"[...] Platão tinha desenvolvido o conceito de 'nosos'
para indicar a desordem de um espírito que tinha perdido a sua orientação
religiosa e espiritual; agora, com a ruptura da pólis [a cidade-estado grega],
o 'nosos' se torna um mal social disseminado e atinge o ponto de uma deformação
patológica da mente. O 'nosos' da mente é, assim como o surgimento da psicologia, um sintoma de desintegração política. A principal
função do 'cósmion' político [ordem política onde se é possível fruir uma vida
que veja o seu sentido existencial, ou de vida, realizado] é [...] diminuir a
ansiedade existencial do homem ao dar à sua alma, pela evocação mágica de
comunidade, a garantia de ter um lugar significativo em um cosmos [ordem da
realidade] bem-ordenado. Quando o encantamento mágico perde a sua força [ou
quando a ordem política perde autoridade por causa de ameaças internas ou
externas], as inquietações primordiais são novamente liberadas; o mundo
circundante torna-se uma vastidão desordenada, cheia de perigos desconhecidos,
pressionando a alma humana; e o espírito que é exposto a essa experiência de
desordem pode romper-se com a tensão; pode tornar-se desorganizado ao ponto de
tatear em busca de qualquer ideia ou pessoa que pareça deter uma promessa de
proteção e apoio. Os fenômenos sociais que acompanharam esse período [da
desintegração do sentido conferido pelas ordens políticas] foram, assim na
época helênica como na nossa, um aumento prodigioso no número de círculos
esotéricos, de clubes, de comunidades espirituais semirreligiosas e escolas do
pensamento, a ascensão de novos movimentos religiosos e seitas, o aparecimento
de salvadores e líderes e a fundação da filosofia de conduta."
Eric Voegelin. História das Ideias Políticas Vol. I. Helenismo, Roma e Cristianismo Primitivo. Ed. É Realizações. p. 113,114.
Eric Voegelin. História das Ideias Políticas Vol. I. Helenismo, Roma e Cristianismo Primitivo. Ed. É Realizações. p. 113,114.
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