domingo, 24 de dezembro de 2017

Os Pastores e a Filosofia

   A razão pela qual um pastor DEVE estudar filosofia é que não é possível compreender a cultura atual, ou responder aos questionamentos postos pelos problemas atuais sem recorrer à moldura filosófica na qual estes problemas vem vestidos a nós.
   Um exemplo disso são os problemas postos pelo positivismo e o socialismo, filhos débeis do hegelianismo, os quais são a encarnação apodrecida da escatologia (doutrina sobre as últimas coisas) cristã.
   Se o cristianismo afirma a comunhão com a realidade absoluta para depois da morte, as ideologias do positivismo e socialismo afirmam a unidade com o absoluto, ou com a realidade perfeita, na história, invertendo a promessa escatológica cristã.
   Uma ideologia, o positivismo, crê ser possível apreender a totalidade da realidade por meio da ciência, e o socialismo acredita que com a abolição da sociedade de classes o paraíso terrestre será instaurado. Em ambas as ideologias a questão principal que é posta é a eliminação das ambiguidades da natureza humana por meio da política ou por meio dos poderes da razão humana - como se o homem, que é o ideólogo, não fosse o seu próprio problema.
   Não por outra razão, por essas ideologias acreditarem ter encontrado a razão absoluta da história, surgem fanatismos e um autoritarismo hediondo, pois quem pensa ter achado a razão absoluta, consequentemente pode destruir ou matar quem se opõe à "verdade". A inocência em relação à natureza humana aqui é uma razão para rir e para desesperar.
   O cristianismo, ao contrário, por causa da limitação humana, não sabe ao certo quem são os bodes e os cordeiros, pois a transcendência de Deus não permite ao homem conhecer no todo os Seus caminhos e juízos, já que o Senhor está, em sua totalidade absoluta, para além da nossa razão.
   Mas mesmo que a verdade seja revelada, o cristianismo sabe que poucos são os filhos do Senhor que estão atentos à Sua vontade, e que mesmo esses contam com o flagelo dos seus pecados pessoais, o que demonstra que a humanidade não se encontra, pela corrupção que na história sempre teremos conosco, apta ao paraíso.

Ressurreição e Resistência

   A mensagem cristã da ressurreição é a mensagem da resistência à ação destrutiva das potências das trevas, ou, como está na bíblia, das potestades do ar, dos poderes que escravizam a mente e o espírito humano, afastando-o do liberdade para qual ele foi feito e sem a qual ele jamais pode desenvolver a sua própria humanidade.
   Essa ameaça pode se manifestar através da solidão, da ameaça de "não dar certo", de não ser aceito, ou desde às ameaças com peso psicológico originado pelo medo da não realização até as ameaças mais objetivas de perda de bens, de um lugar no mundo (seja isso uma propriedade ou um lugar no fluxo social) ou a ameaça mais crua de destruição física e morte. Ou seja, a ameaça do "não-ser", ou a ameaça do nada.
   O medo de "não realização", ou o medo da perda daquilo que já foi realizado (ou seja, a ameaça do nada), pode ser usado de forma demoníaca para escravizar o homem; contudo a promessa da ressurreição confere ao homem o poder de resistir a todas essas ameaças quando coloca a unidade total do homem com Deus como o topo da realização do homem, realização essa em relação a qual vale a pena lançar, com coragem, tudo ao nada, ou, de forma mais clara, o sacrifício de todas as outras coisas.

O Sábio e a Potência de Ser

Com isso, concluí tudo o que queria mostrar mostrar quanto à potência da Mente sobre os afetos e quanto à Liberdade da Mente. Donde fica claro o quanto o Sábio prepondera e é mais potente que o ignorante, que é movido pela lascívia. Com efeito, o ignorante além de ser agitado pelas causas externas de muitas maneiras, e de nunca possuir o verdadeiro contentamento do ânimo, vive quase inconsciente de si, de Deus, e das coisas; e logo que deixa de padecer, simultaneamente deixa também de ser. Por outro lado, o sábio, enquanto considerado como tal, dificilmente tem o ânimo comovido; mas cônscio de si, de Deus e das coisas por alguma necessidade eterna, nunca deixa de ser, e sempre possui o verdadeiro contentamento do ânimo. Se agora parece árduo o caminho que eu mostrei conduzir a isso, contudo ele pode ser descoberto. E evidentemente deve ser árduo aquilo que tão raramente é encontrado. Com efeito, se a salvação estivesse à mão e pudesse ser encontrada sem grande labor, como poderia ocorrer que seja negligenciada por quase todos? Mas tudo o que é notável é tão difícil quanto raro.

BARUCH DE ESPINOZA - ÉTICA

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Livres para a Escravidão

As pessoas que esperam corromper as leis, os costumes e a moral com a intenção de provocar uma "revolução", ou a "libertação", não se dão conta das potências que movem, podendo vir a ser vítimas do pesadelo social que elas próprias construíram.
Existem pessoas que na ânsia de fazer justiça violam as leis (como certos movimentos sociais e setores do Ministério Público ou do judiciário); que para promover a liberdade corrompem o sentido de família e da religião; que para promover a igualdade destroem a excelência e distinção entre o melhor e o pior; que para não "constranger" eliminam a distinção entre o que é inteligente e o que não é; e que para promover a inclusão apostam na igualação entre o bem feito e o mal feito ou entre o belo e digno do bagunçado e indigno.
No fundo todos os promotores modernos da "justiça", da "igualdade" e da "inclusão" desejam que os homens percam seus olhos e que sejam incapacitados para a realização de juízos de valor; contudo são os juízos que nos fazem distinguir entre o justo e o injusto, o humano do desumano, o certo do errado, coisas que constituem a divisa entre uma vida humana e o terreno da destruição de toda humanidade.
O único ponto de partida para a unidade entre os seres humanos é justamente a humanidade comum que partilhamos, e o pathos, ou o sentimento compassivo no qual nos enxergamos uns aos outros. Contudo não será destruindo ou degradando aquilo que nos constitui como homens que promoveremos a nossa unidade. E os promotores modernos da igualdade desejam a unidade na degradação e insensibilização, uma nação de homens insinceros e por isso corruptos e dados ao fechar dos olhos a tudo aquilo que é corrosivo para a sociedade humana.
Não esperemos disso a libertação, mas sim a corrupção generalizada e conversão da liberdade no comportamento licencioso de pequenos criminosos, algo típico de uma nação de escravos prontos para serem dominados por aquele que age com maior força e astúcia de coração.

