sábado, 26 de abril de 2014

Sobre a Dita "Inexistência da Verdade"


   
   "Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas" (Nietszche).

   Um filósofo antigo faria uma observação à essa frase: non sequitur, ou seja: não se segue. A expressão "non sequitur" é utilizada quando se deseja designar uma falácia retórica. Nosso sofista a cima não deixa claro que, ao ele contradizer-se a si mesmo na frase, o que ele procura deixar é, visivelmente, uma definição, ou seja: uma verdade.

   O  dito "não há" na frase acima não pode deixar de se referir a um algo concreto, pois se espera que aquele a quem é dirigida tal frase apreenda o algo a que ele se refere, ou seja, que o indivíduo tenha consciência desse algo como uma coisa existente na realidade, coisa essa compreensível por si mesmo, assim como representável por meio da linguagem. Com isso, o "não há" de Nietzsche não deixa de ser um apontamento para uma verdade de fato, concreta, a qual ele, contraditoriamente, decide negar, ao mesmo tempo, a existência, mas não percebendo, também, que negando a existência da faticidade dos fatos ele cria um outro fato que pela lógica interior desse pensamento deve, por sua vez, ser negado. Disso seguem-se dois caminhos óbvios que, no fundo, possuem um destino apenas:

   1º) Ao negar a existência de fatos eternos ou de verdades, Nietzsche cria um outro fato: a inexistência absoluta dos fatos. Ora, se Nietszche apregoa aqui a inexistência absoluta de fatos e verdades, é claro que tudo isso só pode ser compreendido como um FATO ou uma verdade absoluta no âmbito da realidade que, por sua vez, é apreensível pelos indivíduos a quem ele se dirige.

   2º) Se ocorrer que ainda ele persiga na obstinação de forçar a "veracidade" do seu argumento - o que é contraditório pela própria lógica interna do seu pensamento - então ocorre aqui a "negação da negação", o que só pode ser realizado por meio da positivação de uma determinada negação (a negação também é uma afirmação), e com isso, pela natureza própria do empreendimento, a única coisa no campo do real possível é que tal empreendimento seja algo existente, e, portanto, um fato como tal. Mas se ele, ainda com isso, negar o fato resultante, nem por isso a negação não seria um outro fato, cujo evento pede o reconhecimento de sua própria existência e assim ad infinitum.

   O que me resta a pensar é que esta tese da "inexistência de uma verdade absoluta" tem um tom de paranoia, e reflete um modo sub-ginasiano de pensar e refletir o mundo, assim como a filosofia. Não é estranho que muitos, com um ardor fanático, defendam essa afirmação de Nietszche como se fosse uma revelação divina? Ironia, não?

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A Cultura Como Atualização e Destruição das Potências

   Não raro a palavra "potencialidade" chega aos nossos ouvidos. Frente a ela não podemos ter distanciados de nós a compreensão humanista que ela trás com a sua carga de significação, justamente porque com isso é impossível uma compreensão fatalista do ser humano, assim como se torna impossível o afogamento de quem quer que seja no mar das contingencialidades: a potencialidade é uma característica da própria humanidade.

    A sociedade moderna pode até mesmo afirmar isso ou aquilo sobre os potenciais humanos, no entanto, pelo fato de ela ter expulsado a metafísica de seu círculo de pensamento, jamais ela pode ter por justificada, com base nas suas categorias, o significado real de potencialidade tal como ela se encontrava patente na compreensão que guiou a maior parte da sociedade até o início do século XVIII, quando as ciências modernas foram, ao poucos, assumindo irresistivelmente o posto de grande intérprete da realidade, até a sua aceitação majoritária por parte da mentalidade política, científica e filosófica no século XX.

   É certo que ideias como a "unidade da humanidade" e "educação", não podem, jamais, serem justificadas diante da expulsão da metafísica como uma legítima categoria do pensamento humano (nunca, na verdade, se deu uma "expulsão" total dela). Mesmo a ideia de "sentido" não faz nenhuma sentido diante disso, pois carece de bases para a sua validação e fundamentação. Também compreensões com respeito a ideias de justiça, do belo, do bem ou do mau, e até mesmo a objetividade são destruídos com esta expulsão, o que cria ideias como "construção social do pensamento", que, se forem analisadas com mais atenção, carecem de substância para a sua sobrevivência no meio cultural - também vale ressaltar que com isso não se nega a "regionalidade" da cultura e mesmo a multiplicidade de manifestações culturais, pois a multiplicidade é um dado do qual não se pode escapar, mas o mesmo ocorre com a compreensão de que seres humanos são integrantes da própria existência humana (um dado universal), assim como a necessidade de algo que anteceda a experiência (como a mente), cujas leis possíveis nesse algo são necessárias para a compreensão das formas reais do mundo (como os dados matemáticos no espírito humano e na própria realidade), assim como a nossa orientação nele.

