quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O Homem Ante a Divina Majestade - Do Terror Numinoso

   Daqui esse terror e espanto com que, a cada passo, apregoa a Escritura haverem sido tocados e afligidos os santos, quantas vezes sentiam a presença de Deus. Quando, pois, vemos aqueles que, em Lhe não considerada a presença, seguros firmes se mostravam, mas, em manifestando Ele Sua glória, tão abalados e aterrados se quedavam, como que a prostrá-los o pavor da morte, mais até, a tragá-los, e quase aniquilados, é de construir-se daí que o homem não é jamais tangido e afetados suficientemente pelo senso de sua indignidade, senão depois que se comparou com a majestade de Deus.
   E desta consternação numerosos exemplos os temos, tanto em Juízes quanto nos Profetas. Tanto assim, que essa expressão se veio a tornar costumeira entre o povo de Deus: "Morreremos, pois que nos apareceu o Senhor". De igual modo, também a história de Jó, com o fito de quebrantar os homens pelo reconhecimento de sua estultícia, fraqueza e corruptibilidade, sempre o mais importante argumento extrai da descrição da divina sabedoria, poder e pureza [Jó 38.1-40.5]. E nem seu causa, pois vemos como Abraão melhor se reconhece terra e pó desde que mais próximo se chegou à contemplação da glória do Senhor [Gn 18.27].; como Elias Lhe não ousa de face descoberta atentar à manifestação [I Rs 19.13], tanto de terror Lhe há na presença.
   E que haja de fazer o homem, podridão [Jó 13.28] e verme que é [Jó 5.7; Sl 22.6], quando até mesmo os próprio Querubins deviam velar o rosto, movidos desse pavor? [Is 6.2 - na verdade se fala aqui de Serafins]. É isto, com efeito o que diz o profeta Isaías: "Enrubescer-se-á [se envergonhará] o sol e confundir-se-á a lua, quando o Senhor dos Exércitos vier reinar" [Is 24.23], isto é, quando revelar Seu fulgor, e mais perto o trouxer, diante dele de trevas se obscurecerá o que quer que seja que mais de esplendífero haja [Is 2.10, 19].

João Calvino - Institutas da Religião Cristã. cap. I.3

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