quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Os Revolucionários: Nada de Novo Sob o Sol



   Os hereges da idade média abriram o capítulo da especulação sobre o Terceiro Reino, a iniciar por Joaquim de Fiore. Acreditavam eles que, após o reino do Pai (a Lei Mosaica), do Filho (o reino dos sacerdotes descendentes dos apóstolos), viria o Reino da Liberdade do Espírito Santo - onde todas as instituições corruptas, desde a Igreja aos reinos, seriam derrubadas pelo advento do povo de Deus, o povo sábio guiado unicamente pelo Espírito, o povo santo que possuía o "futuro nas mãos".

   Tais especulações, de certa forma, ficaram tão grudadas ao imaginário do ocidente que não é estranho ver tais ideias inundarem movimentos de massa, como a tentativa por parte dos franciscanos de implantar um comunismo na Idade Média; dos puritanos de reduzir a Inglaterra a pó, aniquilando com a impiedade inglesa e com os os "ímpios" - o que culminou da ditadura de Oliver Crowell -; dos iluministas franceses que crendo ter atingido a iluminação, aniquilaram o "Ancien Régime" decepando a cabeça dos padres e dos "inimigos do povo"; dos marxistas que, afirmando o proletariado como a classe possuidora do "futuro nas mãos", iriam derrubar na bala os governos e os burgueses, inaugurando o "novo mundo" e o "novo homem"; e dos nazistas, que crendo estar no cume da evolução humana, buscaram solapar todas as bases do antigo regime alemão inaugurando o Terceiro Reich (sim, o Terceiro Reino) - todos foram incendiários, e os três últimos foram realmente destrutivos.

   Esse desejo brutal pelo "novo", por varrer a "iniquidade do mundo" é algo tão velho quanto a tentação adâmica de superar o "antigo regime" no Jardim do Éden. É por isso que um pessimismo saudável derivado da teologia do pecado original, juntamente com a reverência pelas experiências dos antigos, poderiam aplacar esse otimismo que pensa poder construir um novo futuro, sumindo com as ruínas do presente - pois, como dizia o sábio e pessimista Salomão: nada há de novo debaixo do Sol.