segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Lutero e a Depravação Total

   
   Lutero considerava a vida corrompida em sua totalidade, incluindo sua natureza e substância. Vamos considerar agora a expressão "depravação total" que tanto ouvimos. Não significa que não haja nada bom no ser humano; nenhum reformador nem neo-reformador jamais fez essa afirmação. Quer dizer, isso sim, que não há parte alguma do ser humano isenta dessa deformação existencial. Esse conceito, traduzido em termos de psicologia moderna, significa que o homem "depravado" está em conflito consigo mesmo bem no centro de sua vida pessoal. Tudo se inclui nessa deformação, e era essa a ideia de Lutero. Se a "depravação total" fosse entendida de modo absoluto, seria então impossível a sua afirmação [seria outra coisa, não depravação]. O ser humano totalmente depravado seria incapaz de dizer que era totalmente depravado. Mesmo a afirmação de que somos pecadores pressupõe em nós algo além do pecado [pois o pecado não é natureza]. O que podemos dizer é que não há no ser humano o que não seja tocado por autocontradição, tanto o intelecto como tudo mais. O mal é mal poque não cumpre o mandamento de amar a Deus. A base do pecado é essa falta de amor a Deus. Poderíamos dizer, em outras palavras, que é a falta de fé. Lutero afirmava as duas coisas.

Paul Tillich - História do Pensamento Cristão. ed. Aste. p. 243, 244

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