão Ap 12:4) - não estaríamos, aqui, vendo o reavivamento do poder revolucionário marxista?

   A igualdade dos indivíduos perante a lei é o que confere, verdadeiramente, a identidade para a democracia. Trocado o indivíduo por um movimento, o poder estará nas mãos não do voto - que é do indivíduo -, mas do "maior movimento", o que, em si, é o fim do poder das minorias, ou um esmagamento do indivíduo e do poder da consciência individual.

   Por fim, ouvi falar que a revolução, agora, não é mais feita plenamente nas bases, mas é um movimento vertical que, de cima a baixo, ou de um movimento descendente que vai das instâncias maiores do poder à totalidade da vida civil, promove a invasão devastadora de bárbaros e esses, pelo que vemos, não querem o nosso bem, apenas poder. 

terça-feira, 6 de maio de 2014

A Metafísica da Compreensão; Ou: Entre Babel e Pentecostes

   A simplicidade guarda também o maravilhoso; e já alguém disse que o genial é reduzir o complexo até à sua simplicidade; também a linguagem, por mais singela que pareça, é um desses elementos presentes no universo que guarda o seu fascínio.

   Não se pode considerar, sem um certo grau de abstração, a maravilha presente no simples fato de que um determinado eu fale e um outro compreenda. De que um determinado indivíduo peça e um outro responda à aquilo que foi pedido. De que um determinado alguém chore - seja por dor ou por alegria - e um outro seja por isso movido em suas entranhas por compaixão, ou mesmo por um profundo ódio. A possibilidade da informação e a captação pela inteligência de algum sentido transmitido na linguagem, se encontra  inserida nas dimensões abissais daquilo que podemos chamar de metafísica, ainda que vivenciemos mais isso do que qualquer outra coisa em nossas vidas.

   Quando escrevi o texto "A Gramática do Real" tinha em mente, também, questões como a da possibilidade da compreensão entre um ser humano e outro, assim como a da possibilidade da compreensão do mundo por parte do ser humano, o que sustento ser algo fundado sobre uma base transcendente que sustenta tudo aquilo que há no universo, e que forma o eixo no qual é possível, também, a nossa orientação no âmbito da realidade, sendo que a ausência deste eixo transcendente provocaria, nada mais e nada menos, do que a imersão da totalidade da existência no mar do caos - que é o destino último de toda espécie de teoria que afirme contundentemente a inexistência de uma verdade objetiva e real por si só.
 
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   Com essa introdução preliminar, é possível prosseguir o raciocínio a cima destacado com mais acuidade. Para que possamos compreender, irei destacar duas compreensões distintas acerca possibilidade de uma contato com o real, sendo que ambas são opostas frontalmente em si: 1º) a ideia da impossibilidade do conhecimento da realidade objetiva; 2º) a ideia da possibilidade do conhecimento objetivo de  uma realidade objetiva.
   Ao longo dos séculos, estas duas posições vem sendo discutidas. Anseio aqui - não com a profundidade necessária -, explicitar as duas correntes e, ao fim, mostrar a minha posição sobre o assunto, assim como aquela que deveria guiar o nosso pensamento.


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   A primeira noção acerca da teoria do conhecimento que iremos trabalhar, pertence à corrente que afirma "a impossibilidade de um contato objetivo com a realidade". 

   Essa ideia claramente descende de um determinado "pessimismo antropológico", assim como - como diria Ludwing von Misses - de uma pluralidade de "lógos" existentes devido ao suposto fato de que as condições ou posições determinam o pensamento humano - como classe, local vivencial, cultura, distinta experiência de vida, raça, carga genética etc.

   Com um olhar para o mundo da cultura, tal teoria teria aparentemente uma fundamentação no real, visto que uma certa pluralidade nos salta aos olhos e que, sem dúvida, fala de "diferentes valores" que seriam socialmente construídos ao londo dos milênios e que surgiram por força de uma experiência cultural específica - ou muitas, até. 

   Um teórico que se destaca nesta escola trata-se de Friedrich Nietzsche, que concluiu que a moral tem um fundo explicativo na psicologia da vontade, sendo assim nas condições oportunas do momento destituídas de impessoalidade e neutralidade; ou seja: todos os valores humanos são construções humanas que, em última instância, são imposições feitas por meio de uma ação humana na cultura e história. Sendo assim, não há moral e nem verdades por si mesmas, mas apenas aquilo que no fundo ele chamou de "vontade de poder" que, na realidade, é a característica última, assim como a última possibilidade explicativa de todas as ações humanas possíveis. 

   Aqui pode-se perceber que a verdade, no fundo, é pessoalidade, e sendo pessoalidade é uma construção de indivíduos, não possível, sequer, uma neutralidade, assim como um algo "em-si" e puro. Ainda que a vontade de poder possa ser considerada um princípio metafísico, as questões da imobilidade de uma realidade absoluta que fundamente a ação humana, assim como a estrutura da realidade que se impõe acima do ser humano e da multiplicidade de "verdades", são considerados por Nietzsche como máscaras que, no fundo, ocultam a pura vontade humana. Ideias como "valores absolutos" e "verdades absolutas" são vistas como suspeitas devido a esse voluntarismo universal. Devido a tudo isso, segundo Nietzsche, ideias como "metafísica" e a "coisa-em-si" são mentiras a serem destruídas, pois no fundo, tais conceitos camuflam as intencionalidades impostas como verdade última, algo inadmissível a um "espírito livre". A constatação de tal fato demanda a necessidade da "transvolação dos valores", pois as "verdades vigentes" são coisas de um época que amparam, apenas, determinados grupos - como o clero, igreja, poderes e a ciência. Tal tarefa de implodir os valores para a chegada de um "novo sol da verdade", de uma autêntica liberdade, é algo que, segundo Nietzsche, será realizada pelo "Super-Homem" - como anuncia Zaratustra.

