segunda-feira, 10 de maio de 2021

Lutero e o Cristo na Cruz; Ou: Desse Conhecimento nos Privam os Sofistas

    Desse conhecimento de Cristo e dessa consolação tão agradável de que Cristo foi feito maldição em nosso lugar para nos resgatar da maldição, privam-nos os sofistas, quando separam Cristo dos pecados e dos pecadores e o apresentam apenas como exemplo que deve ser imitado por nós. Desse modo, não apenas tornam Cristo inútil para nós, mas, também, o constituem como juiz e tirano, que se irrita com os pecados e condena os pecadores.

    Mas nós devemos envolver Cristo em nossa carne e sangue e reconhecer que, da mesma maneira como ele está envolto na carne e no sangue, também o é nos pecados, na maldição, na morte e em todos os nossos males. Mas, na opinião deles, é um grande absurdo e uma afronta chamar o Filho de Deus de pecador e de maldição. Se queres negar que ele é um pecador e uma maldição, nega também que ele sofreu, foi crucificado e morreu. Pois não é menos absurdo dizer que o Filho de Deus, como nosso Credo confessa e ora, foi crucificado, suportou as penas do pecado e da morte, do que dizer que ele é um pecador e uma maldição. No entanto, se não é um absurdo confessar e crer que Cristo foi crucificado entre ladrões, também não é um absurdo dizer que ele foi uma maldição e um pecador dos pecadores. Certamente, não são inúteis as palavras de Paulo: "Cristo foi feito maldição em nosso lugar" e: "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus".

    Da mesma forma, João Batista o chama de "Cordeiro de Deus", etc. Ele, com efeito, é inocente, porque é o Cordeiro imaculado e incontaminado de Deus. No entanto, como carrega os pecados do mundo, a sua inocência é suprimida com os pecados e a culpa de todo o mundo. Quaisquer pecados que eu, tu e nós todos cometemos e, no futuro, cometeremos, são de tal modo os pecados de Cristo como se ele mesmo os tivesse cometido. Em poucas palavras, importa que o nosso pecado se torne o próprio pecado de Cristo, do contrário, pereceremos eternamente. Esse conhecimento verdadeiro de Cristo, que nos transmitiram Paulo e os profetas, os ímpios sofistas obscureceram.1

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1] LUTERO, Martinho - Comentário aos Gálatas 3.13

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