A Tensão Existencial na Apreensão da Verdade da Fé

   Todo o cristianismo seria gnosticismo se Jesus, no momento da ascensão aos céus, tivesse dito: "voltarei tal dia e em tal lugar", marcando um momento limite, um fim da história no interior da história.
   Poucos cristãos ou pastores entendem isso, mas se Jesus tivesse dado uma certeza imanente na história, então a fé perderia sentido assim como viveríamos, como hegelianos, com o absoluto na nossa mente e deixaríamos de viver na tensão existencial da relação entre o tempo e a eternidade, perdendo o drama histórico no interior da nossa vida e a substância humana no interior da história.
   Poderíamos, como marxistas, ou como calvinistas radicais, sentar e esperar o bonde da inevitabilidade histórica passar. Contudo a fé se dá na incerteza do horizonte histórico e na imesão do nosso espírito no mistério divino, não sendo a fé uma mera ciência ou uma informação cuja posse nos daria a possibilidade de descansar de uma vez por todas, como deuses invictos ou como perfectis gnósticos. Não existe apocalipse humano na história que exclua a tensão e a ansiedade da tensão entre o tempo e a eternidade.
   Como cristãos, e não como totalitários que possuem o sentido pleno da história em nossas mentes, ouvimos: "levantem-se, pois não será aqui o vosso descanso", o que nos faz andar e viver no mundo, como peregrinos sem lar, inteiramente pela fé e em obediência ao chamado do Espírito Santo que nos conduz ao êxodo do tempo para a eternidade, da visão mundana para a visão eterna.
   Estamos a caminho!

O Cristianismo e o Discernimento do Mal

   O discernimento refinado do cristianismo sobre o mal tem a insuperável compreensão de que o mal, em sua malícia enganadora, vem vestido da aparência do bem. O mal pode se apresentar sob o manto humanista, benevolente, amante da humanidade e militando dissimuladamente em favor dos direitos inalienáveis do homem.
   E assim como é invertida a manifestação do mal, também é invertida a recepção da manifestação do bem. Alguns diziam de Jesus: "tem demônio", ou "ele faz isso por Belzebul, o príncipe dos demônios", e assim segue a recepção do mundo às boas-novas de Jesus, a manifestação absoluta do bem no mundo.
   Mas isso explica também qual é a qualidade da substância moral do mundo e a razão pela qual ele não pôde receber a Cristo como o Rei, cujo direito de posse do mundo está estabelecido por toda a eternidade. Ao invés da realidade do bem, segue o mundo acatando aquilo que apenas parece sê-lo e sem poder preencher a alma do homem com o que realmente importa.

Palavra e Desordem

   Se você raciocina na base de doutrinas e chavões, em palavras viciadas com significação negativa já pronta como "elite", "lucro", "capitalismo", tendo aversão à simples menção de alguma delas, você está, na verdade, rodando em círculos, pensando possuir uma autonomia de pensamento que não tem, se assemelhando mais ao Cão de Pavlov, que reagia de forma automática, sem o recurso do raciocínio, a estímulos provocados por meros sinais.
   Um dos remédios para esse mal é a análise do significado real das palavras, analisando, sobre tudo, de onde você adquiriu o seu amor ou aversão na presença de determinadas palavras. Dessa forma você recupera os sentidos das palavras e reestrutura a sua relação com a realidade, pois é função das palavras a mediação da realidade, mediação prejudicada quando elas vem cheias vícios ideológicos, pois nem sempre a "elite", o "lucro" o "capitalismo" são males historicamente evidentes.
   Contudo, quando as palavras sofrem essa perda da função mediadora por causa da ideologia, da paixão política e por causa da degradação social, então elas se tornam instrumentos de desordem pública e espiritual, sendo antes fontes de tormentos do que de reconciliação, o que demanda a recuperação de sua função original mediante a reestruturação da literatura e, em consequência disso, da imaginação moral que é um dos elementos básicos para a nossa orientação no mundo.

A Gasolina, a Economia e os Pobres; Ou: O que é Preciso Entender

   Sobre o preço da gasolina existe algo que até os "consevaminions", os "direiteens" não entenderam. Vamos lá: Qual foi a razão da quebra da Petrobrás, quebra que foi uma das responsáveis pela devastação de desempregos que até agora nos afeta? - vocês se lembram da greve dos caminhoneiros, os mesmos que choravam porque os fretes estavam baixos?
   Pois bem, a razão da quebra foi a política de preços de combustível na gestão Dilma, pois por razões populistas os preços não eram repassados segundo o preço do comércio internacional, o que forçou a Petrobrás a subsidiar os combustíveis. O resultado foi a quebra da empresa, o rebaixamento das notas internacionais para investimento no país e o rebaixamento da economia ao nível especulativo.
   A mesmíssima coisa aconteceu com o setor elétrico. Como a senhora dos palmares, a dna. Dilma, baixou o preço da energia ignorando o mercado e a equação oferta e demanda, os resultados foram os apagões e a elevação do preço da energia a níveis estratosféricos para compensar a perda da empresa por causa dos subsídios, o que também gerou os desempregos de hoje causados pela elevação brutal dos preços depois das eleições de 2014.
   Obedecer as regras de mercado não é questão de preferência pura e simples, mas sim de prudência, economia (que significa: a lei da "oikos", ou lei da casa) e de respeito à natureza das coisas. A desventura nesta área, a imperícia, imprudência e populismo (baixar os preços a todo custo) resultam no pior dos mundos possíveis, o que inclui o desastre principalmente para os pobres, certamente os mais afetados a longo prazo, porque vulneráveis às más oscilações mais sutis da economia.
   Enquanto as pessoas no Brasil não equacionarem regras de economia à sua forma de ver o mundo, assim como nutrirem a falácia de que a economia e o bom funcionamento do mercado é algo que só interessa aos ricos, estaremos sujeitos a decisões erradas que, como é visível e empiricamente provável pelo estado de coisas do Brasil atual, tende a acabar com a vida dos pobres.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Oração de S. A. Kierkegaard

   Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses esquecido, ó Deus do Amor, de quem provém todo amor no céu e na terra; Tu, que nada poupaste, mas tudo entregaste por amor; Tú que és amor, de modo que o que ama só é aquilo que é por permanecer em Ti!
   Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses esquecido, Tu que revelaste o que é o amor; Tu, nosso salvador e reconciliador, que deste a Ti mesmo para libertar todos!
Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses esquecido, Espírito do Amor, que não reclamas nada do que é próprio Teu, mas recordas aquele sacrifício do Amor, recordas ao crente que deve amar como ele é amado, e amar o próximo como a si mesmo.
   Ó, Amor Eterno, Tú que estás presente em toda parte e nunca deixas sem testemunho quando Te invocam, não deixam sem testemunho aquilo que aqui deve ser dito sobre o amor, ou sobre as obras do amor.
   Pois decerto há poucas obras que a linguagem humana, específica e mesquinhamente, denomina obras de amor; sincera na abnegação, uma necessidade do amor, e justamente por isso sem a pretensão de ser meritória.

