sábado, 25 de abril de 2020

Política Milenarismo e Justificação pela Fé

   Minhas primeiras percepções políticas vieram da leitura da luta teológica de Karl Barth contra o nazismo e a teologia liberal - ambos movimentos portadores de uma percepção antropológica de fundo que se encontra em muitos pontos. Os escritos de Barth evidentemente fornecem uma chave teológica invencível baseada nos reformadores (Lutero e Calvino) para ler a política, que é composta de certas noções, a saber: as noções de pecado, da justificação pela fé e a noção de que o justificado é simul justus et peccator (ao mesmo tempo justo e pecador).
   Quando o cristianismo liberal do séc. XIX empurrou para fora do centro da teologia a justificação pela fé e a trocou pela implantação do Reino de Deus o que ocorreu foi uma crescente fé em uma espécie de milenarismo que resultou em uma percepção questionável da política como instrumento de redenção, ignorando deliberadamente que quem é o agente político é o homem, esse homem marcado também pela luta contra o pecado, homem que não raro é vencido pelo pecado. A fé nas políticas de redenção continuam até mesmo quando uma sociedade cristã entra em processo de secularização - daí os Stalins, Maos, Chês, Napoleões, Mussolinis e Lulas da vida. O Brasil, com quase duzentos anos de atraso, entra nesse erro quando deposita sua fé em um homem supostamente plantado por Deus na política em favor dos cristãos, quando, na verdade, estão presos em uma ratoeira mental e teológica que erra o alvo em relação à vocação da igreja e do evangelho.

   Isso não significa que a política deva ser satanizada. Pelo contrário, o que deve ocorrer é que ela deve ser colocada em seu próprio lugar, que é o de ser um instrumento temporal para soluções temporais voltado ao interesse humano. Destruam essa aura mágica e mística que muitos colocam na política como instrumento de redenção, pois é fato histórico que quando certos credos políticos começam a se por como instrumentos de fé a apostasia já está em fase avançada no processo de degradação da própria fé.

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