   Bem, o que se afirma aqui, no entanto, é que a humanidade possui uma "potência" inalienável no seu ser, e que a mesma é o fundamento de toda espécie de realização humana no âmbito da história. E tal como a potência é, a mesma se atualiza como ato, pois qualquer ato humano transita, antes de sua percepção como fenômeno no campo histórico, no campo do possível, e este está para além de ser vislumbrado historicamente, a não ser que seja antecipado por meio de uma abstração ou prolepse (uma "queda antecipada") na consciência pessoal. 

  Podemos exemplificar isso comparando a potência como uma teoria ou um plano quando são formulados. Antes de sua execução, tal teoria ou plano se encontram em estado de potência, mas quando eles são executados passarão a ser atualizados na história como ato puro. 

  Para compreender melhor a afirmação que aqui se faz, podemos dizer que a humanidade possui um "plano" no seu interior e que o mesmo não pode ser anulado, e que isso mesmo é uma das características essenciais da própria humanidade - como já mostrado na necessidade das formas no espírito para a compreensão, por exemplo, dos dados matemáticos.

  Tal como isso é, todas as culturas devem, por assim dizer, resultar justamente de algo interior no ser humano; ou seja: uma estrutura - como afirmou o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss. A cultura é, por isso, o resultado das atuações individuais ou coletivas ao longo do tempo, e todas as realizações que passam por este processo maravilhoso da passagem do "ideal" para o "existencial", da mente para a história. Ainda que não se considere neste texto os vários pontos da discussão que surgem desta "passagem" do campo das ideias para o campo propriamente dito da história - o que é alvo de investigação filosófica há milênios, como em Platão, Aristóteles, Agostinho, Anselmo, Tomás de Aquino, Lutero, Calvino, Melanchton, Lebniz, Kant, Hegel, Schelling, Nietszche, Husserl, Lavelle, Barth, Tillich etc. -, não se pode deixar de refletir sobre este campo inesgotável de investigações. Mas por hora, basta compreender que a cultura é o resultado, também, das atualizações das potências humanas na história. 

   Se os olhos humanos e o seu espírito fossem agudos o suficiente para perceber isso, certamente que uma análise mais completa da própria vida e cultura não seria algo como um mistério esotérico, mas seria algo patente no próprio modo de ser das coisas - isento de ideologia e capaz de enxergar sem entorpecimento a própria história como tal. 

    ***

   Podemos prosseguir com a pergunta: é possível compreender a história como o campo da efetivação plena das potências? Não é possível isso quando se trata das configurações da existência humana. No entanto, é possível enxergar as coisas, também, à luz da corrupção da atualização da potência humana, como, de fato, se tem visto em na expressão "inteligência a serviço do mal" ou mesmo na noção de pecado. 

   Aqui sigo as pisadas da teologia cristã, assim como em Agostinho, quando no livro "O Livre Arbítrio" ele disserta sobre a ideia do mal e da corrupção histórica como resultado da inefetividade do livre arbítrio, o qual existe apenas em estado de potência, mas que não pode ser atualizada de maneira completa e total. 

   Com isso falamos da existência da própria corrupção, atuante como um processo não lógico (no sentido da não contradição), mas como uma lógica do poder pelo próprio poder, afim de afirmar a si mesma de maneira irresistível, impondo a sua própria condição no âmbito da realidade não somente histórica, mas também na realidade total como uma substituta do logos.

   Esse é um fato sinistro que tende ir em direção à um mal absoluto, à uma treva eterna que poderíamos chamar de "corrupção total" ou mesmo de "condenação", de onde o caminho de afastamento total das configurações do real é algo irreversível. 

