domingo, 9 de novembro de 2014

Idealização do Homem: O Projeto da Morte

   

   Perguntar sobre o que seria, de fato, o homem, é se lançar, ao mesmo tempo, diante de uma resposta extremamente aberta: não existem dados empíricos para descrever quem seria o homem e o que seria, de fato, o ideal "homem" em toda a sua dimensão e profundidade. 

   Já a subjetividade, a liberdade, a criatividade, o poder de decisão, e a participação no universo moral, dão ao homem uma dimensão abissal, que, em última instância, só pode ser percebida por meio da participação pessoal, sendo que jamais pode esta dimensão eterna ser domada por um processo legal e educacional. Nem mesmo a caracterização do homem na bíblia como "imagem e semelhança de Deus" (Gn 1:27) pode responder a dúvida de quem seria o homem, mas, pelo contrário, amplia-a infinitamente. 



   Com isso, podemos considerar algo interessante: não há messianismos humanos com poder de levar cada indivíduo à um destino perfeito por via da força da lei, da ciência, da religião ou da conscientização: isso, em si, seria uma brutalidade imensurável, assim como um otimismo megalomânico para com a capacidade humana de planejar e colocar em marcha tal "plano messiânico". É necessário compreender que sempre haverá uma margem de absurdo incontrolável que, por causa da sensatez, devemos suportar. 



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   Estas questões acima podem suscitar algumas questões em nossas mentes como a da legitimidade das leis, dos códigos sociais, das religiões ou da visão de mundo que alguma pessoa emprega como meio de compreender a realidade e orientar suas decisões em meio a elas. Poderíamos, com isso, legitimar uma determinada ideia relativista, dando consistência para a compreensão de um Mundo anômico, mas não é o caso. 



   A questão da cultura é infinitamente mais ampla e complexa do que imaginamos. O psicanalisa Carl Gustav Jung, em seu livor "O Homem e Seus Símbolos", deu uma explicação à existência dos símbolos que também se aplica à cultura. Para ele, os símbolos não nascem pela simples vontade dos homens (ou por imposição de narrativas, como explicariam os franceses), mas tem haver com uma relação entre o homem e a natureza, entre a dimensão psíquica e a realidade. Neste sentido, voltando para a cultura, a estrutura da própria realidade e eventos históricos experienciados por homens, geraram leis e instituições afim de que por meio delas a sobrevivência fosse algo possível. A criação de tabus sexuais, por exemplo, como explica o sociólogo Claude Lévi-Strauss, foram essenciais para o estabelecimento da ordem social, e, por isso, para a sobrevivência da minoria das minorias: o indivíduo humano. 



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   Todo isso descrito acima, já afasta escandalosamente o processo de formação de uma determinada cultura da ideia da capacidade de idealização do ser humano. Essa idealização do humano tem as suas raízes já no renascentismo, que foi um movimento responsável pela criação de um determinado otimismo na capacidade da razão humana. Vale lembrar que este movimento desembocou no Iluminismo francês, que, como sabemos, foi no fim das contas um dos mais violentos movimentos históricos, e tudo impulsionado por um "bem" que se chamava razão.



      Nascia, ao lado de tudo isso, a ciência moderna e o otimismo na mesma ciência trouxe uma cultura que estava fundada na crença da capacidade de descrição e explicação da realidade por meio do método científico, trazendo a mesma realidade à luz da razão cuja capacidade foi sendo concebida como infinita. Concebida, também, ao lado de tudo isso, foi a esperança em um mundo tecnocrático, e com isso, a esperança na capacidade da resolução completa dos problemas da humanidade. Tal concepção fora tão poderosa que um importante filósofo do século XIX chamado August Conte, idealizou uma religião plenamente racional, dando a entender o seu otimismo nesta mesma razão.        


   A fé na ciência - que foi dada como uma manifestação da neurose segundo Freud -, foi evidentemente forte no século XIX. Basta lembrar Hegel e a sua máxima: "tudo o que é real é racional, e tudo o que é racional é real". No entanto, basta lembrar a profecia de Adoux Huxley, que no seu livro "Admirável Mundo Novo" alerta sobre o perigo da tecnocracia e do cerceamento da liberdade que resultaria da fé na ciência, o que, aos poucos, com base na idealização do homem por parte da ciência, acabaria por eliminar o ser humano real para dar lugar ao ser humano ideal através de um projeto cada vez maior de engenharia social ou biológica, o que se deu de maneira cabal nos projetos socialistas do século XX. 

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   Com certeza, nada pode nos esclarecer de maneira mais formidável esta fé na ciência - que trouxe com sigo a idealização do homem - do que os dois maiores projetos de engenharia social do século XX: o Nazismo e o Comunismo. 

   Ambos, ao seu modo, foram projetos fundados em uma pretensa cientificidade: o Nazismo nas ciências biológicas, e o Comunismo em uma visão científica da História e das relações humanas. Para o Nazismo, a genética trouxe à luz a questão da superioridade da raça ariana. Já para o Comunismo Marxista, o materialismo-histórico-dialético "evidenciou" de maneira mais crua o processo histórico, eliminando qualquer viés metafísico, já que o marxismo estaria focado na única realidade concebível: a matéria: o elemento por excelência da ciência. Há, não por acaso, um livro de Lênin que explicaria a própria dinâmica biológica com base no materialismo-histórico-dialético. Por isso, o que bastaria seria uma aplicação desta filosofia para que fossem eliminadas todas as ilusões, mentiras (a religião, segundo o marxismo) e, com isso, viabilizando a implantação da justiça de maneira plena. 

