quarta-feira, 26 de setembro de 2018

A Justificação pela Graça, Mediante a Fé, X A Ideia de Natureza e Sobrenatureza

   A Reforma, com a sua ênfase na "justificação pela fé", contestou a ideia escolástica da distinção entre "natureza e sobrenatureza" (ou natureza e graça). Nessa ideia escolástica a "autonomia da razão" desempenhava um papel preparatório para a recepção da graça por meio de determinadas disciplinas (a preambula fidei). Nesse sentido a natureza deveria estar previamente apta para que pudesse receber a iluminação e a graça do Espírito Santo; por tanto a recepção do Espírito deveria, na esfera temporal, ser precedida pelo reto ajuste da alma através das obras. Contudo essa pré-paração contrasta radicalmente com o sentido bíblico da graça que afirma que é Deus quem opera em nós tanto o querer como o efetuar (Fl 2.13). Não há "preparação natural para a recepção da graça", pois a graça ou vem ou não vem, e pode vir em nosso pior estado, como foi o caso do Apóstolo Paulo que recebeu a visitação de Jesus "ainda respirando ares de morte contra a Igreja". E isso nos livra da ideia farisaica dos "aptos", pois a moralidade bíblica é explicita em relação aos agraciados: "as prostitutas e os publicanos vos antecedem no reino de Deus"; e sabemos que ao inclinar os nossos corações para o arrependimento Deus nos conduz, pela graça, a despeito do nosso estado, a uma relação ordenada para com ele. Nesse sentido, na compreensão da Reforma, não é a obra que nos conduz à graça, mas é a graça que nos conduz às obras (Ef 2.10).

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