sábado, 14 de novembro de 2015

Fundamentalismo e Laicismo



      O mal-caratismo de alguns “iluminados” não tem limites. É óbvio que este pessoal, ignorando tudo a respeito daquilo que falam – ou fingindo ignorar -, desejam colocar na conta do Cristianismo, seja ele Católico ou Evangélico – e neste momento no Brasil, mais Evangélico do que Católico -, o terrorismo islâmico, tudo com base no abracadabra. E o abracadabra é a palavra fundamentalismo, que hoje já é confundido propositadamente com o levar uma vida religiosa a sério.

   Este pessoal que só aprendeu a raciocinar na base do jargão, e que ensina a pensar também nesta base, emburrecendo os seus leitores – ou fazendo alguns outros rirem muito -, lançam contra as comunidades religiosas o ônus da loucura de um grupo. Um raciocínio fácil e vilmente pobre.

   Mas a tática é antiga, pois fundada no puro fingimento, já que fingem ignorar – ou ignoram completamente mesmo -, por exemplo, que o início, meio e fins macabros da Revolução Francesa – a revolução que em nome da racionalidade e de uma condenação mais indolor inventou a guilhotina – foi uma investida principalmente contra o cristianismo católico, contra as tradições e contra os costumes. Tudo em nome de um Estado racional e a-religioso.

   Isso foi algo que o parlamentar irlandês, anglicano e tido como o pai da tradição política conservadora, Edmund Burke, lamentou muito, pois via que o idealismo dos revolucionários, que buscavam uma sociedade perfeita e sem desigualdades, era algo tão mortífero que, em nome do “bem”, tal revolução acabou por destruir os costumes as pessoas reais em nome do “novo homem”. Resultado: mais de 2.000.000 mortos, e uma ditadura napoleônica no fim do processo.

   Tal vez esta visão não seja tão diferente daquela que vemos com os islâmicos, que tem uma longa relação com os ideais revolucionários, existencialistas, cujo modus operandi foi visto de maneira inquestionável na revolução iraniana, onde o governo vigente foi derrubado pelo e para o “povo”, para os “trabalhadores” e para os “injustiçados” – com a ajuda da URSS -, mas acabou mesmo por instaurar uma teocracia rígida que dura até hoje, e que não da nenhum sinal de que irá acabar.

   Táticas de guerrilha foram vistas também na Primavera Árabe – a mãe revolucionária de tudo aquilo que vem acontecendo hoje na França -, e tudo porque alguns inocentes ocidentais, como os obamistas, laicistas e democratófilos, desejaram por um fim às ditaduras antigas – como a de Muamar Kadafi na Líbia -, que, ainda que não sendo anjos de luz, quando subtraídas, acabou dando lugar a um vácuo que poderia ser ocupado somente pelo grupo mais organizado e violento. Este grupo foi o Estado Islâmico.

   O senso de unidade histórica, a compreensão de que nada assim cai da árvore dos acontecimentos por meio de um puro fundamentalismo, a compreensão de que a estrutura de tais elementos não é o famoso preto no branco, não deixa margem para a compreensão de que não é o simples “fundamentalismo” a raiz dos males, mas sim uma forma muito típica de Fundamentalismo – que tem eliminado à média de 100.000 cristãos por ano – que, não levando em conta a ideia de imperfectibilidade ou pluralidade humana, se põe julgar o mundo e as pessoas em nome de uma suposta ideia superior alcançável na destruição de todos os valores.

   Assim também algumas pessoas não compreenderam que o laicismo radical – que tende a destruir os valores – é a única coisa que tem contribuído de maneira decisiva para o terrorismo islâmico, já que o esvaziamento espiritual do cristianismo no Ocidente deixou um buraco a ser tapado – e nada é tão sintomático disso quanto a aderência de jovens ocidentais à causa do terrorismo islâmico. A prostituição e embriaguez e o vazio espiritual do Ocidente tem feito dele um alvo fácil, pois a natureza abomina vácuo e este vácuo tende a ser preenchido por quem mantém a noção de que a vida só vale ser vivida quando guiada por valores sagrados.

   Como disse Schelling no século XIX, o espírito da cultura ocidental moderna é, em todos os seus ideias, e em todas as suas realizações, um espirito totalmente auto-destrutivo que visa implodir a própria base cultural e espiritual pelo êxito a que se propôs alcançar. O totalitarismo islâmico, por outro lado, possui um enorme projeto sacro de poder, não se furtando à destruição em nome de uma nova construção. Encontramos, por tanto, um casamento perfeito: o Ocidente quer morrer, e o totalitarismo islâmico quer matar.

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