domingo, 24 de dezembro de 2017

Os Pastores e a Filosofia

   A razão pela qual um pastor DEVE estudar filosofia é que não é possível compreender a cultura atual, ou responder aos questionamentos postos pelos problemas atuais sem recorrer à moldura filosófica na qual estes problemas vem vestidos a nós.
   Um exemplo disso são os problemas postos pelo positivismo e o socialismo, filhos débeis do hegelianismo, os quais são a encarnação apodrecida da escatologia (doutrina sobre as últimas coisas) cristã.
   Se o cristianismo afirma a comunhão com a realidade absoluta para depois da morte, as ideologias do positivismo e socialismo afirmam a unidade com o absoluto, ou com a realidade perfeita, na história, invertendo a promessa escatológica cristã.
   Uma ideologia, o positivismo, crê ser possível apreender a totalidade da realidade por meio da ciência, e o socialismo acredita que com a abolição da sociedade de classes o paraíso terrestre será instaurado. Em ambas as ideologias a questão principal que é posta é a eliminação das ambiguidades da natureza humana por meio da política ou por meio dos poderes da razão humana - como se o homem, que é o ideólogo, não fosse o seu próprio problema.
   Não por outra razão, por essas ideologias acreditarem ter encontrado a razão absoluta da história, surgem fanatismos e um autoritarismo hediondo, pois quem pensa ter achado a razão absoluta, consequentemente pode destruir ou matar quem se opõe à "verdade". A inocência em relação à natureza humana aqui é uma razão para rir e para desesperar.
   O cristianismo, ao contrário, por causa da limitação humana, não sabe ao certo quem são os bodes e os cordeiros, pois a transcendência de Deus não permite ao homem conhecer no todo os Seus caminhos e juízos, já que o Senhor está, em sua totalidade absoluta, para além da nossa razão.
   Mas mesmo que a verdade seja revelada, o cristianismo sabe que poucos são os filhos do Senhor que estão atentos à Sua vontade, e que mesmo esses contam com o flagelo dos seus pecados pessoais, o que demonstra que a humanidade não se encontra, pela corrupção que na história sempre teremos conosco, apta ao paraíso.

Ressurreição e Resistência

   A mensagem cristã da ressurreição é a mensagem da resistência à ação destrutiva das potências das trevas, ou, como está na bíblia, das potestades do ar, dos poderes que escravizam a mente e o espírito humano, afastando-o do liberdade para qual ele foi feito e sem a qual ele jamais pode desenvolver a sua própria humanidade.
   Essa ameaça pode se manifestar através da solidão, da ameaça de "não dar certo", de não ser aceito, ou desde às ameaças com peso psicológico originado pelo medo da não realização até as ameaças mais objetivas de perda de bens, de um lugar no mundo (seja isso uma propriedade ou um lugar no fluxo social) ou a ameaça mais crua de destruição física e morte. Ou seja, a ameaça do "não-ser", ou a ameaça do nada.
   O medo de "não realização", ou o medo da perda daquilo que já foi realizado (ou seja, a ameaça do nada), pode ser usado de forma demoníaca para escravizar o homem; contudo a promessa da ressurreição confere ao homem o poder de resistir a todas essas ameaças quando coloca a unidade total do homem com Deus como o topo da realização do homem, realização essa em relação a qual vale a pena lançar, com coragem, tudo ao nada, ou, de forma mais clara, o sacrifício de todas as outras coisas.

O Sábio e a Potência de Ser

Com isso, concluí tudo o que queria mostrar mostrar quanto à potência da Mente sobre os afetos e quanto à Liberdade da Mente. Donde fica claro o quanto o Sábio prepondera e é mais potente que o ignorante, que é movido pela lascívia. Com efeito, o ignorante além de ser agitado pelas causas externas de muitas maneiras, e de nunca possuir o verdadeiro contentamento do ânimo, vive quase inconsciente de si, de Deus, e das coisas; e logo que deixa de padecer, simultaneamente deixa também de ser. Por outro lado, o sábio, enquanto considerado como tal, dificilmente tem o ânimo comovido; mas cônscio de si, de Deus e das coisas por alguma necessidade eterna, nunca deixa de ser, e sempre possui o verdadeiro contentamento do ânimo. Se agora parece árduo o caminho que eu mostrei conduzir a isso, contudo ele pode ser descoberto. E evidentemente deve ser árduo aquilo que tão raramente é encontrado. Com efeito, se a salvação estivesse à mão e pudesse ser encontrada sem grande labor, como poderia ocorrer que seja negligenciada por quase todos? Mas tudo o que é notável é tão difícil quanto raro.