   Não por acaso, toda a realidade foi elevada ao nível destas teorias nestes dois regimes, e tudo aquilo que era considerado mal, injusto e ameaçador para estas ideologias, foram sendo tratadas como elementos inimigos a serem eliminados de uma vez por todas. Temos aqui, por tanto, a reedição da estrutura iluminista e a eliminação de tudo aquilo que não era considerado "racional", "verídico", ou do "bem". 

   O que resultou de toda essa fé na ciência, ou na cientificidade de uma teoria que, no fundo, mais fora uma idealização do ser humano, do que a descrição da própria realidade? Sabemos disso: a efetivação de genocídios e a concretização dos dois regimes mais violentos que se tem conhecimento na história da humanidade. 

   Para compreendermos isso, basta, por exemplo, ver como seria aplicada uma sentença de Marx, que é essa: "De cada um segundo a sua capacidade, a cada um segundo a sua necessidade." Ora, como compreender, com as diferenças gritantes que há entre um ser humano e outro, o que seria, cientificamente, a capacidade e a necessidade do ser humano? Por outro lado, não estaríamos amputando o ser humano de sua liberdade, assim como de sua humanidade, na supressão deste desejo invencível que ele tem de se dar ao supérfluo e ao lúdico? Qual a razão da felicidade? Para que serve ela? Não cairíamos em um abismo de dúvidas caso queiramos descrever o supérfluo e a sua importância na vida do ser humano? E a individualidade? Há! ... "Para o diabo com a individualidade" ... diria um coletivista. Dá para compreender, por aqui, qual o tamanho da arrogância e do autoritarismo daqueles que, em nome do "bem" e da "justiça", procuram, de cima para baixo, impor uma visão de mundo que, no fundo, nada mais faria do que eliminar o ser humano existente - com todas as suas ambiguidades -, para dar lugar ao "homem novo", ao "ser humano ideal" etc. 

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   Esbarramos, por tanto, em alguns fatos fundamentais que hoje parecem muito perto de nós: vivemos em um período de fé na "educação redentora", na "política redentora", no "partido redentor", no "estado redentor" e na "concepção de mundo redentora", na "razão redentora" e na "ciência redentora". Nem mesmo o cristianismo pretende ser um projeto de redenção para o mundo, mas para fora dele (Jo 18:36); e quanto mais a concepção da graça redentora - característica no mundo medieval e no protestantismo - foi sendo transferida para a política ou para a ciência, e quanto mais teorias coletivistas foram sendo impostas em detrimento da individualidade e da consciência individual, mais fanatismo e alienação foram sendo criados, a ponto de se colocar tanta fé em uma concepção de "mundo melhor", que o mundo existente com as suas ambiguidades foi sendo satanizado, destruído, manietado e assim o ser humano - sempre aquém dos ideais - existente nele. 

   Com isso, podemos compreender que não há uma filosofia histórica mais realista do que aquela que imperou no mundo medieval, onde o mundo e o ser humano não eram compreendidos sob a ótica daquilo que deveriam, em perfeição, ser: eram compreendidos como um absurdo, uma transitoriedade, e que deles nada mais poderíamos esperar do que a imperfeição e a bondade ao lado da corrupção, sendo que o ponto de cura possível só poderia ser achado na graça de Deus: o Ser mais Inatingível, "Outro" (Kierkegaard) e idealizável da história da filosofia.

sábado, 8 de novembro de 2014

Comparação Inconveniente

   


   Estabelecer uma relação de semelhança entre o Comunismo e o Cristianismo é coisa de principiante ou charlatão. Querer legitimar o Socialismo por causa da pregação e exigência ascética de Jesus é desconhecimento puro da história, teologia e política, ou é desonestidade consciente.


   Uma das causa é que no cristianismo não se pode fazer caridade forçada com o dinheiro alheio - como o socialista faz. Uma outra causa é histórica: veja se Fidel Castro possui vida de abnegado; veja os bilionários do Partido Comunista Chinês; veja a vida de Czar de Stálin. A História nos mostra algo curioso: a tendência dos grandes do comunismo é viver de modo a dar inveja aos maiores burgueses e banqueiros do mundo.

   O cristianismo e a comunidade do livro dos Atos possuem algo que o socialista odeia: a voluntariedade pessoal - pois toda a "igualdade" socialista é conquistada a força, ou pela via legal. NENHUM APÓSTOLO EM ATOS OBRIGOU NINGUÉM A VENDER NADA. Não havia, e nunca houve uma imposição por decreto do dever de ser caridoso no cristianismo. Não há leis de expropriação de terras ou de propriedades pessoais, e nem nada desta natureza com o intuito de estabelecer uma vida igualitária. Haviam meios no Antigo Testamento que favoreciam os pobres - verdade! -, mas que são diferenciados do socialismo por muitos motivos.

