quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Como Agostinho, um "Simbolista", Pode Também ser um "Radicalmente Realista"?: A Teologia Sacramental de Agostinho; Ou: Ao Sr. Fábio Morais

    Ao que parece, o sr. Fábio Morais, como a grande maioria dos apologistas católicos romanos que já vi, gosta de trazer JND Kelly à superfície das discussões porque, embora seja um erudito pertencente à Igreja Anglicana, ele reforçaria a teologia católica romana com sua obra como ninguém mais. Portanto, se um "inimigo" pode servir de quinta coluna entre os protestantes, porque não explorá-lo ao máximo? Essa tática de guerra, porém, poderia ser mais eficaz caso o uso da obra de Kelly fosse digna de nota e não de risos.

    O título desse texto é a própria pergunta que o sr. Fábio Morais fez, sendo que no mesmo texto ele traz um print de uma citação do JND Kelly que diz o seguinte: "Embora radicalmente realista, é também francamente espiritualizante". O texto mais completo seria este aqui: "Como seria de esperar, seu pensamento [o de Agostinho] percorre muito mais o caminho aberto por Tertuliano e Cipriano [simbolistas]. Por exemplo, ele fala do 'banquete em que Ele apresentou e entregou a Seus discípulos a figura (figuram) de Seu corpo e sangue'. Mas ele vai mais longe do que seus predecessores, formulando uma doutrina que, embora radicalmente realista, é também francamente espiritualizante. Em primeiro lugar, Agostinho deixa claro que o corpo ingerido na eucaristia não é rigorosamente idêntico ao corpo histórico de Cristo, e representa-o" (KELLY, J.N.D. - Patrística. ed. Vida Nova. p. 341). Como um grande conhecedor da obra do Kelly, o sr. Fábio Morais, claro, está familiarizado com essa citação que não poderia ser mais clara sobre percepção que Kelly tem da teologia agostiniana.

    Mas em segundo lugar, é interessante destacar o que Kelly realmente quer dizer com "realismo atual" do qual Agostinho é um signatário. Na pág. 335 Kelly explica dessa forma: "Deve-se entender já de início que o ensino eucarístico em geral era inquestionavelmente realista, isto é, o pão e o vinho consagrados eram interpretados, tratados e designados como o corpo e o sangue do Salvador. Contudo, entre os teólogos, do período que estamos estudando, essa identidade era interpretada de pelo menos duas maneiras diferentes" (Ibid. 335). Então essa noção de realismo não é unívoca, tendo camadas de sentido que, como diz Kelly, possuem lógicas mutuamente excludentes, como ele diz: "Contudo, entre os teólogos, do período que estamos estudando, essa identidade era interpretada de pelo menos duas maneiras diferentes e permitia-se com freqüência [sic] que tais interpretações se sobrepusessem, embora pela lógica estrita fossem mutuamente exclusivas" (Ibid. 335). Então temos duas noções de realismo que são mutuamente excludentes. E essa nota distintiva deve significar tudo o que o Kelly falará sobre a questão.

    Convocando o sr. Fábio Moraes à luz da compreensão kellyana, lembrando que o sr. Fábio prometeu "dizimar" em nossos "muquifos" e "garagens", passo à distinção entre esses dois realismos que, em essência, possuem significados mutuamente excludentes, como já dito. Kelly diz: "Em primeiro lugar, o ponto de vista figurado ou simbólico, que enfatizava a distinção entre os elementos visíveis e a realidade que eles representavam, ainda tinha certo apoio. Conforme vimos ele [o ponto de vista simbólico] remontava a Tertuliano e a Cipriano, e haveria de obter impulso renovado pela influência poderosa de Agostinho" (Ibid. 335). O que JND Kelly diz aqui é que não há contradição entre a percepção da eucaristia no campo do realismo atual e a concepção simbolista (que estão unidos em uma teoria apenas), e isso é assim porque esse tipo de teologia enfatiza o realismo da presença de Cristo no pão e no cálice (pão e cálice que são figuras, atítipos ou símbolos do corpo e sangue de Cristo) embora de forma espiritual.

