sábado, 18 de abril de 2015

O "Santo"




   Aqueles que querem abolir a moral (aquela que evidencia a contradição angustiante existente em todos nós - e que, por sua vez, nos humaniza, com toda humilhação moral o faz), criam monstros, ou até mesmo afundam o mundo no tédio - pois toda a "igualdade moral" cria monstros ou causa tédio. Mas, por outro lado, podemos perceber que estes abolicionistas são os parentes mais próximos dos puritanos: detestam a noção de pecado.

   No entanto o segundo grupo ainda se reconhece como um entidade composta de pecadores - daí a sua superioridade -, enquanto que os abolicionistas - progressistas - saltam de maneira intransitiva para o mundo da santidade, querendo transformar, também, a sua conduta em "lei universal", sem serem contestados por tudo isto.


   Não se enganem: o Diabo - o relativista, igualitarista e absolutista - acredita piamente que é um Santo, acreditando também ser o exemplo mais sublime a ser seguido por todos os homens.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Violência Contra o Nada: Uma Lembrança do Holocausto


   Demorei anos para associar a falta de conhecimento com violência. Geralmente estas palavras são expressas com uma apenas: ignorância. Sendo assim, vemos o quão significativo é, para o esclarecimento desta afirmação, o evento da crucificação, onde, do alto do madeiro, Jesus clama: Pai perdoe-os porque não sabem o que fazem.  

   O genocídio nazista empreendido contra os judeus não deixou de ser algo forjado na esteira de uma fabulosa ignorância, que não sendo dolosa para a imensa maioria dos alemães, os levou a contribuir mesmo assim para a criação de um ambiente onde a hostilização aos judeus foi encarada como algo do dia-a-dia, ou como algo necessário para o “salto” rumo à concretização da supremacia alemã sobre o mundo.

   No entanto, como esquecer Goebbels, o ministro de propaganda do nazismo, que frente à contraposição da imprensa judaica da Alemanha que alertavam para o sério perigo que gravitava em torno da política racista (e incluo aqui na palavra racismo a ideia de “raça superior”, também) e antissemita de Hitler, dizia coisas como estas: “os judeus mentirosos”, e: “eles não sabem do que somos capazes"? Tudo encarado com a complacência internacional, assim como com naturalidade por aqueles que não possuíam instrumentos e cultura o suficiente para compreender o desdobramento das coisas, que avançavam com aquele perigo anunciado pela imprensa judaica.

   Governos totalitários sempre ganham um poder gigantesco com base no discurso acerca de um inimigo a se destruído, sendo que tal inimigo, invariavelmente, trata-se de um ente imaginário, um constructo mental, algo no qual se concentra todas as razões das mazelas sofridas por aqueles sobre os quais os ditadores dominam. George Orwell em sua ficção "1984" chega a falar dos “Dois Minutos de Ódio”, que era um programa que todos os habitantes da Oceânia deveriam assistir, sendo neste programa apresentado Goldenstein, inimigo terrível do povo, aquele a quem o “Grande Irmão” – o ditador da ficção – resistia e lutava em nome do povo e para o bem deste. Tudo engano.  

   Orwell foi um jornalista e romancista contemporâneo da Segunda Guerra e do “horror de Stalin”, tendo o seu romance um pé fincado na experiência geral dos seus contemporâneos. Não é a toa que o seu livro "1984" teve uma forte ressonância quando lançado, sendo considerado um grande sucesso, assim como um das maiores ficções do século XX, se não a maior. Por isso a importância de lê-lo.

   Bem, mas o que me interessa é basicamente refletir sobre a construção de narrativas que governos totalitários utilizam para unificar pessoas contra um perigo comum, assim como para se apresentarem como a âncora de salvação do mesmo povo "ameaçado". Mas não é só isso, pois a ideia de “virtude”, “pureza” e “impecabilidade” é algo constitutivo da ideologia de tais governos e seus ditadores, dispensando a ideia de que qualquer mal possa vir deles, sempre vindo de um outro - o inimigo. Tais ditadores são incapazes de fazer um mea culpa, já que a fonte de todo um mal é um "outro", um ente essencialmente mau – quase sempre uma generalização abstrata, inexistente no mundo concreto e com super poderes, mas que ainda que se trate de um construto, acabava, por uma obra maquiavélica, por ser identificado nos inimigos históricos a serem destruídos, plasmando de maneira hedionda um idealismo numa realidade concreta.    