    No entanto, com todas estas informações, cabe a pergunta se Nietzsche desejava ser compreendido de maneira objetiva, ou se mesmo que ele não quisesse que sua mensagem fosse apreendida e obedecia servilmente segundo o seu expediente - afim de que cada qual fosse um espírito-livre -, se uma obediência à ordem de não obedecê-lo e de não compreendê-lo não seria a correspondência à uma informação objetiva, por isso "em-si" como um dado da realidade, prevalecendo, assim, a sua própria consciência sobre as demais consciências. 

   Um outro indivíduo cuja compreensão é fundamental para o assunto em questão, trata-se do filósofo prussiano Imannuel Kant, cuja epistemologia nega qualquer acesso a dados metafísicos através do conhecimento, assim como a intuição direta de objetos reais. 

   Kant pertence à escola do idealismo germânico, e isso porque, segundo ele, o conhecimento não é algo que dependa do objeto simplesmente, mas sim - e com muito mais intensidade - do sujeito que apreende, não o objeto em-si, mas o fenômeno que fornece os dados por meio dos sentidos que são sintetizados pelo pensamento.    
   Noções como "espaço", "tempo", "relações de causa e efeito", são algumas categorias segundo as quais os dados sensíveis são sintetizados e transformados em conhecimento. Isso sugere que a mente não é, por isso, capaz de verdade, sendo que o mundo não é, para nós, o mundo tal como ele é, mas aquilo que dele apreendemos segundo nossas categorias. Isso expulsa qualquer possibilidade de conhecimentos metafísicos, pois, segundo Kant, não podem ser conhecidos por não poderem ser captados como dados sensíveis, pertencendo, por tanto, à esfera dos dados a-priori, que podem ser pensados, mas não conhecidos, diferente dos dados a-posteriori, ou seja, aqueles que são experimentados e pensados. 

   Nesta compreensão de Kant se torna impossível o conhecimento daquilo que chamo de "real", ou seja, das coisas tais como elas, por si mesmas, se apresentam a nós na intuição (experiência direta) da realidade. Se levado até às últimas consequências, não podemos ter a certeza de nos orientarmos no espaço, e mesmo a possibilidade de se desviar de um buraco na rua, assim como subir com precisão o meio-fio evitando o tropeço. Também, a certeza da comunicação entre indivíduos é comprometida por a mesma ser sujeita às categorias que, no fundo, não podem nos colocar em contato com o sentido próprio das palavras. O problema aqui é este: qual a garantia que temos de que as categorias de Kant são semelhante às nossas categorias, assim como que as categorias de todos os seres humanos são semelhantes entre si? Não seriam as "categorias" apenas "dados" inapreensíveis pela experiência senão dados da abstração? Também: como Kant pode saber sobre a "impossibilidade" da apreensão total do real, pois não seria esse limite algo cujas possibilidades de ser como fronteira entre uma coisa e outra algo cuja realidade e possibilidade seria um dado, por tanto, absoluto? Qual é a possibilidade do próprio limite compreendido por Kant? O que é o limite compreendido por Kant? Seria o fenômeno do limite algo que fosse diferente daquilo que o limite é em-si? - é interessante atentar para a questão do limite em Kant, pois se trata de uma dos mais importantes elementos de sua epistemologia. 

   Também, a pergunta que caberia a Nietzsche poderia ser feita a Kant: não seria compreender Kant uma refutação do seu pensamento, assim como uma superação? Se compreender um fato como realidade em Nietzsche seria implodir o pensamento de Nietzsche, compreender Kant não seria implodir o pensamento de Kant? O que podemos apreender de Kant é a sua "obra-em-si", ou o "fenômeno-de-sua-obra"? Eis o resultado lógico que escoiceia o nosso pensamento quando pensamos tudo isso.  

   Se Kant e Nietzsche - que logicamente são opostos em algumas coisas entre si - fossem em suas conclusões considerados como quintessência da verdade - nos dados que foram por mim apresentados -, imagine como seria o meio em que vivemos? Certamente que um puro caos. Não haveria possibilidade de compreensão, e nem mesmo de discordância, pois tudo estaria sujeito a uma relatividade totalitária sem fim. Deslizaríamos uns sobre os pensamentos dos outros sem chegar à apreensão do cerne daquilo que o outro disse, pois cada verdade seria uma "verdade para si". Tal confusão demoníaca, é semelhante à aquilo que podemos ver na escritura bíblica sobre Babel, onde a capacidade de compreensão um do outro foi debilitada. Se essa fosse a  verdade de fato então o processo de conhecimento não nos levaria para a realidade, mas para o seu inverso: para a desagregação nossa da realidade e, em seguida, para o nosso cerramento absoluto na esfera subjetiva, provocando um entenebrecimento demencial, introduzindo-nos esquizofrenicamente em um mundo paralelo que pode ser concebido epenas por aquele e lá vive e acredita através de um processo de sugestão psicótica. Tal é, para qualquer dotada de sanidade, o resultado ultimo dessas teorias sobre a verdade (Nietzsche) e o conhecimento (Kant).    


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   A segunda consideração paira sobre a possibilidade real de uma verdade objetiva que guie a realidade humana, assim como forneça um logos que, acima da cultura humana, a julgue, quer reprovando, quer confirmando; quer concedendo o seu sim, quer concedendo o seu não. 

   A ideia de uma realidade objetiva não foi negada em Kant, ainda que residindo na esfera da razão prática, pois julgava ele que uma fundamentação da moral era necessária pra que fosse possível uma orientação das decisões no âmbito da realidade. Por isso, a religião, ainda que não pudesse ser pensada, poderia ser vivida. 

   Kant com essa empreita busca interpretar os conteúdos de fé à luz da razão prática afim de chegar no fundamento moral último da religião (conteúdo este eterno), entendendo que o fim do homem é um fim moral. 