BARUCH DE ESPINOZA - ÉTICA

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Livres para a Escravidão

As pessoas que esperam corromper as leis, os costumes e a moral com a intenção de provocar uma "revolução", ou a "libertação", não se dão conta das potências que movem, podendo vir a ser vítimas do pesadelo social que elas próprias construíram.
Existem pessoas que na ânsia de fazer justiça violam as leis (como certos movimentos sociais e setores do Ministério Público ou do judiciário); que para promover a liberdade corrompem o sentido de família e da religião; que para promover a igualdade destroem a excelência e distinção entre o melhor e o pior; que para não "constranger" eliminam a distinção entre o que é inteligente e o que não é; e que para promover a inclusão apostam na igualação entre o bem feito e o mal feito ou entre o belo e digno do bagunçado e indigno.
No fundo todos os promotores modernos da "justiça", da "igualdade" e da "inclusão" desejam que os homens percam seus olhos e que sejam incapacitados para a realização de juízos de valor; contudo são os juízos que nos fazem distinguir entre o justo e o injusto, o humano do desumano, o certo do errado, coisas que constituem a divisa entre uma vida humana e o terreno da destruição de toda humanidade.
O único ponto de partida para a unidade entre os seres humanos é justamente a humanidade comum que partilhamos, e o pathos, ou o sentimento compassivo no qual nos enxergamos uns aos outros. Contudo não será destruindo ou degradando aquilo que nos constitui como homens que promoveremos a nossa unidade. E os promotores modernos da igualdade desejam a unidade na degradação e insensibilização, uma nação de homens insinceros e por isso corruptos e dados ao fechar dos olhos a tudo aquilo que é corrosivo para a sociedade humana.
Não esperemos disso a libertação, mas sim a corrupção generalizada e conversão da liberdade no comportamento licencioso de pequenos criminosos, algo típico de uma nação de escravos prontos para serem dominados por aquele que age com maior força e astúcia de coração.

A Tensão Existencial na Apreensão da Verdade da Fé

   Todo o cristianismo seria gnosticismo se Jesus, no momento da ascensão aos céus, tivesse dito: "voltarei tal dia e em tal lugar", marcando um momento limite, um fim da história no interior da história.
   Poucos cristãos ou pastores entendem isso, mas se Jesus tivesse dado uma certeza imanente na história, então a fé perderia sentido assim como viveríamos, como hegelianos, com o absoluto na nossa mente e deixaríamos de viver na tensão existencial da relação entre o tempo e a eternidade, perdendo o drama histórico no interior da nossa vida e a substância humana no interior da história.
   Poderíamos, como marxistas, ou como calvinistas radicais, sentar e esperar o bonde da inevitabilidade histórica passar. Contudo a fé se dá na incerteza do horizonte histórico e na imesão do nosso espírito no mistério divino, não sendo a fé uma mera ciência ou uma informação cuja posse nos daria a possibilidade de descansar de uma vez por todas, como deuses invictos ou como perfectis gnósticos. Não existe apocalipse humano na história que exclua a tensão e a ansiedade da tensão entre o tempo e a eternidade.
   Como cristãos, e não como totalitários que possuem o sentido pleno da história em nossas mentes, ouvimos: "levantem-se, pois não será aqui o vosso descanso", o que nos faz andar e viver no mundo, como peregrinos sem lar, inteiramente pela fé e em obediência ao chamado do Espírito Santo que nos conduz ao êxodo do tempo para a eternidade, da visão mundana para a visão eterna.
   Estamos a caminho!