   Tais eram nos discursos nazistas os judeus, aos quais Hitler acusava de arquitetarem uma grande conspiração capitalista internacional – já que para Hitler os Judeus eram os grandes dominadores do mundo –, que visava destruir a Alemanha, ameaçando também o mundo (argumento esposado por muitos grupos terroristas muçulmanos). A última carta de Hitler – escrita um pouco antes do fim da Segunda Guerra –, está recheada destes construtos delirantes, assim como de auto-glorificações daquele que se considerava o guia da Alemanha rumo à eterna glória. Loucuras.

   Hoje em dia em nossas terras tupiniquins, parece que ouço um eco destes delírios quando me deparo com discursos sobre uma suposta conspiração de um certo “PIG” (o “Partido da Imprensa Golpista”, que seria chefiada pela Globo, ignorando o fato óbvio de que Globo foi uma das maiores disseminadoras de ideias de esquerda – olhem o conteúdo das novelas –, sem a qual o “partido” não teria conquistado os corações e mentes), das ameaças do “Grande Capital”, assim como de ameaças da CIA, dos EUA e do “capitalismo” contra o “único governo popular do Brasil que pela primeira vez em 500 anos cuidou de verdade do povo”, ou contra a autonomia da América Latina - como afirma, hoje, Maduro. Tal ideia ganhou força e lançou raízes em faculdades de ciências humanas, assim como levou à radicalização alguns movimentos sociais que, não tendo noção de conjunto, assim como ignorando de maneira profunda a história do Ocidente nos últimos 300 anos, se põe a repetir chavões utilizados há uns 150 anos e que, quando foram postos em prática, causaram só miséria e sofrimento.

   Hoje, lembrando o grande desastre que narrativas fundadas em construtos generalistas, como no caso do Holocausto (fundado na ideia de que a raça judaica era essencialmente má), deveríamos nos voltar para dentro de nós mesmos, realizando uma reflexão profunda sobre a viabilidade das idéias que professamos, num esforço sincero para que possamos construir o nosso conhecimento e a nossa visão de mundo em dados concretos ou em opiniões possíveis que sofreram o teste do tempo, afim de não sermos cúmplices de radicalismos e não cedermos o tempo de nossa vida contribuindo com idealismo que, quando transformados em história, causam imenso sofrimento com base em um ódio violento a uma ideia de mundo, um nada, mas que no mundo concreto acaba sempre por ser direcionado contra inocentes de carne e sangue.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Visitações Compungidas da Natureza: Cobiça, Poder e Destruição

   


   Macabeth é uma peça trágica de Willian Shakespeare, e que é, também, uma profunda reflexão ética que envolve temas como: a corrupção da virtude, traição, poder, remorso e a destruição à que a cobiça pode levar aqueles que a ela se entregam.

   A fim de refletirmos com mais propriedade sobre o conteúdo riquíssimo desta obra clássica, vai aí uma citação, como segue:  

   "Está rouco o corvo que grasna a entrada fatal de Duncan em minhas muralhas. - Vinde vós, espíritos que sabem escutar os pensamentos mortais, liberai-me aqui de meu sexo e preenchei-me, da cabeça aos pés, com a mais medonha crueldade, até haver ela de mim tomado conta. Que o meu sangue fique mais grosso, que se obstrua o acesso, a passagem, para o remorso, que nenhuma visitação compungida da Natureza venha perturbar meu fero objetivo ou estabelecer a mediação entre este meu objetivo e o seu efeito. Vinde vós aos meus seios de mulher e sugai meu leite, que agora é fel, vós, espíritos servis e assassinos, seja onde for que, em vossa invisível matéria, atendeis às vis turbulências da Natureza. Vem, Noite espessa, e veste a mortalha dos mais pardacentos vapores do inferno, que é para minha fina afiada faca não ver a ferida que faz, que é para o Céu não poder espiar através da coberta de escuridão a tempo de gritar 'Pare, para'!" (SHAKESPEARE, Willian. Macbeth; ed. L&PM Pocket. p. 29)

   A fala a cima é de Lady Macbeth, esposa do virtuoso cavaleiro real Macbeth, que por seu heroísmo era admirado pelo rei Duncan, aquele a quem Lady Macberth faz menção no início de sua fala macabra na citação. 