   Até aqui podemos andar com Kant, no entanto, podemos perguntar se tal conteúdo moral não é, também, uma realidade objetiva, ou mesmo passível de conhecimento. Com isso, como posso reconhecer algo como moralmente bom se, antes, não o conheço? E se a moral não é objeto de conhecimento, como podemos apreender o seu fundo como bom através do reconhecimento de que isso, de fato, é bom? Não estaria aqui a doutrina da alma no estilo grego sendo necessária no jogo? Como posso pensar algo sem o conhecer e sem apreender a sua essência (definição) e sem que a essência da coisa possa ser apreendida? Não entraríamos, novamente, se este último não fosse possível, no mar do caos?

   A coisa é de uma evidência clara, pois não se pode prescindir do conhecimento, ou melhor, da estrutura formal da possibilidade do conhecimento - que é, ela mesma, o objeto de estudo da metafísica - que, ainda que não existente no campo da experiência é, contudo, o único padrão possível para o julgamento das experiências. Coisas como o bem, o mal, o certo e o errado presentes no julgamento moral não podem prescindir de uma determinada forma que funde, independentemente de interesses, a validade real do juízo.

   Não parto, aqui, da premissa que vê nas culturas existentes o fim último da análise cultural, assim como do pensamento que compreende que a cultura humana geral é a única aferição da medida da moral, assim como a fonte única para a compreensão acerca dela mesma, o que certamente desembocaria na questão da "moral relativa", e que fundamentaria a ideia de que a moral é uma questão apenas regional, o que apagaria a ideia do objetivo último, supremo e uno da vida humana.

   A intelecção humana, como tal, se atém às formas de juízo, o que fundamenta uma gramática do pensamento humano, cujas produções variam de pessoa para pessoa, mas cujas formas são dependentes, em tudo, da dilapidação para a sua legitimação, o que é oferecido pelas possibilidades do pensamento (que são anteriores à esses), cuja existência é chamada de Verdade.

   Nesse sentido podemo dizer que o pensamento humano, por si só, não pode ser considerado a verdade última - a não ser que o primeiro participe do último. Também, nenhuma existência histórica cultural pode ser considerada, em si, a verdade propriamente dita, e nem o suprassumo da realidade última, contudo, nenhuma cultura poderia existir e nem mesmo ser coesa em si se não houvesse uma verdade objetiva, que - como disse - essa verdade condenando-a, quer legitimando-a.

   A possibilidade da própria compreensão se fundamenta na realidade objetiva, visto que a necessidade de uma base que possibilite a compreensão daquilo que falamos, sentimos, e do que escrevemos impera sobre todas as relações humanas.

   E para ilustrar o que digo aqui, basta que lembremos do registro na Escritura sobre a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes, onde uma comunicação se deu através de indivíduos que não conheciam outra língua que não a sua, mas que - assim dizendo -, em uma espécie de "linguagem universal", cumpriram os requisitos das formas de comunicação e da compreensão, de maneira que aquilo que eles "falaram" pôde ser ouvido e compreendido.

   O milagre, neste sentido, não passa pelo processo de "racionalização", pois ainda assim não se pode justificar o fundo de tal milagre, pois não se consegue justificar a compreensão - neste caso - a não ser através da constatação da própria compreensão que, como um axioma matemático, deve estar na "conta" para se resolver a questão.

   Muitas outras linguagens universais poderiam entrar na digressão que aqui se faz, mas o que é importante compreender é que apenas um ponto absoluto conseguiria possibilitar a compreensão, a comunicação assim como o julgamento que se faz de todos os dados que nos chegam por meio das experiências.


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   Sempre hão de haver ideias múltiplas sobre aquilo que dizemos sobre o campo do real, mas apenas uma fundamentação da própria realidade pode conferir objetividade devida objetividade a este campo, pois a unica coisa que ideias múltiplas sobre o real conseguem dizer é sobre a existência de ideias múltiplas, mas o julgamento das mesmas, certamente, é uma questão essencial para a nossa própria orientação pessoal e consciente de nossas vidas. 

   A mera "constatação" da inexistência de uma verdade objetiva é contraditória na própria expressão - como espero ter provado -, justamente porque a constatação da inexistência é, por sua vez, um dado que tenta se passar por absoluto e, por tanto, verdadeiro. 

   O mesmo ocorre com a ideia da irreconhecibilidade de uma realidade metafísica, pois a própria transformação do dado da irreconhecibilidade em uma constatação universal é, por sua vez, transformado em um dado real que faz de uma ideia verdadeira e, por tanto, justa e assim real ou possível. Por isso a Metafísica do Conhecimento de Imannuel Kant entra em jogo, não pela experiência, onde Kant julga ser o único campo possível do conhecimento, mas pela abstração pura, onde ele julga captar os parâmetros para o juízo acerca de um determinado fato que ele advoga como definitivo (e por isso com uma validade metafísica). Se Kant se refere ceticamente à experiência sensitiva do mundo, é necessário entender que o ser humano deve, por meio dos dados que lhe chega pela experiência, se orientar nele. Se apreender o que vejo como algo que "não vejo", então segue-se que a pura apreensão da obra de Kant é propriamente impossível, pois a sua linguagem ou comunicação é, também, impossível, tanto como os conceitos que ele busca validar em sua obra - como a-priori, a-posteriori, moral, imperativo categórico etc - os quais chegam a mim por intermédio da obra de de Kant. 


   A impossibilidade da inapreensibilidade de uma realidade objetiva é o ponto onde toda a possibilidade de compreensão humana e de comunicação se mantém de pé ou cai. Certamente que, ainda aqui, noções de bem ou de mal não podem sofrer essa análise ou essa justificação, justamente porque a única justificação da verdade é a própria verdade assim como a consciência sem testemunhos que temos da própria verdade. 

   A validação ou a reprovação de uma determinada moral também passa por esse crivo, pois somente a consciência individual pode conhecer a moral tal como ela é, assim como apreender os princípios que subjazem a uma determinada consciência e que fundam a ação humana individual e o seu desdobramento no mundo, trazendo consigo, a cima de tudo, a carga intransferível de responsabilidade pessoal que se presta perante o Absoluto, quer o indivíduo queira ou não. Neste sentido, todos necessitam de uma Verdade que não deixe a vida humana precipitar-se na destruição e num vazio de sentido. 

sábado, 26 de abril de 2014

Sobre a Dita "Inexistência da Verdade"


   
   "Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas" (Nietszche).

