quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Burguês de Esquerda; Ou: O Radical Chique


   Não sigo apenas minha cabeça, mas leio livros e análises de pessoas mais inteligentes do que eu para não revestir a minha falta de informação de autoridade, e sair desinformando gente mundo afora. Assim segue, e afirmo que o Partido Democrata americano e a própria Hillary está à esquerda do espectro político. A própria esquerda americana inclui artistas, juristas, acadêmicos, cineastas, jornalistas, apresentadores de TV (gente chamada por lá de "radical chique", "esquerda limousine", o a nossa conhecida expressão "esquerda caviar"), como All Gore, Angelina Jolie, Brad Pit, George Clooney - que foi contra o impeachment da Dilma -, Richard Gere, Jhon Travolta, Whoopi Goldberg, Ben Affleck, Leonardo DiCaprio, Cameron Diaz, George Soros etc.

   Contudo há uma distinção substancial entre o pensamento de esquerda americano e a versão europeia, já que o primeiro sofreu condicionamentos específicos por causa da própria história constitucional americana. Roger Scruton, um dos principais teóricos do pensamento conservador britânico já explica o que distingue o pensamento de esquerda americano, como segue:

   “O pensamento americano de esquerda é uma espécie diferente de sua contrapartida europeia, tendo seguido um caminho evolucionário à parte, em condições não propícias ao desenvolvimento da hostilidade. No entanto, ele compartilha com o socialismo europeu certa estrutura subjacente, e exerceu uma influência similar, ainda que tardia. O triunfo da constituição dos EUA foi fazer da propriedade privada e da liberdade individual características inalienáveis, não somente para o plano político, mas também para o próprio pensamento político. Quase toda filosofia americana com inclinação esquerdista no século XX fundou-se em preconcepções liberais, e uma parte muito pequena desafiou a instituição da propriedade. Em vez disso, ela concentrou-se em denegrir as formas vulgares que a propriedade pode assumir – ‘consumismo’, ‘consumo fútil’, ‘sociedade de massas’ e ‘publicidade de massas’.[...] É o espetáculo da propriedade nas mãos de pessoas comuns, descentes, rudes e incultas que atribulou as percepções da esquerda.” (SCRUTON, Pensadores da Nova Esquerda p. 39)

   O ódio ao “common sense” (o senso comum) por parte dos “radicais chiques” é conhecido entre os americanos. Na recente corrida presidencial que deu a Trump a vitória sobre Hillary Clinton, os analistas (estrangeiros e brasileiros) apontaram um fator essencial para a vitória do Magnata: “homens brancos que não possuem ensino superior”. Geralmente é ao homem rude, simples e não intelectualizado - algo extremamente valorizado no pensamento conservador anglo-americano, como relata o filósofo germano-americano Eric Voegelin – que está sob a mira dos pensadores de esquerda nos EUA. Não é de estranhar já que o homem comum não está interessado em grandes engenharias sociais, nas múltiplas formas de constituição familiar, liberação do consumo recreativo de drogas e do aborto indiscriminado, pois seu costume é tipicamente o do homem trabalhador que vive para cuidar de si, da sua família e ir a um culto em alguma igreja nos dias de domingo. Por tanto, nada de utopias e de grandes transformações sociais – algo que excita a imaginação de esnobes californianos e nova iorquinos.

   Por último é bom lembrar que grande parte deste flerte com o pensamento da esquerda chique americana pode ser visto no Brasil como nas novas modas de ciclistas, que na busca por não não poluir a atmosfera da cidade optam por um rolê de bike. Assim também, eles optam pelo vegetarianismo como um ato político contra o sofrimento dos animais, ou buscam sintonizar com as energias da natureza - não raro com ajuda de maconha - tão maltratada pela sociedade de mercado, ou em nome da substituição às religiões “opressivas” e “tradicionais”. Tais são as formas do pensamento político de esquerda dos EUA e que são representados no Brasil por indivíduos como Fernando Haddad ou por Marina Silva. Nada há de estranho neste pensamento chique que atrai, grosso modo, gente de classe média entediada que se sente culpada pelo próprio sucesso e que, como um ato de purgação da consciência, adere a certas agendas cult, pensando que comer rúcula e dar um rolê de bike irá salvar o mundo.

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