sábado, 26 de abril de 2014

Sobre a Dita "Inexistência da Verdade"


   
   "Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas" (Nietszche).

   Um filósofo antigo faria uma observação à essa frase: non sequitur, ou seja: não se segue. A expressão "non sequitur" é utilizada quando se deseja designar uma falácia retórica. Nosso sofista a cima não deixa claro que, ao ele contradizer-se a si mesmo na frase, o que ele procura deixar é, visivelmente, uma definição, ou seja: uma verdade.

   O  dito "não há" na frase acima não pode deixar de se referir a um algo concreto, pois se espera que aquele a quem é dirigida tal frase apreenda o algo a que ele se refere, ou seja, que o indivíduo tenha consciência desse algo como uma coisa existente na realidade, coisa essa compreensível por si mesmo, assim como representável por meio da linguagem. Com isso, o "não há" de Nietzsche não deixa de ser um apontamento para uma verdade de fato, concreta, a qual ele, contraditoriamente, decide negar, ao mesmo tempo, a existência, mas não percebendo, também, que negando a existência da faticidade dos fatos ele cria um outro fato que pela lógica interior desse pensamento deve, por sua vez, ser negado. Disso seguem-se dois caminhos óbvios que, no fundo, possuem um destino apenas:

   1º) Ao negar a existência de fatos eternos ou de verdades, Nietzsche cria um outro fato: a inexistência absoluta dos fatos. Ora, se Nietszche apregoa aqui a inexistência absoluta de fatos e verdades, é claro que tudo isso só pode ser compreendido como um FATO ou uma verdade absoluta no âmbito da realidade que, por sua vez, é apreensível pelos indivíduos a quem ele se dirige.

   2º) Se ocorrer que ainda ele persiga na obstinação de forçar a "veracidade" do seu argumento - o que é contraditório pela própria lógica interna do seu pensamento - então ocorre aqui a "negação da negação", o que só pode ser realizado por meio da positivação de uma determinada negação (a negação também é uma afirmação), e com isso, pela natureza própria do empreendimento, a única coisa no campo do real possível é que tal empreendimento seja algo existente, e, portanto, um fato como tal. Mas se ele, ainda com isso, negar o fato resultante, nem por isso a negação não seria um outro fato, cujo evento pede o reconhecimento de sua própria existência e assim ad infinitum.

   O que me resta a pensar é que esta tese da "inexistência de uma verdade absoluta" tem um tom de paranoia, e reflete um modo sub-ginasiano de pensar e refletir o mundo, assim como a filosofia. Não é estranho que muitos, com um ardor fanático, defendam essa afirmação de Nietszche como se fosse uma revelação divina? Ironia, não?

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