   Um filósofo antigo faria uma observação à essa frase: non sequitur, ou seja: não se segue. A expressão "non sequitur" é utilizada quando se deseja designar uma falácia retórica. Nosso sofista a cima não deixa claro que, ao ele contradizer-se a si mesmo na frase, o que ele procura deixar é, visivelmente, uma definição, ou seja: uma verdade.

   O  dito "não há" na frase acima não pode deixar de se referir a um algo concreto, pois se espera que aquele a quem é dirigida tal frase apreenda o algo a que ele se refere, ou seja, que o indivíduo tenha consciência desse algo como uma coisa existente na realidade, coisa essa compreensível por si mesmo, assim como representável por meio da linguagem. Com isso, o "não há" de Nietzsche não deixa de ser um apontamento para uma verdade de fato, concreta, a qual ele, contraditoriamente, decide negar, ao mesmo tempo, a existência, mas não percebendo, também, que negando a existência da faticidade dos fatos ele cria um outro fato que pela lógica interior desse pensamento deve, por sua vez, ser negado. Disso seguem-se dois caminhos óbvios que, no fundo, possuem um destino apenas:

   1º) Ao negar a existência de fatos eternos ou de verdades, Nietzsche cria um outro fato: a inexistência absoluta dos fatos. Ora, se Nietszche apregoa aqui a inexistência absoluta de fatos e verdades, é claro que tudo isso só pode ser compreendido como um FATO ou uma verdade absoluta no âmbito da realidade que, por sua vez, é apreensível pelos indivíduos a quem ele se dirige.

   2º) Se ocorrer que ainda ele persiga na obstinação de forçar a "veracidade" do seu argumento - o que é contraditório pela própria lógica interna do seu pensamento - então ocorre aqui a "negação da negação", o que só pode ser realizado por meio da positivação de uma determinada negação (a negação também é uma afirmação), e com isso, pela natureza própria do empreendimento, a única coisa no campo do real possível é que tal empreendimento seja algo existente, e, portanto, um fato como tal. Mas se ele, ainda com isso, negar o fato resultante, nem por isso a negação não seria um outro fato, cujo evento pede o reconhecimento de sua própria existência e assim ad infinitum.

   O que me resta a pensar é que esta tese da "inexistência de uma verdade absoluta" tem um tom de paranoia, e reflete um modo sub-ginasiano de pensar e refletir o mundo, assim como a filosofia. Não é estranho que muitos, com um ardor fanático, defendam essa afirmação de Nietszche como se fosse uma revelação divina? Ironia, não?

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A Cultura Como Atualização e Destruição das Potências

   Não raro a palavra "potencialidade" chega aos nossos ouvidos. Frente a ela não podemos ter distanciados de nós a compreensão humanista que ela trás com a sua carga de significação, justamente porque com isso é impossível uma compreensão fatalista do ser humano, assim como se torna impossível o afogamento de quem quer que seja no mar das contingencialidades: a potencialidade é uma característica da própria humanidade.

    A sociedade moderna pode até mesmo afirmar isso ou aquilo sobre os potenciais humanos, no entanto, pelo fato de ela ter expulsado a metafísica de seu círculo de pensamento, jamais ela pode ter por justificada, com base nas suas categorias, o significado real de potencialidade tal como ela se encontrava patente na compreensão que guiou a maior parte da sociedade até o início do século XVIII, quando as ciências modernas foram, ao poucos, assumindo irresistivelmente o posto de grande intérprete da realidade, até a sua aceitação majoritária por parte da mentalidade política, científica e filosófica no século XX.

   É certo que ideias como a "unidade da humanidade" e "educação", não podem, jamais, serem justificadas diante da expulsão da metafísica como uma legítima categoria do pensamento humano (nunca, na verdade, se deu uma "expulsão" total dela). Mesmo a ideia de "sentido" não faz nenhuma sentido diante disso, pois carece de bases para a sua validação e fundamentação. Também compreensões com respeito a ideias de justiça, do belo, do bem ou do mau, e até mesmo a objetividade são destruídos com esta expulsão, o que cria ideias como "construção social do pensamento", que, se forem analisadas com mais atenção, carecem de substância para a sua sobrevivência no meio cultural - também vale ressaltar que com isso não se nega a "regionalidade" da cultura e mesmo a multiplicidade de manifestações culturais, pois a multiplicidade é um dado do qual não se pode escapar, mas o mesmo ocorre com a compreensão de que seres humanos são integrantes da própria existência humana (um dado universal), assim como a necessidade de algo que anteceda a experiência (como a mente), cujas leis possíveis nesse algo são necessárias para a compreensão das formas reais do mundo (como os dados matemáticos no espírito humano e na própria realidade), assim como a nossa orientação nele.

   Bem, o que se afirma aqui, no entanto, é que a humanidade possui uma "potência" inalienável no seu ser, e que a mesma é o fundamento de toda espécie de realização humana no âmbito da história. E tal como a potência é, a mesma se atualiza como ato, pois qualquer ato humano transita, antes de sua percepção como fenômeno no campo histórico, no campo do possível, e este está para além de ser vislumbrado historicamente, a não ser que seja antecipado por meio de uma abstração ou prolepse (uma "queda antecipada") na consciência pessoal. 

  Podemos exemplificar isso comparando a potência como uma teoria ou um plano quando são formulados. Antes de sua execução, tal teoria ou plano se encontram em estado de potência, mas quando eles são executados passarão a ser atualizados na história como ato puro. 

  Para compreender melhor a afirmação que aqui se faz, podemos dizer que a humanidade possui um "plano" no seu interior e que o mesmo não pode ser anulado, e que isso mesmo é uma das características essenciais da própria humanidade - como já mostrado na necessidade das formas no espírito para a compreensão, por exemplo, dos dados matemáticos.