   Politizar o cristianismo é o pior projeto que alguém pode fazer. Cristianismo é uma religião da alma, da consciência pessoal, da transformação do coração. O socialismo odeia consciência pessoal, personalidade e o individuo - só quem não conhece a teoria coletivista não conhece o caso. Se Jesus exigiu o rico vender tudo para ser perfeito, isso não tornou-se a conditio sine qua non para alguém ser um cristão, e nem para o arrependimento.
   
   Haviam diferenças entre classes na Bíblia? Sim, é lógico que haviam. Haviam ricos? Sim, haviam e nunca houve a condenação de um rico pelo simples fato de ele ser um rico. Haviam pobres? Sim, a maioria - a riqueza generalizada é uma realidade histórica recente. Havia obrigação para com os pobres? Sim, sempre houve, como sempre houve, pela via cultural, esta obrigação em países de matiz cristã, independente de ser um país socialista.
   
   A ideia em torno da qual deve gravitar a nossa desconfiança é a do monopólio da virtude: será que é necessário o socialismo para a existência de um autêntico cristianismo? O que vemos no socialismo é isso: um amor eufemístico pelos pobres, e a hipocrisia daqueles que querem colocar pesados fardos nas costas do outro e não ousam empurra-los nem mesmo com um dedo (Mt 23:4). Sempre houve caridade no mundo, mas o erro é exigir amor por decreto. Bondade e virtude forçadas não geram recompensa, não trazem gratidão, não são realizações com base na bondade e liberdade.

   Se os cristãos conhecessem mais a história do cristianismo (de como reverberou de Cristo essa abnegação pelos pobres em pessoas realmente cristãs), assim como conhecessem, de fato, a história do socialismo, não acumulariam tanta vergonha para si mesmos ao defender uma ideologia que, no transcorrer da história, não fez outra coisa que criar líderes assassinos nos países onde se efetivou totalmente um governo nos moldes coletivistas, e assassinar, por baixo, 140 milhões de pessoas em menos de um século, espalhando uma onda de miséria sem precedentes.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O Ódio à Toda Beleza Possível




   Esses dias li em um livro que esta noção de igualdade que se apregoa por aí é fruto direto da inveja, e que acabou por tomar um corpo na área da política, assombrando muita gente.

   Neste livro foi citado um autor que escreveu uma obra de ficção, dizendo que em algum momento do futuro, haveria uma política de engenharia biológica que nivelaria a beleza na humanidade, para que não houvesse alguém mais belo que o outro; tudo em nome do "bem" e da "igualdade". 

   Não por acaso, quando a vida imita a literatura (ou os esquemas imaginativos de vidas possíveis - coisa já analisada por Aristóteles), um escritor argentino, provavelmente kichnerista, chamado Gonzalo Otárola, propôs a ideia de cobrar um imposto dos mais belos, pois a natureza lhes oferecera meios melhores de vencer na vida - retardo mental puro!



   Em consonância com esta ideia, reparto com meus amigos um ouro colhido no solo de minhas leituras, que é uma sentença de um dissidente cubano por nome de Reinaldo Arenas:



   "A beleza, sob um sistema ditatorial é sempre dissidente, porque toda ditadura é por si mesma atiestética, grotesca [louva o ridículo para que não hajam "preconceitos", enquanto, sem perceber, nivela o que há de belo e justo no mundo com o que há de lixo, eliminando a hierarquia dos valores por meio da qual podemos separar o que é melhor e o que é pior]; praticá-la representa para o ditador e seus agentes, uma atitude escapista ou reacionária."


   Todo o pensamento totalitário, esta onda de nivelar tudo o que é belo e digno no mundo com aquilo que é lixo e trágico, tipo: Funk com Mozart, modelos alternativos de casamento com a família tradicional, ditaduras com democracias verdadeiras, economia de mercado com o "socialismo" - socialismo que é a política da inveja mesmo -, etc, acabará nos forçando a ter uns costumes neandertais, como o daquelas índias que, após o parto, quando percebiam que seus filhos eram mais bonitos que a média, logo começavam a lamentar e desgrenhar os cabelos por causa de uma suposta feiura na criança, tudo afim de desviar a atenção invejosa dos maus espíritos.

   Vivemos, certamente, em meio a uma cultura da inveja, cujas ideias criam um tipo de "militância do bem" que é pura assombração, policiamento e perseguição! Tudo, é claro, em nome de uma suposta "igualdade".

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Reforma, Lei e Justificação




   Hoje, dia da Reforma Protestante, celebrada em um período de acirramento político imenso, valeria a pena dar uma olhada nos Dez Mandamentos, que se encontram no capítulo 20 do livro do Êxodo.

   Bem, por que digo isso? Primeiramente, para muitos que não sabem, a leitura e estudo dos Dez Mandamentos eram o ponto de partida do catecismo de Lutero, pois ele pensava que isso era fundamental para a compreensão do segundo e mais importante ponto de sua teologia: a justificação pela fé em Cristo (lembrar da importante relação entre a Lei e a Graça).

   No campo da vida, por tanto, segundo a Bíblia, temos uma regra moral a que estamos sujeitos (Lutero não era um anomista - como parece ser a tendência da atual teologia evangélica nos setores mais progressistas das Igrejas tradicionais), independentemente se conseguimos obedecê-la ou não. Isso, a Lei e seu peso, não muda.

