quarta-feira, 23 de março de 2016

Ideologia e Corrupção


   Russell Kirk afirmou que a ideologia era a corrupção do dogma e dos símbolos de transcendência, pois ela propunha soluções eternas para o nosso hoje. No entanto, dizia ele, ela age como que ao contrário disso, pois na sua corrida pela salvação terrena ela abole justamente os valores que protegem a nossa frágil vida:

   "A ideologia é uma religião invertida, negando a doutrina cristã de salvação pela graça, após a morte, e pondo em seu lugar a salvação coletiva, aqui na terra, por meio da revolução e da ação violenta [assim como de crimes também]. A ideologia herda o fanatismo que, algumas vezes, afetou a fé religiosa e aplica essa crença intolerante e preocupações seculares" (KIRK, Política da Prudência. p. 95) - e arrematando com Voegeling: "A ideologia é a existência em rebelião contra Deus e o homem. É a violação do primeiro e do décimo mandamentos [pois afirmam os ideólogos que podemos cobiçar coisas alheias em nome do "bem", ou mesmo ROUBÁ-LAS e DESTRUÍ-LAS para um fim "justo" e desconsiderar valores], se quisermos empregar a linguagem da ordem israelita; é a 'nosos', a doença do espírito, para empregar a linguagem de Ésquio e Platão." (VOEGELING, Ordem e História, Vol. I, p. 32).

  O que a cima vai escrito nada mais é do que aquilo que qualquer um que vá ao mercado consegue compreender, ou seja, que não é possível estabelecer algo justo quando vamos em uma prateleira e vemos um peço, e acabamos pagando outro no caixa, pois ultrapassamos a lei do compromisso – ou a Lei Natural da Razão -, que aponta limites justos nos quais é possível estabelecer uma determinada igualdade em nossas negociações com outras pessoas, impedindo a fraude, ou uma vantagem indevida, ainda que tendo feito isso em nome do “bem”.

   Por isso não é possível que possamos arbitrariamente destruir as regras de convívio, ou mesmo não é possível que subvertamos leis às quais nos encontramos sujeitos como homens e mulheres – mesmo que por um pequeno momento –, pensando que com isso podemos gerar um “bem coletivo”, porque é justamente aqui que isso pode se voltar contra nós, criando o perverso costume onde cada qual, ao seu modo, suspender uma regra comum em nome daquilo que ele supostamente ache bom.

   Não é estranho que na história promessas de redenção cujo método que pavimentava o caminho para o “paraíso terrestre” era justamente composto de ideias de libertação dos costumes, das tradições, dos formalismos, dos tribunais, da noção de bem e mal, dos códigos sociais, da moral, da religião, da “dominação opressora” dos pais e mães, da “família”, dos compromissos firmados criaram justamente uma situação ou regime político infinitamente mais opressores do que aqueles dos quais eles prometiam livrar.
   Isso não é apenas uma questão de palavras ou de raciocínio, mas de história humana, demasiadamente humana.

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