  Tal como isso é, todas as culturas devem, por assim dizer, resultar justamente de algo interior no ser humano; ou seja: uma estrutura - como afirmou o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss. A cultura é, por isso, o resultado das atuações individuais ou coletivas ao longo do tempo, e todas as realizações que passam por este processo maravilhoso da passagem do "ideal" para o "existencial", da mente para a história. Ainda que não se considere neste texto os vários pontos da discussão que surgem desta "passagem" do campo das ideias para o campo propriamente dito da história - o que é alvo de investigação filosófica há milênios, como em Platão, Aristóteles, Agostinho, Anselmo, Tomás de Aquino, Lutero, Calvino, Melanchton, Lebniz, Kant, Hegel, Schelling, Nietszche, Husserl, Lavelle, Barth, Tillich etc. -, não se pode deixar de refletir sobre este campo inesgotável de investigações. Mas por hora, basta compreender que a cultura é o resultado, também, das atualizações das potências humanas na história. 

   Se os olhos humanos e o seu espírito fossem agudos o suficiente para perceber isso, certamente que uma análise mais completa da própria vida e cultura não seria algo como um mistério esotérico, mas seria algo patente no próprio modo de ser das coisas - isento de ideologia e capaz de enxergar sem entorpecimento a própria história como tal. 

    ***

   Podemos prosseguir com a pergunta: é possível compreender a história como o campo da efetivação plena das potências? Não é possível isso quando se trata das configurações da existência humana. No entanto, é possível enxergar as coisas, também, à luz da corrupção da atualização da potência humana, como, de fato, se tem visto em na expressão "inteligência a serviço do mal" ou mesmo na noção de pecado. 

   Aqui sigo as pisadas da teologia cristã, assim como em Agostinho, quando no livro "O Livre Arbítrio" ele disserta sobre a ideia do mal e da corrupção histórica como resultado da inefetividade do livre arbítrio, o qual existe apenas em estado de potência, mas que não pode ser atualizada de maneira completa e total. 

   Com isso falamos da existência da própria corrupção, atuante como um processo não lógico (no sentido da não contradição), mas como uma lógica do poder pelo próprio poder, afim de afirmar a si mesma de maneira irresistível, impondo a sua própria condição no âmbito da realidade não somente histórica, mas também na realidade total como uma substituta do logos.

   Esse é um fato sinistro que tende ir em direção à um mal absoluto, à uma treva eterna que poderíamos chamar de "corrupção total" ou mesmo de "condenação", de onde o caminho de afastamento total das configurações do real é algo irreversível. 

   No âmbito das possibilidades totais, a possibilidade da irreversibilidade do caminho de afastamento da configuração do real (do qual os estados clínicos de loucura e paranoia são analogias) sempre foi algo patente na consciência humana como uma ameaça de segregação da mesma, de maneira que isso justificou noções como o bem e o mal, assim como, por outro lado, fundamentou a própria noção de ética pessoal e coletiva, assim como a noção de responsabilidade para com o outro. Nos ensinos cristãos sobre a condenação, o mal absoluto é fortemente enfatizado, o que acabou por fornecer energias suficientes para que fosse possível a compreensão antecipada dos resultados do rompimento absoluto da unidade do real, da busca pela verdade ou do o amor e Deus.

   A corrupção da potência é, por sua vez, a corrupção da cultura humana tanto pessoal como coletiva. Pode-se também averiguar que o grau de realização humana sempre está relacionado com um poder de exteriorização máxima dos potenciais espirituais e racionais atualizados no mundo concreto.

   No entanto, quando dizemos algo sobre a corrupção humana, falamos efetivamente das enormes deficiências que há nas possibilidades da atualização das potências. Esse distanciamento da possibilidade de efetuação da potência em ato é a causa das angústias, dos desencontros, assim como é a causa primeira das revoltas, das catástrofes, dos desentendimentos, das intrigas assim como da morte.

   Aqui, frente a esta tese, podemos fazer algumas ponderações que diferenciam o mal efetivo da deficiência da atualização das potências, o que não da margem, em definitivo, à ideia de que as limitações e a atuação má de fato se encontram em um mesmo patamar. Por questões éticas é necessário traçar uma distinção entre uma coisa e outra. 

   1º) A questão relacionada à deficiência de atualização das potências é, necessariamente, a ideia de que o ser humano não pode gozar plenamente da perfeição para a qual se acha orientado ainda nesta vida. A tendência humana no campo da história para as coisas que são eternas traça a situação histórica na qual o homem se encontra. A ideia cristã de pecado é exata quando ela procura definir a situação humana na história, também. Os insigths fornecidos por isso são verdadeiros e justos. A frustração, uma tendência às vezes irresistível para o erro, assim como inescapabilidade do vacilo frente à situações históricas que pedem firmeza de espírito, assim como a ausência de forças para prosseguir demarcam a situação existencial do ser humano. Contra isso não se pode lutar, pois é semelhante à uma força que impera irresistivelmente sobre nós e sobre a qual não podemos nos ver livres sem uma ex-soteria (uma salvação que vem do lado de fora), um auxílio e uma ajuda. 

   Com isso podemos ver as várias dificuldades, assim como elementos irreconciliáveis na cultura que, por sua vez, buscam impor-se por meio de sua própria força. Por isso é que, também, podemos ver uma determinada pulsão erótica querendo se instalar irresistivelmente no campo da própria realidade. Também é por isso que vemos a ira e o ódio se assenhorando dos nossos pensamentos, fazendo uma pressão brutal sobre nós. Aqui o problema maior não é tanto o sofrer tais assédios, assim como, em certo grau, aceitar suas sugestões, mas sim a tendência de institucionaliza-los como forças legítimas no campo da cultura; e é sobre isso que passamos a falar agora. 

