O
"homem educado" é uma abstração. Uma metafísica inocente e um
idealismo para covardes. Sempre penso que com um pouco mais de educação - não
aquela educação de berço, mas esta do presente tempo -, a humanidade começará a
caminhar sobre quatro patas.
A agenda do mundo moderno nos propõe uma
"ética da alteridade" - um tipo de "amor às árvores" -, e,
ao mesmo tempo, um esquecimento do "eu". Um budismo moderno
malversado que raia à escravidão. Propõe um esquecimento de conceitos e
preconceitos essenciais - sim, preconceitos do bem existem, senhoras e
senhores! -, e, de troca, alguns degraus abaixo na escala civilizacional. Mas,
evidentemente, este último, como a parte oculta do entimema retórico, não é
evidente para as massas, como exige uma boa propaganda.
A retórica desta "ideologia do
bem", nos tornou escravos de uma moral decrépita que atinge aqueles que
vivem apenas na base do reflexo instintivo, pois, convenhamos: quem quer ser alguém
"do mal", um "machista", "racista",
"homofóbico" e tudo mais daquilo que podemos achar naquele manual
contemporâneo da boa humanidade que, em sua própria essência, tornou-se um
verdadeiro arsenal que apenas visa destruir desafetos, e cria-los em escala
industrial? Ninguém! Por isso mesmo, vários mecanismos de defesa são
desenvolvidos pelos mais símplices diante deste "titanismo do bem", que nos coloca sob uma suspeição aguda, ou até nos acusa por todos os lados.
Não, não podemos ofender! Não podemos sair
da linha da "ética contemporânea" onde todos são "inteligentes
ao seu modo". Não podemos mais tirar um sarro daquela suposta moralidade
que prega a igualdade de "afetividades", onde, se levado até às
últimas consequências, nivelaria a existência de um cão à dignidade reverencial
que existe no matrimônio entre nossos pais e mães. Essa "ética da
alteridade" soa como algo ridículo. Esse "respeito" da
modernidade a um suposto "outro".
"Não!" - dizem eles. "Devemos
destruir a escala dos valores para que não hajam desigualdades! Todos são
dignos!" - e babam em suas gravatas, como dizia Nelson Rodrigues. São
estes os agentes do bem! São os aniquiladores do eu e daquilo que de mais belo
há no mundo, e os fomentadores de um falso "outro" - esta categoria
metafísica sensibilérrima que se escandaliza com os dados mais concretos da
existência: o sofrimento, infelicidade e a morte; dados que nos fornecem provas
concretas de que não há um mundo nivelado ou perfeito; que o "mundo
perfeito" nos escapa como o vento; que caímos em um abismo incomensurável,
destruidor de qualquer espécie de "metafísica do mundo perfeito", da
"felicidade plena", mas no qual devemos cair com coragem. Com fé.
Dançando!
A vida não é um dado manipulável no qual
impomos as nossas regras. Antes, do mundo, somos levados, humilhados e, por
isso, humanizados. A vida, por tanto, não é um presente - tal como o compreendo
- para covardes, pois ela deve ser pega pelos cabelos. Deve ser vivida. Deve
ser batalhada. Deve ser vencida. Mas não deve, em determinados momentos, ser
estimada como um bem último - como demanda a compreensão para uma vida que
prima existencialmente pela verdade, entregando-se ao sacrifício consciente de
sua causa. À Deus - o sumo bem - a quem tudo deve ser dobrado.
Aqui viso primariamente uma existência do
tipo aristocrático. Um tipo deseducado para os tempos modernos. Uma existência
que se mantém em meio ao tormento, e que acolhe-o como um dado inegável do
mundo. Um pensamento que acredita na hierarquia dos valores. No refinamento do
espírito que, com agudez, persegue estes valores sem levar em conta as
"categorias corretas" e corrosivas do presente século. Na verdade até
as despreza, se lançando em um vácuo onde Deus o Diabo só podem ser vistos tal
como eles são. Nos lançamos no mundo das profundezas. No mundo dos poucos. No
mundo dos eremitas místicos do deserto - que não é, definitivamente, um lugar
para este "outro" hipersensível até à efeminação.
Não, não se deve desejar a fundação de uma
ordem para os "não covardes", mas desejar a "plenitude do
Espírito. Quero uma "plenitude do Espírito" que esculhambe todo o
automatismo e que aniquile todas as espiritualidades infusas por um tipo de
sociologia que amordaça, e aliena o ser humano de sua própria humanidade. Que o
faz deitar em uma cama de procusto, amputando-o da sua própria transcendência.
Que corta aquela transcendência divina que preenche o abismo imenso da alma do
homem e que, também, a traspassa. Que a embriaga.
Nascemos fundamentalmente para sermos
humanizados, para sermos centralizado no eixo fundamental da existência que se
dá quando atingimos a maturidade das nos almas. Quando atingimos a "plenitude
de Cristo". Mas o pensamento moderno se fez atávico, opressor,
desenvolvendo em nós uma fidelidade e subserviência caninos à ele, e, com isso,
nos tornamos desgraçadamente educados.
OBS:
Só escolhi esta pintura – que se chama "O Grito" - porque ela, para
mim, traduz a agonia existencial de quem foi educado para acreditar que tudo
neste mundo é digno do mesmo respeito.