   No âmbito das possibilidades totais, a possibilidade da irreversibilidade do caminho de afastamento da configuração do real (do qual os estados clínicos de loucura e paranoia são analogias) sempre foi algo patente na consciência humana como uma ameaça de segregação da mesma, de maneira que isso justificou noções como o bem e o mal, assim como, por outro lado, fundamentou a própria noção de ética pessoal e coletiva, assim como a noção de responsabilidade para com o outro. Nos ensinos cristãos sobre a condenação, o mal absoluto é fortemente enfatizado, o que acabou por fornecer energias suficientes para que fosse possível a compreensão antecipada dos resultados do rompimento absoluto da unidade do real, da busca pela verdade ou do o amor e Deus.

   A corrupção da potência é, por sua vez, a corrupção da cultura humana tanto pessoal como coletiva. Pode-se também averiguar que o grau de realização humana sempre está relacionado com um poder de exteriorização máxima dos potenciais espirituais e racionais atualizados no mundo concreto.

   No entanto, quando dizemos algo sobre a corrupção humana, falamos efetivamente das enormes deficiências que há nas possibilidades da atualização das potências. Esse distanciamento da possibilidade de efetuação da potência em ato é a causa das angústias, dos desencontros, assim como é a causa primeira das revoltas, das catástrofes, dos desentendimentos, das intrigas assim como da morte.

   Aqui, frente a esta tese, podemos fazer algumas ponderações que diferenciam o mal efetivo da deficiência da atualização das potências, o que não da margem, em definitivo, à ideia de que as limitações e a atuação má de fato se encontram em um mesmo patamar. Por questões éticas é necessário traçar uma distinção entre uma coisa e outra. 

   1º) A questão relacionada à deficiência de atualização das potências é, necessariamente, a ideia de que o ser humano não pode gozar plenamente da perfeição para a qual se acha orientado ainda nesta vida. A tendência humana no campo da história para as coisas que são eternas traça a situação histórica na qual o homem se encontra. A ideia cristã de pecado é exata quando ela procura definir a situação humana na história, também. Os insigths fornecidos por isso são verdadeiros e justos. A frustração, uma tendência às vezes irresistível para o erro, assim como inescapabilidade do vacilo frente à situações históricas que pedem firmeza de espírito, assim como a ausência de forças para prosseguir demarcam a situação existencial do ser humano. Contra isso não se pode lutar, pois é semelhante à uma força que impera irresistivelmente sobre nós e sobre a qual não podemos nos ver livres sem uma ex-soteria (uma salvação que vem do lado de fora), um auxílio e uma ajuda. 

   Com isso podemos ver as várias dificuldades, assim como elementos irreconciliáveis na cultura que, por sua vez, buscam impor-se por meio de sua própria força. Por isso é que, também, podemos ver uma determinada pulsão erótica querendo se instalar irresistivelmente no campo da própria realidade. Também é por isso que vemos a ira e o ódio se assenhorando dos nossos pensamentos, fazendo uma pressão brutal sobre nós. Aqui o problema maior não é tanto o sofrer tais assédios, assim como, em certo grau, aceitar suas sugestões, mas sim a tendência de institucionaliza-los como forças legítimas no campo da cultura; e é sobre isso que passamos a falar agora. 

   2º) A questão sobre a institucionalização das forças da destruição como instituições legítimas no campo da cultura é um campo profundamente rico e que serve como uma das fontes mais fecundas de reflexão da atualidade. Reflexões filosóficas atuais, como as feitas por Olavo de Carvalho, assim como foi feito por Erich Voegelin são sintomas disso. Na verdade, esse traço é um dos temas que nunca sairá de cena, a não ser após o juízo final, por assim dizer.

   Podemos dizer que essa institucionalização destas forças da destruição é resultante da desistência humana de resistir a estas forças, o que resulta em uma aliança consciente ou não com elas e, com isso, na transformação das mesmas e forças, por meio de uma adequação das mesmas no campo das ações pessoais e coletivas, em forças de sentido, instituições, assim como na acomodação dos significados resultantes dos sentidos erigidos por estas forças em símbolos culturais, que uma vez chancelados por grupos ou indivíduos, colocam em marcha poderes de destruição para o meio cultural humano, sendo até mesmo patenteados por esses, como é o caso do Nacional Socialismo alemão ou o Comunismo Soviético.