   2º) A questão sobre a institucionalização das forças da destruição como instituições legítimas no campo da cultura é um campo profundamente rico e que serve como uma das fontes mais fecundas de reflexão da atualidade. Reflexões filosóficas atuais, como as feitas por Olavo de Carvalho, assim como foi feito por Erich Voegelin são sintomas disso. Na verdade, esse traço é um dos temas que nunca sairá de cena, a não ser após o juízo final, por assim dizer.

   Podemos dizer que essa institucionalização destas forças da destruição é resultante da desistência humana de resistir a estas forças, o que resulta em uma aliança consciente ou não com elas e, com isso, na transformação das mesmas e forças, por meio de uma adequação das mesmas no campo das ações pessoais e coletivas, em forças de sentido, instituições, assim como na acomodação dos significados resultantes dos sentidos erigidos por estas forças em símbolos culturais, que uma vez chancelados por grupos ou indivíduos, colocam em marcha poderes de destruição para o meio cultural humano, sendo até mesmo patenteados por esses, como é o caso do Nacional Socialismo alemão ou o Comunismo Soviético.

   Não é possível, neste sentido, entender pecados isolados como a cólera, a lascívia, a glutonaria, a cobiça etc como causadores, por si, de instituições monstruosas como estas a cima; no entanto o chancelamento e a institucionalização dos mesmos, e a transformação delas em forças políticas é aquilo que podemos chamar de pecado contra o Espírito, ou seja: o pecado contra a estrutura do real, pois tais empreendimentos não apenas são resultantes do sofrimento pessoal por essas forças, mas sim a busca da legitimação das mesmas como forças históricas e até mesmo eternas. Não há um erro mais imperdoável do que a resistência sistemática para com a verdade. E justamente foi esse erro que estava ameaçando com a condenação os fariseus, como disse o Senhor Jesus Cristo. No caso, não vemos apenas a deficiência da atualização das potências, mas a busca pela legitimação da mesma deficiência como a estrutura própria realidade, o que, por si, é uma distorção e um falseamento da própria realidade e um atentado contra o Espírito.

    A imposição de um novo logos é uma das maiores ameaças que se pode sofrer quando, na verdade, sempre pertenceremos a apenas um logos. Quando uma interpretação da realidade busca se estabelecer como ela própria, em todas as suas estruturas e limitações e em detrimento da noção de infinito em sua dignidade real, ela busca substituir qualquer outra interpretação possível da realidade por uma visão temporal e terrestrializada, sacrificando tudo aquilo que existe em favor da sua legitimação. Os limites, em favor mesmo da realidade, devem ser respeitados afim de que a realidade, por si mesma, possa se mostrar ao mundo e ao homem tal como ela é, e mesmo um discurso sobre a realidade deve, por obrigação, dar todas as margens para isso. As vezes, não há maior desserviço para com a verdade do que buscar explicá-la; e não há maior crime do que buscar inventá-la e não obedecê-la tal como ela se mostra no espírito humano. No entanto, peca também aquele que não busca compreende-la bem.

***

   As contradições culturais são resultantes do ato humano no âmbito da realidade que externa aquilo que se encontra no seu interior. Isso pode se dar tanto de maneira pessoal assim como coletiva. Também, as relações entre potência e ato são decisivos para compreender a realidade, sendo considerada aqui tanto as realizações assim como as limitações que são passíveis de compreensão justamente porque há uma unidade do real presente no espirito humano e que justifica tal compreensão.

  É necessário, no entanto, uma investigação mais profunda para compreender mais precisamente que a cultura humana não existe apenas como atualização das potências humanas, mas como também, consciente ou inconscientemente, na tentativa de destruição das potências latentes no ser humano que é também ator nesta empreita. A destruição ativa, assim como a auto-destruição é um processo complexo que surge no intento de estabelecer uma realidade paralela à aquela que definitivamente se encontra já inscrita na alma e na realidade e que define o ser humano e o seu caminho como tal. Todas as tentativas de invenção da realidade, que não acordada com a estrutura da mesma surge apenas com uma inocente mas perigosa intenção de se por acima daquilo que podemos chamar de Ordem - o qual é intuído nas várias tentativas religiosas de inúmeros povos de se manter reconciliado com poderes que estão à cima de sua capacidade de manipulação e que, por sua vez, podem atuar mantendo a vida ou destruindo-a.

   Neste sentido, é certa e mais do que legítima as marcas da tradição religiosa, ou de qualquer outro ensino que busque sempre relembrar o ser humano da existência do incondicionado, do a-temporal, assim como dos caminhos superiores à ordem visível das coisas que, em tudo, buscam sustentar e fornecer energias possíveis para o embasamento da realidade, da cultura e da alma humana por meio de um determinado logos, ou uma ratio que, uma vez conhecida, é ela própria o poder de significação e sustentação de tudo aquilo que se vê, se vive e daquilo que esperançosamente se espera. Com isso podemos falar, no meio cultural, do maior segredo do cristianismo: a atualização das potências divinas no ser humano e na história através do logos Jesus Cristo, contra a destruição do homem por meio dos poderes demoníacos do caos. Esse sim é um verdadeiro símbolo cultural. 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Gramática do Real

   A história pessoal nos leva, ao longo do tempo, a formar sentenças em nossa mente sem as quais não seria possível sequer a orientação pessoal no âmbito da própria realidade.

   Eventos distintos parecem carregar um estrutura idêntica pela qual podemos até mesmo realizar julgamentos, assim como visualizar distinções claras e inequívocas.

   Tais eventos nos levam calmamente a um processo de emersão e de concretização da consciência, o que por antigos filósofos seria chamado de "atualização das potências", ou, de acordo com a corrente da psicologia analítica, ao processo de individuação por meio do qual podemos entrar em um contato mais profundo com o "cerne duro" do nosso Eu verdadeiro, diante do qual o eu temporal é apenas uma projeção confusa e parca como um espelho embaçado.