A Filosofia da História de Eric Voegelin

   A filosofia da história de Eric Voegelin nos cinco volumes da obra "Ordem e História" e a sua concepção do "salto no ser" ocorrido em Israel por meio da revelação e na Grécia por meio da filosofia, seguido da síntese cristã entre revelação e filosofia (no advento de Cristo e na formulação teológica através dos seus maiores teólogos - Agostinho, Tomás de Aquino, Hooker etc.), é simplesmente maravilhosa.
   Ele restaura em sua obra a percepção de que a cultura, a política e a civilização possuem um cerne espiritual, que é, ao mesmo tempo, o centro vital através do qual a ordem de uma civilização vem a ser. Qualquer cultura que perdeu o seu centro espiritual através do qual o Ser é revelado ao indivíduo e à sociedade na verdade está a beira do fracasso total.
   Essa é a compreensão que falta a um mundo corroído por um materialismo bronco e por revoltas ideológicas que fecham a alma para a presença de Deus revelada à mente (filosofia) e que fundamenta a consciência histórica da humanidade sob Deus.
   Ao se fechar para a realidade espiritual transcendente, o fundamento para a compreensão dos valores e a substância da sociedade caem em ruína, fazendo com que os homens optem por valores vulgares ou pelas paixões que se elevadas ao nível dos valores fundamentais, conduzirão a sociedade para o Xeol (mundo dos mortos). A ruína social é a perda da substância da sociedade que a mantém unida, substância manifesta nas artes, na cultura, na moralidade, no amor mútuo e no amor intelectual.
   Platão, consciente da desintegração social da Heléade por meio da invasão dos sofistas na assembleia (o que acabou por corromper a política grega), assim como por causa da inadequação perniciosa da teologia homérica, e a consciência aguda de Santo Agostinho de que os cultos aos deuses corrompiam as pessoas, levando-as à cauterização de suas consciência e à nutrição do seus desejos egoístas e frívolos com a consequente desintegração pessoal causada pela nutrição nessas paixões frívolas, estão no cerne de uma séria filosofia da história.
   A resposta de Platão para a desintegração política em sua filosofia mística baseada na contemplação amorosa do Ágaton (o Bem), e a resposta agostiniana para a desintegração do império na revelação da graça vivida através da fé, são pontos fundamentais da filosofia da história de Eric Voegelin. A isso Voegelin contrapõe o fechamento da alma no imanentismo das ideologias modernas, seja o positivismo comteano, a dialética materialista de Marx ou o nacionalismo racista do iluminismo. Para ele todas essas ideologias são formas de imanentização do Eschaton (da realidade última) e tentativas de criação do paraíso terrestre em contraposição à reconciliação transcendental do homem com o seu fundamento divino para além da história na filosofia grega e na teologia cristã.
   Sendo uma das partes mais instigantes e frutíferas da filosofia da história de Voegelin, a ideia do imanentismo ideológico, segundo ele, é algo que deita raízes profundas na história do ocidente. Nascida de heresias medievais, o imanentismo escatológico é filho do quiliasmo, doutrina herética que afirma um reinado paradisíaco de Cristo no mundo por mil anos. Franciscanos, joaquimitas, puritanos e mesmo especulações frívolas sobre a o símbolo eucarístico estão no cerne daquilo que ele chama de "imanentização do eschaton" e da ideia de "transfiguração da história". Ao secularizarem os símbolos cristãos os heréticos abriram as portas para a ideologia da transfiguração comunista da sociedade sem classes (já presente em franciscanos radicais) ou a transfiguração levada a cabo pela ciência. A ideia de transcendência, ao ser alocada para o mundo, deixa de sê-la para dar lugar a um imanentismo filosófico presente em filosofias de tipo hegeliano - a filosofia que manifestou o absoluto na mente de Hegel - que apontam o "fim da história" imanente (interior) ao mundo.
   Dessa imanentização, e da perda de vista da medida divina invisível característica de filosofias como a de Platão e Aristóteles, o homem é empurrado para uma história achatada sob as leis biológicas ou materialistas. Daí a medida da verdade é ou a régua do positivista (que coloca sob sua régua o crânio longo do criminoso, como o fez Lombroso), ou as "leis inevitáveis" da história, diante das quais só cabe sentar e ver a banda comunista passar. Ao se deixar medir por essas réguas ou leis o homem perde o cerne espiritual da sua liberdade, tornando-se um joguete nas mãos de burocratas que de agora em diante planejarão a sociedade. De quebra, a perca da transcendência nunca vem vazia, mas sempre se manifesta na substituição da fé na medida invisível pela fé na ciência ou na política.
   Essa redução antropológica e a perda do presente sob Deus, ao propor a libertação do homem, acaba por encerrá-lo sob um controle autoritário de um burocrata achatado. Se Deus é substituído pela medida ideológica então o Partido é o novo deus, deixando de ser Deus a medida invisível e transcendente cuja compreensão opaca por parte do homem é o que, ao mesmo tempo, faz com que a liberdade também seja possível, retirando a autoridade última das mãos do homem. O reino dos símbolos e da concepção não exata do ser de Deus, assim como a impossibilidade de reter a Deus em um código é uma razão fundamental para que o homem usurpe Sua autoridade na história. É essa relação no lusco-fusco com Deus que constituiu o elemento revelatório que fez com que Israel demolisse, em Moisés, as bases dos impérios cosmológicos antigos que funcionavam à base do movimento dos astros. Essa medida invisível é a crítica radical ao homem e à sociedade humana e ao mesmo tempo é a razão da liberdade no presente sob Deus.
   Mas distinto disso é o silogismo assassino da divindade chamada "Partido". E isso nos faz entender a razão pela qual se Deus é expulso da história o autoritarismo demoníaco de uma oligarquia de iluminados toma o seu lugar. Eric Voegelin nos faz entender a razão pela qual a compreensão da medida invisível é um salto no ser, e o porque de o imanentismo dos "perfecti" gnósticos, os coveiros do espírito, que acreditam ter a medida do homem em suas cabeças, é o simbolo da ordem e a razão da desordem moderna.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

O Desespero Humano e a Cisão entre os Elementos Polares do Ser; Ou: Kierkegaard e a Doença do Espírito