   Logo no início do livro são apresentadas três bruxas, que à semelhança das Moiras da Mitologia Grega - aquelas três deusas cegas que mantém a vida dos homens em rolos de fios que podem ser cortados a qualquer momento - traça o destino do valoroso Macbeth, vaticinando que este virá a ser rei no lugar de Sua Majestade Duncan. 

   Ao ouvir o vaticínio das bruxas Macbeth passa a ser assaltado pelos mais diversos pensamentos frente aos quais ele se espanta. Tais pensamentos são tidos como "Vilanias da Natureza" e contradições com relação ao posicionamento altamente virtuoso que ele vinha mostrando no início da peça. O desejo pelo trono é algo que o consome, que o atormenta, e que se mostra contrário aos seus princípios, desembocando em uma tensão profunda à qual ele acaba sucumbindo. 

   No entanto, o fator que o faz ceder de maneira decisiva é a brutal cobiça de Lady Macbeth - ilustrada na citação a cima -, que decide apressar a subida de seu esposo ao trono, incitando-o de maneira persistente a levar a cabo uma emboscada contra o rei Duncan, o qual, em meio às tensões que estraçalhavam a consciência e coração de Macbeth, desejando mostrar a sua grande gratidão aos préstimos daquele que era reputado pelo rei como herói, resolve fazer uma visita à fortaleza onde aquele residia, onde, para proveito de sua desgraça, acaba por passar a noite e dormir um sono do qual nunca mais tornaria a acordar. 

   Quem leu a peça sabe que o que torna a trama de Shakespeare grande é o enredo da ação destrutiva que a cobiça traz tanto sobre Macbeth, como sobre a sua esposa, sendo esta ação a escalada da loucura que vai dominando ambos de maneira irreversível por meio das "visitações compungidas da Natureza" - o que é, ao meu ver, o dorso da obra. 

   Este conceito de Natureza em Macbeth é interessante porque ambivalente, contraditório, contendo tanto atributos perversos assim como virtuosos, sem uma divisa clara que nos desenhe uma fronteira qualitativa entre os atributos da "Natureza". Sabemos que Shakespeare influenciou tremendamente Freud, que em sua teoria psicanalítica flertou muito com a ideia do trágico, o que pode ser visto na sua teorização sobre a ação violenta das duas pulsões (Eros e Tanatos - respectivamente as pulsões eróticas e de destruição), que tinham como único objetivo demolir o Eu, levando à ideia de que o ser do homem é inescapavelmente uma cisão (uma ideia trágica), estando sujeito de maneira irresistível às visitações compungidas da Natureza, tal como podemos ver no caso de Macabeth, cujo destino fora traçado pelas Moiras. 

   Mas a reflexão que desejo fazer aqui está concentrada na ideia de cobiça pelo poder e a destruição consequente exercida pela compulsão da Natureza, que na peça se manifesta por meio de um remorso esmagador que leva Macbeth e sua esposa ao delírio - esta última se mata em um determinado momento da peça. 

   Está certo que a cobiça de Macbeth é punida por meio da revolta de seus próprios súditos que descobrem a vileza de seu amo, assim como por meio de seus amigos que escapam de sua violenta cobiça, e que acabam pedindo ajuda ao reino da Escócia para frear a vileza progressiva e destrutiva do usurpador. 

   No entanto não são estes os maiores inimigos dos Macbeths, mas sim a Natureza, a ação violenta da consciência, que movendo na mente de ambos as lembranças dos fatos produzidos pelas ações destes, acabam por implodir a sanidade de maneira decisiva, produzindo uma patologia que os segue até à morte. Como dito, nem Lady Macbeth escapa às investidas da Natureza, conduzindo-a de maneira irresistível para o caminho da loucura, ainda que antes tivesse invocado o poder das trevas para anula as impetuosas investidas feita pelas visitações compungidas. 