    Levado por aquilo que podemos chamar simbolicamente de "Providência", penso que alguns eventos que cá e lá observamos nos levam cada vez mais para dentro da compreensão de que a realidade como tal é dotada de uma determinada estrutura da qual não se pode fugir. Podemos chamar isso de um dom divino, pois a compreensão disso nos leva a calcular, medir, subtrair, multiplicar e fracionar a realidade, assim como a experiência pessoal e, a partir dai, lançar fundamentos coesos e reais para o julgamento daquilo que iremos empreender em nosso presente, assim como aquilo que podemos esperar - ainda que contando com veios invariáveis e indomáveis - do futuro.

    A dádiva da intuição da realidade (da experiência imediata daquilo que nos chega a nós), e a constatação irresistível de um determinada estrutura que sustenta o mundo tal como vemos e no qual compreendemos e vivenciamos pessoalmente, sem a necessidade de um apoio exterior a não ser na própria intuição que temos da parca realidade que experienciamos, é o próprio motivo da condição da humanidade enquanto humanidade, assim como o elemento que nos permite distinguir a humanidade do outro. Aqui, nem tudo pode ser compreendido como um algo imediato, pois o próprio conhecimento é o resultado final de uma série de intuições que, agregadas, somadas e julgadas em nossa consciência, formam um produto final, um "símbolo da razão" em que jaz a razão correspondente com o real por meio da qual podemos nos orientar no mundo. Não é, neste sentido, o conhecimento imediato e pessoal um conhecimento de fato (no sentido do conhecimento total), mas sim o seu vestígio e a sua prova, que agregadas formam catedrais imensas e, por meio das quais podemos enxergar, de fato, uma estrutura, da qual a arquitetura da razão adquirida por meio de sucessivas intuições é apenas uma aproximação digna.

   Não é por acaso que tanto a sabedoria, assim como a verdade, são filhas do tempo, e isso cada vez mais me leva a crer e a pensar, assim como vislumbrar parcamente o que para mim posso chamar de fato, que há uma estrutura, um logos, assim como uma gramática do real.

sábado, 19 de abril de 2014

Ascese

   Na compreensão clássica a ascese significa uma disciplina pessoal, que leva um indivíduo à um apartamento da vida ordinária, afim de que esse possa concretizar uma consagração da vida física e espiritual à uma esfera superior da realidade conhecida, culminando assim na supressão das paixões caóticas da alma que confundem o verdadeiro contemplar de ordem transcendente que, em si, contém a significação plena e completa de todas as coisas, assim como a resposta para a situação histórica na qual nos encontramos.

     A rigorosa aplicação dessa ascese foi sentida na vida cristã desde os seus primórdios, dando origem à mística que, em todas as vertentes do cristianismo, se faz presente de maneira indelével na fundamentação moral, nas sínteses teológicas, na visão de mundo, na visão de civilização e na visão a realidade pessoal frente à existência absoluta de Deus.

   O rigor ascético é o princípio primeiro de toda e qualquer espécie de tarefa de compreensão de mundo, pois frente ao mundo estamos todos nós com a tarefa que nos é imposta de nos orientar no interior desta realidade. Isso não se faz de qualquer maneira, visto que da compreensão adequada do mundo depende a nossa vida e a vida daqueles que amamos e daqueles com os quais convivemos. A consciência de dever absoluto de responder às necessidades da vida, só é possível para aqueles que nutrem uma reverência profunda para com a vida, assim como para aqueles que são despertos para a contemplação de um dever que se encontra presente em si mesmo, e isso sem nenhuma justificativa possível, a não ser o próprio fato de que ele se encontra aí. É um dado do qual não se pode fugir, e isso seria semelhante à uma tarefa impossível, como fugir da própria sombra.

   O tribunal superior da consciência é aquele que, nos levando a reverenciar a vida, nos leva, também, ao abandono de tudo aquilo que não cumpra com o rigor imposto, incondicionalmente, pelo dever que nos toca e que, em consequência disso, busca trazer à luz uma resposta à altura contra tudo aquilo que ameaça a vida, seja a compreensão fútil da existência, o desejo de poder pelo poder etc. Tal intuição da realidade é o fundamento das mais variadas religiões do mundo, assim como é ela mesma o fundamento de toda e qualquer espécie de cultura, assim como de qualquer civilização humana, suas leis, constituições, doutrinas jurídicas, escolas etc. Toda e qualquer espécie de instituição humana legítima é fundamentada na questão da necessidade de manutenção, assim como da preservação da vida, e qualquer temor reverencial à vida leva o ser humano que para essa verdade é conquistado a abandonar todo devaneio passageiro no qual não se pode apoiar a vida, e isso afim de que ele próprio não seja vitimado pelo poder assombroso do caos.

   Aquele que assim se propõe, docilmente, reverentemente, humildemente a compreender as questões relativas aos problemas que atingem o seu mundo, sofrendo a dor do apartamento, da solidão e da abstração (afastamento) do mundo ordinário (ou seja: comum), para que, contemplando-o, enxergue em meio ao caos a Luz que a tudo significa, não está somente se entregando à produção de uma verborragia frívola e procurando com isso os foco alheio para si mesmo, mas, em busca de elevar um pouco as condições humanas por meio do partejar de uma pequeníssima fagulha de luz que traga um pouco de claridade para o outro, ele se encontra, com este movimento de ascese, também elevando-se a si mesmo.

sábado, 5 de abril de 2014

Sobre o ensino totalitário e a plataforma esquerdista

   Os alunos brasileiro estão tirando os últimos lugares nos testes internacionais. Recentemente houve uma pesquisa que alertou que os péssimos resultados em lógica matemática reflete a péssima qualidade de leitura dos alunos. O materialismo-histórico-dialético tem provocado uma dificultação ao acesso da herança intelectual humana com os seus conteúdos riquíssimos e imprescindíveis, e também um progressivo esvaziamento do conteúdo intelectual do aluno brasileiro, ou em outras palavras: tem provocado um emburrecimento sistemático, e, em consequência disso, com a ajuda do nosso sistema de ensino público, uma fabricação em série de diplomas no ensino fundamental, médio e superior.