   No livro "O Desespero Humano" S. A. Kierkegaard analisa duas doenças do espírito humano. Uma dessas doenças é o "desespero do finito" e a outra muito recorrente na nossa modernidade trata-se do "desespero do infinito".
   Mas o que é o "desespero do infinito"? Essa doença do espírito é caracterizada pela perda do eu, perda gerada pela ação desenfreada da imaginação humana. É na imaginação onde se encontram todas as possibilidades da revolução, pois uma vez que ocorre a vaporização do eu na ação imaginativa, há uma diluição das bases materiais da existência, de todas as formas sociais, religiosas e políticas, deixando o homem sem critério algum em meio ao mundo, o que o deixa sujeito à barbárie.
   A princípio as potências da mente tendem a criar fantasias que tanto são benéficas quanto maléficas. Dialeticamente o eu é uma síntese entre necessidade e liberdade, entre forma e dinâmica ou entre finito e infinito. Por isso uma mente trancafiada na necessidade ou no finito é esmagada pelo peso do "ser-aí", ou das coisas tal como são, e isso faz o homem ser precipitado no desespero do conformismo rígido ou conservador - e aqui temos o desespero do finito. Já um eu extremamente criativo pode perder-se no abismo  da imaginação, destruindo o contato com as bases que firmam o homem na realidade, fazendo o indivíduo migrar para a segunda realidade da fantasia - e esse é o desespero do infinito.
   Em uma sociedade mais estável, onde a estratificação social é mais visível e a mobilidade é rara, o desespero do finito é mais notável. Como exemplo poderíamos pegar a sociedade indiana, onde organização em castas tende a se manter estável de forma rígida e sem a possibilidade de migração de um grupo de uma casta para outra. Sociedades industrialmente e comercialmente menos desenvolvidas, assim como as sociedades orientais antigas (tipo a sociedade bizantina) e algumas modernas tendem a apresentar essa imobilidade.
   Uma sociedade móvel, como a sociedade ocidental, onde o senso de hierarquia é menos sentido, e onde reina a pluralidade móvel característica de uma sociedade comercial e industrial, os laços são mais facilmente dissolvidos, o que pode conferir - para bem ou para mal - uma sensação de liberdade, ao mesmo tempo que também sujeita o homem à insegurança natural de uma realidade móvel, o que nos faz sentir constantemente ameaçados em um mundo que se dissolve sob os nossos pés. Não a toa, a sociedade ocidental é a mãe das revoluções modernas, ao mesmo tempo em que também apresenta uma síntese entre dinâmica e forma ou a síntese entre conservação legal e mobilidade social (tipo a sociedade americana e os países constitucionais).
   A questão aqui é que dinâmica e forma são constitutivas da realidade como tal. Nas filosofias de tipo ontológico, essas são as duas estruturas do ser. Contudo, como reconheceram as filosofias da existência, as condições do ser-aí do homem apresenta uma ruptura, e a comunhão entre ser a devir é cindida, o que traz consequências históricas destrutivas. Se a doença característica da sociedade ocidental é o excesso de dinâmica e a consequente destruição das formas fixas, isso se dá por causa de uma ruptura das categorias ontológica. As constantes mudanças, tão louvadas por determinados grupos, podem desembocar no niilismo e na perda dos critérios objetivos de juízo sobre o bem e o mal. Daí decorre a destruição das leis e a consequente anarquização brutal e violenta da sociedade que lançou para longe todo critério de autoridade.
   Mas também poderia ser diferente e a sociedade cair em um fixismo asfixiante para a criatividade do espírito. O problema de uma sociedade imóvel está em cristalizar o erro de maneira dogmática e autoritária, não permitindo nenhuma espécie de mudança. Ainda que haja uma segurança, o fixismo formal, fruto de uma doença do espírito, impede que o erro seja corrigido, assim como aniquila as possibilidades do desenvolvimento de qualquer espécie de ciência.
   Em ambos os casos em que ocorre a destruição do espírito e da inteligência, é o homem que está sujeito a uma séria ameaça. No caso do relativismo causado pela queda em uma dinâmica alucinante, o homem pode ser relativizado (e essa é a nossa maior ameaça hoje); no caso do fixismo o que ocorre é brutalização do homem que não concebe nenhuma mudança. Em ambos os casos o homem fica sujeito à violência causada pela cisão entre dinâmica e forma, liberdade e necessidade, finito e infinito.
A cisão ontológica entre forma e dinâmica, necessidade e liberdade, finito e infinita, junto com a descrença em um padrão eterno e ao mesmo tempo a incapacidade de reformar o mundo segundo esse padrão é a grande questão filosófica e religiosa - incluindo da Reforma -, sendo tema de mitos, da reflexão dos profetas, filósofos e sábios, sendo a base desta reflexão o fundamento eterno da realidade ou Deus. É por isso que a perda da presença de Deus, em quem esses elementos ontológicos polares do ser se encontram reconciliados, é a causa da ruína que parece ser a característica marcante presente na história do nosso mundo.
   É importante ter a perda da presença de cura de Deus em Cristo, e a consequente cisão da unidade entre liberdade e forma, Lei e Graça - cuja unidade foi tão importante na teologia reformada -, como a razão da violência do mundo, pois sem Deus é impossível pensar ou mesmo conceber uma ruína no mundo, pois toda ruína para ser o que é requer um paraíso contra o qual tal ruína também se diz ser.

Ideologia de Gênero e a Ameaça ao Direito

   As consequências políticas da ideologia de gênero são monstruosas. Por exemplo: o direito das mulheres é o primeiro a virar fumaça.
   Estranho? Pois bem! Se o que existe é gênero, então a violência contra a mulher pode ser avaliada a partir de um ponto de vista puramente subjetivo. Imaginem só um machão barbudo que depois de dar uma surra em uma mulher afirmar que ele se sente mais moça que a Beyoncé.
   O que as pessoas não percebem é que se o sexo não tem uma base objetiva na natureza, então reina o que o indivíduo pensa de si. Mas como a imaginação do ser humano é ilimitada, então o que o homem pode maginar a respeito de si é também ilimitado.
   Nessa onda toda é a própria estrutura legal que será destruída. Alguém pode se achar um animal silvestre, invocando sobre si os direitos dos animais, assim como um homem pode se achar uma mulher e reivindicar o direito ao uso do banheiro feminino.
   Ficando tudo sujeito ao arbítrio, são as mulheres que perderão seus direitos por darem livre curso ao delírio imaginativo. E o direito das mulheres só pode ser possível porque requer uma base objetiva para ser o que é. Da mesma forma, a perdição da imaginação infinita irá destruir a estrutura legal do casamento, acabando com a própria proteção legal à monogamia e à fidelidade conjugal.
   É incrível a tendência suicida do movimento feminista que ainda não percebeu que a ideologia de gênero é a sentença do seu próprio fim.

sábado, 28 de outubro de 2017

A Verdade e a Educação

   Um ventre aberto e sangrando também é realidade. No entanto ninguém acharia agradável enxergar um todo o dia no instante que saísse em da frente de casa, tal como Nero, que, em sua ânsia por conhecimento, abriu o ventre de sua mãe para saber de onde saíra.
   Nem tudo deve ser conhecido, e a ideologia do experiencialismo, que é um absurdo em si, não leva em conta a verdade que nem sempre saber de tudo é algo edificante para as nossas vida.
   A conclusão de Platão de que o bem está acima da verdade tem aqui a sua verdade manifesta e deveria ser o norte de qualquer pedagogia que se preze. Nem sempre conhecer tudo é algo bom em si mesmo, assim como nem toda experiência é edificante em si.
   Assim também o conhecimento da verdade deve ser reservado a quem seja digno dele e manifesto no momento adequado para não causar uma destruição da consciência. Isso é concepção de condução amorosa ao conhecimento.
   Se a educação de hoje perdeu essa verdade de vista isso significa que já não temos educação, mas um bando de selvagens que querem a todo custo causar a divisão nos corações e não reconciliar os homens com o seu mundo.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