O Cristianismo e o Discernimento do Mal

   O discernimento refinado do cristianismo sobre o mal tem a insuperável compreensão de que o mal, em sua malícia enganadora, vem vestido da aparência do bem. O mal pode se apresentar sob o manto humanista, benevolente, amante da humanidade e militando dissimuladamente em favor dos direitos inalienáveis do homem.
   E assim como é invertida a manifestação do mal, também é invertida a recepção da manifestação do bem. Alguns diziam de Jesus: "tem demônio", ou "ele faz isso por Belzebul, o príncipe dos demônios", e assim segue a recepção do mundo às boas-novas de Jesus, a manifestação absoluta do bem no mundo.
   Mas isso explica também qual é a qualidade da substância moral do mundo e a razão pela qual ele não pôde receber a Cristo como o Rei, cujo direito de posse do mundo está estabelecido por toda a eternidade. Ao invés da realidade do bem, segue o mundo acatando aquilo que apenas parece sê-lo e sem poder preencher a alma do homem com o que realmente importa.

Palavra e Desordem

   Se você raciocina na base de doutrinas e chavões, em palavras viciadas com significação negativa já pronta como "elite", "lucro", "capitalismo", tendo aversão à simples menção de alguma delas, você está, na verdade, rodando em círculos, pensando possuir uma autonomia de pensamento que não tem, se assemelhando mais ao Cão de Pavlov, que reagia de forma automática, sem o recurso do raciocínio, a estímulos provocados por meros sinais.
   Um dos remédios para esse mal é a análise do significado real das palavras, analisando, sobre tudo, de onde você adquiriu o seu amor ou aversão na presença de determinadas palavras. Dessa forma você recupera os sentidos das palavras e reestrutura a sua relação com a realidade, pois é função das palavras a mediação da realidade, mediação prejudicada quando elas vem cheias vícios ideológicos, pois nem sempre a "elite", o "lucro" o "capitalismo" são males historicamente evidentes.
   Contudo, quando as palavras sofrem essa perda da função mediadora por causa da ideologia, da paixão política e por causa da degradação social, então elas se tornam instrumentos de desordem pública e espiritual, sendo antes fontes de tormentos do que de reconciliação, o que demanda a recuperação de sua função original mediante a reestruturação da literatura e, em consequência disso, da imaginação moral que é um dos elementos básicos para a nossa orientação no mundo.

A Gasolina, a Economia e os Pobres; Ou: O que é Preciso Entender

   Sobre o preço da gasolina existe algo que até os "consevaminions", os "direiteens" não entenderam. Vamos lá: Qual foi a razão da quebra da Petrobrás, quebra que foi uma das responsáveis pela devastação de desempregos que até agora nos afeta? - vocês se lembram da greve dos caminhoneiros, os mesmos que choravam porque os fretes estavam baixos?
   Pois bem, a razão da quebra foi a política de preços de combustível na gestão Dilma, pois por razões populistas os preços não eram repassados segundo o preço do comércio internacional, o que forçou a Petrobrás a subsidiar os combustíveis. O resultado foi a quebra da empresa, o rebaixamento das notas internacionais para investimento no país e o rebaixamento da economia ao nível especulativo.
   A mesmíssima coisa aconteceu com o setor elétrico. Como a senhora dos palmares, a dna. Dilma, baixou o preço da energia ignorando o mercado e a equação oferta e demanda, os resultados foram os apagões e a elevação do preço da energia a níveis estratosféricos para compensar a perda da empresa por causa dos subsídios, o que também gerou os desempregos de hoje causados pela elevação brutal dos preços depois das eleições de 2014.
   Obedecer as regras de mercado não é questão de preferência pura e simples, mas sim de prudência, economia (que significa: a lei da "oikos", ou lei da casa) e de respeito à natureza das coisas. A desventura nesta área, a imperícia, imprudência e populismo (baixar os preços a todo custo) resultam no pior dos mundos possíveis, o que inclui o desastre principalmente para os pobres, certamente os mais afetados a longo prazo, porque vulneráveis às más oscilações mais sutis da economia.
   Enquanto as pessoas no Brasil não equacionarem regras de economia à sua forma de ver o mundo, assim como nutrirem a falácia de que a economia e o bom funcionamento do mercado é algo que só interessa aos ricos, estaremos sujeitos a decisões erradas que, como é visível e empiricamente provável pelo estado de coisas do Brasil atual, tende a acabar com a vida dos pobres.