   Não é possível, neste sentido, entender pecados isolados como a cólera, a lascívia, a glutonaria, a cobiça etc como causadores, por si, de instituições monstruosas como estas a cima; no entanto o chancelamento e a institucionalização dos mesmos, e a transformação delas em forças políticas é aquilo que podemos chamar de pecado contra o Espírito, ou seja: o pecado contra a estrutura do real, pois tais empreendimentos não apenas são resultantes do sofrimento pessoal por essas forças, mas sim a busca da legitimação das mesmas como forças históricas e até mesmo eternas. Não há um erro mais imperdoável do que a resistência sistemática para com a verdade. E justamente foi esse erro que estava ameaçando com a condenação os fariseus, como disse o Senhor Jesus Cristo. No caso, não vemos apenas a deficiência da atualização das potências, mas a busca pela legitimação da mesma deficiência como a estrutura própria realidade, o que, por si, é uma distorção e um falseamento da própria realidade e um atentado contra o Espírito.

    A imposição de um novo logos é uma das maiores ameaças que se pode sofrer quando, na verdade, sempre pertenceremos a apenas um logos. Quando uma interpretação da realidade busca se estabelecer como ela própria, em todas as suas estruturas e limitações e em detrimento da noção de infinito em sua dignidade real, ela busca substituir qualquer outra interpretação possível da realidade por uma visão temporal e terrestrializada, sacrificando tudo aquilo que existe em favor da sua legitimação. Os limites, em favor mesmo da realidade, devem ser respeitados afim de que a realidade, por si mesma, possa se mostrar ao mundo e ao homem tal como ela é, e mesmo um discurso sobre a realidade deve, por obrigação, dar todas as margens para isso. As vezes, não há maior desserviço para com a verdade do que buscar explicá-la; e não há maior crime do que buscar inventá-la e não obedecê-la tal como ela se mostra no espírito humano. No entanto, peca também aquele que não busca compreende-la bem.

***

   As contradições culturais são resultantes do ato humano no âmbito da realidade que externa aquilo que se encontra no seu interior. Isso pode se dar tanto de maneira pessoal assim como coletiva. Também, as relações entre potência e ato são decisivos para compreender a realidade, sendo considerada aqui tanto as realizações assim como as limitações que são passíveis de compreensão justamente porque há uma unidade do real presente no espirito humano e que justifica tal compreensão.

  É necessário, no entanto, uma investigação mais profunda para compreender mais precisamente que a cultura humana não existe apenas como atualização das potências humanas, mas como também, consciente ou inconscientemente, na tentativa de destruição das potências latentes no ser humano que é também ator nesta empreita. A destruição ativa, assim como a auto-destruição é um processo complexo que surge no intento de estabelecer uma realidade paralela à aquela que definitivamente se encontra já inscrita na alma e na realidade e que define o ser humano e o seu caminho como tal. Todas as tentativas de invenção da realidade, que não acordada com a estrutura da mesma surge apenas com uma inocente mas perigosa intenção de se por acima daquilo que podemos chamar de Ordem - o qual é intuído nas várias tentativas religiosas de inúmeros povos de se manter reconciliado com poderes que estão à cima de sua capacidade de manipulação e que, por sua vez, podem atuar mantendo a vida ou destruindo-a.

   Neste sentido, é certa e mais do que legítima as marcas da tradição religiosa, ou de qualquer outro ensino que busque sempre relembrar o ser humano da existência do incondicionado, do a-temporal, assim como dos caminhos superiores à ordem visível das coisas que, em tudo, buscam sustentar e fornecer energias possíveis para o embasamento da realidade, da cultura e da alma humana por meio de um determinado logos, ou uma ratio que, uma vez conhecida, é ela própria o poder de significação e sustentação de tudo aquilo que se vê, se vive e daquilo que esperançosamente se espera. Com isso podemos falar, no meio cultural, do maior segredo do cristianismo: a atualização das potências divinas no ser humano e na história através do logos Jesus Cristo, contra a destruição do homem por meio dos poderes demoníacos do caos. Esse sim é um verdadeiro símbolo cultural. 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Gramática do Real

   A história pessoal nos leva, ao longo do tempo, a formar sentenças em nossa mente sem as quais não seria possível sequer a orientação pessoal no âmbito da própria realidade.

