terça-feira, 7 de julho de 2015

O Ministério da Espada e o Serviço ao Próximo


Tem gente fera em oferecer a face para bater pela segunda vez - não a sua, mas a do outro - quando, por exemplo, se escandaliza com a existência do poder policial.

É fácil pedir paciência, tolerância, "sentimentos humanos" quando não somos nós quem sofre. É fácil pregar a "doutrina" do "oferecer a face", - o que soa como uma saída fácil para se eximir de problemas urgentes que necessitam de respostas também urgentes.

O humanismo às avessas, ao pregar a doutrina do "oferecer a face", corrompe aquilo que Cristo disse - que quando disse isso, estava a censurar a guerrilha dos Zelotes, que queria fazer frente ao poder quase invencível do Império Romano (esclarecendo, por tanto, que a prioridade era conservar a vida sua e dos seus, não praticando um "suicídio heróico" - algo que tem paralelo na exortação de Jeremias aos judeus no caso da invasão do rei da Babilônia, que era o "anti-cristo" do Antigo Testamento).

Por tanto, quando exortam a dar para bater a face pela segunda vez, parece que tais pessoas estão fazendo pouco caso de suas vidas e das vidas daqueles que estão próximos - invertendo, por tanto, o sentido concreto do Segundo Mandamento (pois necessário se faz amar o próximo contra a tirania de terceiros).

É, por tanto, justamente neste contexto do serviço ao próximo que entra a autoridade que traz o juízo ainda em vida (Rm 13.1-7), o poder policial e o poder da punição - o Poder da Espada, ou Ministério da Espada, como dizia Lutero.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Os Direitos do Ovo e o Bater das Palmas


A sabedoria que fez história e que construiu instituições sólidas, invariavelmente se valeu de uma forma de governar onde com uma mão se recompensava o que era bom, e com a outra se punia o que era mal.

No entanto o que nós vemos nos dias de hoje é que - até mesmo no que toca o assunto sobre a redução da maioridade penal - muitos pertencentes à camada pensante, em nome do "bem", deceparam a mão da punição na ilusão de que a satisfação sem a contraparte - até dolorosa - da disciplina, dos limites, pode gerar um estado de bem-estar e de bondade no ser humano.

É aqui que reside o pecado: eles ignoram deliberadamente que a repressão das pulsões sejam elas sexuais ou a repressão da ira (a pulsão da destruição) através da disciplina é o que cria o homem razoável e pronto para a vida, como dizia Edmund Burke: "Está ordenado na eterna constituição das coisas que os homens de espírito intemperante não podem ser livres. As suas paixões forjam os seus grilhões", sendo que acrescentaria, a este final, algo mais: "As suas paixões forjam os seus grilhões e os dos outros".


Mas é comum da mentalidade moderna a busca permanente do gozo, de uma vida lisa, sensual e sem atritos nenhum, o que desemboca na -irreconciliável - busca de direitos sem algum dever - uma espécie de prazer sem compromisso, que até a pouco era tido como algo contra o qual se protestava. E esta par vir ainda, se não que já é, o dia em que a irreconciliabilidade das exigências em nome do gozo e do humanismo se manifestará, por exemplo, na busca pelos "direitos do ovo", que sendo quebrado por parte da ave que lhe vem de dentro, teria os seus direitos violados em sua constituição de "ovidade", ou que, decepada uma das mãos que moldam a civilização, ainda haverá quem dela exija o barulho do bater das palmas.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

A Muralha de Jerusalém


Hoje Deus falou comigo algo que há anos vem tomando corpo em minha mente. No entanto eu não tinha uma alegoria ou metáfora a altura deste pensamento para ilustrar a ideia.

Bem, mas a ideia é o seguinte: a Muralha de Jerusalém é fruto da Lei. Peguemos as muralhas pela cultura, e a Lei pela razão que consolida a cultura. A Lei, por tanto, é o Espírito da Cultura, a fundamentação da cultura e dos "muros".

Todos sabemos que é justamente o pecado nas narrativas Bíblicas que ocasionou a destruição de Jerusalém (a cidade de Deus) - que era, grosso modo, o sinal concreto de Deus no mundo. Isto é: o espírito da loucura, da confusão, da anarquia e da transgressão - uma espécie de niilismo, por assim dizer - que promoveu a corrosão do tecido cultural de Judá - ou seja, a tendência para a transgressão da Lei de Deus -, que acabou levando para os ares aquilo que protegia a cidade em última instância: a obediência para a vontade divina.