   Mas, por fim, vemos que a peça deseja nos conduzir à humanização, desenhando em nossa frente o perigo que cerca a ideia empregada, hoje, por niilistas que rechaçam a concepção de Natureza, ou daqueles que afirmam que o ser humano pode se "reiventar", ou se "construir", pois, como afirma Shakespeare, nada pode contra os efeitos nefastos do se entregar nos braços da cobiça vil, o que pode desmontar a alma mais virtuosa - como fora a alma de Macbeth -, tragando-a para um abismo sem fundo criado pelo levantar da própria consciência contra aquele que se entrega à loucura, subestimando a Natureza da qual toda humanidade é inalienavelmente constituída.

   Não vale a pena dar saltos subestimando a Natureza e suas visitações compungidas.       

segunda-feira, 13 de abril de 2015

A Luta Contra o Totalitarismo; Ou: 1984; Ou: Livro Clássico de George Orwell




   O livro 1984 é uma distopia que todos os "iluminados do bem" deveriam ler, pois se trata de um livro escrito após a Segunda Guerra Mundial, tendo o regime nazista nas costas e o stalinismo à frente, e que, por meio da ficção, relata o quão perigoso é a hegemonia de um Partido que busca redefinir o passado, definir o futuro e controlar o presente, arbitrando na vida particular, escolhendo o que é melhor para cada um de nós, destruindo a língua através da qual entramos em contato com o passado - a maior fonte de conhecimento sobre nós mesmos -, assim como - e isto é o pior - ter em mãos o poder sobre a totalidade da sociedade em nome do "futuro" - e isto é importante, pois qualquer partido existe para representar a sociedade e seus interesses, e não para dominar sobre ela

   O livro também mostra algo muito interessante, ilustrando como que "slogans do bem" podem servir ao rebaixamento da humanidade a condição de bichos. Isto, no livro, é feito por uma política que policia os afetos por meio de um ministério chamado "Ministério do Amor", que, em nome do bem, exercia um dos poderes mais terríveis sobre os habitantes da "Ocenânia", torturando pessoas "perigosas" ao partido, e reprimindo qualquer espécie de afeição entre homens e mulheres e entre as pessoas no geral, em nome da "sociedade perfeita" e "sem exploração".

   Também é muito instrutivo ver como que governos totalitários tendem a manipular a linguagem. No livro - como, em partes, espero ter ficado claro no que escrevi a cima - noções como "verdade", "amor", "bondade", "liberdade" e "justiça" poderiam, sob a influência da política do Partido, significar, na verdade, absolutamente o contrário daquilo que designavam originalmente. Por isso - e isto é fato - todo totalitarismo passa pela corrupção do idioma, como sugere o lema do Partido no livro: "Gerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força". 

   Enfim, 1984 é um livro que vale a pena ler.

domingo, 12 de abril de 2015

Pobreza


   Sempre fui contra a ideia de transformar a pobreza em alguma "estética". Pobreza não é estética e nem ética, é simplesmente algo a ser superado. Não é algo do qual podemos bater palmas no cerrar das cortinas.

   Quando digo que algumas teologias procuram tornar a pobreza em um atributo moral, o faço no sentido de afirmar que muitos acadêmicos fazem isto para buscar dar legitimidade a aquilo que eles chamam de "revolucionário primitivo", que teria direito a roubar, matar etc., porque pobre, porque "oprimido", porque se lança contra o "sistema". Isto é uma espécie de pensamento fortíssimo em alguns setores das ciências humanas, e de muitos "pensadores do bem", além de ser um insulto abjeto aos próprios pobres.

   Vai aí uns "versículos reacionários" para a instrução geral da galera:

   "Não seguirás a multidão para fazer o mal; nem numa demanda falarás, tomando parte com o maior número para torcer o direito. Nem ao pobre favorecerás na sua demanda. [...] Não perverterás o direito do teu pobre na sua demanda. Das palavras da falsidade te afastarás e não matarás o inocente o justo; porque não justificarei o ímpio" (Êx 23:2,3,6,7).

   Um indivíduo que acha que "em nome do bem", e "da justiça dos oprimidos" se acha no direito de matar, traficar e roubar - tal como assevera alguns "iluminados da causa" (coisa que não sabem alguns outros amigos de teologia) - estão temos aí o princípio da barbárie, assim como a derrocada dos valores que fundaram a nossa civilização.

