quinta-feira, 9 de junho de 2016

Conservação e Amor


   Há uma sentença que está no meu coração e que molda toda a minha imaginação sobre a forma com a qual busco tratar todos os problemas da minha vida. Essa ideia estava em forma seminal de um sentimento que me perseguiu em um dado momento da minha vida no qual pensei que tudo iria ruir sob os meus pés. Contava eu com 18 anos quando uma experiência muito intensa e dolorosa se abateu sobre a vida deste que vos escreve - e que levou dois anos de uma vida saudável para longe de mim.

   Sem entrar em detalhes, um dos sentimentos que mais poderosamente se apossava de mim era, em meio a todas as crises, uma saudade imensa por uma vida normal. Em meio ao caos (palavra que sempre aparece onde escrevo e que é clara para mim por causa de minhas experiências muito concretas) e confusão quase absolutos, a ânsia pela normalidade e estabilidade tanto emocional quanto mental foi algo perseguido quase como que obsessivamente, fazendo com que eu entrasse em um ciclo vicioso, já que a ansiedade na busca pela normalidade só me fazia ficar ainda mais ansioso.

   No entanto, em meio aos escombros sob os quais eu me apoiava ainda havia um vestígio de ordem - uma pequena luz que restou por causa da minha fé em Cristo (que para mim era e é a razão do bem de todas as coisas). Foi a partir deste ponto que muitas outras coisas se restauraram como que num movimento de ressurreição, onde as trevas e o movimento caótico sob o qual transitava a minha vida passou pouco a pouco para uma plano mais ameno, ensolarado e pleno de bonança - ainda vivo sob estes dias dóceis.
   
   Contudo ganhei uma aversão à desordem e ao caos, e um amor insuperável por amenidade e um desejo resoluto por ordem e pela conservação daquilo que amo - como uma vida digna e amena, e daquelas coisas que para mim muito significam - e que ficou vividamente impresso, como que sacramentado, em meu espírito. E voltando à sentença, ela é a do pensador luso João Pereira Coutinho: "Todo homem é conservador com relação àquilo que ama" - se referindo também a um estado de espírito ao lidar com todas as coisas da vida, e a uma prudência característica daquele que sabe que tudo o que é bom na vida é ganho aos poucos e, por descuido, perdido de uma vez. E nada mais verdadeiro do que isso, pois um mundo de radicalismos, antagonismos e de desagregação normativa, como diria T. S. Eliot, é incompatível com a natureza humana - sei-o bem. É justamente isso que anuncia a existência de algo para o homem como uma ordem que para ele foi criada, sendo o homem criado para esta mesma ordem - como diria Russel Kirk.

   Esta experiência de desagregação e aniquilação interior me instruiu para a compreensão de que não há um bem maior para o homem do que fazer todo o possível para manter, conservar e amar as coisas que nos dão a oportunidade de desfrutar daquela ordem, daquele bem luminoso e saudável para o qual fomos criado. E é justamente este amor pela ordem e pelo SUMMUM BONUM (o mais alto bem) que conserva as nossas vidas, e que pode lançar para fora a aniquilação destrutiva que esmaga o homem em meio àquela confusão aniquiladora e hostil a tudo aquilo que um dia foi chamado à existência.

OBS: A ilustração é da capa do livro "Crime e Castigo", da editora 34, feita por Evandro Carlos Jardim.

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