   Para nós que somos do Brasil, cuja cultura é resultado deste cultivo milenar e dominante do cristianismo no Ocidente, temos como que a obrigação de compreender este tesouro cultural para poder nos compreender, pois ainda hoje, de maneira inconsciente, a Bíblia é a base, a matriz de sentido em que foram gerados costumes, instituições, leis, quer alguns iluminados enruguem a testa para isso ou não.

   Hoje, mais do que nunca, o nosso Brasil com todo o seu drama político e moral, necessita de autoconsciência e, por isso, de arrependimento; mas como diz Paulo em Romanos (cap 7 vers. 8), não há arrependimento ou consciência do pecado se não houver o conhecimento da Lei - sim, aquela Lei revelada nos cinco primeiros livros da Bíblia (aqui compreendendo como Lei somente a Torá mosaica). Por isso, quão bem faria para nós, hoje, rostos pesados, espíritos graves, consciências alucinadas com desejo de melhorar e, acima de tudo, corações ardentes em sinal de pedido de ajuda - em resumo: desejo por Deus. Sim, necessitamos de almas graves e espíritos desejosos por cura, melhora, plenos daquela esperança em Deus, esperança que conhece o peso do presente, e sabe muito bem o que deseja - aquela perfeição pessoal - no futuro

   Para comemorar, devemos querer conhecimento da Lei, contrição, arrependimento, aprofundamento da consciência de dever perante Deus, caminho árido e conhecimento da cruz de Cristo para que então - e somente então -, possamos, por meio desse estar possuídos de gravidade, sentir a graça redentora de Cristo por meio da justificação pela fé. A fé no amor e na graça divina disponibilizada por Cristo naquele evento da Cruz.

   Com isso, malgrado a divisão que tão dolorosamente e pesadamente marca o protestantismo - mas isso é assunto para outro momento -, não é certo que não hajam pontos que nos unam e, com certeza, o único núcleo que pode nos sustentar, como cristãos, com vida, é a mensagem da Lei e a Justificação. 

OBS:Existem muitos, hoje, reclamando o direito ao paraíso; cabe a nós assinalar o dever de cada um levar a sua Cruz.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Espírito: O Ponto Matemático

   

   Quando se referiu a Leibniz, Dilty, filósofo alemão, afirmou que se avocação suprema da filosofia era levar uma cultura à consciência de si mesma, Leibniz foi aquele que, em sua época, mais evidenciou em si mesmo esta vocação.

   É interessante perceber nos escritos de Leibniz o foco dado à dimensão espiritual do homem, para as condições do saber, e para as implicações dos sistemas de pensamento, dando à dimensão inescrutável da liberdade e do mistério divino da vida, uma importância que só pertence às coisas que escapam da lógica como sistema, e do universo político, visto que no mistério espiritual reside o ponto fundamental da vida e, por isso, da verdade.

   Em consonância com estas pegadas, Edmund Burke, estadista inglês e um dos fundadores do pensamento liberal conservador, disse que o problema moral antecedia o problema político, assim como a ação da alma e o espírito precedem a ação histórica, conformando-a. Neste sentido, o estado da alma e da mente, e a saúde dos mesmos, são necessários para a existência saudável de uma nação, visto que a cultura - antes mesmo do fator econômico - determina a vida de um povo.

   É sinal de doença grave quando tudo se resume à política, não deixando espaço para outros temas mais importantes, como a compreensão acerca dos valores e da moral, pois é nisto que reside o eixo de orientação humana, ou a fonte de todo o problema - o ponto matemático.

   Neste sentido, o momento presente é de reclusão, estudo, reflexão, na tentativa de chegar à consciência de si mesmo; ser repleto de forças plásticas, estéticas, e buscar revigorar o espírito, para saber conscientemente por onde ir, tendo uma visão estendida sobre as coisas desta vida. Temos, por tanto, um problema travado com a nossa alma, com a compreensão das coisas; em suma: temos um problema a ser tratado com o nosso espírito: fonte originária de toda a vida.

   Temos que ter um compromisso espiritual, uma luta de morte conosco, uma tentativa de mortificação, reformulação para buscar a superação e compreendermos aquilo que vem primeiro, e lutar por obedecer o Primeiro Mandamento - amar a Deus (a Verdade Absoluta) acima de tudo -, para que então, e somente então, possamos estar plenamente habilitados, no campo da história, a praticar o Segundo, que é amar o nosso próximo como a nós mesmos.

   Quem vem comigo?

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Burguês Inocente


         A vida degradada detém, em seus vários aspectos, um charme específico. Uma certa rebeldia de princípio que representa a "contracorrente das coisas que tradicionalmente se encontram aí", uma revolução, um poder, uma possibilidade de domínio. 
  
   Esse charme do representante da "contracorrente" seduz pois o mesmo torna-se um arquétipo no qual se vislumbra a satisfação das pulsões secretas e das fantasias daquele que é um "correto inocente". Não é outra a explicação que se vê pelo fascínio de alguns com relação a Cuba, Venezuela e por todas as coisas caricatas que vêm dando errado na América Latina.