   Eventos distintos parecem carregar um estrutura idêntica pela qual podemos até mesmo realizar julgamentos, assim como visualizar distinções claras e inequívocas.

   Tais eventos nos levam calmamente a um processo de emersão e de concretização da consciência, o que por antigos filósofos seria chamado de "atualização das potências", ou, de acordo com a corrente da psicologia analítica, ao processo de individuação por meio do qual podemos entrar em um contato mais profundo com o "cerne duro" do nosso Eu verdadeiro, diante do qual o eu temporal é apenas uma projeção confusa e parca como um espelho embaçado.

    Levado por aquilo que podemos chamar simbolicamente de "Providência", penso que alguns eventos que cá e lá observamos nos levam cada vez mais para dentro da compreensão de que a realidade como tal é dotada de uma determinada estrutura da qual não se pode fugir. Podemos chamar isso de um dom divino, pois a compreensão disso nos leva a calcular, medir, subtrair, multiplicar e fracionar a realidade, assim como a experiência pessoal e, a partir dai, lançar fundamentos coesos e reais para o julgamento daquilo que iremos empreender em nosso presente, assim como aquilo que podemos esperar - ainda que contando com veios invariáveis e indomáveis - do futuro.

    A dádiva da intuição da realidade (da experiência imediata daquilo que nos chega a nós), e a constatação irresistível de um determinada estrutura que sustenta o mundo tal como vemos e no qual compreendemos e vivenciamos pessoalmente, sem a necessidade de um apoio exterior a não ser na própria intuição que temos da parca realidade que experienciamos, é o próprio motivo da condição da humanidade enquanto humanidade, assim como o elemento que nos permite distinguir a humanidade do outro. Aqui, nem tudo pode ser compreendido como um algo imediato, pois o próprio conhecimento é o resultado final de uma série de intuições que, agregadas, somadas e julgadas em nossa consciência, formam um produto final, um "símbolo da razão" em que jaz a razão correspondente com o real por meio da qual podemos nos orientar no mundo. Não é, neste sentido, o conhecimento imediato e pessoal um conhecimento de fato (no sentido do conhecimento total), mas sim o seu vestígio e a sua prova, que agregadas formam catedrais imensas e, por meio das quais podemos enxergar, de fato, uma estrutura, da qual a arquitetura da razão adquirida por meio de sucessivas intuições é apenas uma aproximação digna.

   Não é por acaso que tanto a sabedoria, assim como a verdade, são filhas do tempo, e isso cada vez mais me leva a crer e a pensar, assim como vislumbrar parcamente o que para mim posso chamar de fato, que há uma estrutura, um logos, assim como uma gramática do real.

sábado, 19 de abril de 2014

Ascese

   Na compreensão clássica a ascese significa uma disciplina pessoal, que leva um indivíduo à um apartamento da vida ordinária, afim de que esse possa concretizar uma consagração da vida física e espiritual à uma esfera superior da realidade conhecida, culminando assim na supressão das paixões caóticas da alma que confundem o verdadeiro contemplar de ordem transcendente que, em si, contém a significação plena e completa de todas as coisas, assim como a resposta para a situação histórica na qual nos encontramos.

     A rigorosa aplicação dessa ascese foi sentida na vida cristã desde os seus primórdios, dando origem à mística que, em todas as vertentes do cristianismo, se faz presente de maneira indelével na fundamentação moral, nas sínteses teológicas, na visão de mundo, na visão de civilização e na visão a realidade pessoal frente à existência absoluta de Deus.

   O rigor ascético é o princípio primeiro de toda e qualquer espécie de tarefa de compreensão de mundo, pois frente ao mundo estamos todos nós com a tarefa que nos é imposta de nos orientar no interior desta realidade. Isso não se faz de qualquer maneira, visto que da compreensão adequada do mundo depende a nossa vida e a vida daqueles que amamos e daqueles com os quais convivemos. A consciência de dever absoluto de responder às necessidades da vida, só é possível para aqueles que nutrem uma reverência profunda para com a vida, assim como para aqueles que são despertos para a contemplação de um dever que se encontra presente em si mesmo, e isso sem nenhuma justificativa possível, a não ser o próprio fato de que ele se encontra aí. É um dado do qual não se pode fugir, e isso seria semelhante à uma tarefa impossível, como fugir da própria sombra.

