O preconceito do dia é que é imperativo reduzir a pó toda a classe política, exterminá-la de uma vez por todas. O conselho é antigo, e já foi descrito - não incentivado - por Maquiavel no seu " O Príncipe". No livro Maquiavel lembra que Agatócles, que se tornou rei de Siracusa, antes de se tornar governador plenipotenciário, exterminou os mais ricos e os senadores de Siracusa, podendo a partir de então exercer, sem atritos, o seu poder soberano.
A revolução francesa, conduzida pelos jacobinos, e que se queria libertária, exterminou a aristocracia antiga e a realeza, reduzindo a pó toda possível oposição, deixando a "justa indignação" seguir livre o seu curso para decepar as cabeças (42 mil em dois anos) dos "inimigos do povo", pavimentando o caminho para nada menos do que o terror ditatorial de Napoleão, que, em poucos anos, faria tremer a Europa e o mundo inteiro, sendo contido apenas pelo rigor do inverno russo.
A ideia de que o pedágio a ser cobrado pelo esmagamento de Lula seja a prisão e condenação de toda a elite política, é um desses preconceitos bem intencionados que serve para pavimentar o caminho até um futuro sombrio. Muita gente assim, no irrefreável desejo de demonstrar isentismo político, nem mesmo deixa para traz a estrutura legal que pode servir de baliza e fundamento para a proteção dos seus próprios direitos. É o vale-tudo do bem.
Vale lembrar de que na razia institucional, ao se destruir os próprios fundamentos legais em nome da execução da vingança, os próprios vingadores se verão desprotegidos diante de uma futura ameaça. Robespierre, líder da Revolução Francesa, foi guilhotinado no período do terror que ele conduziu e fomentou. É aí também que a sombra napoleônica se projeta sobre o futuro dos próprios revolucionários. É como diz o ditado que caracterizou a ira jacobina e plebeia da Revolução Francesa: "a revolução devora os seus próprios filhos".
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