   Isso é um efeito de massa - que o Brasil, felizmente, vem resistindo - daquele caso particular da atração quase irresistível que o burguês inocente tem, por exemplo, pelo típico hippie tradicional (aquele que cria seus filhos recém nascidos no "trecho", que vive na onda de drogas, de aventuras e que não pavimenta o seu futuro de maneira consequente, que dorme em ruas em nome de um ideal da década de 60 - não estou aqui dizendo "a" ou "b". Que qualquer um faça o que lhe der na telha, ainda que isso vá destruir a vida daquele que assim escolhe; mas esta é a minha opinião!), que, para o primeiro, representa um "ser em transcendência".


   A ingenuidade do primeiro, com toda a sua vida farta, misturado com o tédio e com a imaturidade, leva-o para lugares arriscados que, infelizmente, em alguns casos, desemboca em vícios irreversíveis. Essa é a inocência do típico burguês que, tendo tudo na mão, se estupidifica e começa a se arriscar em uma aventura sem futuro.


   O prazer sem compromisso, com a falta de visão das coisas, é a mistura perfeita que leva qualquer um para a derrota, incluindo a derrota deste típico "Burguês Inocente". 

Revolução Indolor


     Só quem fez uma prova para a admissão em universidade pública sabe com é que isso parece uma peneira maxista, russeauniana, atiamericana, antieuropeia, anti-israel (anti-soberania nacional, por tanto), antiocidental, anticristã etc, o que me leva a crer na infiltração de gente na máquina pública com o viés ideológico do partido.

   Quantidade de concurso público não é sinal de bondade e qualidade de um governo, mas um meio de inchar a máquina estatal - pois isso ocorre com concursos também. É preciso não saber - ou ser um ardiloso mal intencionado para sabendo ficar calado - quem é Antonio Gransci, e a estratégia de ocupação de locais-chave que facilitaria a produção da "revolução indolor" (o que hoje, segundo o filósofo Luiz Felipe Pondé, é feito principalmente na camada da sociedade responsável pela produção de sentido: advogados, jornalistas, artistas, roteiristas, professores - universitários ou não -, grupos de comunicação, editoração, igrejas etc).

   Muitos não sabem quem é Gramsci, tão pouco sabem (pelo menos um pouquinho só - como é o meu caso) como isso de certo nos EUA com a influência de Saul Alinsky, assim como não sabem como essa "ocupação estratégica" esta funcionando muito bem com o Islam (como atingiu a camada nobre da Inglaterra) - e por isso, são privados de entender estas coisas.
  
   A ausência de iniciação desta galera nesses assuntos, faz com que eles estejam tão distantes disso que é um trabalho de Sísifo discutir. Mas, para fins de "ponta pé inicial", ai vai uma foto do São Gramsci, que é o teórico italiano da "revolução indolor".

sábado, 4 de outubro de 2014

O Elogio da Loucura




      Eu não entendo um governo que diz que não se deve interferir na política interna da Venezuela - enquanto Maduro matava jovens do seu próprio país durante os protestos por causa da carestia e de uma inflação de uns 60% -, que propõe diálogo com terroristas do ISIS (que matam a rodo cristãos, correligionários e minorias Yazidis), enquanto dá os seus pitacos justamente na política de Israel por causa de sua ação que visava, exclusivamente, a defesa do seu povo, sendo que o povo do outro lado utilizava a população civil para proteger o armamento próprio. Acho no mínimo estranho este amor todo à democracia enquanto as peças de louvor dos companheiros são Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia etc. 

   Acho estranho pensar ser normal um desrespeito gigantesco à Suprema Corte - como aquele desrespeito de Lula quando disse que não houve mensalão. Muitos, antes - lembro -, diziam que isso não daria em nada, mas justamente, hoje, não contentes com nada, dizem que a condenação dos "companheiros" foi um "golpe político." 

   Pessoalmente não respeito tal mentalidade política que, no mínimo, carece de argumentos, entrando numa contradição draconiana que insiste em retirar diante dos nossos olhos as evidências mais marcantes da frieza brutal com que eles tratam as coisas, visando unicamente, não dando o braço a torcer para os fatos, manter o poder pelo poder. 

   Também, não consigo respeitar esta mentalidade política que, para provar um salto da população da linha de pobreza para a a classe média, fabricou dados, baixando a renda individual que caracteriza a pertença à dita classe, para provar a "gloriosa" tese. Por isso, seguindo os meios da União Soviética, tal política não fez outra coisa senão criar estatísticas, não se servindo da regra dos governos anteriores para demonstrar qualitativamente os números, mas inventando as próprias leis, tal como fez com relação aos desempregados, contando não os desocupados, mas sim aqueles que foram a busca de emprego e não acharam.

   Também não vejo coerência quando aqueles que dizem defender os "Direitos Humanos", cometem um crime que clama aos céus, aceitando mão de obra de médicos que não gozam da liberdade de decidirem fazer de suas vidas o que quiserem, sendo, por tanto, explorados por um governo que diz ser contra o "Capital", mas que de maneira flagrante negociam pessoas como mercadoria por causa de interesses pessoais, retirando delas 80% do ganho que lhes é de direito - e isso é assim pois o comunismo (como o existente em Cuba) é a face mais demoníaca do capitalismo. 

