sábado, 15 de novembro de 2014

O Julgamento Qualitativo da Ação Humana

 

   A ação humana não deve ser compreendida como algo onde se manifestam formas que tragam em si o seu próprio valor de forma absoluta, seja este valor algo bom ou algo mal. Todo o julgamento nesse campo deve ser orientado com base na legitimidade da ação ou não.    

   As leis - ou seja: o código que delimita a ação humana - devem ser orientadas para o bem. Aqui nos encontramos com valores e, por isso, com a metafísica, pois a metafísica é aquilo que designa a orientação última para a vida e, por tanto, julga a ação humana, quer reprovando ou a provando, qualificando as intenções, os meios e os fins. 

   Com relação à ação humana, não há distinção entre os meios e nem entre os fins desta ação, pois os fins são bons, se os meios o são, assim coimo são maus os meios, se também maus são os fins e vice versa. 

   Mas há algo que é um tanto nebuloso nesta questão relacionada à ação humana, pois as semelhanças entre as ações ocultam um abismo infinito que separa uma ação que guarda, com relação à outra, um certo grau de semelhança quanto à forma, mas que se constitui em uma verdadeira diástase quando vista sobre o ângulo do valor. 

   Vejamos um caso famoso no livro "A República" de Platão, onde Sócrates trata da questão da justiça, perguntando a Trasímaco se a restituição de uma arma que o dono colocou sob a confiança de um amigo é algo justo em si mesmo. 

   O diálogo põe em questão a ideia da ação analisada a partir de si mesma, sendo, em primeiro lugar, compreendida como uma ação justa. Sócrates coloca em dúvida esta posição, pois a ação de restituir pode, a partir de uma determinada situação, torna-se o contrário de uma ação boa. 

   Eis a situação: o dono coloca uma arma sua sob a confiança de um amigo, e em um determinado momento de sua vida, o dono da arma fica privado de sua razão. Neste momento de privação da razão, ele decide reaver as sua arma com o amigo. Esse, compreendendo este estado de privação da razão, nega devolver a arma, pois sabe que desgraças podem dai vir: suicídio, assassinato dos pais, filhos, amigos ou mesmo provocar uma desavença na cidade. Agora fica a pergunta: a restituição de um bem confiado é algo bom em si mesmo? 

   Nota-se que, a partir do contexto, uma ação, que antes era algo bom ou justo, pode, não mudando em nada a ação humana - a ação da restituição -, tornar-se algo mau e perverso. Neste caso, toda a ação humana é boa ou não, quando esta relacionada a um contexto maior. De fatos brutos não se deduzem valores. 

   Fica evidente com isso que os atos não podem ser julgados através de uma análise baseada em formas fixas, pois é necessário enxergar estas ações com base em uma hierarquia de valores, onde no topo encontramos o bem, pois diz Sócrates: "aos amigos se deve fazer o bem, e nunca o mal", mesmo que este bem signifique reter algo a contra gosto daquele a quem esta restituição é feita, para evitar a destruição do mesmo.  

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