quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Moral Progressista


   
   Estou a fim de esculhambar aquilo que denominam de "pensamento progressista", que no texto abaixo refere-se a um escritor comunista adepto do "Comunismo Internacional" chamado Trótski. Então vamos lá: 

   "Num texto intitulado 'A moral deles e a nossa', Trótski explica por que [sic] os blocheviques podem, e devem!, cometer crimes, inaceitáveis apenas para os seus inimigos. Ele imagina um moralista e lhe indagar se, na luta contra os capitalistas, todos os meios são admissíveis, inclusive 'a mentira, a conspiração, a traição e o assassinato'.

   E responde:



   Admissíveis e obrigatórios são todos os meios, e só eles, que unam o proletariado revolucionário, que encham o seu coração com uma inegociável hostilidade à opressão, que lhe ensinem a desprezar a moral oficial [que no caso da rússia - e no caso de Marx também - trata-se da moral cristã] e seus democráticos arautos, que lhe deem consciência de sua missão e aumentem sua coragem e sua abnegação. Donde se conclui que nem todos os meios são admissíveis [ou seja: apenas 'eles' podem se valer de tudo. Fazer o Diabo, como admite Dilma].



   O texto é de 1938. Dois anos depois, um agente de Stálin infiltrado em seu séquito meteu-lhe uma picareta no crânio. Sinistra e ironicamente, a exemplo de Robespierre, ele havia escrito a justificativa (a)moral da própria morte." (AZEVEDO, Reinaldo. Objeções de um Rottweiler amoroso. p. 37). 

   É forçoso aceitar que os "feiticeiros da moral", que crêem poder fabricar "visões de mundo" em laboratório, ou que pensam poder manipular a moral como lhes convêm, assim como nivelar o mundo, as consciências e os destinos às suas ideias, possuem apenas um objetivo soberano: poder. No entanto, como a realidade e nem mesmo a cultura estão em poder de nossas mãos - como diria Jung -, e nem mesmo debaixo das mãos deles, o caminho aberto pela destruição de valores - em nome do "progresso", da ciência ou de uma utopia qualquer - é algo fatal por todos os lados. 

  Deveríamos estar cansados de acompanhar esta lei da história, que semelhantemente ao Frankenstein de Mary Shelley, sempre será a destruição fatal de todo aquele que pensa poder dominar e manipular as leis da moral e da natureza, ignorando o perigo de se perder entre os monstros nascidos de suas mãos e alma. Mas também é forçoso estarmos abertos à ideia de que a humanidade nem sempre aprende, estando fadada a repetir eternamente os mesmos erros.   

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Proibições da Cultura



        Este texto a seguir expõe muito bem uma ideia que vem, cada vez mais, ganhando corpo e um significado para mim, pois fala sobre cultura e a sua existência organizadora da vida a nível pessoal e coletivo.

   Salvo a questão completa da teoria freudiana - à qual cabe de maneira irrevogável a nossa crítica -, este esquema há muito foi pensado por outros no âmbito da religião - incluindo, e muito especialmente, a religião cristã -, pois possui um esquema real e concreto como uma pedra. Os leitores da Bíblia irão entender do que falo a baixo.

   Vamos lá:

   "Falamos da hostilidade à cultura gerada pela pressão que esta exerce , pelas renúncias aos impulsos que exige. Caso imaginemos as suas proibições abolidas, alguém pode, então, escolher para objeto sexual qualquer mulher [a qualquer momento] que lhe agrade; pode matar seu rival, ou quem mais estiver em seu caminho; pode, também, tomar [ou seja: roubar] qualquer bem do outro sem lhe pedir permissão [aqui, especificamente, Freud fala da abolição de três mandamentos do Decálogo encontrados no livro do Êxodo cap. 20: não adulterarás, não matarás, não roubarás] - que maravilha, que cadeia de satisfações não seria a vida! Na verdade, logo surge a primeira dificuldade. Qualquer outro tem exatamente os mesmos desejos que eu, e não me tratará com mais consideração do que eu a ele. Dessa forma, apenas um indivíduo, no fundo, poderia se tornar irrestritamente feliz através da abolição das restrições culturais: um tirano, um ditador que tivesse se apossado de todos os meios de poder [e, principalmente, dos meios de matar], e mesmo ele teria todas as razões para desejar que outros respeitassem pelo menos um dos mandamentos da cultura: 'Não matarás". (FREUD, Sigmund. O Futuro de Uma Ilusão. p. 53,54)

   Podemos dizer que o texto acima é de uma lucidez impressionante, justamente porque salta aos olhos a noção de cultura como algo terminantemente organizador da vida humana justamente porque a cultura busca proibir, frear e extinguir a irracionalidade e animalidade latente em todos nós. E aí esta um dos papéis formidáveis que a religião desempenha como a matriz decisiva da produção moral, cultural e, por consequência, civilizacional (papel que Freud não negou, mas que considerou já na época dele algo obsoleto, fruto do seu ateísmo irremediável) - a exemplo do papel fundante da religião e moral judaico cristã, que concentrada na Bíblia, nos fornece um germe civilizacional que fundou a maioria esmagadora das instituições ocidentais.

   É óbvio que aqui não ando nos limites da opinião ortodoxa de Freud sobre o assunto, visto que para ele o homem, mesmo inundado na cultura, é um animal sem salvação - concepção que é fruto de sua visão trágica de mundo, que, em sua teoria, se resume na ideia de que o homem é um ser dotado de pulsões de destruição e de pulsão erótica (no sentido da busca pela união com algum objeto que satisfaça as suas demandas), cuja finalidade última é a destruição do Ego, restando um mal estar generalizado na civilização, que sempre levará a humanidade a crer que ela é algo desajustado para esta vida. O que é visivelmente problemático. Mas deixo o assunto para outra hora.

    Mas cortando de maneira arbitrária e descontextualizada este insight, esta estrutura de pensamento, o que eu desejo afirmar aqui é que as proibições ou os Mandamentos fundados na noção teológica contida na Bíblia, direcionou as pessoas, ou a "Cultura Ocidental", a uma "visão de mundo", assim como elevou ao nível das consciências as razões e os caminhos da destruição universal que se faz através da abolição das proibições da cultura, ou, como se diz na Bíblia, por meio da aniquilação dos preceitos proibitivos ordenados por Deus. Consequentemente e ao mesmo tempo, essa cultura elevou ao nível das consciências não somente os meios e as razões da destruição, mas tornou claros através dos preceitos proibitivos os meios para barrar esta tendência destrutiva latente no homem. Basta olhar para você mesmo e constatar a veracidade destes preceitos ou Mandamentos que se ratifica nas profundezas e e na superfície da nossa vida concreta.