quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A Condenação, a Razão, o Arrependimento e o Amor

   A operação racional que tem por conteúdo o dogma cristão do inferno não é tarefa para incapazes. Somente uma mente imparcial capaz de refletir sobre a justiça ela mesma, e que é apta a se colocar sob o julgo desse mesmo juízo, é capaz de entender a racionalidade e a necessidade da existência do dogma.
   Não se trata, antes de tudo, de mandar o outro ou quem quer que seja para lá - coisa que nenhum cristão sério faz -, mas se trata, antes, da abertura da consciência daquele que assim reflete, diante da verdade da justiça ela mesma, para a possibilidade de que ele mesmo vá para lá. É o que o cristão individualmente DEVE fazer em TODO ato de análise da consciência, não sendo outro o fundamento próprio de TODO arrependimento verdadeiro.
   Quem nega a justiça eterna, nega também o juízo e a necessidade própria de arrependimento dos pecados, negando a própria existência de uma justiça a castigar os maus e a recompensar os bons - o que Kant mesmo dizia ser um postulado da moralidade. É isso mesmo que os liberais fazem quando, ao mesmo tempo que negam a existência do inferno, justificam toda perversidade e pecado (ainda que a discordância em relação ao pensamento deles seja um pecado imperdoável).
   Enfim, todo amor de fato é fundamentado no juízo (como diz o provérbio, não devemos ser a mula para quem não existe razão), pois tendo em vista este mesmo juízo, aqueles que amam tentam desviar os que erram do caminho da morte certa (que é o salário do pecado). É como diz o adágio: "quem avisa amigo é", e só pode avisar quem possui antevisão da desgraça que se abate sobre aqueles que estão em flagrante oposição à vontade de Deus. Aqui está a essência de TODA profecia cristã e bíblica.

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