    Essa teoria, que é abraçada por Tertuliano, Cipriano e Agostinho, é distinta da segunda visão que foi ganhando espaço na teologia teologia do século IV. Kelly discorre assim sobre o segundo tipo de teologia cuja ênfase está na transformação dos elementos do pão e do vinho: "Em segundo lugar, contudo, uma nova tendência cada vez mais forte começa a aparecer, explicando a identidade como resultado de uma mudança ou transformação real no pão e no vinho" (Ibid. 335). Destaquei a palavra identidade para que compreendamos algo importante, pois quando Kelly usa esse termo ele se refere à identidade entre as espécies do pão e do vinho com o corpo e sangue de Cristo. Em geral essa segunda teoria enfatiza uma "transformação", embora nos casos que Kelly cite, como o de Gregório de Nissa, essa "transformação" das espécies ainda não é o que poderíamos chamar de "transubstanciação", mas uma espécie de "encarnação" da palavra no pão que, por ser matéria, é corpo em potencial, como podemos perceber na obra A Grande Catequese de Gregório de Nissa (Oratio Catechetica Magna 9-12).    

    Explicando a primeira teoria, (onde ele enquadra Tertuliano, Cipriano e Agostinho) é de suma importância que ele cite as "Constituições Apostólicas", um documento do séc. III,IV d.C. Mas nas palavras de Kelly: "Como exemplo da primeira tendência, podemos citar as Constituições Apostólicas, que descrevem os mistérios como 'antítipos (antitypa) de Seu precioso corpo e de Seu sangue' e falam da celebração da morte de Cristo 'por meio dos símbolos (symbolõn charin) de Seu corpo e sangue'. Na liturgia, damos graças pelo sangue precioso e pelo corpo, 'dos quais celebramos estes antítipos' (antitypa). Ao mesmo tempo, porém, a fórmula no momento da comunhão é 'o corpo de Cristo' e 'o sangue de Cristo'. Enquanto se refere aos elementos como 'o corpo e o sangue', Serapião fala de 'oferecer este pão' como 'semelhança (homoiõma) do corpo do Unigênito' e de 'oferecer o cálice' como 'semelhança (homoiõma) do sangue' (Ibid. 335). Tudo isso está na página introdutória do capítulo que trata da "Presença na Eucaristia" do livro do JND Kelly (Patrística) que é tão (mal) citado em círculos católicos romanos de apologética. E aqui já poderíamos nos dar por satisfeitos quanto à tese de Kelly quando ele diz que Tertuliano, Cipriano e Agostinho (junto com Serapião) estão enquadrados na "primeira tendência", que é a simbolista. Mas sigamos em frente.

    Como exemplo da primeira tendência ele não deixa de enquadrar também Eusébio de Cesareia que, certamente, é o simbolista mais evidente do grupo. Da mesma forma Kelly destaca algo interessante, que é a forma litúrgica da celebração eucarística - à qual muitos apologista católicos se apegam pensando que daí colhem muita coisa, ignorando que os simbolistas também eram fiéis à formula litúrgica que afirma ser o pão o corpo e o vinho o sangue de Cristo. Citando o caso de Eusébio de Cesaréia (algo que não se restringe a ele, pelo que percebemos no próprio texto) Kelly diz: "Os teólogos empregam a mesma linguagem das liturgias [sobre o pão ser o corpo e o vinho o sangue]. Assim, Eusébio de Cesaréia, enquanto declara que 'somos continuamente alimentados com o corpo do Salvador e participamos continuamente do sangue do Cordeiro', também afirma que os cristãos celebram todos os dias o sacrifício de Jesus 'com os símbolos (dia symbolõn) de Seu corpo e de Seu sangue que salva', e que Ele instruiu Seus discípulos a compor 'a imagem (iên eikona) de Seu próprio corpo' e a empregar o pão como símbolo disso" (Ibid. 335). Seguindo, e citando Eustácio de Antioquia, Kelly afirma: "Seu contemporâneo [de Eusébio], Eustácio de Antioquia, ao comentar Provérbios 9.5, diz que 'com o pão e o vinho ele [isto é, o autor] se refere profeticamente aos antítipos dos membros corporais de Cristo'" (Ibid. 335,336).

