segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Tomás de Aquino e a Oração

   Deve-se também considerar que, assim como a imobilidade [divina] não impõe necessidade às coisas predispostas, também não exclui a necessidade da oração. Porque a oração não é dirigida a Deus para mudar o que está disposto pela providência eterna, o que, aliás, seria impossível, mas para que a pessoa consiga de Deus o que deseja.
   Com efeito, é razoável que Deus consinta nos piedosos desejos da criatura racional, não como se os nossos desejos movessem a Deus, que é imutável [e pleno em todas a perfeições], mas porque da sua bondade procede a realização oportuna do que foi desejado. Pois, como todas as coisas naturalmente desejam o bem [...], pertence à super-eminência da bondade divina distribuir com certa ordem a todos o 'ser' e o 'bem'. A consequência disto é que Deus cumpra com sua bondade os piedosos desejos expostos na oração.
Além disso, pertence ao movente conduzir para o fim o movido, razão por que [sic] pela mesma natureza uma coisa é conduzida para o fim, o alcança e nele repousa. Ora, todo desejo é um certo movimento para um fim, o qual não pode vir para as coisas senão de Deus, Deus que é bom por essência e fonte da bondade. Com efeito, ao mover todas as coisas, move-as para algo semelhante a si. Logo, pertence a Deus, segundo a sua bondade, levar para os efeitos convenientes os desejos convenientes expostos em oração. [...]
   Além disso, é da natureza da amizade que o amante queira realizar o desejo do amado, enquanto quer o bem e a perfeição dele, razão por que é dito que é próprio dos amigos terem o mesmo querer. Ora, foi acima demonstrado que Deus ama a sua criatura, e tanto mais ama cada uma delas, quanto mais esta participa da sua bondade, que é o que Deus ama por primeiro e principalmente. Por isso, Deus quer satisfazer os desejos da criatura racional, a qual participa da bondade divina máxima e mais perfeitamente entre as demais criaturas. Ora, sua vontade dá a perfeição às coisas, por elas Deus é causa das coisas [...]. Logo, pertence à vontade divina satisfazer os desejos da criatura racional apresentados na oração.
   Além disso, o bem da criatura racional é derivado da bondade divina, segundo uma certa semelhança. Ora, verifica-se entre os homens que é sobretudo estimável o que não rejeita os pedidos aos que lhes fazem coisas justas e, por isso, são chamados de liberais, misericordiosos e pios. Por isso, pertence acima de tudo à bondade divina ouvir orações piedosas.
   Donde ser dito no Salmo: 'Faz as vontades dos que o temem, ouve-lhes as orações e os salva' (Sl 144,19); e em Mateus: 'Todo aquele que pede, recebe; o que procura, encontra; e ao que bate, abrir-se-lhe-á' (Mt 7,8).

Tomás de Aquino - Suma Contra os Gentios. p. 495,496

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