   O tribunal superior da consciência é aquele que, nos levando a reverenciar a vida, nos leva, também, ao abandono de tudo aquilo que não cumpra com o rigor imposto, incondicionalmente, pelo dever que nos toca e que, em consequência disso, busca trazer à luz uma resposta à altura contra tudo aquilo que ameaça a vida, seja a compreensão fútil da existência, o desejo de poder pelo poder etc. Tal intuição da realidade é o fundamento das mais variadas religiões do mundo, assim como é ela mesma o fundamento de toda e qualquer espécie de cultura, assim como de qualquer civilização humana, suas leis, constituições, doutrinas jurídicas, escolas etc. Toda e qualquer espécie de instituição humana legítima é fundamentada na questão da necessidade de manutenção, assim como da preservação da vida, e qualquer temor reverencial à vida leva o ser humano que para essa verdade é conquistado a abandonar todo devaneio passageiro no qual não se pode apoiar a vida, e isso afim de que ele próprio não seja vitimado pelo poder assombroso do caos.

   Aquele que assim se propõe, docilmente, reverentemente, humildemente a compreender as questões relativas aos problemas que atingem o seu mundo, sofrendo a dor do apartamento, da solidão e da abstração (afastamento) do mundo ordinário (ou seja: comum), para que, contemplando-o, enxergue em meio ao caos a Luz que a tudo significa, não está somente se entregando à produção de uma verborragia frívola e procurando com isso os foco alheio para si mesmo, mas, em busca de elevar um pouco as condições humanas por meio do partejar de uma pequeníssima fagulha de luz que traga um pouco de claridade para o outro, ele se encontra, com este movimento de ascese, também elevando-se a si mesmo.

sábado, 5 de abril de 2014

Sobre o ensino totalitário e a plataforma esquerdista

   Os alunos brasileiro estão tirando os últimos lugares nos testes internacionais. Recentemente houve uma pesquisa que alertou que os péssimos resultados em lógica matemática reflete a péssima qualidade de leitura dos alunos. O materialismo-histórico-dialético tem provocado uma dificultação ao acesso da herança intelectual humana com os seus conteúdos riquíssimos e imprescindíveis, e também um progressivo esvaziamento do conteúdo intelectual do aluno brasileiro, ou em outras palavras: tem provocado um emburrecimento sistemático, e, em consequência disso, com a ajuda do nosso sistema de ensino público, uma fabricação em série de diplomas no ensino fundamental, médio e superior.


   Paulo Freire virou um papa do ensino brasileiro, e o seu conteúdo, certamente, é uma das bases pra a sustentação do governo vigente no poder, assim como é o sustentáculo da cultura esquerdista e progressista. Com um apoio tão gigante do ensino público, como pode o petismo, o lulismo e o esquerdismo não manter a hegemonia? Palavras como: "conservadorismo", "direita" e "cristianismo", "economia liberal", "patrão", "pastor", "padre", "Igreja Católica", "pai", "família tradicional", "Dogma", "Igreja Evangélica", "religião", "empresa" etc. soam como um xingamento para os "ouvidos adestrados" pelo ensino resultante do "materialismo-histórico-dialético"; e por outro lado, palavras como: "esquerda", "PT", "povo", "partido", "oprimidos", "luta social", "libertação", "bolsa família", "social", "socialismo", "Venezuela", "Lula", "liberação" etc (fantasiados - claro! - caricaturisticamente, ou ideologicamente) excitam o inconsciente que, por sua vez, ativa o circuíto neural provocando um gozo quase que erótico para aqueles que ouvem essas palavras - o que certamente corresponde a aquilo que Gramsci disse sobre o "imperativo categórico invisível semelhante a um mandamento divino", e também a "terrestrialização do pensamento", chutando para longe ou criminalizando qualquer pensamento que faça referência aos valores familiares, tradicionais, transcendentes, ou para a virtude, para a alta cultura, para a ciência, religião, esforço, mérito etc. O ensino freiriano é uma declaração suicida para o ensino, pois se o professor não é o agente do conhecimento, mas o aluno, que sentido faz o mesmo ir para a escola (como bem disse a professora Campagnolo no vídeo abaixo)? Não seria isso transferir de maneira brutal e responsabilidade do ensino para o aluno, desonerando o professor do seu trabalho básico que é o de buscar conhecimento e transferi-lo? Por que é que a educação popular deveria assumir um status de uma hipóstase divina e sacrossanta?