    Mas ao compreender a teoria simbolista não é possível depreender daí que os símbolos do corpo e sangue de Cristo são qualquer espécie de símbolo. Evidentemente se trata de um "sacramento" que não apenas aponta para a realidade, como a manifesta. Kelly diz: "Obviamente, não se deve supor que essa linguagem 'simbólica' deixasse implícito que o pão e o vinho eram considerados meros indicadores ou indícios de realidades ausentes. Pelo contrário, eram aceitos como sinais de realidades que, de alguma forma, estavam de fato presentes, embora fossem captadas somente pela fé" (Ibid. 336). Ele cita o caso do próprio Eusébio de como essas realidades poderiam estar presentes: "Quanto a uma interpretação que realmente espiritualiza, devemos examinar os herdeiros da tradição origenista. Eusébio de Cesaréia, por exemplo, embora geralmente satisfeito com a doutrina 'simbólica', também está pronto a deduzir, a partir de João 6, que aquilo que o Senhor disse a respeito de comer Sua carne e beber Seu sangue deve ser entendido num sentido espiritual. A carne e o sangue que Ele exigiu que Seus discípulos comessem e bebessem não eram Sua carne e sangue físicos, mas, sim, Seu ensino" (Ibid. 336). Nada há aqui de transubstanciação, embora se perceba o "realismo atual" dos adeptos da teoria simbolista.

    Entrando propriamente no campo agostiniano, Kelly faz um interessante contraste entre a influência de Ambrósio de Milão e de Agostinho, que, segundo ele, sinalizam duas espécies de ênfases diferentes sobre a eucaristia. Sobre Ambrósio, Kelly diz: "Deve-se assinalar que Ambrósio não rejeita as expressões mais antigas, falando, então, do corpo de Cristo 'denotado' (corpus significatur) pelo pão, e do vinho 'chamado' (nuncupatur) de Seu sangue após a consagração. O sacramento é recebido “numa semelhança” (in similitudinem), mas transmite os aspectos da realidade que representa. No entanto, a idéia [sic] de transformação é a mais característica de seu ensino. A consagração, sustenta ele, é um milagre do poder divino, análoga aos milagres registrados na Bíblia; ela opera uma mudança real nos elementos (species mutet elementorum), um ato quase criador que lhes altera as naturezas (cf. mutare naturas), transformando-as em algo que anteriormente não eram" (Ibid. 339). E continuando ele afirma a distinção entre Ambrósio e Agostinho: "Se a influência de Ambrósio ajudou a levar para o Ocidente a doutrina de uma mudança física, a de Agostinho foi exercida numa direção bem diferente" (Ibid. 339). Kelly ainda afirma que ainda que "mas um veredicto judicioso haverá de concordar que Agostinho aceitava o realismo vigente à época" (Ibid. 340), entendendo por realismo a ideia de que por meio das espécies o Senhor quis transmitir seu corpo e sangue. Kelly cita o sermão 227 de Agostinho: “Aquele pão que vedes sobre o altar, santificado pela Palavra de Deus, é o corpo de Cristo. Aquele cálice, ou melhor, o conteúdo daquele cálice, santificado pela palavra de Deus, é o sangue de Cristo. Por meio desses elementos, o Senhor Cristo quis transmitir Seu corpo e Seu sangue, que Ele derramou por nós” (Ibid. 340). Kelly também discorre sobre a adoração ao escabelo dos pés de Deus [a passagem tão citada por católicos romanos]: "Ao comentar a súplica do salmista para que adoremos o estrado de Seus pés, ele destacou que isso deve ser a terra. Mas, uma vez que adorar a terra seria blasfemo, ele concluiu que a palavra apontava misteriosamente para a carne terrena que Cristo tomou para si e nos deu para comer. Desse modo, era o corpo eucarístico que requeria adoração" (Ibid. 340). Embora eu discorde francamente de Kelly nesse sentido - já que não existe cânone litúrgico na época de Agostinho que fale da adoração do pão, assim como a citação em latim só diz "adorar" (a carne de Cristo) e não "adora-lo", como se referindo ao pão (nemo autem illam carnem manducat, nisi prius adoraverit) -, ele também reconhece: "Também é verdade que, eventualmente, Agostinho utiliza uma linguagem que, por si só, poderia sugerir que ele via o pão e o vinho como meros símbolos do corpo e do sangue. Assim, quando o bispo africano Bonifácio indagou como se pode dizer que crianças batizadas têm fé, a resposta de Agostinho foi que o batismo em si era chamado fé (fides) e que a linguagem usada na época permitia à pessoa designar o sinal pelo nome da coisa significada. Por exemplo, embora Cristo obviamente tenha sido morto apenas uma vez, é correto falar que, num sentido sacramental, Ele morre diariamente. “Pois se os sacramentos não tivessem certa semelhança com as coisas das quais são sacramentos, eles não seriam sacramentos. Na maioria dos casos, essa semelhança faz com que recebam os nomes daquelas coisas. Dessa maneira, como o sacramento do corpo de Cristo é, de certa forma, o corpo de Cristo, e o sacramento de Seu sangue é, de certa forma, Seu sangue, assim também o sacramento da fé é fé” (Ibid. 340,341).

