O
princípio do afeto é semelhante ao princípio da liberdade: não pode ser
aplicado de maneira indefinida sem que ele se contradiga. Por exemplo: se
concedermos liberdades absolutas a todos, a liberdade do mais forte tende a
anular a liberdade do mais fraco. Portanto o reino da liberdade absoluta é o
reino da Tirania, pois a liberdade requer uma ORDEM atuando em espaços
definidos que protejam a própria liberdade da degeneração em tirania.
Assim também é o afeto ou a paixão do amor: o afeto NÃO PODE ser
distribuído de maneira liberal sem que ele se contradiga a si mesmo, já que o
amor afetivo não prescinde da FIDELIDADE, pois se a FIDELIDADE - que é um
elemento discriminador, excludente de outras possibilidades, sendo um
FUNDAMENTO do próprio amor - faltar, então TRAÍMOS as expectativas do outro a
quem nós direcionamos o nosso afeto, fazendo com que o afeto ou a paixão
degenerem em ÓDIO. O amor, no fim das contas, exige posse, segurança e discriminação
e LIMITAÇÃO do afeto, e não a sua expansão indefinida.
Outro exemplo está no tão discutido princípio da tolerância, que
semelhantemente aos outros dois princípios acima não pode ser aplicado de
maneira indefinida sem que ele degenere no seu contrário, pois se formos
indefinidamente tolerantes com tudo o que é bizarro e baixo na conduta humana
daremos vazão, em nome da tolerância, ao mal que dizemos que combatemos,
criando um inferno indescritível no mundo ao qual prometemos o paraíso. Sendo
assim, a paz para que seja possível requer e exige, paradoxalmente, a
existência da intolerância. Na verdade a tolerância requer em sua constituição
a própria intolerância para que ela seja possível, já que a própria tolerância
se faz em nome de um bem por meio da recusa de um mal, por exemplo: se somos
tolerantes com o criminoso de maneira indefinida, nem por isso criaremos uma
bondade por nossas atitudes naquele que possui a atitude criminosa. Em nome do
bem o criminoso de sofrer de nossa parte uma intolerância a fim de tolher as
possibilidades da existência de algo prejudicial a todos nós.
São por essas coisas que podemos afirmar que para que um indivíduo possa
gozar de plena liberdade ele dever manter a regra em suas condutas, refreando
os seus apetites, tal como afirma Edmund Burke: "Está ordenado na
constituição eterna das coisas, que homens de espírito intemperante não podem
ser livres. Suas paixões forjam seus próprios grilhões”; assim como também
afirma Thomas Hobbes: "A lei natural (lex naturalis) é a norma ou regra
geral estabelecida que proíbe o ser humano agir de forma a destruir a sua vida,
ou privar-se dos meios necessários a sua preservação", e continua: "o
homem deve concordar com a renúncia a seus direitos sobre todas as coisas,
contentando-se com a mesma liberdade que permite aos demais, na medida em que
considerar tal decisão necessária para a manutenção da paz e de sua própria
defesa. Se cada qual fizer tudo aquilo a que tem direito, reinará a guerra
entre os homens", nos deixando a máxima de que nenhum princípio deve,
isoladamente de outros princípios, fornecer um imperativo categórico para
nortear as nossas ações.
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