sexta-feira, 27 de julho de 2018

O Deus Totalmente Outro

   Todas as divindades que ficam aquém da linha divisória estabelecida pela ressurreição, que moram em templos feitos e servidos por mãos humanas, todas as divindades que "necessitam de algo", i. e., do ser humano que julga conhecê-las (At 17.24,25), não são Deus. Deus é o Deus desconhecido. Como tal ele dá vida, alento e tudo a todos. E assim seu poder não é nem poder da natureza, nem da alma, nem qualquer um dos poderes maiores ou extremos dos quais temos ou possivelmente poderíamos ter conhecimento, nem seu poder supremo, nem sua soma, nem sua origem, mas a crise de todos os poderes, o totalmente outro, comparado ao qual eles são algo e nada, nada e algo, aquilo que os move em primeiro lugar e o seu último repouso, a origem que a todos eles revoga e o objetivo que a todos fundamenta. O poder de Deus não se encontra de forma pura e superior ao lado nem ("supranatural") sobre, mas além de todas a forças condicionadas e condicionantes, não devendo ser confundido ou alinhado, mas só ser comparado a elas com extrema precaução. A força de Deus, a investidura de Jesus como Cristo, é, em sentido estrito, pré-suposto, livre de todo conteúdo acessível. Ela ocorre no Espírito e quer ser reconhecida no Espírito. Ela é autosuficiente, não condicionada e verdadeira em si. Ela é o novo por excelência, que se torna fator decisivo e de mudança na reflexão do ser humano sobre Deus.

Karl Barth - Carta aos Romanos; Sinodal. p. 80.

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