segunda-feira, 23 de março de 2015

A Marcha da Preguiça

   


   Não tenho como não me tornar aborrecido. É o preço que se paga por acreditar que aquilo que se vê é, simplesmente, aquilo que se vê, sem a mediação de uma "inteligência" que busca nos corrigir desde o submundo. 

   Me prendo a esses assuntos porque acho que questões como estas a baixo são tão ligadas ao espírito humano que revelam, por sua vez, uma tendência, um "espírito do tempo", um elemento cultural que, como todo elemento cultural, não deixa de dar os seus pitacos para o espírito humano. 

   Como pastor, espírito e cultura são meus negócios. 

   Então vamos lá: 

   "O marxismo é a variante da preguiça. Se você acredita que a base material condiciona mudanças na cultura, na forma de pensar e nas relações intersubjetivas, basta fazer como os romanos do poema: 'À espera dos bárbaros', de Káfávis: sentar na calçada e esperar a banda passar. E há os que resolveram acelerar a história para que o inexorável chegasse antes: Lênin, Stálin, Mao, Pol Pot. O resultado se mede em crânios" (AZEVEDO, Reinaldo. O País dos Petralhas. p. 99).  

   Mas por que continuo martelando este prego em crânio alheio? 

   Bem, basta compreender que no nível de nossa vida pessoal, é fato que, no fundo de tudo, a responsabilidade última por nossas culpas e nossos acertos é algo inteiramente nosso e intransferível. Com isso se conclui que a base material não mede caráter ou personalidade. Se assim fosse, bastava fazer uma análise psicológica de um indivíduo com base em seu extrato bancário. Isso é um absurdo monumental. Uma preguiça. Um reacionarismo cavernoso contra pobres também, como expresso na ideia de que o extrato pobre da população é uma existência determinante de onde se origina o "revolucionário primitivo" - em outras palavras: a bandidagem. Se isso não é o tão alardeado preconceito, o que é preconceito? 

   Não tenho simpatia por teorias históricas que, acomodando os pensamentos ao fácil, já nos marcam com um triângulo amarelo porque pertencemos a tal e qual classe, raça etc, e que diz que até o nosso respirar faz parte de uma "marcha inexorável". Isso tende a pulverizar o indivíduo. Mas é claro, "prova" a tese de que "tudo o que é sólido se desmancha no ar". A partir do viés material-histórico-dialético dá para compreender o que é isso: preguiça e bandidagem! Nada mais do que isso!     

   Penso aqui comigo que tais teorias são coisas de quem não sabe amar, pois se tudo o que é sólido se desmancha no ar, o que é que vale apena, quando nos importa, conservar? Conservar a pobreza? Não! Conservar valores que nos tiram da pobreza. E é isso que o materialismo dialético nos leva a destruir. 

   Nestes campos existem pseudo-valores que consideram a pobreza como uma metafísica. Um valor em si. Como um sinal de bom caráter, ou de bandidagem - pois o pobre que rouba e mata é o "revolucionário primitivo", que antes de pedir ou buscar, decidem tacar o pau, revolucionar, "marchar". Por tabela justificam o crime cometido até por ditadores e generais que querem "modificar o sistema" - URSS, FARC, China? Justificam o roubar somas bilionárias em nome do "bem".  Eu não gosto disso. Prefiro, no nível pessoal, superar o que me for percalço! Não nasci para ser massa de manobra de filosofia alguma. Estou com aquelas filosofias que me libertam e que - como já dito por alguém que por hora não me lembro - me ensinam a morrer. 

Não gosto de preguiça.   

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