quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A Sabedoria da Tradição


   Existe algo na tradição que enseja justiça, conhecimento e reconhecimento. O reconhecimento é basicamente a compreensão de que nem sempre são os nossos cérebros e o nosso tempo os melhores cérebros e o melhor tempo. Do contrários estaríamos por princípio a amaldiçoar o passado e, consequentemente, destruir o futuro. A humanidade é uma constante: seus medos são os mesmos, seus pecados são os mesmos e as soluções são, em ESSÊNCIA, as mesmas. Tal vez o formato, os acidentes ou as roupagens nos interior da história sejam diferentes, mas a substância é, basicamente, imutável. É preciso olhos profundos para compreender o que seja isso.

   Se, por exemplo, estudarmos obras de Platão e Aristóteles - escritas há, mais ou menos, dois mil e duzentos anos atrás -, veremos que algumas coisas propostas por esses filósofos são perenes e imutáveis - para não falar do nível de abstração que são capazes em suas obras; basta uma lida de algumas páginas do diálogo socrático Teeteto, de Platão, por exemplo, para um analfabeto funcional recém-saído de um curso superior, com diploma na mão, ter uma congestão cerebral instantânea.

   Quando falamos de tradição - o que inclui a possibilidade e o acúmulo de conhecimento -, temos aqui que nos portar com espírito de reverência, de gratidão e reconhecimento. E isso é assim porque nem a bondade e nem as respostas fundamentais para problemas que possuímos não são coisas que pertencem exclusivamente ao nosso tempo. A soberba, por outro lado, limita o conhecimento do mundo ao "eu", ao limitado campo de visão de um "eu" em particular no aqui e no agora e nas "necessidades do momento".

   Enfim, seria desastroso não desfrutarmos do acúmulo de conhecimento, possível na constituição da cultura apenas por causa dos antepassados, pois do contrário deveríamos recriar o conhecimento científico de uma simples roda a cada geração, já que se houvesse a negação de uma geração após a outra como coisa "obsoleta", o seu conhecimento e suas descobertas deveriam ser furiosamente aniquiladas para a construção de algo "novo". A tradição, por tanto, não é algo que mantém o nosso espírito nas cavernas, mas é a única possibilidade de sairmos dela. Ou seja: paradoxalmente, viver com os olhos voltados para o passado é a única forma de contemplarmos e de construirmos um futuro possível.

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