quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Sobre a Questão da Igualdade


   No mundo moderno, muitos enxergam na "igualdade" a maior das possibilidades e virtudes da cultura, alçada à categoria de elemento redentor da humanidade. 

   Se, por um lado, aquilo que compreendemos por igualdade comporta em si uma virtude necessária na área jurídica (todos são iguais perante a lei), por outro lado, compreendida na esfera cultural, ela se põe como o princípio da destruição da hierarquia dos valores, assim como da alta cultura e, por isso mesmo, em si, a igualdade aqui existe como o princípio do esfacelamento das conquistas civilizacionais, o que é a maior das ameaças para os homens.

   Na esfera cultural, a política que visa em nome de uma suposta "aproximação dos homens", e da diminuição das diferenças intelectuais entre grupos ou indivíduos, não se põe, de fato, a universalizar o bem, pois essa política opera através de um nivelamento por baixo, ou por meio da distribuição universal da mediocridade. 

   Segue um trecho do romance de Dostoiévski acerca do fenômeno descrito em "Os Demônios": 

   "Chigalióv é um homem genial! Sabe, é um gênio como Fouier, mais forte que Fouier; vou cuidar dele. Ele inventou a 'igualdade'! No esquema dele cada membro da sociedade vigia o outro e é obrigado a delatar. Cada um pertence a todos, e todos a cada um. Todos são escravos e iguais na escravidão. Nos casos extremos recorre-se à calúnia e ao assassinato, mas o princípio é a igualdade. A primeira coisa que fazem é rebaixar o nível da educação, das ciências e dos talentos. O nível elevado das ciências e das aptidões só é acessível aos talentos superiores, e os talentos superiores são dispensáveis! Os talentos superiores sempre tomam o poder e formam déspotas, sempre trouxeram mais depravação do que utilidade; eles serão expulsos ou executados. A um Cícero corta-se a língua, a um Copérnico furam-se os olhos, um Shakespeare mata-se a pedradas - eis o chigaliovismo. Ha, ha, ha, está achando estranho? Sou a favor do chigaliovismo." (DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os Demônios) 

P.S. Para quem acha que esse logos igualitário nunca foi encarnado na história, ainda não sabe o que foi o violento programa de "Revolução Cultural" empreendido por Mao Tsé-Tung na China, que visava a eliminação da distinção entre "alta cultura" e "cultura popular". Essa Revolução resultou no maior massacre humano já ocorrido na história.

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