    É importante frisar aqui que Kelly assume uma forma de argumentação elíptica, e vai aproximando cada vez mais a periferia dos fatos apresentados do centro do juízo ao qual ele quer dar sobre a teologia agostiniana. É por isso que agora ele entra em maiores explicações sobre o realismo agostiniano que enfatizava a presença real de Cristo no sacramento, embora o enquadre no espectro dos simbolistas e não daqueles que enfatizava a "transformação dos elementos". Kelly explica a distinção entre o sinal e a realidade apontada pelo sinal: "Aqui, no entanto, o argumento pressupõe a distinção de Agostinho entre um sacramento como sinal e a realidade, ou res, do sacramento, sobre o qual se fez referência acima.1 Considerados como objetos físicos e fenomenais, o pão e o vinho são propriamente sinais do corpo e do sangue de Cristo; se, por convenção, eles são designados como Seu corpo e sangue, deve-se admitir que não o são lieralmente, mas 'de certa maneira'. Por outro lado, na eucaristia há tanto aquilo que se vê [sinal] quanto aquilo em que se acredita [a coisa apontada elo sinal]; existe o objeto físico de percepção e o objeto espiritual apreendido pela fé, e é este último que alimenta a alma. Mesmo na passagem citada, a linguagem de Agostinho tem plena coerência com seu reconhecimento da realidade e da presença concreta do objeto espiritual" (Ibid. 341). Aqui se explica que embora reconhecendo o sacramento como sinal que aponta para outra realidade, Agostinho ainda assim afirma que unido ao sinal está aquilo que é sinalizado (o Corpo e o Sangue de Cristo) fruídos espiritualmente. A evidência disso é que Kelly nega que Agostinho entenda a teologia eucarística em termos de "conversão", como assinala: "Isso nos leva à questão fundamental de como Agostinho entende o corpo eucarístico. Em seus escritos, não existe nenhuma sugestão da teoria da conversão, ou transformação, defendida por Gregário de Nissa e Ambrósio" (Ibid. 341); ora, se não há "conversão" ou "transformação", como Kelly pode dizer que Agostinho cria na transubstanciação, teologia que é ininteligível sem os conceitos de transformação ou conversão da substância do pão e do vinho na substância do corpoo e sangue de Cristo?