   Entendam: quando falo de "pobres" não o faço vislumbrando uma categoria de pensamento, uma "estética", mas o estado de seres humanos que, assim como eu, são possuidores dos mesmos direitos e dos mesmos deveres. Prescindir disto é loucura.

   O problema geral é que pensadores modernos sequestraram a pobreza dos pobres, fazendo da mesma uma "logia" de classes, construindo uma espécie de propaganda e um construto para destruir inimigos, eliminar responsabilidades individuais, eliminar o direito dos pobres à liberdade, assim como para fundar justificativas que não fazem justiça aos pobres. Em sua fraqueza, mais uma vez a pobreza foi sequestradas e, para o mal destes, aqueles que os defendem são os mesmos que querem salvar o mundo - na verdade, destruir a razão e os inimigos.


   Nisto eu concordo com os marxistas: abaixo ao preconceito de classes.

Amor Obscuro


   A verdade é uma só: Lula apoiou objetivamente o narcotráfico quando, na presidência, poderia esmagá-lo. Claro, foi um dos fundadores do FORO DE SÃO PAULO - aquela agência que reuniu toda a esquerda da AL (incluindo a armada como o MIR e as FARC).

   As FARC mantém 700 presos em cárcere, tendo realizado assassinatos, sequestros etc. Soma-se a tudo isto o fato de que os senhores Frei Betto, Leonardo Boff, Emir Sader e etc., escreviam (ou ainda escrevem) em uma mesma revista que apoiava (ou apoia) a revolução cubana e demais revoluções armadas na AL, enquanto Marulanda era o chefão das FARC e escrevia artigos ao lado dos senhores que citei a cima.

   Legalidade e democracia para quê? Coisa de reacionários, formalistas e burgueses, como acreditava o sr. Lênin. O negócio é meter bala para o alto e nas "testas brancas", passando por cima das leis em nome da "justiça" ou da "libertação".Eca com esta gente toda afetada de um amor obscurantista.

   Lembro-me de um professor meu que disse que ele empunharia armas em nome da "revolución". Mas graças a Deus, porque eu nunca acreditei nesta droga.


OBS: Este professor nunca se arrependeu disto.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Aristocracia



   "Ao tolo não esta bem o deleite; quanto mais ao servo dominar o príncipe" (Provérbios 19:10)

   No sentido exato da palavra, a escritura sempre prezou o governo dos melhores, assim como sempre foi contra uma espécie de populismo barato que disserta sobre uma espécie de "nivelamento" lisonjeiro de todos os homens.

   De fato, nem todos são capazes, o que não significa que alguém não possa vir a ser. Mas também aqui fica um chamado à prudencia, para que cada um, em sua individualidade, possa vir a reconhecer o seu próprio limite e capacidade de ação.
 
   Não saber fazer algo não é necessariamente vergonha; vergonha é fingir saber o que não se sabe. E pior do que fingir é a desonestidade que acompanha quem assim procede.

   Mas isto se encaixa no versículo que foi citado a cima?

   Sim, se levarmos a ideia da estrutura vertical da cultura dos povos bíblicos, que valorizava profundamente centros de poder que, de certa maneira, conservavam a ordem - o que é algo não muito próximo à nossa "experiência democrática".     

   No entanto, a bíblia nunca foi um "reino do imobilismo", já que alguns pequenos chegaram a ser grandes; e mesmo uma nação de escravos - como Israel o é - chegou a dominar reinos.

   Em culturas mais verticais - como a anlo-germânica, por exemplo -, a ideia de aristocracia sempre foi fundamental para a constituição da identidade cultural do povo, assim como para a ordem nacional e dos governos.


   Esta é uma experiência estranha a nós Brasileiros, que lidamos mal com a ideia de autoridade, porque cada um de nós queremos sê-la de um determinado modo. O que é típico de democracias, também.

A Verdade e a Misericórdia em Pedaços*


   Os rabinos contam que, quando Deus foi criar o homem e a mulher, Ele ficou em dúvida. Valeria a pena cria-los? Na sua intuição divina, Deus suspeitava que teria problemas com o homem e a mulher mais do que com qualquer outro ser criado, por que eles iriam faltar com a verdade e evoluir para serem grandes mentirosos. 