As Tiburis e o Eterno Retorno; Ou: É Melhor se Acostumar com Essa Tragédia

   A economia irá crescer por volta de 1% neste ano de 2017, apesar dos jornalistas e das Márcias Tiburis da vida. Mas no fim das contas, para a moça dos cabelos negros e com ideias erradas por debaixo deles, bom mesmo foram os anos da recessão econômica provocada pelo último governo. O que comento está em uma entrevista que ela deu recentemente, e o link vai no fim do texto. Sugiro que vejam o vídeo antes de lerem o texto - lembrando que esse é um vídeo tóxico.
   De quais ideias falo, para não me darem uma carteirada, suspeitando algo de misógino em mim? Vamos lá: a moça dá um emprego psicanalítico à ideia nietzscheana de eterno retorno e injeta um pensamento progressista em Nietzsche (Valha-me Deus!), dizendo que os problemas atuais no Brasil são os mesmos enfrentados e (mal)resolvidos no século XIX. Segundo a bela - e aí surge a sua carteirada -, estaríamos em um eterno retorno de "problemas mal-resolvidos". A lógica pseudo-psicanalítica e pseudo-nietzscheana aí leva à conclusão de que o "resolver" o recalque vitoriano dirimiria o problema e estancaria o ciclo do eterno retorno. Cruzes!!
   Quem conhece Freud e Nietzsche teria que se tratado de desgosto a doses dionisíacas de dança sobre o abismo. Nietzsche, o bigodão, fala de "amor à terra", e de "aceitação da vida" com todos os dilaceramentos que caracterizam o seu ser-aí. Freud, o bigode, não se distancia disso, pois não acha solução para as pulsões, que parecem estar destinadas a dissolver o ego em um caos disforme, a não ser a aceitação da condição trágica do animal humano (lembrar do princípio da realidade). Em ambos não há progressismo, pois o que existe, no fim, parece ser a substância trágica da totalidade do mundo.
   E a carteirada vai longe quando vemos que todos esses problemas irresolutos do Brasil atual é fruto do monstro chamado "liberalismo". O toque mágico da vassoura retórica da moça está na tentativa de fazer uma filosofia da história que mistura Freud, Nietzsche, Progressismo e o "barbarismo do Brasil atual". Para ela o século XIX é a época da discussão sobre a escravidão (dando a entender de soslaio que ago do liberalismo queria a escravidão). E como a moça não deixa fios soltos quando tece uma narrativa, ela liga o toque liberal das reformas trabalhistas do governo Temer com essa época de discussão sobre a escravidão, tentando produzir uma determinada metafísica. Percebemos que a associação-livre e bruxesca da bela pode nos dar a entender que estamos rumando a uma era de escravidão moderna.
   Mas como o único antídoto contra o feitiço é a informação que destrói a ignorância, vamos para os fatos. A revolução industrial inglesa (que funciona como infraestrutura do liberalismo) foi a pedra fundamental para dirimir o problema da fome no mundo. E não é a mágica que explica o fato de que em 1700 a população da Grã-Bretanha era de 5,5 milhões, saltando para 60 milhões às vésperas da Segunda Guerra Mundial, que começou em 1945. Nada explica esse fenômeno senão a industrialização e o consequente melhoramento do padrão de vida inglês, junto com o fim do sistema de monopólio concedido pelo estado, algo tão detestado por Adam Smith, o pai do liberalismo econômico. E de carona com isso vai a questão da escravidão.
   Enquanto tribos africanas que permanecem no neolítico ainda possuem um sistema escravocrata, o problema acabou no ocidente por causa do liberalismo econômico e da revolução industrial e não "apesar dele". Foram as possibilidades criadas pelos novos modos de produção que tornou obsoleto e caro o sistema escravista. Karl Marx, que não era burro, entendia que a sua utopia socialista e igualitária não seria possível sem a industrialização pesada. Ele odiava justamente aqueles povos que não conseguiram levar adiante o liberalismo e a industrialização, como os eslavos. Ao contrário do que parece, Marx não era contra a Sociedade de Mercado, pois via que esse era um estágio necessário para a revolução. Certamente o velho barbudo ficaria irritado se visse o amor devoto com que os esquerdistas brasileiros se dedicam na defesa do intervencionismo estatal. Por tanto o liberalismo não institui a escravidão, ele abole ela.
   É por isso que eu pasmo diante da atual situação da academia brasileira, pois ela não produz com pessoas assim nenhum tipo de orientação saudável para momentos de crise como o nosso - que é mais um momento de crise de informação do que uma crise econômica propriamente, ou de perda de direitos; essa é a nossa dogmatomaquia, ou a guerra de opiniões, como diria Eric Voegelin. Quem se orienta pelos pensamentos desta bonequinha de louça agressiva que parece se recusar a deixar a doçura da adolescência, irá perder o debate justamente por causa do descolamento da realidade. Mas a solução para o meu estado de perplexidade é algo nietzscheano, pois sabendo que Tiburis sempre teremos conosco, é melhor amar esta terra aceitando o eterno retorno dessa tragédia.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

A Razão Ontológica como Fundamento da Sociedade

"O principal e mais portentoso acontecimento de nossa época é a firme supressão das distinções que criam a sociedade. A sociedade racional é um espelho do 'logos', e isso quer dizer que ela possui uma estrutura formal que possibilita sua compreensão. Por tanto, a preservação da sociedade está diretamente ligada à recuperação do verdadeiro conhecimento. Para que nossa recuperação tenha êxito, não se insistirá o bastante no fato de que a sociedade e massa são termos contraditórios e em que aqueles que procuram fazer as coisas em nome da massa são agentes de destruição no meio de nós. Se a sociedade é algo que possa ser compreendido, ela deve ter uma estrutura; se ela tem uma estrutura, deve ter uma hierarquia. O discurso jacobino se desfaz diante dessa verdade metafísica."*

*Richard. M. Weaver - Ideias tem Consequências. p. 49

terça-feira, 24 de outubro de 2017

O Niilismo na Arte e a Demolição do Juízo

"Que a vida civilizada não seja possível sem determinados tabus - que alguns deles são de fato justificáveis e, por tanto, nem todo tabu é em si um mal a ser derrotado - é um pensamento demasiado sutil para os estetas do niilismo. É um bocado irônico observar que um alto representante da Academia Real exponha essa doutrina destrutiva* quando sabemos que o primeiro presidente da academia [Joshua Reynolds], de longe m homem mais qualificado e digno, escrevia o seguinte em seu Sétimo Discurso sobre a Arte: 'Um homem que pensa guardar-se contra preconceitos** [os padrões morais herdados e os tabus] pondo resistência à autoridade moral de terceiros, deixa em aberto toda uma avenida para anomalias, vaidades, autoenganos, obsessões, e muitos outros vícios, todos a deformar o julgamento'." (Dalrymple - Nossa Cultura... Ou o que Sobrou Dela. p. 183)

*Uma ideia niilista de arte foi exposta pelo presidente da Academia Real Inglesa de Arte em 1998.
**O que se compreende por "preconceito" aqui trata-se daquele elemento fundamental da filosofia do senso-comum, de origem inglesa, que afirma que ainda que não possamos rastrear a origem dos hábitos de uma sociedade (democracia, regras de tratamento, padrão linguístico, direito constitucional, regras de mercado, hábitos de auto-proteção, hábitos educacionais, tabus sexuais etc.), esses exercem sobre nós uma autoridade que cria uma ordem sem a qual muitas coisas seriam destruídas. Não se trata da distorção posterior feita por pensadores progressistas que afirma que preconceito é "racismo", "machismo" etc.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Dalrymple e a Arte

