quarta-feira, 14 de abril de 2021

Aristóteles e a Medida Divina como o Fundamento da moralidade

    No último tomo da obra "Ética a Eudemo" (E.E.), Aristóteles tem também como tema a noção de "sorte" (tykhe) na produção da felicidade do homem. Contudo, a fundamentação intelectualista da doutrina aristotélica não nos deixa confundir a "sorte" com o mero "acaso", já que é possível ver em sua filosofia a causação fundamental do Primeiro Motor (Deus) sobre todo o Universo, tal como se dá na alma, pois tanto do Universo como da alma Aristóteles afirma: "como no universo, aí [na alma] Deus tudo move"1.     Assim, Aristóteles afirma que há um princípio superior à razão (que não nega a razão), sendo este princípio Deus (hó Théos), e que tal princípio agindo no homem o faz escolher o bem, ainda que este possa, em muitos casos, não possuir o aparelho racional desenvolvido. Poderíamos localizar esses homens na classe dos místicos, inspirados ou profetas, já que Aristóteles afirma que estes realizam boa deliberação "sob inspiração", pois "de fato, apesar de irracionais, conseguem até aquilo que tem a ver com o prudente e o sábio"2.     Sendo Deus (o primeiro motor) o princípio acima da razão, governando não só o Universo como também a alma do homem e a sua razão, dando à alma do homem a medida da sua felicidade, logo, tal como o servo que segue o princípio regulador do senhor, a vida maximamente feliz segue o seguinte preceito: "a escolha e a posse de coisas naturalmente boas [...] que maximamente a vierem a produzir a especulação de Deus são as melhores, constituindo também a mais nobre das normas"3, e sendo a especulação de Deus a norma suprema, a medida divina é o fundamento de toda a moralidade. __________________________________________________________ 1] ARISTÓTELES - Ética a Eudemo. 1248a25, 26 2] Ibidem - 1428a35, 36 3] Ibidem - 1249b17-19

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