A questão relacionada ao mal, hoje, está profundamente circundada de equívocos grosseiros, assim como distanciado do melhor pensamento que discorreu de maneira magistral sobre o referido tema; e quando digo isso tenho um nome em mente: Agostinho de Hipona.
Mas isto comporta um risco para que a liberdade seja verdadeiramente liberdade: a possibilidade da negação do bem e do próprio Deus que é a origem de todo o bem e de toda a liberdade. Sem o risco da conversão do bem em maldade a liberdade não seria, por tanto, liberdade. Mas conversão não seria a melhor palavra para descrever esse processo, mas sim degeneração. A possibilidade da degeneração está na própria inversão da constituição da realidade das coisas, já que liberdade também implica no risco da auto-destruição como possibilidade. Por tanto palavras como traição, mentira, inveja sempre corresponde a uma ideia de que coisas boas estão implícitas e que foram malversadas. Mas o mesmo não se dá com palavras como amor, verdade, justiça, bondade e fidelidade, pois tais coisas são atualizações da essência verdadeira das coisas e que correspondem à própria estrutura da realidade e hierarquia das coisas, assim como no desejo de replicação da vida, ou no desejo de continuidade ou eternidade, que é uma reprodução absoluta, e não uma degeneração da vida, já que essa reprodução é afirmação incondicionada e não a corrupção de algo.
Esse pequeno ensaio de filosofia tende a compreender algo que é enigmático: a origem do mal. Por tanto, deixa parcialmente de ser um mistério quando compreendemos que não existe uma equivalência entre o bem e o mal ou entre a verdade e a mentira, mas que o Bem e a Verdade são elementos fundamentais para a existência daquilo que se contrapõe a eles, sem um sentido de equivalência, mas no sentido de dependência, preservando a hierarquia dos valores intacta. Sendo assim, a origem do mal está, por exemplo, no abuso do bem, ou na malversação do bem a partir da própria liberdade humana que tem na degeneração uma possibilidade para que a própria liberdade seja, por tanto, completa. É como compreendêssemos a razão pela qual no próprio Paraíso Deus tivesse colocado próximo da Árvore da Vida, a árvore da perdição: a Árvore do Conhecimento do Bem e do mal.
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