   Conheço pouco Freire, mas tenho minhas ressalvas sérias quanto ao construtivismo, pois esse não confere um grau de certeza a nada daquilo que existe no mundo, e compreende tudo como base em uma pré-compreensão, assim como a realidade como um processo em devir. Se uma verdade é resultado de uma construção, então o Estado e o ser humano são apenas meros resultados de um processo dialético, sendo assim, as suas constantes "remodulações" e "superações históricas" rumo à uma utopia inalcançável da sociedade nivelada, são os alvos mais desejáveis (para deleite dos políticos e para o desespero da própria humanidade que nuca chegará lá). No entanto, se o Estado ou o ensino resultam da "ação" de uma verdade objetiva, sendo os mesmos possibilidades diretas da verdade, e dependentes da mesma, então não são auto-realizações do "vir a ser" da Verdade, mas se objetivam como realidades consequentes e, acima de tudo, relativas como veículos e analogias desta Verdade - e não o contrário. Vivemos em um mundo real, cujas percepções do mesmo dependem do ser-no-mundo, mas este mesmo mundo não pode, em absoluto, ser negado. O mundo não é uma interpretação do mundo, nem mesmo uma pré-compreensão baseada em meras narrativas que sofrem uma mutação por segundo. A verdade, assim como a própria Verdade, por mais que não tenhamos o acesso total a ela, é o que é! Não somos nós que construímos Ela, mas d'Ela dependemos para tudo; e o contrário disso seria simplesmente o fim do conhecimento!

Juliano Chaves Baptista

Vejam o vídeo da professora Ana Caroline Campagnolo:

https://www.youtube.com/watch?v=k_2s0Pr5Hj0&feature=player_embedded#at=42

terça-feira, 1 de abril de 2014

Estardalhaço Feminazi



   Quem é a favor do estupro? Só um louco afirmaria um negócio desse. Por isso, por que é que não publicam um estudo feito na USP que revela que a maioria dos brasileiros desejam PENA DE MORTE para estupradores que, aliás, são detestados até mesmo por bandidos (cujo resultado é compreendido como um dado que traz para a luz a cultura de infração dos direitos humanos no Brasil - pasmem)? Não é para ficar louco com uma contradição dessas? E por que é que não dizem, também, sobre a confusão feito pelo IPEA que, claramente, fez perguntas tendenciosas não dando espaço para outras perguntas se não aquelas mesmas, como destacou o Felipe Moura Brasil? 

   Mas é claro que uma coisa é evidente: as feminazi, diante de tudo isso, sobem ao topo como "mães da razão", desejando o fim desta cultura porca e "machista" que estamos e que procura, a todo custo, controlar o corpo das "mocinhas" não dando espaço para políticas "pró-choice" (pró-escolha ou pró aborto), e da massa das "vadias" (um grupo feminista que se apresentou com esse nome mesmo no ano passado) etc. Por que é que esse povo não faz um estardalhaço contra as políticas pró-aborto, anti-família, e a favor de tudo menos de valores que são fontes matriciais de qualquer sociedade que exista no mundo, como os valores pregados pela nossa religião judaico-cristã que abomina tudo isso? Agora, quando há uma possibilidade pequena de optar pela provocação em favor de uma "causa", elas esquecem até mesmo que um dos seus teóricos, o filósofo Paulo Giraldelli, desejou para uma âncora do SBT repórter, a Rachel Sheherazade, o estupro, não emitindo em favor da âncora nem um burburinho se quer. Quer dizer: quando a causa é para elas "Tudo" (os homens são machistas estupradores etc; o que requer políticas públicas - quer apostar?), mas quando diz respeito aos seus inimigos "Nada". Esse vagalhão todo tem um forte cheiro de propaganda política. 

   Nessa onda toda - para vermos até onde vai as consequência efeminizantes da empulhação ideológica que vende os produtos feministas - teve até um jovem lustroso chamado Leonardo Sakamoto que escreveu isto quando ficou sabendo da pesquisa do IPEA: "Hoje é daqueles dias que eu sinto uma vergonha enorme por ser homem". Pode um negócio desses?