    Tendo em vista tudo isso, agora chegamos novamente na citação (já apresentada neste texto) onde irei destacar o que o sr. Fábio Morais aponta, embora fora do texto completo, como prova de que Agostinho não era um simbolista, onde Kelly afirma: "Como seria de esperar, seu pensamento percorre muito mais o caminho aberto por Tertuliano e Cipriano [simbolistas]. Por exemplo, ele fala do 'banquete em que Ele apresentou e entregou a Seus discípulos a figura (figuram) de Seu corpo e sangue'. Mas ele vai mais longe do que seus predecessores, formulando uma doutrina que, embora radicalmente realista, é também francamente espiritualizante. Em primeiro lugar, Agostinho deixa claro que o corpo ingerido na eucaristia não é rigorosamente idêntico ao corpo histórico de Cristo, e representa-o" (Ibid. 341). Ora, é evidente que a ideia da representação está enquadrada no espectro das teologias de Eusébio de Cesaréia, Serapião, Tertuliano e Cipriano, onde as espécies não são, mas representam e se identificam de certa forma com o corpo e o sangue de Cristo, os quais são fruídos real, mas espiritualmente. Assim Kelly continua: "Em segundo lugar, num enfoque mais positivo, a dádiva que a eucaristia transmite é o dom da vida. Trata-se de uma dádiva espiritual, e os atos de comer e beber são processos espirituais. O corpo eucarístico não é a carne palpável; pelo contrário, nós recebemos a essência dessa carne, a saber, o espírito que a vivifica. Às vezes ele leva essa tendência espiritualizante ao extremo, como quando diz “Por que preparais vossos dentes e vosso estômago? Crede, e tereis comido”; ou: “crer nEle é comer pão vivo. Aquele que crê, come, e fica invisivelmente satisfeito, porque renasce invisivelmente”. No entanto, o que ele de fato quer dizer com isso é que o corpo e o sangue de Cristo não são consumidos de forma física e material; o que é consumido dessa maneira é o pão e o vinho [não há transformação]. O corpo e o sangue são, de fato, recebidos pelo comungante, mas de forma sacramental ou, como poderíamos dizer, in figura" (Ibid. 341,342).

    Nunca é demais se concentrar nesse ponto defendido pelo Kelly: nada há na obra agostiniana que sugira uma "transformação" ou uma "conversão" dos elementos do pão e do vinho, embora recebamos pela fé, realmente e espiritualmente, o corpo e o sangue de Cristo nas espécies do pão e do vinho significadas pela Palavra de Cristo. O que deixa algo claro: para JND Kelly, não há transubstanciação em Agostinho e sim, por conclusão, um simbolismo místico que afirma a presença atual do Cristo oferecido no sacramento; e como podemos tomar nota, Kelly segue a teologia agostiniana apresentada em sua obra madura sobre hermenêutica bíblica, que é o "Doutrina Cristã": "Sob a servidão do sinal vive quem faz ou venera uma coisa significante sem saber o que ela significa. Mas quem faz ou venera a um signo útil instituído por Deus, cuja virtude e significado entende, não veneram o visível e transitório, mas Aquele a quem a quem todos esses signos se referem [...] Tais são: o sacramento do batismo e a celebração do corpo e do sangue do Senhor. Quando alguém os recebe, bem instruído, sabe a que se referem, por conseguinte, venera-os com liberdade espiritual e não com servidão carnal. Ora, seguir a letra e confundir os sinais com aquilo que os sinais significam indica fraqueza e servidão. Interpretar os sinais erradamente é o resultado de estar sendo conduzido pelo erro(AGOSTINHO - Doutrina Cristã. III.9.). Note que Agostinho faz a distinção notória entre o sinal (o significante, que é sacramento visível) e aquilo para o qual o sacramento aponta (significado, que é Cristo), e diz que é "fraqueza e servidão" confundir os sinais (significantes) com aquilo que os sinais significam (significados). Todo mundo que conhece a teoria do signo sabe que o signo é composto por significante e significado, sendo que o significante seria o "sinal visível" (um pão, um vinho, um desenho, etc.) e significado, que é aquilo para o que aponta o "sinal visível" - podendo ser esse significado algo abstrato (uma ideia, o amor a bondade) ou concreto (um país, uma propriedade, o corpo de Cristo etc.).

    Bem, está respondida a razão pela qual Agostinho pode ser tanto o signatário de um "atualismo radical", como alguém que é também signatário da teoria simbólica. E espero que o senhor Fábio Morais encontre a igreja evangélica mais pobre que ele encontrar por aí, o "moquifo mais rude" e sirva com com dinheiro e com coração generoso aqueles irmãos que realmente crêem em Cristo, servindo-o em espírito e em verdade, já que diariamente comem pela fé o corpo e o sangue de Cristo, fruindo verdadeiramente do seu sacrifício realizado no cimo da cruz.

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