   Paulo Freire virou um papa do ensino brasileiro, e o seu conteúdo, certamente, é uma das bases pra a sustentação do governo vigente no poder, assim como é o sustentáculo da cultura esquerdista e progressista. Com um apoio tão gigante do ensino público, como pode o petismo, o lulismo e o esquerdismo não manter a hegemonia? Palavras como: "conservadorismo", "direita" e "cristianismo", "economia liberal", "patrão", "pastor", "padre", "Igreja Católica", "pai", "família tradicional", "Dogma", "Igreja Evangélica", "religião", "empresa" etc. soam como um xingamento para os "ouvidos adestrados" pelo ensino resultante do "materialismo-histórico-dialético"; e por outro lado, palavras como: "esquerda", "PT", "povo", "partido", "oprimidos", "luta social", "libertação", "bolsa família", "social", "socialismo", "Venezuela", "Lula", "liberação" etc (fantasiados - claro! - caricaturisticamente, ou ideologicamente) excitam o inconsciente que, por sua vez, ativa o circuíto neural provocando um gozo quase que erótico para aqueles que ouvem essas palavras - o que certamente corresponde a aquilo que Gramsci disse sobre o "imperativo categórico invisível semelhante a um mandamento divino", e também a "terrestrialização do pensamento", chutando para longe ou criminalizando qualquer pensamento que faça referência aos valores familiares, tradicionais, transcendentes, ou para a virtude, para a alta cultura, para a ciência, religião, esforço, mérito etc. O ensino freiriano é uma declaração suicida para o ensino, pois se o professor não é o agente do conhecimento, mas o aluno, que sentido faz o mesmo ir para a escola (como bem disse a professora Campagnolo no vídeo abaixo)? Não seria isso transferir de maneira brutal e responsabilidade do ensino para o aluno, desonerando o professor do seu trabalho básico que é o de buscar conhecimento e transferi-lo? Por que é que a educação popular deveria assumir um status de uma hipóstase divina e sacrossanta?

   Conheço pouco Freire, mas tenho minhas ressalvas sérias quanto ao construtivismo, pois esse não confere um grau de certeza a nada daquilo que existe no mundo, e compreende tudo como base em uma pré-compreensão, assim como a realidade como um processo em devir. Se uma verdade é resultado de uma construção, então o Estado e o ser humano são apenas meros resultados de um processo dialético, sendo assim, as suas constantes "remodulações" e "superações históricas" rumo à uma utopia inalcançável da sociedade nivelada, são os alvos mais desejáveis (para deleite dos políticos e para o desespero da própria humanidade que nuca chegará lá). No entanto, se o Estado ou o ensino resultam da "ação" de uma verdade objetiva, sendo os mesmos possibilidades diretas da verdade, e dependentes da mesma, então não são auto-realizações do "vir a ser" da Verdade, mas se objetivam como realidades consequentes e, acima de tudo, relativas como veículos e analogias desta Verdade - e não o contrário. Vivemos em um mundo real, cujas percepções do mesmo dependem do ser-no-mundo, mas este mesmo mundo não pode, em absoluto, ser negado. O mundo não é uma interpretação do mundo, nem mesmo uma pré-compreensão baseada em meras narrativas que sofrem uma mutação por segundo. A verdade, assim como a própria Verdade, por mais que não tenhamos o acesso total a ela, é o que é! Não somos nós que construímos Ela, mas d'Ela dependemos para tudo; e o contrário disso seria simplesmente o fim do conhecimento!

Juliano Chaves Baptista

Vejam o vídeo da professora Ana Caroline Campagnolo:

https://www.youtube.com/watch?v=k_2s0Pr5Hj0&feature=player_embedded#at=42

terça-feira, 1 de abril de 2014

Estardalhaço Feminazi



   Quem é a favor do estupro? Só um louco afirmaria um negócio desse. Por isso, por que é que não publicam um estudo feito na USP que revela que a maioria dos brasileiros desejam PENA DE MORTE para estupradores que, aliás, são detestados até mesmo por bandidos (cujo resultado é compreendido como um dado que traz para a luz a cultura de infração dos direitos humanos no Brasil - pasmem)? Não é para ficar louco com uma contradição dessas? E por que é que não dizem, também, sobre a confusão feito pelo IPEA que, claramente, fez perguntas tendenciosas não dando espaço para outras perguntas se não aquelas mesmas, como destacou o Felipe Moura Brasil? 

   Mas é claro que uma coisa é evidente: as feminazi, diante de tudo isso, sobem ao topo como "mães da razão", desejando o fim desta cultura porca e "machista" que estamos e que procura, a todo custo, controlar o corpo das "mocinhas" não dando espaço para políticas "pró-choice" (pró-escolha ou pró aborto), e da massa das "vadias" (um grupo feminista que se apresentou com esse nome mesmo no ano passado) etc. Por que é que esse povo não faz um estardalhaço contra as políticas pró-aborto, anti-família, e a favor de tudo menos de valores que são fontes matriciais de qualquer sociedade que exista no mundo, como os valores pregados pela nossa religião judaico-cristã que abomina tudo isso? Agora, quando há uma possibilidade pequena de optar pela provocação em favor de uma "causa", elas esquecem até mesmo que um dos seus teóricos, o filósofo Paulo Giraldelli, desejou para uma âncora do SBT repórter, a Rachel Sheherazade, o estupro, não emitindo em favor da âncora nem um burburinho se quer. Quer dizer: quando a causa é para elas "Tudo" (os homens são machistas estupradores etc; o que requer políticas públicas - quer apostar?), mas quando diz respeito aos seus inimigos "Nada". Esse vagalhão todo tem um forte cheiro de propaganda política. 

   Nessa onda toda - para vermos até onde vai as consequência efeminizantes da empulhação ideológica que vende os produtos feministas - teve até um jovem lustroso chamado Leonardo Sakamoto que escreveu isto quando ficou sabendo da pesquisa do IPEA: "Hoje é daqueles dias que eu sinto uma vergonha enorme por ser homem". Pode um negócio desses?