É interessante notar que o conteúdo Bíblico não trata de coisas acessíveis por mera crença. Não é, por tanto, constituído por coisas que não se encarnam na história, encarnação esta por meio da qual experimentamos a concretude daquilo que chamamos de Palavra de Deus, pois há muito de sabedoria - que, grosso modo, é a intuição dos princípios metafísicos ou primeiros - e de moral na Escritura Sagrada, ou seja: de conteúdo prático.

Qualquer um que tenha passado os seus olhos pelos Dez mandamentos sabe que ali a única coisa que se faz é não se lidar com abstratismos, mas sim com tabus e leis por meio das quais conseguimos intuir a intenção de organização social dos Israelitas - já que a Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia) é um verdadeiro código de leis que regulamentam as relações sociais, assim como oferece o princípio metafísico (ou espiritual) necessário para a coesão da cultura israelita, cuja veracidade foi atestada por sinais e milagres realizados em meio ao povo (já que o fundamento da verdade é exclusivamente espiritual).

Por tanto existe um conteúdo noético (ou racional) fundamental em toda a Bíblia, cujo axioma (ou o espírito fundamental) é o primeiro mandamento ("Não terás outros deuses diante de mim" Ex 20:2). E tal conteúdo noético é prontamente atestado na vida prática. Por tanto os Dez mandamentos e o restante da Escritura Sagrada constrói, por assim dizer, toda uma Muralha cultural que protege a vida do povo que aceita o Primeiro Mandamento, e que é toda constituída por tabus e princípios, e que não nos deixa cair em um niilismo (ausência de razão, sentido ou de crença na existência da verdade) que tende a devorar tudo o que existe ao ser redor - que é para onde o nosso mundo caminha, para a ausência total de referências, de sentido e de fundamento. A fé cristã, por assim dizer, fornece um fundamento, uma pedra angular com base na qual toda uma civilização pode se erguer e se manter de pé.

Contudo a secularização radical do nosso Ocidente tem lançado as sementes de um acosmismo (uma realidade destituída de ordens e princípios) cujo fim é a aniquilação - e isto com a ajuda de certos cristão e pensadores (que eu mesmo costumo chamar de "iluminados"). Mas como a natureza abomina o vácuo, sempre terá algo a substituir este vazio. Pois com a destruição destas bases civilizacionais, sempre haverá um estado de anarquia incipiente que depois será substituída por uma "ordem da força", pela empreita do mais forte e por um autoritarismo mordaz, já que a própria natureza do relativismo é, em si, absolutista (tal como ilustra a destruição de Jerusalém e a tomada dela por um ditador da Babilônia - reino este que era o centro da transgressão moral, promiscuidade, arbitrariedade, violência contra crianças, escravidão etc).

Estamos vendo tudo isto diante dos nossos olhos. E se o Ocidente é a fortaleza de Deus (a Jerusalém, por assim dizer), a sua apostasia diante de filosofias autoritárias, homicidas, escravocratas, promíscuas e libertinas é o sinal da destruição dos Santos dos Santos - de onde se espera o perdão e a misericórdia, já maltratados, por exemplo, diante da ausência de justiça no afago crescente que se faz a criminosos e a tudo o que não presta neste mundo.

Na medida em que vamos corroendo as bases daquilo que pode manter entre nós a ordem, na medida em que rompemos os nossos muros noéticos, na medida em que, mais e mais, o que é digno de respeito vai sendo nivelado ao valor daquilo que não merece dignidade, e na medida em que o Homem se coloca como medida de todas as coisas do Universo - tornando, por tanto, o próprio Universo insustentável, e oferecendo a ele uma eternidade podre (já que o fim do homem é o apodrecimento) -, vamos, mais e mais, caminhando para um doloroso e amargo fim.

O que vemos é a destruição das nossas Muralhas Culturais, com base na corrupção da nossa espiritualidade cristã que unificou o Ocidente. E como diz as pessoas normais, simples e que sacam de início as coisas: é tudo falta de Deus.