sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O Evangelho, os Pastores e os Proscritos

  Em Lc 2.8-20 temos um relato que pode ser bem compreendido se o lermos à luz do pano de fundo cultural do Israel do século I d.C. O texto fala da visitação de anjos, ou de uma multidão da milícia celestial a simples pastores que guardavam um rebanho nas proximidades da cidade de Belém. Juntando esse relato com o relato de Mateus sobre a visita dos magos podemos formar uma imagem a respeito da, digamos, moral da revelação divina.

Segundo Joaquim Jeremias (in JEREMIAS, J. Teologia do Novo Testamento. Hagnos, 2011, p. 177), erudito importante do Novo Testamento, o termo pecador, frequentemente na boca dos adversários de Jesus (in Mt 11.19 par Lc 7.34), não indica apenas transgressores públicos, mas também aqueles detentores de certas profissões ou atividades tidas como proscritas e que, segundo se pensava, poderiam arrastar para a desonestidade. Assim, jogadores de dados, usurários, coletores de impostos, publicanos e pastores, cuja atividade era considerada como proscrita, era também atividade de pecadores.

O fato de pastores de rebanho terem recebido uma revelação divina a respeito do nascimento de Jesus mediante anjos mostra muito sobre o significado histórico do ministério de Jesus. Assim, essa revelação tem teor semelhante à acusação frequente que se fazia a Jesus de ser amigo de publicanos e prostitutas (Mt 21.31), e mesmo lança uma luz claríssima sobre a afirmação de Jesus de que publicanos e prostitutas antecedem na entrada do Reino de Deus os sumos sacerdotes e anciãos do povo (Mt 21.31b) – e isso porque pelo fato de serem proscritos tenham maior consciência de sua necessidade de redenção.

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