   Em fim, ainda que tendo muito a dizer, não acho honesto e nem inteligente, como cristão, elogiar a mentira de maneira consciente.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Socialismo e Nazismo

 

   Vejamos, abaixo, algumas reivindicações de Hitler que nos levam a compreender que ele desejou com todas as forças o agigantamento do Estado, fazendo com que este assumisse aquela feição paternal que Lula, os socialistas e muitos brasileiros tanto gostam: querem que o estado banque tudo, sem desejar uma liberdade que permita o auto-governo das pessoas.  

  "Nós exigimos a divisão de lucros de indústrias pesadas.

   Nós exigimos uma ampliação, em larga escala, da proteção social na velhice.

   Abolição de rendas não auferidas através do trabalho [renda por juros ou por meio de jogos, por exemplo]. Fim de escravidão por juros.   

   Nós exigimos a criação de uma classe média saudável [alguma semelhança sobre a criação de uma classe média por decreto?] e sua conservação, a imediata socialização das grandes lojas de departamento, que deverão ser arrendadas a baixo custo por pequenas empresas, e um trato de máxima consideração a todas as firmas pequenas nos contratos com o governo federal, estadual e municipal.

   Nós exigimos uma reforma agrária adequada às nossas necessidades, uma legislação para desapropriação de terra com propósitos de utilidade pública, sem indenização, a abolição de toda especulação com a terra.

   O Estado deverá se responsabilizar por uma reconstrução fundamental de todo o nosso programa nacional de educação, para permitir que todo alemão capaz e laborioso obtenha uma educação superior e subsequentemente seja encaminhado para posições de destaque [...] Nós exigimos que o Estado financie a educação das crianças com excepcionais capacidades intelectuais, filhas de pais pobres, independentemente de posição ou profissão.

   O Estado deve cuidar de elevar a saúde nacional, protegendo a mãe e a criança, tornando ilegal o trabalho infantil, encorajando o trabalho físico por meio de leis que obriguem a prática de ginástica e de esporte, pelo apoio incondicional a todas organizações que cuidam da instrução física dos jovens." (GOLDEBERG, J. Facismo de Esquerda. p. 82, apud NARLOCH, O Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo. p. 178,179)" 

   Com base neste texto é possível clarear bem em nossa mente o que significa o fato de um Estado com plenos poderes, assim como o resultado inevitável da exigência de diretos para tudo quanto é coisa. 

   A equação é simples: direitos demandam uma necessidade de Estado (pois ele deve garantir, por leis, o dever de outros - pois sem deveres não existem direitos); muitos direitos é igual a Estado grande; Estado grande significa redução da liberdade individual (pois é o fruto do nosso trabalho que garante os direitos); liberdade individual pequena é igual a ficar sujeito ao despotismo de quem concentra mais poderes; aquele que concentra mais poderes (o Estado) tem direito de controlar a sua vida individual. 

   Como disse no texto "Frustração Salvífica", é necessário, antes de tudo, para que possamos ter uma ideia melhor sobre política, ação humana, governo etc, compreender, primeiro, quem é o ser humano, e, após isso, entender a que estamos sujeitos quando um pequeno grupo humano possui plenos poderes sobre nossa vida.

   Seria matéria de muita inocência contar com a bondade humana deixando a poucos o controle geral da vida de muitos e, neste sentido, nas mãos do governo a possibilidade de decidir os rumos de uma nação, sem o contraponto de uma comunidade acadêmica (independente), jornalística, empresarial, religiosa e de outros grupos humanos, que, com os seus posicionamentos, ampliam o poder de visão do governo.

   Frente a isto, temos a ideologia socialista, que é amada aqui no Brasil com uma "tara" inexplicável a primeira vista, mas que é compreensível quando analisamos a genealogia de nossa política que descende da França, Portugal etc - que foram construídas diferentemente daquele processo inglês e  americano que coloca a liberdade individual (segundo a filosofia liberal conservative) como um contrapeso significativo ao domínio do governo.

   Neste sentido, a filosofia liberal coloca nos ombros de indivíduos a responsabilidade por si próprios, sendo, por tanto, necessário a emancipação individual do Estado Babá, que, para defender os seus "pequeninos", invariavelmente exige muito no sentido financeiro e no sentido da liberdade de pensamento. Ter um Estado para garantir os "Direitos Humanos" é, ao mesmo tempo, ter um pretexto para a existência do Estado, que antes reduzido em sua atuação à esfera jurídica e militar, agora, no mundo moderno, desempenha um papel de "gestor de um mundo melhor" - projeto este que vem desde o iluminismo francês (com os jacobinos), e cujo ápice foi o socialismo alemão (com Hitler), soviético (com os sovietes) e chinês (com Mao Tsé Tung), e que faz eco, hoje, com o Estado Islâmico, com a ONU e outros.

   É sabido, como afirma Paul Jhonson em "Tempos Modernos", que toda a tentativa de engenharia social, de mudanças abruptas do cenário político, e de tentativas de mudanças radicais da sociedade e da cultura, impostos de cima para baixo, terminaram em genocídio. Um Estado gigantesco, produtor de moral, que não deixa margens para liberdades econômicas, assim como liberdade de consciência e de opinião - pontos de diferenciação determinante entre o iluminismo francês do iluminismo inglês -, e que concentra o poder econômico, jurídico e político nas mãos, está fadado ao despotismo.

