segunda-feira, 20 de abril de 2020

A Pena do Pecado Imputada a Cristo e a Oração Vicária do Senhor Segundo Santo Agostinho

Por que motivo? “Pois perseguiram aquele a quem feriste e agravaram a dor de minhas feridas”. Qual o seu pecado ao perseguir aquele a quem Deus feriu? Que lhe é imputado? A malícia. Pois, realizou-se em Cristo aquilo que importava se realizar. Viera, de fato, para sofrer, mas ele puniu o agente da paixão. O traidor Judas foi castigado, e Cristo foi crucificado, mas redimiu-nos com seu sangue, enquanto puniu a Judas pelo preço que recebeu. Este lançou fora as moedas de prata, pelas quais vendera o Senhor e não conheceu o resgate que o Senhor pagou por ele. Isto se cumpriu em Judas (cf. Mt 27,5). Mas se considerarmos certa medida de retribuição em todos, e que ninguém pode se enfurecer mais além do poder que recebeu, como foi que eles agravaram a sua dor, ou que significa este ferimento infligido ao Senhor? Com efeito, ele fala em lugar daquele do qual recebera ao corpo, de quem assumira a carne, isto é, do gênero humano, do próprio Adão, o primeiro a ser ferido de morte devido a seu pecado (cf Gn 3,19). Por conseguinte, os homens nascem mortais, marcados pela pena; esta pena se agrava em qualquer homem que for perseguido. Pois o homem não haveria de morrer se Deus não o ferisse; porque então, tu, ó homem, te encarniças mais ainda? É pouco que tenha de morrer um dia? Portanto, cada qual carrega a sua pena; e a esta pena querem agravar os que nos perseguem. Esta pena é infligida pelo Senhor. Efetivamente, a sentença do Senhor atingiu o homem: “No dia em que dela comeres terás de morrer” (Gn 2,17). Cristo assumiu esta carne atingida pela morte. Nosso velho homem foi crucificado com ele (cf Rm 6,6). No lugar deste homem o salmista proferiu estas palavras: “Pois perseguiram aquele a quem feriste e agravaram a dor de minhas feridas”. Que dor das feridas eles agravaram? Agravaram a do dos pecados. Chama de feridas os seus pecados. Mas não olhes para a Cabeça, volta a atenção para o corpo, em lugar de quem ele falou naquele salmo, onde sua voz aparece, uma vez que ele recitou da cruz seu primeiro versículo: “Deus, meu Deus, olha-me. Por que me desamparaste?” E continua: “Longe 264 de minha salvação as vozes de meus delitos” (Sl 21,2). São desta espécie as feridas infligidas pelos ladrões no caminho àquele que o samaritano levou em seu jumento e que o sacerdote e o levita de passagem viram e desprezaram e não puderam cuidar dele. O samaritano que passava teve compaixão dele. Aproximou-se e colocou-o em seu próprio jumento (cf Lc 10,30-34). Samaritano, traduzido para o latim, é guarda. Quem é este guarda, senão nosso Salvador o Senhor Jesus Cristo? Ele ressuscitou dos mortos para não mais morrer (cf Rm 6,9). Não dormita nem há de dormir o que guarda Israel (cf Sl 120,4). “E agravaram a dor de minhas feridas”.

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