terça-feira, 11 de junho de 2019

O Monopólio da Virtude

    Independentemente do espectro político ao qual você pertença ou tenha simpatia, se esquerda ou direita, os fins jamais justificarão os meios. Acima do problema do espectro político, há também o aspecto dos costumes, ou, como afirmavam os clássicos, o problema moral. Muitos, hoje, se encontram engessados em um dogmatismo político em nome do qual a moral e a lógica são pisados, pois nesse campo de disputa e torcida tudo o que ocorre é enquadrado na realidade segundo as preferências e jamais segundo aquilo que é bom e justo. Nenhum lado do espectro político, seja a direita ou a esquerda, possui, por natureza, o monopólio da virtude. O problema é justamente quando a paixão política degenera em fanatismo e ganha contornos de adesão existencial, atando à paixão política o significado da vida. Isso é algo adoecedor para a personalidade, pois se os fatos provarem que algo do movimento político ao qual você deu a sua adesão está muito errado, é muito provável que o mais apaixonado politicamente irá jogar tudo no lixo, incluindo seus afetos e o seu caráter, se aferrando à sua posição - pois é comum que, a contrapelo dos fatos, aquele que depositou tudo de sua vida em uma ideia, irá defender até às raias do absurdo aquilo em que depositou sua confiança para não parecer um tolo - ainda que com isso não só a tolice, mas a estupidez se torne evidente. E entre parecer um tolo ou um louco fanático com aparência heroica, não há dúvida que as pessoas irão querer se parecer um louco fanático, já que tudo aí é mais enérgico e intempestivo - e não há dúvida que é mais condizente com a natureza humana que as aspirações mais altas tendam a desejar o reconhecimento no trágico ao invés do reconhecimento no cômico.

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