   Esta tara socialista que o Brasil tem de encontrar o "pai redentor" no Estado, mesmo com todas as evidência de não transcendência que este evidencia, não deixa de ser algo onde vemos um eixo que divisa o significado desta situação com relação a aquela que foi encontrado a Alemanha na década de trinta, pois, no final das contas, eles esperavam um "pai redentor", um alguém poderoso que, no fim das contas, acabou por esmagar, "em favor do povo", toda e qualquer liberdade individual existente por meio da eliminação dos inimigos e concorrentes, sejam eles financeiros, ideológicos (canais de televisão, jornais, artistas, filósofos, teólogos, escritores etc), ou políticos - não se espantem, pois esta é a face mais pura do socialismo. 

sábado, 13 de setembro de 2014

Doença das Almas Gêmeas


   Sempre achei a teologia da prosperidade uma ofensa para a inteligência de todo mundo por causa da contradição mortal entre suas pretensões e a experiência que cada ser humano normal possui no seu dia a dia.

   Nunca fiquei dando muita bola para ela pois desconfiava da capacidade que as pessoas tinham de viver muito tempo sob a exposição de algo tão infantilizador - era mais otimista, por tanto, quanto ao poder de rejeição de coisas pedantes e monstruosidades morais como essas. No entanto, tenho visto o tamanho da praga que este negócio tem sido para a integridade de Igrejas históricas, do pentecostalismo clássico etc.

   É nessas horas - penso - que o católico tem razão de operar no campo da superioridade diante da fragilidade magisterial de Igrejas Protestantes. Também é aqui que vemos o trabalho de sísifo que temos para atuar - digamos - com aquele esforço de saneamento mental quanto a estas coisas, assim como para nos defendermos, dizendo: olha, não somos assim! - pagando contas que não são nossas.
   
   Tenho visto, desde a minha faculdade de teologia, que o esforço ainda é muito maior, pois, não raro, há um ou outro em igrejas evangélicas com um ranço infinito contra a atividade mental em teologia, contra a valorização de pegar pesado nos estudos - e, para piorar, são alguns destes que surgem com aquele desejo de ser "pastor", com aquele orgulho infinito de se achar moralmente superior a muitos - não é difícil, deste modo, enveredar pelo lado mais fácil das coisas por falta de opções.

   Se, por um lado, há muita vontade, por outro há uma molecagem meio "judaizante", meio "oportunista", meio "animal de rapina", e - pior de tudo - meio messiânica, achando que a fé esta no  no dever de salvar o mundo da fome, das "opressões", da pobreza por meio de determinadas "chaves", sejam elas "conversões" ou sejam elas "visões sociais do evangelho". Neste sentido, posso dizer da teologia da prosperidade que ela tem uma irmã gêmea chamada "teologia da libertação", pois as duas padecem - cada qual ao seu modo - de uma enfermidade genética apenas: negam a situação presente da vida por uma hipótese, achando poderem criar um paraíso na terra; sendo que a teologia da libertação o faz pela via da alucinação e a teologia da prosperidade pela via da imbecilização.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Frustração Salvífica





   Qualquer teoria política deve estar embasada também na antropologia, pois a política não é algo, em primeiro plano, de pura abstração, pois antes de ser uma razão exterior ou "um livro", a política é o ser humano, possibilidade humana e ação humana no mundo. Neste sentido, devemos pensar a totalidade da política partindo daquela orientação socrática: "conhece-te a ti mesmo".

   Qualquer individuo sensato deveria medir, antes de tudo, as possibilidades humanas, seus vícios e as suas virtudes, a partir de um olhar sobre si mesmo e, neste sentido, desconfiar que, em termos universais, a humanidade em muitos aspectos é este negócio estragado, este problema constante pós edênico que oscila entre a grandeza e a baixeza, entre a felicidade e a tristeza, entre - como já dito - os vícios e as virtudes e, com isto, destituído completamente de qualquer possibilidade messiânica ou salvadora no mundo - possibilidade que deveria gravitar apenas na esfera religiosa e metafísica, como uma promessa a ser cumprida após o fim de todas as coisas. 


   Tal vez a pergunta mais urgente neste cenário político seria o porquê da necessidade de exigir do outro aquilo que não podemos fazer por nós mesmos, como se a existência virtuosa alheia fosse um direito para nós, enquanto nadamos no mar da nossa própria miséria - o que, em absoluto, não exclui a compreensão de que, sim, há de fato pessoas que, estando acima da média, se sobressaem as demais, e que não devemos tolerar um determinado grau de decadência ao nosso redor: sempre é possível vislumbrar algo melhor no mundo (até certo ponto). 


   Esta constatação poderia fazer com que nossos olhos fossem abertos para duas constatações: 1ª) Não podemos colocar esperanças demasiadas sobre outras pessoas ou grupos; 2ª) deveríamos desconfiar de maneira aguda de qualquer espécie de discurso político ou religioso que pretende satisfazer estas esperanças demasiadas por meio de ações humanas, afim de que por elas atinjamos "um mundo edênico", onde, por exemplo, pessoas conviverão pacificamente umas com as outras, com os animais, com as árvores, que respeitarão totalmente, por meio de um plano político de saneamento mental, os velhinhos e as baleias, e que não haverá mais pobreza. 
 

