terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O Golpe da Narrativa do "Golpe"

    Essa galera de academia que vive condenando o que eles chamam de imposição de narrativa, ou de versão oficial - como por exemplo no caso da religião, da política ou da "cultura dominante" -, dizendo que a narrativa se opõe à realidade dos fatos, sendo uma distorção destes fatos, fabricam eles de forma cínica e arbitrária as narrativas que eles próprios desejam impor como "versão oficial".
   Sem peso na consciência eles acusam os outros daquilo que eles mesmos fazem. Nesse sentido são eles os dogmáticos, ou aqueles que ampliam de forma arbitrária suas próprias teses e versões de fatos sem fazer um contraste com as coisas tal como são.
   Um exemplo que chega a ser ridículo desse dogmatismo é a insistência quase psicótica com que eles descrevem a deposição de Dilma da presidência como "Golpe". Um golpe é, necessariamente, uma tomada do Estado por uso da força ou da fraude legislativa. No caso em questão a deposição foi legítima, se excluindo a tomada de poder seja pela força ou pela fraude legislativa, já que a forma jurídica da deposição da presidente foi obedecida cabalmente - a não ser no caso do mantimento dos direitos políticos da presidente logo após da deposição.
   Contudo, o que é a verdade para um grupo que acha que o mal da história é apenas eles não estarem no poder, ou quando consideram a palavra "democracia" apenas como um eufemismo para a sua própria ideologia, fora da qual tudo o que existe é autoritarismo, golpe e ilegitimidade? É isso o que explica o fato de eles apoiarem golpes reais chamando de democracia governos ilegítimos como o governo da Venezuela, já segundo a narrativa deles, tal governo se apoia em uma ideologia legítima, justificando-se assim, por uma adesão doutrinal, o que quer que de grotesco ocorra no mundo dos fatos.
   Por fim, é por esse dogmatismo fanático que a ideia do "Golpe" se torna ela mesma a realidade de um Golpe, uma fraude concreta levada adiante por um cinismo insolente que se recusa a enxergar como legítimo tudo o que não se enquadra com a sua própria narrativa dos fatos, já que não se enquadra na ideologia com a qual eles julgam qualquer política que exista neste mundo.