   Ao analisar algumas das facetas da arte moderna, a iconoclastia contra os costumes e o niilismo estético nela presente, Theodore Dalrymple quebra o queixo da vanguarda iconoclasta: "Um tabu só faz sentido se funciona para todo mundo, e aquilo que é simbolicamente quebrado na arte será, em breve, quebrado na realidade."
   A dinâmica da relação dialélica entre arte, cultura e a história deveria nos levar à compreensão de que o que é representado na arte transbordará sempre para a área dos costumes e da política. 
   A dessensibilização que ocorre por causa das microtransgressões da arte moderna é o resultado da militância de "artistas" que visam a subversão dos costumes e a revolução da mente. 
   Nessa dinâmica você, os poucos, irá aceitar o que antes era absurdo e grotesco, sendo feito massa de manobra por parte de uma vanguarda do abismo que se quer iluminada, daqueles que se acham sacerdotes do "novo" e da "liberdade" e que acabarão conduzindo você ao caos.

O Brasileiro e a Lei

   O brasileiro, definitivamente, nem sonha com o que seja a tripartição de poderes, a soberania e a relação harmônica que essas esferas devem ter entre si. O que a galera quer é que os três poderes sejam mais ou menos três poderes, sendo um, o STF, maior do que os outros dois (o legislativo e o executivo) hierarquicamente.
   Definitivamente me parece que não temos tanto temperamento para a República assim - ou estamos em estado de crise vocacional -, mas sim para a anarquia, já que aqui não se quer a Lei, mas sim torcida. Por exemplo: para um senador, como o Aécio, que nem réu é, vejo colegas pedindo cadeia etc., mas não choram pela Gleise Hoffman que é ré por DOIS processos e nem pelo Renam Calheiros que é SETE VEZES réu.
   E a ignorância aumenta a brutalidade na medida em que todos ouvem a palavra Lei com um amargor a boca - e é justo que isso seja assim, dado o estado de coisas -, tendo também os ouvidos fustigados por oportunistas, junto com a preguiça de buscar as razões pelas quais as coisas são assim.
   A primeira vez que eu ouvi falar em devido processo legal eu tive horror quando vi isso aplicado a uma situação em que um notório corrupto foi absolvido por causa de provas ilegais no processo de acusação. Hoje eu sei que o nosso sistema de direito não pode se livrar dessa forma de encarar o processo legal sem regredir e degenerar, tiranizando justamente o mais fraco.
   Mas o que ocorre é que, infelizmente, um sistema de direitos não está à altura do barbarismo brasileiro que deseja resolver tudo na ira e com base em seu despotismo natural. Achamos que justiça é cadeia ou espancamento. Absolvição é corrupção. Com o domínio do arbitrário a correr em nossas veias não é a toa os mensalões, petrolões e as coisas serem como são.

P.S: A cima vai a foto de Montesquieu, o homem influente e mais sofrido do Brasil.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O Islã e a Política

   A politização do Islã moderno surgiu quando um indivíduo chamado Sayyid Qutb decidiu salvar o mundo de si mesmo, fazendo uma espécie de "teologia da libertação", tendo ocidente como o grande alvo e em específico os Estados Unidos - o Grande Satã.
   Aconteceu algo peculiar nesse momento: explodir, decapitar, avançar inescrupulosamente contra a população civil constituem um ato de amor libertador com um valor teológico secularizado. Eles, tal como os marxistas fizeram outrora com mais fervor, acreditam em um milênio, em um paraíso mundano de bem-aventuranças que será instaurado quando a queda do "sistema" se der - e aqui muitos marxistas e teóricos desse Islã se enlaçam em um abraço insano.
   Mas o inacreditável é o que pessoas que são absolutamente convictas da sua própria bondade podem fazer por "amor à humanidade" enquanto decepam, torturam, escravizam, matam e reduzem à miséria o seu semelhante.

Desprezo Brutalizante e as Razões do Coração

   O que esse pessoal da Globo despreza é a autoridade dos costumes sem o qual nenhuma cultura pode ser e sem o qual nenhum laço humano pode existir.
   Você até pode racionalizar que uma saia não difere em sentido material de uma calça e que ambos podem ser vestidos por meninos - como no caso da Malhação. Mas essa afirmação que é verdadeira no sentido racionalista não é no universo da razão estética que pessoas de uma determinada cultura compartilham, sendo que é esse tipo de dimensão estética que permite a comunhão entre o homens.

   No fundo isso é a violação das razões do coração que a própria razão desconhece, como afirmou Pascal, as mesmas que fundam o senso de identidade entre as pessoas e o senso de pertencimento no mundo. São coisas que não possuem uma razão prática de ser, mas constitui todo o universo de sentido.
   No fundo essa atitude de novelas como a Malhação evidencia quão prepotente e brutal pode ser alguém que declarou guerra ao senso estético ou comum da população por causa de uma ideologia que busca indiferenciar o masculino do feminino. Trata-se do vício hostil dos tempos de ver em tudo um significado político: do sexo à comida, do vestir de roupas a um passeio de bicicleta, os fanáticos, em sua sanha reformista ou para parecerem gente do bem, tudo transformam em motivo de protesto - e hoje está na moda fazer um merketing do bem.
   Mas tenho esperanças da vinda dos dias em que um simples vestir de roupas voltará a ser um simples vestir de roupas.

Os Pastores e a Lei

   Tem muitos pastores que precisam entender algo sobre Direito para que não sejam cúmplices de um tipo de agenda que visa a demolição da República e das Leis, as mesmas Leis que constituem aquelas barreiras que nos separam do caos que torna a vida inumana, e agenda essa em favor da qual eles trabalham sem se dar conta.
   É difícil quando um desejo moral de ver tudo bem (contra corrupção, por exemplo) anda junto com um pensamento equívoco sobre a lei, pois ao invés de promover a boa ação essa mistura acaba dando certeza e força para uma tese equivocada e respaldo para uma ação desastrosa que visa destruir a Lei (algo como "prisão para todo mundo", "10 medidas" - 4 são medidas evidentemente coisa de ditadura - e "habeas corpus é coisa para proteger bandido").
   Ai, ai! Será que não cabe a repreensão aqui contra aquela atitude de fazer do escuro claridade e da claridade o escuro? Não são essas as palavras ansiosas contra as quais cabe o peso do juízo? O que dizer quando uma ação temerária e ansiosa obscurece o bom juízo do qual depende toda paz?
   O ruim de tudo isso é quando os furores virtuosos contra a política, contra a lei, o STF etc. é canalizado por gente mais esperta e oportunista (políticos e até uns dois ministros do STF) que sempre acaba se aproveitando do humor irrefletido do pelotão da virtude para afundar o próprio pelotão da virtude e todo o resto na miséria - aquela miséria que surge do casamento assombroso entre boas intenções e falta de entendimento.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

