sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A Conquista de Si

   Há uma dificuldade imensa em manifestar-se ao mundo a partir da totalidade de nossa realidade interior e da forma como percebemos cada evento, sentimento, pessoa, ideia etc. Como dizia Nietzsche: "todo espírito profundo possui uma máscara."

   Algumas razões se impõe sobre a vida para que a "revelação total do eu" seja inibida: trabalho, amizades, compromissos, convenções sociais, cultura etc. Mesmo Jesus Cristo buscou revelar-se pouco a pouco - e se apresentou de forma gloriosa, enquanto estava peregrinando neste mundo, só a Pedro, Tiago e João no alto do monte tabor (longe das massas), pedindo segredo para os três que viram.

   Assim como, segundo Lutero, esta vida não é devoção, mas a busca pela verdadeira devoção, também no nosso hoje não desfrutamos do nosso verdadeiro eu, mas sim da cruenta, difícil e pesada busca por um. Aqui há dois caminhos: ou enfrentamos a cruz da busca, ou aderimos às facilidades e falsidades excitantes do mundo - é nesse sentido que podemos compreender a seguinte frase no livro do Apocalipse, se referindo à razão da vitória dos Mártires sobre a Besta e sobre o Falso Profeta: "E não amaram a própria vida até à morte" - já que vislumbravam algo superior a tudo o que existe neste mundo.

   Somos convidados a crucificar dia a dia o nosso eu pelo ao bem e pela perfeição absolutos. Mas não nos elevando a lugares que não são os nossos, e não fugindo da dor e da perda fé em si mesmo que o auto-conhecimento nos proporciona, lancemos como peregrinos nesta terra toda a nossa confiança na graça do Deus da verdadeira devoção e do verdadeiro eu a serem conquistados totalmente na eternidade.

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