   Deus, então, chama Seus auxiliares para trocar uma ideia. Pergunta Deus à Justiça se valeria criar o homem e a mulher. Ele responde que não seria uma boa ideia, uma vez que iriam traí-Lo. A misericórdia, por sua vez, discordou da Justiça, dizendo que, ainda que o homem e a mulher trouxessem problemas, mentindo e traindo Sua confiança, nenhum outro ser daria a Deus maior alegria em uns poucos momentos. A alegria seria, assim, um detalhe em meio a um mar de desilusões. Sabemos pelos rabinos que Deus sempre apreciou os detalhes.

   Deus para, pensa e decide criar o homem e a mulher, mas, decide também jogar a Misericórdia e a Verdade no chão, e despedaçando-as em milhares de pedaços, lança-as sobre a Criação, espalhando-as como pérolas ao vento sobre o mundo. Decide Deus, então, cravar no coração do homem e da mulher uma paixão infinita pela Misericórdia e pela Verdade, obrigando-os a buscar, pela vida inteira, como numa sede infinita, esses pedaços, sem os quais suas almas jamais teriam paz, apaixonados por conhecer a totalidade da verdade e por sentir um pouco de misericórdia em meio a um mundo indiferente a eles. Amém

*Luiz Felipe Pondé: A Era do Ressentimento; ed. Leya; p. 169, 170

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A Dynamis; Ou: O Poder do Lula

   


   Vale lembrar: Lula foi contra o projeto de terceirização, coisa que própria Dilma, reconhecendo a grande pressão que os ajustes fiscais exerceram sobre a economia, apoiou ostensivamente, sendo do interesse dela e do governo a aprovação do projeto.

   Agora, com certeza absoluta, digo: Lula - como podemos ver na manifestação do último dia 7 protagonizada pela CUT e do MST a mando de Lula, e que terminou em quebra pau - está tentando fomentar a baderna - mesmo contra a Dilma - para manter acesa aquela "dynamis", aquele poder motor de encrenca e mobilização que sempre caracterizou o PT, e que nunca desembocou em políticas originais de fato, pois o fim sempre foi uma "estética", um "apelo revolucionário", um "espírito", uma "forma de ver", enfim, uma maneira de despertar do subterrâneo da "consciência das massas" aquele poder indefinido que não caminha para lado algum, mas que pode cegar e excitar os sentidos, causando uma hipnose a ponto de muitos "entendidos" apoiarem ditaduras, escravidão, concentração de poder, violência armada - ou o MST não é um movimento que não se vale disto? E a Venezuela por acaso não é apoiada por Lula, tendo um governo que pode lançar tanques, assim como balear manifestantes? - em nome de um futuro indefinido que nunca chega, mas que destrói terminantemente o presente.

   Sendo assim, Lula, o feiticeiro, não é um político, é um chefe de uma seita religiosa que lesionou o cérebro de muita gente, e que, com tudo isto, quer, mesmo que disso dependa demolir a imagem da sua sucessora, a presidência em 2018.

Edir o Gênio



   O Edir Macedo é uma síntese de duas tendências que, exteriormente, parecem antagônicas e irreconciliáveis, mas que, no fim, guardam uma identidade profunda: é aquela curiosa junção de Teologia da Libertação e Teologia da Prosperidade.

   Quem disse que o Diabo não é lógico, escrevendo direitinho por linhas tortas, cruzadas e conflituosas? Quem disse que o Diabo não produz as suas sínteses? A filosofia do Edir é uma síntese pútrida daquilo que sonhou Hegel, que afirmava que a objetivação do Espírito, em suas várias tendências presentes nos elementos da cultura, mesmo que antagônicos e conflituosos, se daria numa configuração superior na cabeça do filósofo da religião. Com isso, não há como negar: Edir Macedo é o "filósofo da religião" em quem ocorreu a síntese das teologias famosas em nossas terras tupiniquins, cuja origem se dá em níveis continentais abrangendo a totalidade das Américas, já que na América do Norte, nos EUA, temos a origem da Teologia da Prosperidade, e na América do Sul - sendo este "viés" partilhado na América Central -, temos a origem da Teologia da Libertação.

   O homem compreendeu o espírito da coisa, sintetizando essas tendências em um discurso só, enquanto que os partidários não compreenderam a identidade dessas tendências, que desembocam numa estrutura lógica portadora de um fim definido: poder