A Degradação Contra o Bom-Senso

   A questão da compreensão sobre o que vem a ser a liberdade implica o cultivo da razão. Por exemplo: devemos sempre generalizar qualquer espécie de conduta e afirmação para sabermos quais as implicações práticas de toda afirmação ou de toda ação e assim fundamentarmos a nossa noção de certo e errado.
   É essa generalização que nos revela que o conceito de "liberdade" é algo um tanto ambíguo, pois toda ação difere da outra segundo a intenção do sujeito e segundo as consequências práticas das ações e pensamentos. E aqui temos a razão pela qual a liberdade não é um princípio, pois se fosse a liberdade para fazer uma oração seria equivalente em valor à liberdade de cometer um assassinato.
   Mas o que diferencia a oração e o assassinato? É uma coisa só: é o conjunto de valores que são possíveis de serem discernidos na mente do homem sensato. Mas quando toda a sociedade está à beira da loucura e quando o homem sensato é preferido ao aventureiro, então essa sociedade já se encontra em sério risco, pois está incapacitada de discernir o bem do mal. O grosso do nosso jornalismo, nossas produções culturais, a inclinação dos intelectuais e líderes políticos e o bom senso da população serão os os responsáveis pelo futuro mental do nosso país.
   Nesse sentido há uma guerra que decidirá o que é moralmente aceitável do que não é; e ao que tudo indica, muito do jornalismo e da produção cultural principalmente de novelas e de muito dos atores de elite mais estridentes constituem o corpo do príncipe palhaço da revolução cultural que se triunfar deixará o nosso povo em frangalhos.
   O que nos consola é que essa revolução sombria não ocorrerá, pois a força do bom-senso da população tem se mostrado resistente ao assédio desse povo "artista", de muitos dos "jornalista" e dos "intelectual" que preferiram uma fantasia macabra à realidade sensata sem a qual o exercício da liberdade seria um ato grotesco e desprezível a todo homem, pois pautada na agenda insana de gente que fez da depravação e da degradação sua própria natureza.

O Mais Íntimo de Mim

   Existe um pensamento maravilhoso da mística cristã (Agostinho criou o pensamento e Lutero o admirava em sua juventude) que é o seguinte: "Deus está mais próximo de mim do que eu mesmo", e isso implica em dizer que ele está mais próximo de tudo o que existe do que tudo o que existe está próximo de si mesmo. Como disse Agostinho: "Tú é o mais íntimo do que o mais íntimo de mim".
   Há nisso há uma razão, que é a seguinte: nós não nos conhecemos em nossa totalidade e nem aquilo que, em última instância, é bom para nós. Não temos em memória a posse da totalidade dos momentos das nossas vidas e nem podemos frear o processo de decadência física a que estamos sujeitos com ir dos anos. Mas Deus tudo conhece e conhece de nós aquilo que nos é desconhecido, incluindo aquilo que para nós é essencialmente bom em último grau, além de Ele ter plena posse de si mesmo e de tudo o que existe.
   É só por isso que apesar das contrariedades radicais da nossa vida podemos afirmar a nossa fé de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, pois ainda que a situação limite nos dê razão para perdermos qualquer espécie de esperança em meio a loucura do sofrimento, ainda assim a providência divina nos leva, pelo nosso bem, ao vale da sobra da morte de onde podemos fixar nossos olhos com mais clareza na luz eterna que é o maior bem para todos os homens.

Os Novos Judeus e a Vanguarda do Abismo

   O primeiro passo está dado: confundir discordância com censura. Logo depois será crime discordar. Gente assim, tipo as fadas e os fados da Globo e Caetano Veloso - o mesmo que estava lutando pela censura de biografias não autorizadas -, concebe seu ponto de vista não como a vista de um ponto, mas como A vista DO ponto.
   É inacreditável o que gente com poder na mão pode fazer quando é atacada com uma espécie de síndrome de Deus, onde aos hereges da sua opinião é tirado o direito mesmo de ter uma. No fim, você, para ser gente do bem, esclarecida e humana, deverá concordar com os missionários do Queermuseu e com o homem nu do MAM com disposição devota, porque assim querem os humanos mais humanos do que os outros.
   Essa elite iluminada exercendo pressão contra a maioria do gosto da população deseja não ser uma excentricidade em meio a outras - o que vá lá -, mas impor as suas excentricidades como coisa normativa. E se discordar é censura, concordar com eles é mandamento.
   No fim, gente dominada pelo senso comum caseiro, conservadores e religiosos serão - e já são -, os novos judeus dessa vanguarda do abismo.
   Que gente cínica!

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Os Males da Fúria Justiceira

   Alguns tiranetes do Supremo tem canalizado o ódio dos boçais à política e aos políticos para criar uma jusrisprudência da instabilidade que pode ameaçar a liberdade da população toda, incluindo a dos boçais. É por isso que a fúria justiceira dos "bons" pode ser tão perniciosa quanto a injustiça seletiva dos maus.
   Fique aí gritando "cadeia a todo custo" aos políticos para ver onde você vai parar. Sempre vai haver algum esperto que poderá usar os ódios irracionais, trazendo satisfação aos odiadores em prejuízo do próprios odiadores e em benefício dele, o esperto.
   Você que acha que as "leis são feitas por eles" e que acha que se pode transgredi-las para fazer justiça, é você quem acabará por destruir as leis que protegem a sua própria segurança. Hoje a lei, segundo o Supremo, pode retroagir para punir qualquer um, pois permitiu retroagir o alcance da Lei da Ficha Limpa. "Ah, mais é contra políticos!!", grita o asno, e ao som do seu relincho nasce a tirania do judiciário.
   Batam os cascos e comam alfafa de felicidade vocês que acham que Ministério Público e o STF, que fizeram da caçada arbitrária a políticos a diversão da vez, possuem a autoridade e a pureza do próprio Deus.

Liberdade e Responsabilidade

   Todo aquele que confunde liberdade com liberdade licenciosa, e afasta de si a prática da liberdade responsável, terá sobre si o governo do tirano, pois é inepto a governar a si mesmo, já que se orienta apenas pela sua paixão e jamais pela sua razão.
   É razoável que todos os que confundem a liberdade com licenciosidade, com a liberdade para dar vasão de forma incontrolável aos seus impulsos, não mereçam a liberdade, já que instalando a sua vida na loucura e no desgoverno de si, trazendo sofrimento para sua vida e à vida daqueles que o cercam, para si mesmo fabrica a própria prisão.
   No melhor dos casos o licencioso será governado pelo homem que é mais sábio do que ele; no pior, pelo mais esperto e maquiavélico, ou seja, por aquele que o incentivando à prática de tudo o que destrói a sua família, seus laços afetivos e até da sua sanidade, se colocará como a solução dos seus problemas, dando a mão enquanto pede em entroca a própria alma.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Do Gnosticismo do Artista Nu ao Castelo Teórico Cristão de Tomás de Aquino


