sexta-feira, 6 de abril de 2018

A Convenção Batista Brasileira e um Santo para Chamar de Seu

   Ah, não, alguém tem que ensinar para o pr. Roberto Silvado, o presidente da Convenção Batista Brasileira (CBB), o que é uma cláusula pétrea, e que não é jogando a Constituição no lixo que iremos fazer justiça. Prisão imediata após julgamento em segunda instância viola o princípio da presunção de inocência, já que a declaração de culpa se dá apenas após o trânsito em julgado. Senhor, quem é aquele que tem lhe soprado essas coisas nos seus ouvidos?
   Agora que a CBB tem um Dallagnol para chamar de seu - ele é um cristão Batista -, tendo a chance de brilhar de baixo da estrela do seu menudo, parece que ela perdeu um pouco da razoabilidade e do o juízo. Vou dar um livro do Edmund Burke para o pr. Silvado!!! Com Burke aprendemos que da estabilidade legal depende a paz de uma nação.
   Ah, mas quem é que pode contraditar quem está lutando pelo bem, não é mesmo? O Dallagnol tornou-se a divisa entre os bodes e os cordeiros, entre os bons e os maus, entre os justos e os injustos... Cadê o trono branco de isopor? Vamos logo ser julgados pelo apocalipse de Curitiba... Sim, a Lava-Jato tem as suas virtudes, mas ela tem, evidentemente, os seus erros, como o Dallagnol os tem.
   Cometo, agora, um sacrilégio? Não tenho esse santo para chamar de meu. Aliás, que santo caro: quando se propôs a reforma da previdência que iria cortar privilégios do setor público, por exemplo a aposentadoria integral de juízes e procuradores, ele foi contra - porque o seu privilégio estava em jogo. O mesmo se deu com o auxílio-moradia de 4 mil concedido por liminar a mais de 25 mil agentes (grupo que ganha um salário de mais de 20 mil, incluindo ele), e que ele nunca se manifestou contra, o santo ilibado que agora jejua por uma prisão dúbia - o coroamento do seu próprio trabalho.
   Contudo Lula se tornou um troféu, tanto para a irracionalidade de direitistas quanto para a irracionalidade de esquerdistas. Mas quanto se dá esse tipo de triangulação do desejo (leiam a antropologia de René Girard), quando grupos antagônicos se esmurram pelo mesmo troféu, se valendo até dos mesmos meios, no caso em questão a transgressão da lei (e daí o nome "teoria mimética" a esta antropologia), a primeira coisa que se aniquila é a razão, e é o totem bagunceiro (no caso o Lula), que tende a ser santificado no fim das contas, como o coroamento da irracionalidade da massa.
   Estou falando da razão corporificada nas leis não porque a lei é a razão-em-si, mas porque em nosso meio ela cumpre a função sociológica de mediação dos conflitos como a representante e manifestação da própria razão. Não estamos em um contexto de colapso institucional para passar por cima da lei com desprezo, embora o colapso esteja sendo invocado com essa confusão toda.
   Que fique claro: não servirá aos mais fracos ou aos injustiçados o enfraquecimento da lei, e já esse desvanecimento dela é um sinal de torpor do juízo e também do fortalecimento da justiça conduzida pelo arbítrio, algo que tende a privilegiar apenas o mais forte. O mundo não é tão simples como parece e, como dizia a minha avó, nem tudo o que reluz é ouro. Existem camadas de significado mais profundas que não devemos negligenciar sob pena de trazer prejuízos para nós. Mas é isso o que tem ocorrido nessa luta infantil do suposto bem contra o mal, luta essa que tem cegado muita gente, de resto correta e honesta em seu proceder, como o pr. Roberto Silvado.

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