quarta-feira, 1 de julho de 2015

A Muralha de Jerusalém


Hoje Deus falou comigo algo que há anos vem tomando corpo em minha mente. No entanto eu não tinha uma alegoria ou metáfora a altura deste pensamento para ilustrar a ideia.

Bem, mas a ideia é o seguinte: a Muralha de Jerusalém é fruto da Lei. Peguemos as muralhas pela cultura, e a Lei pela razão que consolida a cultura. A Lei, por tanto, é o Espírito da Cultura, a fundamentação da cultura e dos "muros".

Todos sabemos que é justamente o pecado nas narrativas Bíblicas que ocasionou a destruição de Jerusalém (a cidade de Deus) - que era, grosso modo, o sinal concreto de Deus no mundo. Isto é: o espírito da loucura, da confusão, da anarquia e da transgressão - uma espécie de niilismo, por assim dizer - que promoveu a corrosão do tecido cultural de Judá - ou seja, a tendência para a transgressão da Lei de Deus -, que acabou levando para os ares aquilo que protegia a cidade em última instância: a obediência para a vontade divina.

É interessante notar que o conteúdo Bíblico não trata de coisas acessíveis por mera crença. Não é, por tanto, constituído por coisas que não se encarnam na história, encarnação esta por meio da qual experimentamos a concretude daquilo que chamamos de Palavra de Deus, pois há muito de sabedoria - que, grosso modo, é a intuição dos princípios metafísicos ou primeiros - e de moral na Escritura Sagrada, ou seja: de conteúdo prático.

Qualquer um que tenha passado os seus olhos pelos Dez mandamentos sabe que ali a única coisa que se faz é não se lidar com abstratismos, mas sim com tabus e leis por meio das quais conseguimos intuir a intenção de organização social dos Israelitas - já que a Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia) é um verdadeiro código de leis que regulamentam as relações sociais, assim como oferece o princípio metafísico (ou espiritual) necessário para a coesão da cultura israelita, cuja veracidade foi atestada por sinais e milagres realizados em meio ao povo (já que o fundamento da verdade é exclusivamente espiritual).

Por tanto existe um conteúdo noético (ou racional) fundamental em toda a Bíblia, cujo axioma (ou o espírito fundamental) é o primeiro mandamento ("Não terás outros deuses diante de mim" Ex 20:2). E tal conteúdo noético é prontamente atestado na vida prática. Por tanto os Dez mandamentos e o restante da Escritura Sagrada constrói, por assim dizer, toda uma Muralha cultural que protege a vida do povo que aceita o Primeiro Mandamento, e que é toda constituída por tabus e princípios, e que não nos deixa cair em um niilismo (ausência de razão, sentido ou de crença na existência da verdade) que tende a devorar tudo o que existe ao ser redor - que é para onde o nosso mundo caminha, para a ausência total de referências, de sentido e de fundamento. A fé cristã, por assim dizer, fornece um fundamento, uma pedra angular com base na qual toda uma civilização pode se erguer e se manter de pé.

Contudo a secularização radical do nosso Ocidente tem lançado as sementes de um acosmismo (uma realidade destituída de ordens e princípios) cujo fim é a aniquilação - e isto com a ajuda de certos cristão e pensadores (que eu mesmo costumo chamar de "iluminados"). Mas como a natureza abomina o vácuo, sempre terá algo a substituir este vazio. Pois com a destruição destas bases civilizacionais, sempre haverá um estado de anarquia incipiente que depois será substituída por uma "ordem da força", pela empreita do mais forte e por um autoritarismo mordaz, já que a própria natureza do relativismo é, em si, absolutista (tal como ilustra a destruição de Jerusalém e a tomada dela por um ditador da Babilônia - reino este que era o centro da transgressão moral, promiscuidade, arbitrariedade, violência contra crianças, escravidão etc).

Estamos vendo tudo isto diante dos nossos olhos. E se o Ocidente é a fortaleza de Deus (a Jerusalém, por assim dizer), a sua apostasia diante de filosofias autoritárias, homicidas, escravocratas, promíscuas e libertinas é o sinal da destruição dos Santos dos Santos - de onde se espera o perdão e a misericórdia, já maltratados, por exemplo, diante da ausência de justiça no afago crescente que se faz a criminosos e a tudo o que não presta neste mundo.

Na medida em que vamos corroendo as bases daquilo que pode manter entre nós a ordem, na medida em que rompemos os nossos muros noéticos, na medida em que, mais e mais, o que é digno de respeito vai sendo nivelado ao valor daquilo que não merece dignidade, e na medida em que o Homem se coloca como medida de todas as coisas do Universo - tornando, por tanto, o próprio Universo insustentável, e oferecendo a ele uma eternidade podre (já que o fim do homem é o apodrecimento) -, vamos, mais e mais, caminhando para um doloroso e amargo fim.

O que vemos é a destruição das nossas Muralhas Culturais, com base na corrupção da nossa espiritualidade cristã que unificou o Ocidente. E como diz as pessoas normais, simples e que sacam de início as coisas: é tudo falta de Deus.

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