A sabedoria que fez história e que construiu instituições
sólidas, invariavelmente se valeu de uma forma de governar onde com uma mão se
recompensava o que era bom, e com a outra se punia o que era mal.
No entanto o que nós vemos nos dias de hoje é que - até mesmo no
que toca o assunto sobre a redução da maioridade penal - muitos pertencentes à
camada pensante, em nome do "bem", deceparam a mão da punição na
ilusão de que a satisfação sem a contraparte - até
dolorosa - da disciplina, dos limites, pode gerar um estado de bem-estar e de
bondade no ser humano.
É aqui que reside o pecado: eles ignoram deliberadamente que a
repressão das pulsões sejam elas sexuais ou a repressão da ira (a pulsão da destruição)
através da disciplina é o que cria o homem razoável e pronto para a vida, como
dizia Edmund Burke: "Está ordenado na eterna constituição das coisas que
os homens de espírito intemperante não podem ser livres. As suas paixões forjam
os seus grilhões", sendo que acrescentaria, a este final, algo mais:
"As suas paixões forjam os seus grilhões e os dos outros".
Mas é comum da mentalidade moderna a busca permanente do gozo,
de uma vida lisa, sensual e sem atritos nenhum, o que desemboca na
-irreconciliável - busca de direitos sem algum dever - uma espécie de prazer
sem compromisso, que até a pouco era tido como algo contra o qual se
protestava. E esta par vir ainda, se não que já é, o dia em que a
irreconciliabilidade das exigências em nome do gozo e do humanismo se
manifestará, por exemplo, na busca pelos "direitos do ovo", que sendo
quebrado por parte da ave que lhe vem de dentro, teria os seus direitos
violados em sua constituição de "ovidade", ou que, decepada uma das
mãos que moldam a civilização, ainda haverá quem dela exija o barulho do bater
das palmas.
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