domingo, 13 de julho de 2014

Filósofos e Filosofastros

   

   É interessante que muitos dos filósofos que negam a capacidade humana de juízo acerca do real (tipo existecialistas, nietzcheanos, kantianos etc), são aqueles que mais juízos acerca da realidade fazem, negando toda uma herança intelectual e cultural que constitui os pilares sob os quais são consolidadas nossas noções e sentidos sobre o mundo, substituindo-os por uma ideologia nova e que, não se sabe ao certo, busca fundamentar a vida do individuo assim como de toda a sociedade. 

   Não se fala aqui da noção do pensamento que busca uma determinada revisão - o que sempre é algo saudável -, mas sim de uma transvolação radical dos valores, cuja aquilo que vem depois só pode ser uma noção fundamentada na autoridade como uma "imposição de narrativas", e não em um pensamento fundamentado na noção que geralmente se possui da realidade - como indicava Aristóteles ao dizer que a filosofia deveria partir de noções geralmente aceitas, sendo as mesmas ampliadas em círculos concêntricos, indicando a necessidade de uma "herança no  penamento", de maneira que aquilo que se encontrava no "ponto ômega" de uma construção intelectual (e até moral), deveria corresponder aos elementos primordiais da ideia, não contradizendo-os. Mas o que geralmente se vê é a substituição do "senso comum" por uma outra ideia de mundo que é uma ruptura completa a tudo aquilo que se pensou, configurando-se, por tanto, em uma descontinuação histórica, assim como uma contradição lógica dos princípios elementares do pensamento - e até mesmo das relações de um indivíduo no mundo (sejam elas políticas, comerciais, pessoais etc).  

   Não é difícil compreender isto se partirmos da seguinte constatação: geralmente uma filosofia do tipo realista - onde a verdade depende da presença do objeto e não do sujeito que apreende tal objeto - aceita a realidade tal como ela se mostra; mas uma filosofia idealista - tipo kantiano - nega a totalidade daquilo que chega à consciência como tal, ou seja: tudo o que é experiência pessoal não se enxerga a partir da consciência pessoal, sendo mais verdadeiro, não obstante, aquilo que Kant fala do real, do que o real tal como vivenciamos por nós mesmos. Tal vez aí esteja a raiz mais profunda do problema relacionado com a questão da ideologia e da massificação das consciências na história recente: não se enxerga a experiência a partir de si mesmo, mas sim a partir de uma interpretação de terceiros acerca da mesma: não há mais autonomia senão a de um grupo de intelectuais que ditam o sim e o não para nós. 

   Não há uma manifestação mais poderosa acerca disso do que a Universidade moderna que parou de tentar interpretar a realidade para começar a impor aquilo que ela pensa. O problema do Brasil não é a falta de intelectuais, mais o excesso dos mesmos, o que permitiu que o senso pessoal da realidade fosse substituído por uma ideia acerca da totalidade formulada pela cabeça de outros - ainda que a mesma contradiga radicalmente a experiência do sujeito no mundo. Com isso se ganhou em diplomas, mas se perdeu em autonomia, democratizando a estupidez. 



   Não é a toa que esse tipo de "filosofia crítica" seja a predileta para a doutrinação estatal; e não é preciso ser nenhum gênio para perceber o quão afinada estas são a governos que, negando princípios, faz com que a única opção possível seja aquilo que ela reza para todos aqueles que estão sob a sua sombra. Eis a consequência inevitável: prometendo autonomia ela produz apenas servidão. 

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