   Esta constatação poderia fazer com que nossos olhos fossem abertos para duas constatações: 1ª) Não podemos colocar esperanças demasiadas sobre outras pessoas ou grupos; 2ª) deveríamos desconfiar de maneira aguda de qualquer espécie de discurso político ou religioso que pretende satisfazer estas esperanças demasiadas por meio de ações humanas, afim de que por elas atinjamos "um mundo edênico", onde, por exemplo, pessoas conviverão pacificamente umas com as outras, com os animais, com as árvores, que respeitarão totalmente, por meio de um plano político de saneamento mental, os velhinhos e as baleias, e que não haverá mais pobreza. 


   Esta constatação poderia fazer com que nossos olhos fossem abertos para duas constatações: 1ª) Não podemos colocar esperanças demasiadas sobre outras pessoas ou grupos; 2ª) deveríamos desconfiar de maneira aguda de qualquer espécie de discurso político ou religioso que pretende satisfazer estas esperanças demasiadas por meio de ações humanas, afim de que por elas atinjamos "um mundo edênico", onde, por exemplo, pessoas conviverão pacificamente umas com as outras, com os animais, com as árvores, que respeitarão totalmente, por meio de um plano político de saneamento mental, os velhinhos e as baleias, e que não haverá mais pobreza. 

   Sempre achei o pessimismo antropológico algo mais inteligente - tal vez isso se dê pelo fato de eu ser protestante; por exemplo: não se admite santos no protestantismo, pois se crê que o estado irremediável do homem só pode ser revertido pela aquisição gratuita dos méritos de Cristo pela fé (e somente por ela) -, pois isto descreve uma situação que nos acompanha irremediavelmente até ao túmulo, sobrando intacta apenas a luz da razão, este saber sobre o bem e o mal, que para a nossa infelicidade nos faz compreender o abismo em que nos encontramos, mesmo cientes intuitivamente de uma realidade perfeita que para nós é inatingível, de cuja consciência não é possível sem o esmagamento que se segue. 

   No mundo ordinário, sempre convivemos com um certo grau de realizações, sucessos e satisfações, mas essas coisas - vale lembrar - apenas constituem um determinado aspecto da nossa vida, onde não pode ser descartado o lado sombrio da mesma; e se considerarmos estas coisas de maneira mais sensata, ampliando isto sobre a totalidade da humanidade, veremos que diante deste mal, apesar de todo o bem existente, ninguém escapa, e, por isso, para vivermos, devemos nos reconciliar até ao nível do razoável com o absurdo. Por tanto, cabe a pergunta: quem é ou são aqueles que podem trazer, neste presente século, a salvação e um mundo melhor?  

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Instrumental Nietzscheano


   Para quem leu, no mínimo, dois livros do Nietzsche, e tem uma noção básica de como anda a tendência do "espírito" atual na cabeça dos intelectuais, sabe que o instrumental filosófico fornecido por Nietzsche serve, segundo os interesses da presente época, apenas para uma causa: a destruição e corrosão do pensamento cristão. 



 Geralmente a ideia humanista que se tem do pensamento nietzcheano (que possui intuições fundamentalmente válidas) do tipo "Humano Demasiado Humano", não pode ser compreendida sem a ideia da "Vontade de Potência", que, segundo ele diz nos livros "Além do Bem e do Mal" e "Genealogia da Moral", é o princípio fundante da existência "Aristocrática" do "povo conquistador", "guerreiro", "livre", que "subjuga os povos", o germe da "besta loira", daquele "povo nobre", "magnânimo", "escravizador", e do "espírito dionisíaco", ou "wotaniano". 

   Este espírito dinâmico, "humano demasiado humano", que vive pelo "instinto" e pelo "desejo", que ama a "liberdade", não pode, por tanto, ser comparado em nada com a tendência contemporânea de apelo à "democracia" e à "liberdade" tal como compreendemos as coisas com estes termos, e isso torna estranho esta coqueluche nietzschieana atual para pessoas que amam os "pobres" e os "oprimidos", as mulheres, visto que qualquer coisa assim seria defender, segundo Nietzsche, a "moral do escravo" e do povo ressentido que olha para os nobres e fortes com inveja. 

   Mal se sabe, por tanto, que para efeitos democráticos Nietzsche possui avassaladoramente uma tendência inversa, pois é anti-democrático, e anti-socialista (ainda que compreendendo que toda esta "moral socialista" é pura mentira e fachada) etc, pois, segundo ele, isso entra em total contradição contra aquela hierarquia que exige a existência de senhores e de escravos, como afirmava o pensamento grego. 

   É estranho constatar a demonização de Aristóteles, que no livro " A Política" defendeu literalmente o mesmo pensamento escravagista e que colocava a mulher em posição "sub-missa", enquanto que Nietzsche possui um lugar no panteão do pensamento acadêmico brasileiro. Tal vez a causa desta "demonização", no fundo, não seja pelo conteúdo semelhante que falei acima, mas justamente porque o pensamento aristotélico foi plasmado ao pensamento católico, enquanto que o pensamento nietzschiano o foi ao pensamento anticristão.