   O processo de dessensibilização progressiva levada a cabo por meio de microtransgressões vai fazendo você aceitar pouco a pouco aquilo que antes achava absurdo. Alguns tolos levados nessa onda acham que isso é um processo de esclarecimento enquanto se trata de um processo de dessensibilização moral e de um apagamento da chama da razão capaz de discernir e criticar tudo o que é grotesco.
   É interessante que nesse processo o "crítico" é justamente aquele que luta contra tudo aquilo que denuncia a sua insensibilização, taxando de "retrógrado", "fundamentalista", "moralista" todo tipo de pensamento que nos livra a todos de cairmos no abismo. O 'avant-garde du retard' nos levará para as cavernas, mas pensa estar "avançando" para um mundo melhor, e daí descobrimos que esse mundo melhor é o lugar onde uma criancinha é incentivada a tocar no corpo de um homem nu no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
   Podemos formar um símbolo interessante para esse evento, que é: da mesma forma como o corpo imolado de Cristo era o elemento da sala central do castelo teórico da vasta obra filosófica e cristã de Tomás de Aquino, o corpo nu do homem que se deixa ser tocado por uma criança é o elemento central da sala do gnosticismo moderno, que tendo insensibilizado as mentes na busca de um paraíso mundano, deu a crer que as ambiguidades, os conflitos morais e espirituais humanos já não permeiam o estado de inocência alcançado pelo avanço da mentalidade moderna.
   A mente cauterizada daqueles que venceram todas as travas e tabus é a mesma que acredita no próprio bem enquanto comete a mais grotesca barbárie. 

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Juízo Final e a Relação Entre o Tempo e a Eternidade

   Uma das dificuldades do pensamento humano é distinguir tempo e eternidade. Por exemplo, quando as pessoas ouvem falar de "Juízo Final", é difícil não haver um espanto e compreender esse evento como o ponto conclusivo no tempo.
O problema é que para o cristianismo Deus é um agente do Juízo Final e por isso Ele não está sujeito ao tempo. Mas como é que podemos harmonizar tempo e eternidade? O Juízo Final é um evento no tempo? Não e sim; não porque tem Deus como agente e sim porque Deus se encarna no tempo. Poderíamos dizer que assim como encarnação de Cristo é a plenitude do tempo , o Juízo Final também é, mas esse último o é em uma escala que eleva o mundo ao nível da imortalidade e à efetivação de Deus no tempo de tal maneira que o tempo é transcendido em Deus.
É por isso que é inútil calcular datas para a segunda vinda de Cristo, pois essa Segunda Vinda trata-se não do resultado conclusivo do tempo em si mesmo e dos eventos nele, mas da irrupção radical da realidade essencial de Deus no tempo, sendo o tempo absorvido na realidade eterna de Deus, o que leva o tempo para a sua plenitude. Calcular a Segunda Vinda de Jesus com base em catástrofes, eventos temporais e mesmo em sua intensidade é nivelar a ação da eternidade à contingência da natureza, evidenciando um desconhecimento da natureza de Deus. Os sinais e catástrofes apontam para a realidade finita e contingente do mundo e é essa fragilidade finita que implica em um sustento do mundo por parte de uma substância eterna.
Podemos concluir que é só para isso que servem os sinais, ou seja: para mostrar o caráter transitório do mundo e para mostrar que ele, por si mesmo, é inviável, assim como para mostrar que a natureza humana só pode ser satisfeita na escala da imortalidade e eternidade do Deus que prometeu irromper de uma vez por todas em sua totalidade na história.

Deus, Amor e Justiça em Paul Tillich

   A justiça é aquele aspecto do amor que afirma o direito independente do objeto e do sujeito na relação de amor. O amor não destrói a liberdade do amado e não viola as estruturas de sua existência individual e social. O amor tão pouco elimina a liberdade daquele que ama nem viola as estruturas da sua existência individual e social. O amor como reunião daqueles que estão separados não distorce e nem os destrói em sua união. Contudo, existe um amor que é auto-entrega caótica ou uma anto-imposição caótica; não é um amor verdadeiro, mas um amor "simbiótico" (Erich Fromm). Grande parte do amor romântico tem esse caráter. Nietzsche estava certo quando enfatizou que uma relação de amor só é criativa se entrar na relação, de ambas as partes, um eu independente.
   Mas, nesse processo, a justiça não só afirma e seduz; ela também resiste e condena. Este fato suscitou a teoria do conflito entre amor e a justiça em Deus. Os diálogos entre judeus e cristãos muitas vezes foram afetados por este pressuposto. Os ataques políticos à ideia cristã de amor não levam em conta a relação entre amor e justiça em Deus e no ser humano. E assim também se comportam muitos pacifistas cristãos em seus ataques às lutas políticas pela justiça.
   Com frequência se tem perguntado como o amor divino se relaciona com o poder divino, especialmente com o poder que satisfaz as exigências da justiça. E se tem notado um conflito entre o amor divino e a ira divina contra aqueles que violam a justiça. Em princípio, todas estas questões são respondidas pela interpretação do amor em termos ontológicos (a realidade em-si do amor) e do amor divino em termos simbólicos. Mas na teologia sistemática se exigem respostas especiais, e, embora ela não possa entrar nos problemas atuais da ética social, deve mostrar que toda resposta ética se fundamenta em uma afirmação implícita e explícita sobre Deus.
   Deve-se enfatizar que não é o poder divino como tal que se acha em conflito com o amor divino. O poder divino é o poder do ser-em-si, e o ser-em-si é efetivamente real na vida divina cuja natureza é o amor. Só se pode imaginar um conflito em relação à criatura que viola a estrutura da justiça e assim viola o próprio amor. Quando isso acontece - e é próprio da existência da criatura que que isto acorra universalmente -, seguem-se juízo e condenação. Mas não por um ato especial de retribuição divina; eles seguem pela reação do poder amoroso de Deus contra aquilo que viola o amor. A condenação não é a negação do amor, mas a negação da negação do amor. É um ato de amor sem o qual o não-ser triunfaria sobre o ser. É a forma pela qual aquilo que resiste ao amor, a saber, à reunião do separado na vida divina, é abandonado à separação e à inevitável autodestruição que a separação acarreta. O caráter ontológico do amor resolve o problema da relação entre amor e a justiça retributiva. O juízo é um ato de amor que abandona à autodestruição aquilo que resiste ao amor.
   Isso, por sua vez, possibilita à teologia o uso do símbolo "ira de Deus". Durante muito tempo, sentiu-se que este símbolo equivaleria a atribuir a Deus sentimentos humanos no sentido das histórias pagãs sobre a "raiva dos deuses". Mas o que é impossível em uma compreensão literal é possível e frequentemente necessário em um símbolo metafórico. A ira de Deus não é um sentimento divino paralelo ao seu amor, nem um motivo de ação paralelo à providência; é o símbolo emocional para a obra do amor que rejeita e abandona à autodestruição aquilo que lhe resiste. A experiência da ira de Deus é a consciência da natureza autodestrutiva do mal, a saber, dos atos e atitudes que a criatura finita se mantém separada do fundamento do ser e resiste ao amor unificador de Deus. Esta experiência é real, e o símbolo metafórico "ira de Deus" é inevitável. *

*Paul Tillich - Teologia Sistemática. p. 287,288