segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Fanatismo Juvenil e Tirania por Emil Cioran

E não é que você não tenha a nostalgia da fantasia e da desordem, mas não conheço espírito mais refratário que o seu às superstições da "democracia". Houve uma época, é verdade, em que eu também as detestava, até mias do que você: era um jovem e não podia admitir outras verdades que não as minhas, nem conceder ao adversário o direito de ter as suas, de gabar-se delas ou de impô-las. Que os partidos pudessem enfrentar-se sem aniquilar-se era algo que ultrapassava minhas possibilidades de compreensão. Vergonha da Espécie, símbolo de uma humanidade exausta, sem paixão nem convicções, inapta ao absoluto, privada de futuro, limitada em todos os sentidos, incapaz de elevar-se a essa alta sabedoria que me ensinava que o objetivo parlamentar era pulverizar o opositor: era assim que eu via o regime parlamentar. Por outro lado, os sistemas que queriam eliminá-lo para tomar seu lugar me pareciam belos sem exceção, afinados com o movimento da vida, minha divindade na época. Não sei se devo admirar ou desprezar aquele que, antes dos trinta anos, não sofreu o fascínio de todas as formas de extremismo, ou se devo considerá-lo como um santo ou um cadáver. [...] Viver verdadeiramente é recusar os outros; para aceitá-los, é necessário saber renunciar, violentar-se, agir contra a sua própria natureza, enfraquecer-se; só se concebe a liberdade para si mesmo: ao próximo só a concedemos a duras penas; daí a precariedade do liberalismo, desafio a nossos instintos, êxito breve e miraculoso, estado de exceção oposto a nossos imperativos profundos. Somos naturalmente inadequados para ele: só a deterioração de nossas forças nos dá acesso a ele. Miséria de uma raça que deve rebaixar-se por um lado para enobrecer-se pelo outro, e na qual nenhum representante, a menos que seja de uma decrepitude precoce, se dedica a princípios "humanos". Função de um ardor extinto, de um desequilíbrio, não por excessos, mas por falta de energia, a tolerância não pode seduzir os jovens. [...] Dê aos jovens a esperança ou ocasião de um massacre e eles lhe seguirão cegamente. No final da adolescência, se é fanático por definição; eu também o fui, e até o ridículo.

Emil Cioran - História e Utopia. p. 12-14.

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