segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Deus entre a Razão e a Vontade

   O pensamento teológico ou filosófico a respeito de Deus ao longo da história da Igreja se debateu entre os polos "razão e vontade", ou "forma e dinâmica". Não foram poucos os que sacrificaram um em nome do outro. Ou a Razão prevaleceu sobre a Vontade (Aquino); Ou a Vontade prevaleceu sobre a Razão (Duns Scotus).
Aqueles que enfatizam a prevalência da razão ou da forma na natureza divina geralmente o fazem por tentarem livrar da nossa ideia de Deus o monstro da arbitrariedade: Deus age de tal forma clara e inequívoca que o faz longe de qualquer possibilidade de contradição consigo mesmo. A compatibilidade de Deus com a razão concede à razão humana a possibilidade de conhecimento da natureza de Deus de forma autônoma... Contudo Deus assim considerado tem a sua vontade sacrificada, ficando ele devedor de uma determinada natureza, possibilitando até a ideia de uma "eternidade do mundo". Aqui Deus é reduzido a uma lei.
Mas aqueles que enfatizam a Vontade em Deus buscam preservar a sua soberania: Deus não é devedor de uma natureza, e por exemplo: Deus não criou o mundo porque em si ele o considerou "o melhor dos mundos", fazendo-o a partir de uma condição lógica pretérita, antes o mundo é bom porque Deus o criou como criou. Essa ênfase da liberdade absoluta de Deus o deixa livre de qualquer natureza, destacando uma realidade dinâmica no fundamento do ser; contudo algo terrível dorme aí: Deus poderia subverter a totalidade da criação, sendo "potestas absoluta" (Autoridade Absoluta - como afirmou Ockam), o que poderia desembocar em arbitrariedade totalitária.
Foi com esse dualismo no interior do pensamento cristão que se esgotou a teologia da Idade Média, estando todos nós, ainda hoje, no interior desse dualismo. E na força da secularização tal dualismo acabou impulsionando outros dualismos , entre os quais e ênfase do "racionalismo iluminista" e do "historicismo irracionalista".
Mas não seria o pensamento cristão a afirmação da unidade entre essas hipóstases polares, ou a possibilidade de transcender esses reducionismos, afirmando tanto a razão quanto a vontade, ou a dinâmica quanto a forma, não sacrificando uma esfera de realidade sobre a outra, mas harmonizando plenamente uma e outra?

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