quinta-feira, 9 de abril de 2015

A Verdade e a Misericórdia em Pedaços*


   Os rabinos contam que, quando Deus foi criar o homem e a mulher, Ele ficou em dúvida. Valeria a pena cria-los? Na sua intuição divina, Deus suspeitava que teria problemas com o homem e a mulher mais do que com qualquer outro ser criado, por que eles iriam faltar com a verdade e evoluir para serem grandes mentirosos. 

   Deus, então, chama Seus auxiliares para trocar uma ideia. Pergunta Deus à Justiça se valeria criar o homem e a mulher. Ele responde que não seria uma boa ideia, uma vez que iriam traí-Lo. A misericórdia, por sua vez, discordou da Justiça, dizendo que, ainda que o homem e a mulher trouxessem problemas, mentindo e traindo Sua confiança, nenhum outro ser daria a Deus maior alegria em uns poucos momentos. A alegria seria, assim, um detalhe em meio a um mar de desilusões. Sabemos pelos rabinos que Deus sempre apreciou os detalhes.

   Deus para, pensa e decide criar o homem e a mulher, mas, decide também jogar a Misericórdia e a Verdade no chão, e despedaçando-as em milhares de pedaços, lança-as sobre a Criação, espalhando-as como pérolas ao vento sobre o mundo. Decide Deus, então, cravar no coração do homem e da mulher uma paixão infinita pela Misericórdia e pela Verdade, obrigando-os a buscar, pela vida inteira, como numa sede infinita, esses pedaços, sem os quais suas almas jamais teriam paz, apaixonados por conhecer a totalidade da verdade e por sentir um pouco de misericórdia em meio a um mundo indiferente a eles. Amém

*Luiz Felipe Pondé: A Era do Ressentimento; ed. Leya; p. 169, 170

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